domingo, 28 de julho de 2013

ANTIGOS IMPÉRIOS AFRICANOS

ANTIGOS IMPÉRIOS AFRICANOS


 

Na apresentação das grandes civilizações africanas, em 1000 a.C., povos semitas da

Arábia emigram para a atual Etiópia. Depois, em 715 a.C. o Rei de Cush, funda no Egito a 25a

dinastia. Em 533 a.C. transfere sua capital de Napata para Meroé, onde, cerca de cinqüenta

anos depois, já se encontra uma metalurgia do ferro, altamente desenvolvida. Por volta do ano

100 a.C. desabrocha, na Etiópia, o

Reino de Axum.

O tempo que se passou até a chegada dos árabes à África Ocidental foi, durante muitos

séculos, considerado um tempo obscuro, face à absoluta ausência de relatos escritos, que só

apareceram nos séculos XVI e XVII, com o “Tarik-Al-Fattah” e o “Tarik-Es-Sudam”, redigidos,

respectivamente, por Muhammad Kati e Abderrahman As Saadi, ambos nascidos em

Tombuctu. Mas o trabalho de arqueólogos do século XX, aliado aos relatos da tradição oral,

conseguiu resgatar boa parte desse passado.

O mais antigo desses reinos foi o da Etiópia. Entre os séculos III e VII, a Etiópia teve

como vizinhos outros reinos cristãos: o Egito e a Núbia, contudo, com a expansão do

islamismo essas duas últimas regiões caíram sob o domínio árabe e a Etiópia persistiu como

único grande reino cristão da África. Antes do efetivo início do processo de islamização do

continente africano, a África Ocidental vai conhecer um padrão de desenvolvimento bastante

alto. E, os antigos Estados de Gana, do Mali, do Songai, do Iorubá e Benin, são excelentes

exemplos de pujança das civilizações pré-islâmicas.


Império do Gana


O Antigo Império Gana teve seu apogeu entre os anos 700 e 1200 d.C. Acredita-se que

o florescimento desse império remonte ao século IV. Fundado por povos berberes, segundo

uns, e por outros, por negros mandeus, mandês ou mandingas, do grupo soninkê. O antigo

nome desse império era Uagadu, que ocupava uma área tão vasta quanto à da moderna

Nigéria e, incluía os territórios que hoje constituem o Mali ocidental e o sudeste da Mauritânia.

Kumbi Saleh foi uma das suas últimas capitais. Segundo relatos históricos, o Antigo Império de

Gana era tão rico em ouro, que seu imperador, adepto da religião tradicional africana, tal como

seus súditos, eram denominados “o senhor de ouro”. Com a concorrência de outras potências

no comércio do ouro, o Antigo Império Gana começou a declinar. Até que, por volta de 1076

d.C., em nome de uma fé islâmica ortodoxa, os berberes da dinastia dos almorávidas, vindos

do Magrebe, atacam e conquista Kumbi Saleh, capital do Império de Gana.


O Império do Mali



Os fundados do Antigo Mali teriam sido caçadores reunidos em confrarias ligadas pelos

mesmos ritos e celebrações da religião tradicional. O fervor com que praticavam a religião de

seus ancestrais veio até bem depois do advento do Islã. Conquistando o que restara do Antigo

Gana, em 1240, Sundiata Keita, expandiu seu império, que já era oficialmente muçulmano

desde o século anterior. E, o Mali se torna legendário, principalmente sob o

mansa (rei) Kanku

Mussá, que, em 1324, empreendeu a peregrinação a Meca com a intenção evidente de

maravilhar os soberanos árabes.


Império Songai


A organização do Songai era mais elaborada ainda que a do Mali. O Império Songai

teria suas origens num antepassado lendário, o gigante comilão Faran Makan Botê, do clã dos

pescadores sorkôs. Por volta de 500 d.C., diz ainda a tradição, que guerreiros berberes,

chefiados por Diá Aliamen teriam chegado à curva norte do Níger, tomando o poder dos

sorkôs. A partir daí, a dinastia dos Diá reina em Kukya, uma ilha perto do Níger, até 1009,

quando o reino se converte oficialmente ao islamismo e transfere a capital para Goa, onde a

dinastia reina até 1335. Nesse ano, o povo songai se liberta do Antigo Mali, de quem se

tornara vassalo em 1275 e, começa a conquistar as regiões vizinhas.


Império Kanem-Bornu


Outro grande Estado da África Negra, florescido por essa época, no norte da atual

Nigéria, foi Kanem-Bornu, em torno do ano 800 d.C. As cidades-estados haussás, situadas

entre o Níger e o Chade que se encontram em uma grande encruzilhada. Constituíram-se por

volta do século XII, em redor das vias comerciais que ligavam Trípolis e o Egito à floresta

tropical, por um lado, e, por outro lado, o Níger ao alto vale do Nilo pelo Darfur. Os haussás ou

a classe dirigente são negros que habitavam muito mais ao norte e a leste do que hoje. Junto

com o Mali e o Songai, um dos mais vastos impérios dos grandes séculos africanos foi o

Kanem-Bornu. A sua influência, no seu período de maior esplendor, estendia-se da Tripolitânia

e do Egito até ao Norte dos Camarões atuais e do Níger ao Nilo. Nas origens do Kanem

encontra-se a conjunção dos nômades e dos sedentários.


Império Iorubá


A sudeste da atual Nigéria constituíra-se o poderoso e dinâmico grupo Ibo. Possuía uma

estrutura ultrademocrática que favorecia a iniciativa individual. A unidade sociopolítica era a

aldeia. No sudoeste, desenvolveram-se os principados iorubás e aparentados, entre os séculos

VI e XI. As suas origens, mergulhadas na mitologia dos deuses e semideuses, não nos

fornecem, do ponto de vista cronológico, informações suficientes. O grande passado de todos

estes príncipes é Odudua. Seria ele próprio filho de Olodumaré, que para muitos seria o

Nimrod de que fala a Bíblia, ou segundo a piedosa tradição islâmica, de Lamurudu, rei de

Meca. O seu filho Okanbi, teria tido sete filhos que vieram a ser todos “cabeças coroadas”, a

reinar em Owu, Sabé, Popo. Benin, Olé, Ketu e Oyó. Por volta do século XII, Ifé era uma



cidade-estado cujo soberano o Oni, era reconhecido como chefe religioso pelas outras cidades

iorubás. É que Ifé, fora o lugar a partir de onde as terras se teriam espalhado sobre as águas

originais para, segundo a tradição, fazerem nascer o mundo. Os iorubás foram expulsos da

antiga Oyó pelos Nupês (Tapas) estabelecendo-se no que é a Oyó de hoje.


Império do Benin


Famoso por sua arte, o Benin, situado à sudeste de Ifé, foi fundado, segundo a

tradição, também por Oranian, pai de Xangô, sendo então, intimamente aparentado com Oyó

e Ifé. A primeira dinastia a reinar teve, segundo mitos, primeiro doze Obas (reis) e terminou

por uma revolta, quando se constituiu em reino. Seu apogeu ocorreu no século XIV, com a

capital Edo, que perdura até hoje.

A cultura nagô, evidenciada nesta pesquisa, tem procedência no grupo dos escravos

sudaneses do império iorubá, acima citado, em suas origens. Na verdade a denominação

“nagô” foi dada, no Brasil, a língua iorubá que foi, na Bahia, a “língua geral” dos escravos,

tendo dominado as línguas faladas pelos escravos de outras nações. O iorubá compreende

vários subgrupos e dialetos, entre os quais o Egbá, que inclui o grupo Ketu e Ijexá, das tribos

do mesmo nome, cujos rituais foram adotados, principalmente o Ketu, pelos candomblés mais

conservadores. Do ewe “anago”, nome dado pelos daomeanos aos povos que falavam o

iorubá, tanto na Nigéria como no Daomé (atual Benin), Togo e arredores, e que os franceses

chamavam apenas nagô.

 

texto KI-ZERBO, Joseph.

História da África. V. 1. Portugal: Publicações Europa-

América, 1999.

 





 
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