quarta-feira, 17 de julho de 2013

DEMOCRATIZAÇÃO DA CULTURA


DEMOCRATIZAÇÃO DA CULTURA



 


A definição de cultura evoluiu com o passar dos anos e as mudanças econômicas

e sociais enfrentadas pelas nações. Da mesma forma, a incidência de uma ou outra

política cultural na história da humanidade esteve sempre relacionada a diversos fatores,

como a forma de governo e a ideologia defendida pela administração estatal. Ditaduras,

governos democráticos, socialistas ou liberais entendem o investimento no setor de

forma diferente. A necessidade de implantação de políticas públicas que tenham como

objetivo o fortalecimento da cidadania e a inclusão social surge de uma dimensão que

considera que todos os indivíduos, e não apenas os artistas, são sujeitos e produtores

culturais, e, por isso, devem ser o foco de atividades e projetos da administração

governamental.

Sendo assim, qual a melhor forma de fomentar o desenvolvimento cultural da

população? Qual deve ser a preocupação principal das políticas culturais – ampliar o

acesso aos bens, serviços e equipamentos culturais ou incentivar a participação e a

organização autogestiva das comunidades? As opiniões se dividem. Alguns políticos e

estudiosos da área ainda preferem acreditar que o acesso igualitário de todos os

indivíduos e grupos aos bens culturais é a melhor forma de corrigir as desigualdades

socioculturais. Estamos falando do conceito de democratização cultural, que tem como

objetivo a distribuição e a popularização da arte, do conhecimento científico e das

formas de “alta cultura”.

Nesta tendência, cabe à gestão pública a missão de promover a superação de

exclusões e desajustes e da distância entre os “culturalmente integrados” e os

“excluídos”. O Estado deve oferecer a todos o acesso à produção cultural. Para isso,

estimula a criação, por parte dos artistas, da cultura erudita, que nesta concepção deve

ser preservada e divulgada, porquanto está acima de qualquer outro tipo de expressão

artística. Também ganha terreno a arte legitimada pela indústria cultural (leia-se arte

facilmente vendável). O Estado apoia estas expressões através de leis de incentivo

fiscal, fundos para investimentos diretos e outros mecanismos de transferência de

recursos. Também é papel da administração pública cuidar da conservação dos espaços

culturais tradicionais, como grandes galerias, teatros e museus, e construir novos

equipamentos com a infra-estrutura necessária. A difusão cultural acontece através de

políticas de formação de platéias (e de consumidores). Em geral, o Estado subsidia os

ingressos para os espetáculos, oferecendo ao público a oportunidade de assistir à ação

cultural com entradas mais baratas ou até mesmo gratuitas. Cabe à população o

interesse de aproveitar as oportunidades de se “cultivar”.

Em alguns países, os movimentos políticos democratizadores coincidiram com a

reorganização comunicacional aberta pelas indústrias culturais: a expansão do rádio, a

televisão e a ampliação do mercado de bens “cultos” (venda de discos e livros em

supermercados, etc). De certo, o crescimento da indústria cultural na

contemporaneidade contribuiu para a ampliação da oferta e do consumo de espetáculos

culturais. Face a esta nova configuração, muitos passaram a acreditar que ampliar o

acesso a esses bens e serviços deveria ser a principal função das políticas culturais.

Esta proposta de democratização é deficitária, pois tende a encarar a cultura e o

povo como pólos distintos e afastados. Coloca-se de lado uma visão mais alargada, ao

desconsiderar que todo indivíduo é também produtor da cultura. Além disso, tal

política trabalha apenas com a crença de que basta que haja o encontro entre a cultura

erudita, e o público para que haja desenvolvimento sociocultural (BOTELHO, 2001,

p.14). A preocupação é garantir que cada vez mais pessoas das classes menos

favorecidas possam freqüentar teatros, galerias e salas de cinema. Poucas iniciativas se

preocupam com a qualidade desse consumo cultural.

Também falta participação popular. As decisões sobre as políticas culturais são

centralizadas nos governos e instituições, constituindo uma esfera pública estatal. A

cultura é definida pela burocracia das secretarias de cultura, sem passar pelo crivo do

público a que se destina. Levando em consideração apenas os “templos culturais”

(FARIA, 2003,p. 37), como teatros e galerias, como os lugares mais importantes para a

realização da cultura, os defensores dessa política esquecem as ruas, as casas, as escolas

e os espaços informais de sociabilidade.

Para Néstor Garcia Canclini (1987,p. 49), a democratização, quando consiste em

divulgar a alta cultura, implica na definição elitista do patrimônio simbólico, sua

valorização unilateral pelo Estado e por setores hegemônicos, e pela imposição

paternalista ao resto da população. Uma outra crítica do autor ao modelo de difusão

cultural reclama que esta política não muda as formas de produção e consumo dos bens

simbólicos. Os públicos que costumavam desfrutar dos espetáculos passam a fazê-lo

mais vezes, enquanto as classes menos favorecidas financeiramente continuam

afastadas da produção cultural, tendo acesso apenas aos meios de comunicação de

massa.

Também parece-nos importante ressaltar a crítica feita por Isaura Botelho (2001,

p.14) a essa política. A autora acredita que a redução dos preços ou a gratuidade não são

capazes de alterar as desigualdades culturais. Ao contrário, a política de subvenção as

reforça, pois favorece a parte do público que já detém a informação, as motivações e o

acesso aos bens e equipamentos culturais. Ou seja, as pessoas que já possuíam o

costume de ir ao teatro, passam a fazê-lo mais vezes, aproveitando os benefícios

concedidos pelo Estado. Ao falar da difusão cultural e do “mito do público apreciador”,

Teixeira Coelho é taxativo ao declarar que esta concepção deve ser entendida como

propaganda cultural. A preocupação está “apenas em cultivar novos espectadores e

admiradores, quer dizer, novos públicos, novos consumidores” (2001,p.10).

A experiência da aplicação das políticas de formação de platéia mostrou que tais

ações não são eficientes se consideradas isoladamente. A questão da transversalidade da

cultura deve ser pensada na elaboração das políticas culturais. Meio-ambiente, saúde,

educação e infra-estrutura são alguns dos fatores que devem ser levados em

consideração na elaboração de políticas que pretendam promover a qualidade de vida da

população. Mas, além disso, o contexto social onde as pessoas vivem é muito

importante. Gostos, hábitos cotidianos e a bagagem cultural, que é construída ao longo

da vida e das relações de sociabilidade de cada ser humano, vão influenciar o

aproveitamento que cada pessoa terá no contato com as expressões artísticas.

Como sujeitos e produtores da cultura, os indivíduos devem participar da elaboração

das políticas de cultura para a sua comunidade. Neste sentido, o conceito de

democracia cultural nos parece mais adequado para pensar a promoção do

desenvolvimento sócio-cultural. Esta concepção de gestão das ações culturais está

preocupada com a promoção da participação popular e a organização autogestiva das

atividades. O objetivo é incentivar a criação, buscando o desenvolvimento plural das

culturas de todos os grupos em relação com suas próprias necessidades. Nesta

concepção política o público é mais do que espectador. Segundo Hamilton Faria, o

“trinômio consumidor-produto-espectador” é ampliado para “a criação/fruiçãoprocesso-

participação” (2003,p. 38).

Além de garantir à população o acesso aos bens culturais por meio de serviços

públicos, as políticas para o setor tendem a incentivar a participação de todos na criação

e nas esferas de decisões públicas, garantindo uma política cultural distanciada dos

padrões do clientelismo e da tutela. Conforme Marilena Chauí, a política de “animação

cultural” deve ser “substituída pela ação cultural das comunidades, dos movimentos

sociais e populares” (1995,p. 84). As políticas de democracia cultural defendem a

existência de múltiplas culturas em uma mesma sociedade. Por isso, a missão delas é

estimular a autonomia dos grupos culturais e facilitar os canais de comunicação com o

poder público. O Estado deve dar apoio às diversas manifestações clássicas, eruditas e

populares; profissionais e experimentais; consagradas e emergentes; e reconhecer as

dinâmicas inovadoras de movimentos sociais, comunitários, religiosos, étnicos ou de

gênero.

Esta concepção não é contrária a ações pontuais, como a promoção de grandes

festas e eventos, mas privilegia ações com sentido contínuo, contra o autoritarismo, o

paternalismo e o dirigismo. Com o objetivo de transmitir conhecimentos e desenvolver

a sensibilidade, procura melhorar as condições sociais para estimular a criatividade

coletiva.

Conforme explica Canclini (1987), a democracia sociocultural é, sobretudo, um

projeto de movimentos e grupos alternativos, cujo crescimento é um signo forte da

renovação na cena política. Para o autor, esses movimentos têm conseguido mais do que

outras organizações, socializar a ideologia democrática, que antes ficava restrita às

elites e à classe média, entre as classes populares.

Outro avanço é o reconhecimento geral da sociedade e dos partidos aos direitos destas

classes a ter relações democráticas e iniciativas políticas em áreas das quais sempre

foram excluídas. As ações culturais contam com ampla participação e estão enraizadas

na comunidade – e é através da participação que se concretiza o direito à cultura. As

decisões sobre as políticas culturais devem ser partilhadas através da criação da esfera

pública não-estatal, por meio de diálogos interculturais entre Estado, secretarias de

governo, conselhos, fóruns deliberativos e organizações sociais.

As atividades culturais acontecem mais próximas de onde as pessoas vivem, nos

seus espaços de origem, buscando a descentralização da ação cultural. É claro que, ao se

pensar uma administração da cultura que influencie a vida cotidiana e incentive tão

ampla participação popular, não se pode querer acreditar que este trabalho será fácil e

rápido. Uma política cultural cidadã deve ser pensada em longo prazo, pois a

construção de um capital simbólico requer tempo para ser acumulado e também

depende da bagagem cultural herdada dos pais. Este trabalho não vai se resumir a um

mandato político ou a uma gestão administrativa. Além disso, esta política não poderá

produzir resultados sensíveis se for considerada isoladamente – o sistema escolar,

embora não seja o único determinante, é a ferramenta mais acessível de construção e

alimentação de um capital cultural. Também é preciso unir os poderes públicos e a

sociedade num diálogo sobre o fazer cultural. Para isso, os governantes precisam

aprender a lidar com a participação popular na esfera de decisão pública.


Definição de Cultura

Cultura é a identidade de um povo, o que o define. Abrange aspectos concretos como objetos em geral, costumes, regras, construções, bens, ou seja, o que o povo pruduz de material. Além desses, a cultura é formada também por aspectos espirituais, religiosos, seus valores, suas crenças, ideologias, pela visão de mundo que a sociedade constrói. A cultura, portanto, composta pelo que foi citado e sendo ainda mais aprofundada, norteia, dirige um mundo de pessoas.

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