quarta-feira, 31 de julho de 2013



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África: extrema pobreza econômica
Sempre que ouvimos falar em África, logo formamos imagens de guerras, fome, seca, miséria. São quase 700 milhões de habitantes vivendo em 52 Estados, numa área de 30 milhões de quilômetros quadrados. Em seu conjunto, a população africana vive uma situação incomparável de tragédia humana. Apesar da extrema miséria, a África ocupou um lugar importante durante a Guerra Fria.A luta pela independência, desenvolvida por grupos
nacionalistas em diversos países africanos, ganhou força na segunda metade do século XX. O apoio a esses grupos, por parte de Washington e Moscou, contava pontos na disputa ideológica entre as duas superpotências. 

Vamos relembrar um pouco da história da África e analisar o processo de descolonização do continente dentro do contexto da Guerra Fria.



Impérios coloniais: declínio
No final da Segunda Guerra Mundial, não havia mais clima político no mundo para a preservação de impérios coloniais. A guerra marcou a derrota do Japão, da Alemanha e da Itália, países que tinham um projeto declaradamente colonialista. A própria criação da Organização das Nações Unidas, a ONU, em junho de 1945, tinha formalmente, como premissa, assegurar a igualdade entre todos os países do mundo.

Nesse quadro, os impérios coloniais ainda existentes eram uma anomalia, o resquício de um ciclo histórico já ultrapassado. Na realidade, a estrutura da ONU sempre refletiu a distribuição do poder na Guerra Fria. A composição do Conselho de Segurança é o melhor exemplo disso. Começou com 11 membros, depois ampliados para 15, sendo 5 permanentes e com poder de veto: Estados Unidos, União Soviética, França, Grã-Bretanha e China.
"A questão é que os países que realmente venceram a guerra - Estados Unidos, União Soviética, Grã-Bretanha, França e China - vão formar aquilo que se chama, no Conselho de Segurança, de bloco de países com direito a veto. Isso significa que qualquer decisão tomada pelo Conselho pode ser barrada por um desses cinco países. Agora, o que significa isso em termos, por exemplo, das regiões que estavam sendo colonizadas? Ficava muito estranho que essas nações todas tivessem lutado contra as nações totalitárias, pela democracia, pela liberdade, e ao mesmo tempo possuíssem colônias. Esse era o caso da França e especialmente da Grã-Bretanha, que possuía um vasto império colonial. Nesse sentido, fica claro que num determinado momento essas potências seriam colocadas em xeque e obrigadas a ceder a independência a todas as suas colônias."
Maria Helena Senise 
historiadora


Apesar do poder de veto, as potências coloniais estavam em declínio, abaladas por duas guerras mundiais e por crises econômicas. Em 1947, a Grã-Bretanha foi obrigada a ceder a independência à Índia, sob o impacto de um movimento nacionalista liderado pelo Mahatma Gandhi. Em 1954, foi a vez de a França ser expulsa da Indochina pelos guerrilheiros vietnamitas de Ho Chi Min, encorajados pela vitória comunista na China.IMAGEM
Gandhi: pela independência da Índia



Pan-Africanismo
Os sinais de enfraquecimento dos impérios coloniais, somados ao apoio retórico da União Soviética às lutas nacionalistas, estimularam as lideranças africanas a buscar o caminho da independência.

Um dos primeiros projetos foi o do pan-africanismo, ou a união de todas as nações africanas, formulado pelo líder negro Jomo Kennyata, do Quênia. O principal obstáculo do pan-africanismo era a diversidade étnica e cultural do continente. Existiam, como ainda existem, muitas "Áfricas" diferentes, impedindo as tentativas de aliança dos países africanos. Essa inexistência de uma "identidade africana" deve-se, em grande parte, ao fato de a África ter sido dominada, dividida e explorada por potências que nunca se preocuparam com os traços culturais daquelas populações.


Escravagismo e exploração dos bens naturais
Uma das raízes mais profundas da dura realidade africana é o mercado de escravos, explorado por árabes e europeus entre os séculos XVI e XIX. Naquele período, mais de ONZE milhões de seres humanos foram capturados por portugueses, holandeses, ingleses e franceses, e transportados à força, principalmente para as plantations dos Estados Unidos e para as possessões portuguesas na América. 

Encerrado o período escravagista, no século XIX, as potências coloniais mantiveram o controle sobre a África, que se tornou fonte de minerais e matéria-prima para a florescente indústria européia. No processo de colonização, muitas tribos e nações inimigas acabaram unidas à força pelos colonizadores. Por causa disso, as fronteiras dos Estados e regiões refletiam muito mais os interesses estrangeiros do que a história dos povos locais.
"O tráfico de escravos vai de certa maneira desarticular não só as economias locais mas desorganizar os pequenos reinos, as pequenas formações sociais existentes no litoral do continente, possibilitando futuramente a possibilidade de uma colonização, de uma dominação desses povos. Essa dominação ocorre de uma forma violenta ou estabelecendo fronteiras artificiais, cortando, na maior parte das vezes, segmentos e grupos étnicos. Isso pode ser notado na Conferência de Berlim, onde as principais potências européias dividem aleatoriamente, segundo seus interesses, o continente africano."
 


Bandung: tentativa de união dos países do Terceiro Mundo
Quando o líder nacionalista Jomo Kenyatta falava em pan-africanismo, ele tinha em vista, provavelmente, muito mais uma estratégia geopolítica do que cultural ou étnica. O objetivo era defender os interesses geopolíticos comuns dos países africanos. Da mesma forma, e também no começo dos anos 50, outro líder nacionalista, o egípcio Gamal Abdel Nasser, defendia um ideal pan-arabista, que centralizasse os interesses do povo árabe. Nos dois casos, do pan-arabismo e do pan-africanismo, essa unidade serviria de cimento político e ideológico contra os interesses imperialistas.

Foi com esse propósito, de unir os países do Terceiro Mundo, que se realizou a Conferência de Bandung, na Indonésia, em abril de 1955. A conferência proclamou-se representante dos países não alinhados nem ao bloco soviético nem ao bloco capitalista, mas favoráveis à criação de sociedades igualitárias.
 

O encontro, convocado pela Indonésia, Mianmar, Sri Lanka, Índia e Paquistão, reuniu 29 países da África e da Ásia. O presidente da Indonésia, Ahmed Sukarno, propôs um compromisso de todas as nações ali presentes de apoio mútuo em casos de agressões de países imperialistas. A Conferência soou como um sinal de alerta para as potências coloniais. Dez anos antes, Sukarno havia liderado o processo de independência da Indonésia, ex-colônia da Holanda. Além disso, em 1954, um ano antes deIMAGEM
Sukarno (de branco, acenando):
compromisso de união
Bandung, a França havia sido expulsa da Indochina. E, para completar, o pan-arabista Gamal Abdel Nasser havia dirigido, em 52, o processo de independência do Egito e despontava como líder do norte da África.


Nasser e o Pan-Arabismo
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Nasser: pela união árabe-muçulmana
Gamal Abdel Nasser, na verdade, era o principal articulador do chamado "pan-arabismo", que propunha a união de todos os países de maioria árabe-muçulmana, como forma de fortalecer a cultura e a causa islâmica frente ao mundo ocidental. Em função da identificação do Egito com o Islã, o país estava mais próximo do Oriente Médio, do ponto de vista cultural e político, do que dos países da África Negra. De qualquer forma, o pan-arabismo de
Nasser foi de grande importância para a causa pan-africanista, já que as duas iniciativas tinham em comum a luta contra os interesses estrangeiros em seus países. E um dos pilares dessa luta, no caso da África, era exatamente a descolonização do continente.

Outra iniciativa importante para acelerar o processo de descolonização foi a realização, em 1958, da 1ª Conferência dos Povos da África, em Acra, capital de Gana. Na ocasião, os países fecharam um acordo de ajuda mútua contra a Grã-Bretanha, França, Bélgica e Portugal. Àquela altura, a descolonização do continente já estava em andamento. Em 56, Marrocos e Tunísia, colônias da França, haviam conquistado a independência.



 


Independência: efeito dominó
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Argélia: luta pela independência
Na Argélia, onde a luta de libertação havia começado em 54, o processo foi mais doloroso. Os colonos franceses, ou pés pretos, recusaram-se a entregar as terras aos argelinos e atacaram os nativos com violência. A independência da Argélia seria reconhecida pela França somente em 1962, durante o governo do general Charles de Gaulle. Na África subsaariana, ao sul do deserto do Saara, foi Gana, o primeiro Estado negro a conquistar a
independência , em 1957, sob a liderança de Kuame Nkrumah. Junto com Jomo Kenyatta, foi um dos principais partidários da política pan-africanista. 

No Quênia, a revolta nacionalista ganhou impulso em 1952, quando membros dos kikuyu, a tribo mais numerosa do país, formaram uma organização clandestina, os Mau-Mau, contra os colonizadores britânicos. O Quênia obteve a independência em 63 e elegeu como seu primeiro presidente o líder Jomo Kenyatta. Ele governaria o país até sua morte, em 1978, quando seria sucedido pelo vice, Daniel Arap Moi.IMAGEM
Kenyatta: primeiro presidente do Quênia



Congo Belga: independência x ditadura
Um dos processos mais sangrentos de independência aconteceu no Congo Belga, depois chamado de Zaire, o segundo maior país africano em extensão territorial, depois do Sudão. O antigo Congo havia sido um presente da Conferência de Berlim ao Rei Leopoldo II, da Bélgica, em 1885. Um presente e tanto: um vasto território rico em cobalto, ferro, potássio e... diamantes.
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Congo Belga: país no coração da África
Até 1908, o Congo era tratado como propriedade pessoal do rei Leopoldo. Só naquele ano tornou-se uma colônia da Bélgica. Com tantas riquezas naturais à disposição, os belgas resistiram com uma forte repressão ao movimento de independência do Congo. A luta dos nacionalistas fez nascer um novo líder negro na África: Patrice Lumumba.



Uma Manhã no Coração da África

Durante mil anos tu, negro, sofreste como um animal
tuas cinzas foram espalhadas ao vento do deserto.
Teus tiranos construíram os templos mágicos e brilhantes, 
onde preservam o teu sofrimento:
o bárbaro direito dos punhos e o direito branco ao chicote.
Tu tinhas direito de morrer, também podias chorar (...)
Enquanto rompes tuas cadeias, os grilhões pesados
os templos malvados e cruéis irão para não voltar mais.
Um Congo livre e bravo surgirá da alma negra,
um Congo livre e bravo, o florescer negro, a semente negra ! 

Patrice Lumumba
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O líder nacionalista Patrice Lumumba
A luta pela independência no Congo Belga ganhou intensidade em meados dos anos 50. Em 1958, no Congresso Pan-africano, o líder nacionalista Patrice Lumumba faria um discurso anticolonialista que lhe daria prestígio e fortaleceria a causa de seu país. Os confrontos entre nativos e colonos belgas se intensificaram até a conquista definitiva da independência, em junho de 1960.

Conflitos entre o novo governo e províncias separatistas, no entanto, fizeram Lumumba, já no cargo de primeiro-ministro, pedir a intervenção militar da ONU e da União Soviética. Em setembro de 60, Lumumba foi afastado do cargo e preso, por ordem do presidente Joseph Kasavubu. Em fevereiro de 61, o governo anunciou oficialmente sua morte. Patrice Lumumba recebeu homenagens da União Soviética, que batizou com o nome dele uma universidade em Moscou destinada a alunos estrangeiros. Iniciativas desse tipo faziam parte da luta ideológica da Guerra Fria.

Em 1971, sob o governo de Joseph Mobutu, o Congo Belga passou a se chamar Zaire. Todos os zairenses com nomes europeus foram obrigados a adotar nomes africanos. O próprio presidente passou a Mobutu Sese Seko. Em 1997, após a queda do ditador Seko, o Zaire passaria a se chamar República Democrática do Congo.


As colônias portuguesas: independência tardia
Um a um, todos os Estados africanos conquistaram a independência, com exceção das colônias portuguesas Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. A África do Sul também constituía um caso à parte, em função do regime de segregação racial, o apartheid, que vigorava no país.

As possessões portuguesas estavam entre as mais antigas da África, e foram também as que duraram mais tempo. Os três Estados só chegaram à independência nos anos 70, depois da morte do ditador Antonio Salazar, que governou Portugal entre 1932 e 1970.

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Moçambicanos: independência em 1975
Moçambique, uma das nações mais pobres do planeta, foi a que permaneceu mais tempo sob domínio colonial: de 1505, quando os portugueses se apossaram de seu litoral, até 1975. O movimento nacionalista surgiu na década de 50 e ganhou impulso em 1962, com a criação da Frente de Libertação de Moçambique, a Frelimo, de linha marxista, liderada por Eduardo Mondlane. Através da tática de guerrilha, a Frelimo adquiriu em 64 o
controle de todo o norte da colônia. Mondlane seria assassinado em 69, no exílio, e substituído por Samora Machel. Depois da morte de Salazar, em 1970, as derrotas de Portugal nas colônias africanas foram ampliando a insatisfação entre os militares portugueses. O processo político em Lisboa resultou na Revolução dos Cravos, em abril de 1974, que reinstaurou a democracia no país.



Moçambique
Os novos governantes cumpriram a promessa de pôr fim ao império colonial português, em 1975. Moçambique passou a ser governado pelo líder da Frelimo, Samora Machel, que implantou um modelo socialista inspirado no leste europeu e na China de Mao Tse-tung. Além das dificuldades econômicas, Machel precisou enfrentar as ações da Resistência Nacional Moçambicana, Renamo, um grupo anticomunista apoiado pela África do Sul.

Samora Machel morreu em 1986, num desastre aéreo, e foi sucedido pelo chanceler Joaquim Chissano. O novo governo reintroduziu a agricultura privada e se afastou gradativamente dos países socialistas, a fim de obter ajuda econômica ocidental. Em 1990, sob o impacto da queda do Muro de Berlim, a Frelimo abandonou o marxismo. Mas a guerra entre o governo e a Renamo continuou, num país repleto de minas explosivas, terras cultiváveis afetadas pela devastação das batalhas e uma população vitimada pela fome, tifo e cólera.


Angola
Outro país que só conheceu a independência nos anos 70 foi Angola. Ali, a presença de Portugal foi particularmente marcada pelo tráfico de escravos, a principal atividade comercial até meados do século XIX. No total, cerca de 3 milhões de angolanos foram vendidos, a maioria para o Brasil. Somente no século XX é que Portugal passou a considerar Angola uma colônia de povoamento. Quando o país conquistou a independência, em 1975, havia 350 mil colonos portugueses em Angola, ou 6% da população.
A luta pela independência em Angola teve início na década de 60. A rebelião anticolonial se expressava através de três grupos rivais. Os principais eram o Movimento Popular de Libertação de Angola, MPLA, e a União Nacional para a Independência Total de Angola, UNITA. A rivalidade entre os grupos resultou em luta armada após a Revolução dos Cravos. O apoio estrangeiro a cada facção em luta espelhava claramente a Guerra Fria na África. A Unita recebeu ajuda dos Estados Unidos, da França e da África doIMAGEM
Soldado angolano: MPLA x UNITA
Sul, enquanto o MPLA teve o auxílio soviético e cubano. Em outubro de 75, a África do Sul enviou tropas para lutar em Angola, ao lado da Unita. A ofensiva contra a capital Luanda foi detida pela chegada de soldados cubanos, a pedido do MPLA. O governo sul-africano justificou o ataque alegando que Angola fornecia armas aos guerrilheiros da vizinha Namíbia, um país pequeno mas rico em ouro e outros minerais. Na verdade, a África do Sul queria deter o avanço de movimentos de esquerda no continente, avanço que poderia estimular a luta contra o apartheid sul-africano.

Em novembro de 75, Lisboa renunciou oficialmente ao controle da colônia e o MPLA proclamou a República Popular de Angola. Mas foi um difícil começo para a nova república: os colonos portugueses abandonaram o país, e com isso Angola perdeu praticamente toda sua mão de obra qualificada.

O novo governo tinha como presidente Agostinho Neto. Em 76, o MPLA assumiria o controle da maior parte do território e conquistaria o reconhecimento internacional. A Unita, liderada por Jonas Savimbi, prosseguiria a guerrilha com o apoio dos Estados Unidos. Em 1979, com a morte de Agostinho Neto, o novo presidente seria José Eduardo dos Santos.

Em 1988, um acordo entre Angola, Cuba e África do Sul fixou prazos para a independência da Namíbia, proclamada em março de 1990, e para a retirada das tropas cubanas, em maio de 91. No mesmo mês, um novo acordo entre o governo e a Unita estabeleceu a convocação de eleições democráticas, realizadas em setembro de 92. José Eduardo dos Santos foi confirmado presidente nas urnas, mas a Unita não aceitou o resultado e reiniciou a guerra civil. Os combates devastaram o país e provocaram a fome em grande escala. Segundo dados da ONU, 1,5 milhão de angolanos estavam ameaçados de morrer de inanição em 1993. Naquele ano, os Estados Unidos reconheceram o governo do MPLA e retiraram o apoio à Unita.




África na Guerra Fria: excelente mercado para a venda de armas
De um modo geral, os conflitos e guerras civis nos países africanos foram causados por uma combinação de componentes ideológicos, econômicos e étnicos. As superpotências e as antigas metrópoles coloniais estimulavam a formação de facções, contribuindo com armas e dinheiro. Nesse jogo complexo, os interesses de Washington e Moscou muitas vezes se misturavam às relações de ódio entre as tribos africanas, uma herança da época da escravidão e da administração colonial.


África do Sul
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Operários sul-africanos
Esse emaranhado de conflitos étnicos e geopolíticos está bem representado pela história da África so Sul, iniciada ainda no século XVII, época da chegada dos holandeses à região. Os europeus chegaram à região sul africana em 1487, quando o navegador português Bartolomeu Dias contornou o cabo da Boa Esperança. A partir do século XVII, os imigrantes holandeses, inicialmente interessados em explorar a rota comercial para a Índia, passaram a considerar a região como sua pátria.
Em 1806, os ingleses tomaram a cidade do Cabo e se instalaram no lugar, lutando contra os nativos negros e contra os descendentes de holandeses, chamados de bôeres. Os choques atravessaram todo o século XIX, provocando movimentos migratórios dos bôeres para o nordeste do país, onde fundaram duas repúblicas, o Transvaal e o Estado Livre de Orange.

Na passagem para o século XX, a Guerra dos Bôeres resultou na vitória dos ingleses. Os Estados bôeres foram anexados pela Coroa Britânica. Em 1910, juntaram-se às colônias do Cabo e de Natal para constituir a União Sul-Africana. Os negros, no entanto, eram a imensa maioria e constituíam uma ameaça ao domínio da minoria branca.




A política do apartheid
Ingleses e africâners, para minimizar a inferioridade numérica, fecharam em 1911 o primeiro acordo para a aprovação de leis segregacionistas contra a população negra. A política de segregação racial seria oficializada em 1948, com a chegada ao poder do Partido Nacional. O candidato Daniel Malan, simpatizante da ideologia nazista, elegeu-se usando na campanha a palavra apartheid, que em africâner significaseparação.

O apartheid impedia o acesso dos negros à propriedade da terra, à participação política e às profissões melhor remuneradas. Também confinava os negros em áreas separadas. Foram proibidos os casamentos e as relações sexuais entre pessoas de raças diferentes.

Durante todo o período da Guerra Fria, a África do Sul foi tratada pelas superpotências na condição de país mais industrializado do continente africano. Em 1961, a África do Sul obteve sua independência completa e retirou-se da Comunidade Britânica. A política do apartheid foi radicalizada. A partir de 71, os negros foram confinados nos bantustões, nações tribais instaladas numa área correspondente a 13% do território sul-africano. O objetivo dos bantustões era dividir a população negra, acentuando as diferenças históricas e culturais entre as tribos. Além disso, os governantes negros dos bantustões passaram a apoiar o apartheid, sistema que lhes assegurava o privilégio do poder local.


A luta do CNA e as pressões internacionais
A oposição ao regime segregacionista tomou corpo na década de 60, quando o CNA, Congresso Nacional Africano, uma organização negra fundada em 1912, lançou uma campanha de desobediência civil. Nascia ali a semente de uma longa luta que culminaria no fim do apartheid, nos anos 90. A luta na África do Sul começou a sensibilizar a opinião pública mundial ainda em 1960. A polícia racista matou 67 negros durante uma manifestação lideradaIMAGEM
Confrontos com a polícia: rotina violenta
pelo Congresso Nacional Africano em Sharpeville, uma favela a 80 quilômetros de Joanesburgo. O "massacre de Sharpeville" provocou marchas de protesto em todo o país. Em conseqüência, o CNA foi declarado ilegal. Seu principal líder, o advogado Nelson Mandela, foi preso em 62 e depois condenado à prisão perpétua.

A dominação branca começou a perder força com o processo de descolonização em toda a África, principalmente após o fim do império colonial português e a queda do governo de minoria branca da Rodésia, atual Zimbábue, em 1980.




Racistas sul-africanos: parceiros incômodos
Para os Estados Unidos, no início dos anos 80 a situação da África do Sul era incômoda. De um lado, Washington tinha o apoio do exército sul-africano na luta contra os comunistas em toda a região. De outro lado, o apartheid provocava indignação cada vez maior em todo o mundo, tornando difícil a manutenção do apoio ao regime racista.

Do ponto de vista dos capitalistas, o apartheid não era um regime interessante, porque limitava o acesso da população negra ao mercado de consumo. Além disso, o Partido Comunista sul-africano também lutava contra o racismo, o que poderia levar a uma aproximação entre o partido e o Congresso Nacional Africano.

Em 1984, a lei marcial foi estabelecida numa tentativa de conter a revolta popular contra o apartheid. A economia do país entrou em crise, por causa das sanções internacionais adotadas para pressionar o governo racista. Os protestos prosseguiram nas ruas das principais cidades sul-africanas. Paralelamente, começou a ganhar corpo, no mundo inteiro, o movimento pela libertação do principal líder da luta contra o apartheid: Nélson Mandela.


A libertação de Mandela
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Mandela: da prisão à presidência
A libertação de Mandela tornou-se uma das principais bandeiras do movimento contra o apartheid. As tímidas mudanças promovidas pelo então presidente Pieter Botha, em 1986, foram seguidas de reformas mais profundas, articuladas a partir de 89 por seu sucessor, Frederik de Klerk. De Klerk revogou, uma a uma, as leis racistas do apartheid e iniciou entendimentos com o CNA. Em fevereiro de 1990, Mandela foi colocado em liberdade, após 28 anos de prisão.
As reformas de Frederik de Klerk foram apoiadas em plebiscito realizado em 92. Foi a última consulta popular restrita à população branca. Dois anos depois, em abril de 94, foram realizadas as primeiras eleições multirraciais da história da África do Sul. Eleições vencidas por Nélson Mandela.

Com o fim da Guerra Fria, a África perdeu sua importância relativa. Nos anos 90, o continente foi de novo entregue ao esquecimento. Os Estados africanos, artificialmente divididos, ainda são cenário de guerras civis provocadas por ódios tribais. Muitas ditaduras são mantidas através das armas, e a doença, a fome e a seca continuam ceifando a vida de milhões de pessoas.

A miséria da África não tem causas naturais. Ela é um legado da escravidão, da dominação colonial e, na segunda metade do século XX, do jogo entre as superpotências durante a Guerra Fria. O mundo tem uma dívida para com a África. Uma dívida infinita.




Ensinar e Aprender


1) Na sala de aula, faça um levantamento de informações sobre o Colonialismo. Registre essas informações na lousa. Em seguida, organize os alunos em grupos para comparar essas informações com as de textos, mapas e fotos referentes ao processo colonial europeu no período de 1914 a 1939.
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2) Proponha aos alunos que construam um mapa do continente africano. Organize os alunos em grupos para localizarem nesse mapa os países que conquistaram a independência no período da Guerra Fria, registrando também as respectivas formas de governo.
 
3) Coordene um estudo monográfico sobre a independência da Índia e da Argélia, enfatizando a questão das diferentes formas de resistência à dominação colonial. Conclua esse trabalho com um quadro comparativo.
 
4) O processo de descolonização no antigo Congo Belga foi um dos mais sangrentos do
continente africano. Oriente os alunos para fazerem um estudo sobre os principais motivos dos confrontos entre nativos e colonizadores belgas, destacando a importância do movimento nacionalista liderado por Patrice Lumumba.
 
5) Proponha aos alunos uma pesquisa sobre as causas e conseqüências da Revolução dos Cravos ocorrida em abril de 1974, em Portugal.
 
6) Promova uma discussão em sala de aula sobre o tema apartheid, com base em textos
selecionados . Em seguida, exiba o filme Um Grito de Liberdade e oriente um debate.
Solicite uma conclusão coletiva, por escrito.
Obs.: o professor pode utilizar o filme para introduzir o assunto.

 
7) Solicite aos alunos uma pesquisa sobre a vida (biografia) de Nélson Mandela,
desenvolvendo itens como nascimento, família, formação educacional e profissional e atuação política.
 
8) Proponha aos alunos que ouçam a música "Mama África" de Chico César. Em seguida, que analisem, coletivamente, analisem a letra da música.
 
"Mama África"
mama áfrica (a minha mãe)
é mãe solteira
e tem de fazer
mamadeira todo dia
além de trabalhar 
como empacotadeira
nas casas bahia mama áfrica tem tanto o que fazer
além de cuidar de neném
além de fazer denguim
filhinho tem que entender
mama áfrica vai e vem
mas não se afasta de você quando mama sai de casa
seus filhos se olodunzam
rola o maior jazz
mama tem calo nos pés
mama precisa de paz
mama não quer brincar mais
filhinho dá um tempo
é tanto contratempo
no ritmo de vida de mama
(deve ser legal ser negão no Senegal)

 
 
 

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