domingo, 28 de julho de 2013

SÉCULO XXI - A VISIBILIDADE

SÉCULO XXI - A VISIBILIDADE

DOS MOVIMENTOS NEGROS

 

A participação é um processo histórico infindável, pois há em nossa sociedade uma tendência à

dominação. Historicamente primeiro se encontra a dominação e, depois, se conquista a participação. A liberdade

que se quer doar, conceder ou impor, certamente não interessa, pois aquela que se constrói é que é realmente

liberdade.

Os processos de relação social encontram o âmbito das redes que adota adjetivações como: redes

sistêmicas; redes políticas; redes de solidariedade e redes de movimentos. Nesse contexto, os conceitos da rede de

movimentos expressam nos

movimentos negros como interações horizontais e práticas sócio-políticas pouco

formalizadas ou institucionalizadas, entre organizações da sociedade civil, grupos informais, engajados em torno de

conflitos ou de solidariedades, de projetos políticos ou culturais, construídos ao redor de identidades e valores

coletivos.

 

O empoderamento das organizações negras dimensionou-se das organizações coletivas, nas quais as

necessidades de alianças, de negociações e regulamentações, fizeram parte do jogo do poder, onde se pode

apreender, pelos acertos mas, principalmente, pelos erros nas texturas da diversidade, dos conflitos e contradições

e, finalmente na cooperação e solidariedade.

O exercício da mentalidade coletiva segue caminhos entre opostos, conciliando conhecimento e ética,

sendo um mediador entre pessoas. As competências são cumulativas, as tarefas devem unir, devem ser elos entre

as pessoas.

A história do movimento negro na política voltada positivamente para a questão do negro no Brasil

dependeu do exercício da própria cidadania, aprendendo a eleger, a deseleger, a exigir a prestação de contas, a

reivindicar rodízio de poder, a competir e, clima de negociação, a reclamar representatividade das lideranças, a

insistir na legitimidade dos processos de acesso ao poder e muito mais.

O Brasil caminhou nos últimos anos, a passos lentos, em relação ao cenário para a mobilização social,

pessoal, formação profissional e as chances de competição do homem negro e da mulher negra no mercado de

trabalho, mas há vislumbra-se, a partir da vontade do próprio negro, muito a avançar e muitas resistências a

serem quebradas.

Os movimentos negros organizados, nos discursos sobre as desigualdades raciais, enfatizam a

reconstrução de sua identidade racial e cultural como plataforma mobilizadora no caminho da conquista da

sua plena cidadania. Eles preconizam que cada grupo respeite sua imagem coletiva, que a cultive e dela se

alimente, respeitando, ao mesmo tempo, a imagem do outro.

O levantamento feito pelo historiador Clóvis Moura, após o censo de 1980, ilustra com eloqüência a

adesão popular ao mito de democracia racial brasileira e ao ideal de branqueamento sustentado pela


 
 


mestiçagem. Inquiridos os brasileiros não-brancos sobre a sua cor, eles se identificaram por um

continuum

de cores/origens, num total de cerca de 136 cores declaradas

 

A categoria censitária “parda”, na qual se incluem todos os mestiços a partir do censo de 1980, teve,

na realidade uma função do mesmo ideal do branqueamento, quando muitos mestiços claros são drenados

na categoria censitária “branca”, como muitos negros claros são e podem ser considerados na categoria

“parda”.

Os indicadores como raça e etnia como irrelevantes para avaliação dos processos com ênfase em fatores

sociais para as políticas públicas.

A Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial será tanto mais exitosa quanto maiores forem os

canais de diálogo, e maior veracidade dos indicadores como raça e etnia, tiver mais relevância nos processos de

políticas públicas. Há de se organizar em cada espaço público arenas mediadoras das demandas sociais na

aplicação e conscientização da integração social no combate ao racismo.

A inclusão é uma tarefa complexa que reforçada por instrumentos efetivos de intervenção social,

acompanhadas de instrumentos necessários para a fundamentação na elaboração de políticas públicas resultem

em manifestos positivos de apoio, sendo atrelados recursos para argumentações convincentes e confiáveis na

confrontação das reivindicações étnico/raciais.

No decorrer do século XX, surgem inúmeros movimentos e entidades para defender os direitos da

população negra e lutar por cidadania plena. Um dos grandes símbolos dessas manifestações é Zumbi, o

maior líder do Quilombo dos Palmares. O dia de sua morte, 20 de novembro, é transformado em Dia

Nacional da Consciência Negra.

Para os especialistas, o aumento da população negra, apurada pelo Censo de 2000, deve-se ao fato

de muitos indivíduos, que antes se declaravam pardos, passarem a se identificar como negros, num

processo de fortalecimento da identidade racial.

Através do tempo uma história rompeu os séculos, lenda, mito ou fantasia, a história de Chica da

Silva pode ser um exemplo de como se quebram as regras de uma sociedade hipócrita nos seus falsos

valores e frágeis estruturas. Exemplo de como o negro para se impor, tem que se amar por ser negro.

Filha de uma negra, Maria da Costa, e um branco, Antônio Caetano de Sá, a escrava Chica da Silva

pertencia a Manoel Pires Sardinha, com quem teve seu primeiro filho, Simão, em 1751. Pode ter sido comprada ou

libertada a pedido de João Fernandes de Oliveira, que chegara ao arraial em 1753, para exercer o cargo de

contratador que o pai, que tinha o mesmo nome, conquistara junto à Coroa treze anos antes. Entre 1763 e 1771,

o casal Chica e João Fernandes morou na construção hoje conhecida com o nome da ex-escrava. A relação dos

dois, apesar de intensa, não foi um caso isolado na fortemente hierarquizada sociedade do século XVIII. Era

comum o envolvimento em homens brancos de destaque social e suas escravas. No entanto, os filhos destes

relacionamentos não eram legalmente reconhecidos, permanecendo em branco o nome do pai nas certidões de

nascimento.

Chica tinha todos seus desejos atendidos pelo companheiro. Como não conhecia o mar, João

Fernandes mandou construir em sua chácara, no bairro da Palha, um navio com capacidade para dez

pessoas. O navio, com mastros e velas, navegava no lago da chácara junto a pequenos barcos disponíveis




 
 

para os convidados das grandes festas que Chica oferecia à sociedade local. Uma orquestra particular e um

"Teatrinho de Bolso" eram outros luxos que embalavam as recepções.

Em 1770, João Fernandes foi obrigado a voltar para Portugal para prestar contas de sua atuação

como contratador e rever o testamento deixado pelo pai, determinando o afastamento definitivo entre os

dois. A preocupação de Chica então se voltou exclusivamente para o futuro das filhas: colocou-as no

recolhimento de Macaúbas, considerado o melhor de Minas, da onde a maioria só saiu para se casar.

Embora nunca tenha se casado por impedimento legal, Chica conquistou prestígio na sociedade local

e usufruiu bem das regalias antes exclusivas das senhoras brancas, mesmo depois do companheiro ter

partido para Portugal. Uma das provas dessa inserção: é a de ela pertencia às Irmandades de São Francisco,

de Nossa Senhora do Carmo, exclusivas de brancos, de Nossa Senhora das Mercês, para mulatos e Nossa

Senhora do Rosário de negros. Morreu em 1796 e foi enterrada na igreja de S. Francisco de Assis, privilégio

reservado apenas aos brancos ricos.

 

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