sexta-feira, 26 de julho de 2013

uma história rejeitada




 
 


 
 

 
 

 A    história do negro brasileiro não teve início com o tráfico de

escravos. É uma história bem mais antiga, anterior à escravidão

nas Américas, à vida de cativo no Brasil. Trata-se de uma saga que

se cruza com a aventura dos navegadores europeus, principalmente

os portugueses, e com a formação do Brasil como país. Conhecer

a história da África é fundamental para entender como foi possível

que milhões de homens, mulheres e crianças fossem aprisionados

e trazidos nos porões de navios destinados às Américas.

Por isso, para compreendermos a trajetória dos negros brasileiros

é preciso saber como e por que o continente africano se tornou o

maior centro de dispersão populacional do mundo moderno.

Quando, no século XV, os europeus desembarcaram na África

eles se deram conta de que estavam diante de modos de vida

bem distintos dos seus. Entre os africanos a organização social e

econômica girava em torno de vínculos de parentesco em famílias

extensas, da coabitação de vários povos num mesmo território, da

exploração tributária de um povo por outro. A vinculação por

parentesco a um grupo era uma das mais recorrentes formas de se

definir a identidade de alguém. Isto quer dizer que o lugar social

das pessoas era dado pelo seu grau de parentesco em relação ao

patriarca ou à matriarca da linhagem familiar. Nessas sociedades a

coesão dependia, em grande parte, da preservação da memória

dos antepassados, da reverência e privilégios reservados aos mais

velhos e da partilha da mesma fé religiosa.

Na África havia impérios poderosos como o Mali, reinos

bem consolidados como o Kongo (que não deve ser confundido
 


com o atual país Congo), mas também pequenas aldeias agrupadas

por laços de descendência ou linhagem. Ainda havia os grupos

nômades de comerciantes, agricultores e pastores que se deslocavam

sempre que as condições climáticas ou as oportunidades

de negócios assim os obrigassem. Mesmo porque o continente

africano caracterizava-se pela desproporção entre o enorme território

e o pequeno contingente populacional. Entretanto, a expansão

de reinos, a migração de grupos, o trânsito de caravanas de

mercadores, a disputa pelo acesso aos rios, o controle sobre estradas

ou rotas podiam implicar em guerra e subjugação de um povo

a outro.


Escravidão doméstica


Nesses confrontos era comum que os vitoriosos fizessem alguns

escravos dentre os membros de um vilarejo vencido em luta armada.

Era a chamada escravidão doméstica, que consistia em aprisionar

alguém para utilizar sua força de trabalho, em geral, na agricultura

de pequena escala, familiar. Se a terra era abundante, mas

rareava mão-de-obra, esse tipo de escravidão servia para aumentar

o número de pessoas a serem empregadas no sustento de uma

família ou grupo. Afinal, a terra de nada valia sem que se tivesse

gente empregada no cultivo de alimentos. Os escravos eram poucos

por unidade familiar, mas a posse deles assegurava poder e

prestígio para seus senhores, já que representavam a capacidade

de auto-sustentação da linhagem. Não por acaso, nesse tipo de

cativeiro se preferia mulheres e crianças. A fertilidade das mulheres

garantia a ampliação do grupo. Daí que era legítimo as escravas

se tornarem concubinas e terem filhos com os seus senhores.

Seguindo a mesma lógica, a incorporação dos escravos na

família se dava de modo gradativo: os filhos de cativos, quando

nascidos na casa do senhor, não podiam ser vendidos e seus descendentes

iam, de geração em geração, perdendo a condição servil

e sendo assimilados à linhagem. Assim o grupo podia crescer

com o nascimento de escravos, fortalecendo as relações de parentesco

e aumentando o número de subordinados ao senhor. A integração

dos cativos também explica a predileção pela escraviza

 
 


ção de crianças, visto que elas mais facilmente assimilavam regras

e constituíam vínculos com a família do seu senhor.

Não era só na guerra que se corria o risco de ser escravizado.

Em muitas sociedades africanas, o cativeiro era a punição para

quem fosse condenado por roubo, assassinato, feitiçaria e, às vezes,

adultério. A penhora, o rapto individual, a troca e a compra

eram outras maneiras de se tornar escravo. As pessoas podiam ser

penhoradas como garantia para o pagamento de dívidas. Nesta

situação, caso seus parentes saldassem o débito, extinguia-se o

cativeiro. Tais formas de aquisição de cativos foram mais ou menos

comuns em diferentes períodos e lugares da África. O rapto e

o ataque a vilas se tornaram mais freqüentes quando o tráfico de

escravos tomou grandes proporções.

Em algumas sociedades, a exemplo do povo Sena de

Moçambique, a escravidão também era uma estratégia de sobrevivência

quando a fome e a seca se faziam desastrosas. A venda ou

troca de um indivíduo da comunidade podia garantir a sobrevivência

do grupo, inclusive de quem era escravizado. A troca de

alguém por comida era uma forma de evitar a extinção do grupo.

Certamente estamos falando de um recurso extremo, porque ser

escravo naquelas sociedades tão fortemente estruturadas por laços

de parentesco significava ser exilado, torna-se um estrangeiro,

muitas vezes tendo que professar outra fé, se comunicar em outro

idioma, estar alheio às suas tradições. Sentenciar alguém à escravidão

era acima de tudo desenraizá-lo e desonrá-lo.

Desde que os árabes ocuparam o Egito e o norte da África,

entre o fim do século VII e metade do século VIII, a escravidão

doméstica, de pequena escala, passou a conviver com o comércio

mais intenso de escravos. A escravidão africana foi transformada

significativamente com a ofensiva dos muçulmanos. Os árabes organizaram

e desenvolveram o tráfico de escravos como empreendimento

comercial de grande escala na África. Não se tratava mais

de alguns poucos cativos, mas de centenas deles a serem trocados

e vendidos, tanto dentro da própria África quanto no mundo árabe

e, posteriormente, no tráfico transatlântico para as Américas,

inclusive para o Brasil.
 


A escravidão islâmica


Com a expansão islâmica a história da África ganhou novos rumos.

Desde os fins do século VIII, os árabes, partindo da região

do Golfo Pérsico e da Arábia, disseminaram o islamismo pela força

da palavra, dos acordos comerciais e, principalmente, das armas.

Eram as guerras santas, as

jihad, destinadas a islamizar populações,

converter líderes políticos e escravizar os “infiéis”, ou seja,

quem se recusasse a professar a fé em Alá. Um dos primeiros

povos a se converter ao islamismo, na África do Norte, foi o povo

berbere. As cáfilas, como ficaram conhecidas as grandes caravanas

que percorriam o Saara, eram formadas principalmente por

berberes islamizados. Foi assim, seguindo a trilha desses comerciantes,

que o islamismo ganhou adeptos na região sudanesa, na

savana africana ao sul do deserto do Saara.

A adoção do camelo como principal meio de transporte foi

decisiva na expansão do islamismo na África, porque possibilitou

aos berberes percorrer grandes distâncias e suportar as duras condições

da vida no deserto. As caravanas pareciam cidades em marcha.

Guias, soldados, mercadores e centenas de camelos e escravos

percorriam as trilhas à mercê da pouca água disponível nos

poços, do clima ameno dos oásis e da resistência dos animais.

Transitar no deserto era, além de exaustivo, uma peripécia

perigosa: corria-se o risco de enfrentar tempestades de areia, de se

perder entre dunas ou de sofrer ataques de assaltantes. Eram longas

viagens por rotas que, no século IX, ligavam Marrocos, Argélia,

Líbia, Tunísia e o Egito às margens dos rios Senegal e Níger,

ao sul da Mauritânia e ao lago Chade. Já na metade daquele século

os escravos eram os principais produtos dos caravaneiros do Saara,

que por ali transportaram cerca de 300 mil pessoas.

As cáfilas rumavam do Norte da África para as savanas

sudanesas carregadas de espadas, tecidos, cavalos, cobre, contas

de vidro e pedra, conchas, perfumes e, principalmente, sal. No

retorno, depois de meses, traziam ouro, peles, marfim e, cada vez

mais, escravos. Calcula-se que, entre 650 e 1800, esse tráfico

transaariano de escravos vitimou cerca de 7 milhões de pessoas,

sendo que 20 por cento delas morreram no deserto.


Um terço do território do continente africano é ocupado

pelo deserto do Saara. São 8,6 milhões de km2. O

Saara estende-se do litoral atlântico da África ao Mar

Vermelho. Nessa parte árida, porém, se localiza uma

das regiões mais férteis do globo: a faixa de terra banhada

pelo rio Nilo.


 


Rotas comerciais através do deserto de Saara.

 
 


Durante a viagem, os caravaneiros muçulmanos acampavam

nas fronteiras das cidades ou aldeias sudanesas e não deixavam de

cumprir os seus rituais religiosos. Rezavam cinco vezes ao dia, mas

também adivinhavam chuva, confeccionavam amuletos, previam o

futuro, administravam remédios aos doentes locais e, é claro, faziam

negócios. Tudo sempre de acordo com os preceitos islâmicos. Nessa

interação, o Islã dos mercadores ia encontrando ora uma maior

receptividade, ora a firme resistência das populações sudanesas adeptas

de crenças tradicionais. Em muitos lugares a fé em Alá e o culto

aos ancestrais conviveram, noutros a conversão ficou restrita ao

soberano e à aristocracia, enquanto as pessoas comuns continuavam

a professar as crenças herdadas dos antepassados. Mas também

se viu a conversão de populações inteiras, fosse para escapar

do risco do cativeiro, já que apenas os infiéis podiam ser escravizados,

fosse por sincera convicção religiosa.

O Corão não condenava o cativeiro. Para os seguidores do

profeta Maomé, a escravização era uma espécie de missão religiosa.

O infiel, ao ser escravizado, “ganhava” a oportunidade da conversão

e, depois de devidamente instruído nos preceitos islâmicos,

tinha direito a voltar a ser livre. Entretanto, não bastava se converter

para ter direito a alforria. Havia razões bem mais comerciais e

bem menos altruístas a justificar o crescimento do número de

escravos no mundo muçulmano. Primeiro, porque uma vez escravizado

o indivíduo nem sempre dispunha de tempo e condições

para ser educado de acordo com as leis islâmicas, e segundo, porque

o trabalhador escravo era fundamental para a viabilidade do

comércio dos mercadores muçulmanos.

A intensificação do comércio de longa distância exigia o

aumento do número de cativos. Além de produto de troca, o escravo

era o carregador nas exaustivas viagens. Estava a seu encargo

o transporte das barras de sal, dos fardos de tecidos, dos cestos

de tâmaras, das armas, dos objetos de cobre. Na outra ponta das

rotas comerciais a procura por escravos só aumentava. Quanto

mais escravos eram capturados outros tantos eram necessários para

preencher várias ocupações no mundo árabe. Podiam ser

concubinas, agricultores, artesãos, funcionários encarregados da

burocracia, domésticas, tecelões, ceramistas. Mas era principalmen

 
 

te como soldados que os cativos passavam a ser indispensáveis.

A conquista de territórios e o domínio de líderes locais dispostos

a interpretar à sua maneira a lei islâmica, requeriam mais e

mais soldados. Assim, à medida que aumentavam os territórios

submetidos aos muçulmanos, crescia a necessidade de controlálos,

bem como de realizar novas conquistas.

Todo o mundo árabe foi se revelando um bom mercado

para os cativos trazidos não só da África, mas também da Índia,

China, Sudeste da Ásia e Europa Ocidental. Viam-se, por isso,

pessoas capturadas em diversos lugares nos mercados de escravos

do mundo muçulmano. Mas foi a África negra quem mais abasteceu

os mercados de escravos, principalmente depois da ocupação

do Egito e do Norte da África pelos árabes. Ainda no século IX, o

califado de Bagdá chegou a contar com 45 mil escravos negros

trazidos pelos comerciantes berberes. A partir do século X, o número

de escravos provenientes da África subsaariana excedia em

muito o de turcos e eslavos. E essa tendência só se acentuou ao

longo do tempo, tanto que no século XVIII aproximadamente

715 mil pessoas foram capturadas na África negra e escravizadas

no Egito, Líbia, Tunísia, Argélia e Marrocos. Esse tráfico voraz de

gente de cor preta explica a presença de negros nas populações

árabes.

Desse modo, a escravidão doméstica africana foi dando lugar

à escravização em larga escala. A partir do século XV, com a

presença européia na costa da África, esse processo ganhou dimensão

intercontinental e fez da África a principal região exportadora

de mão-de-obra do mundo moderno. Todas as grandes

nações européias de então se envolveram no tráfico e disputaram

acirradamente sua fatia nesse lucrativo negócio. Holandeses, franceses,

ingleses, espanhóis e, principalmente, portugueses lançaram-

se na conquista dos mercados africanos.


A escravidão cristã


A procura por especiarias e ouro guiava os navegadores portugueses.

Das riquezas africanas eles tinham notícias desde 1415, quando

conquistaram Ceuta, importante centro comercial no extremo
 
 


norte da África. Contava-se que no interior do continente havia

cidades de ouro e rios que transbordavam pedras preciosas. Desde

então, os barcos lusitanos tomaram a direção dos ventos que

pudessem levá-los à costa africana, onde chegaram em meados do

século XV.

E foi grande o assombro dos africanos que viviam em

Arguim — região do atual Senegal ao sul do Cabo Branco —, ao

notarem que barcos enormes e estranhos se aproximavam da costa.

Embora já estivessem acostumados com a presença estrangeira

dos árabes, a visão dos europeus e de embarcação tão grande

deve ter-lhes causado estranheza. Havia homens brancos na África,

mas não como aqueles; existiam grandes barcos usados para o

transporte de pessoas e mercadorias, mas nenhum com as dimensões

das caravelas.

Os portugueses, desde que principiaram as grandes navegações,

compreenderam a importância de ter intérpretes na tripulação.

Os tripulantes mauritanos, os marujos mouros, malaios e indianos

eram tão necessários numa viagem quanto os conhecedores

da direção dos ventos, das correntes marinhas, da posição das

estrelas e do litoral africano. É certo que os primeiros encontros

entre portugueses e africanos não foram amistosos. Flechas envenenadas

de um lado e mosquetes de outro fizeram algumas baixas,

entretanto, coube aos tradutores dos portugueses estabelecer contatos

amistosos com a gente da terra. E, ali, nas proximidades do

rio Senegal tratava-se de gente e terras que faziam parte do império

jalofo.

Logo, os europeus mostraram interesse em conseguir ouro,

já os reis jalofos queriam os produtos que costumavam adquirir

com os caravaneiros do deserto: armas, tecidos, manufaturas do

Marrocos e do Egito, contas de vidro de Veneza e, sobretudo,

bons cavalos já equipados para a montaria, fundamentais para vencer

guerras e ostentar poder e riqueza. Os portugueses não conseguiram

o ouro tão desejado, mas zarparam abastecidos de escravos,

como faziam os mercadores do Saara. Realizados os primeiros

negócios, a curiosidade acerca do destino dos cativos embarcados

tomou conta dos africanos.
 
 
Mali e Songai


No século XVI dois grandiosos impérios rivalizavam no

Norte da África ocidental, Mali e o Songai. O império

Mali reunia, já no século XIII, vários povos que deviam

obediência e tributos ao mansa, também conhecido

como makinke (senhor da terra e da chuva) dos mandingas.

O domínio mali se estendia do deserto à savana

africana, e do litoral atlântico ao interior do continente

o que lhe garantia controlar a extração de ouro e os

portos caravaneiros. Com a decadência do império Mali

dos mandingas, o Songai foi se estruturando como o

último grande Estado mercantil do Sudão ocidental.

Assim como os mandingas, os songais consolidaram

seu poder estreitando os vínculos com o centro religioso

muçulmano, Meca. A estrutura administrativa do reino

de Songai era bastante complexa: o território era

dividido em quatro vice-reinos, havia um sistema regular

de arrecadação de impostos, prevalecia o sistema

de pesos e medidas árabe e um exército que chegou a

contar com cerca de cinqüenta mil escravos. O sucesso

do comércio dos portugueses no litoral contribuiu

para a decadência do império songai, mais voltado para

o comércio transaariano.


Já sabemos que o comércio de escravos na África existia

antes da chegada dos europeus. Ali mesmo nas proximidades do

rio Senegal, os reis jalofos há muito participavam do comércio

transaariano fornecendo escravos, ouro, malagueta, plumas e peles

de animais. Mas então as coisas mudaram de rumo. O embarque

dos cativos, naquele barco assombrosamente grande, trouxe

inquietação aos africanos. Havia, por exemplo, uma crença entre

os africanos de que os europeus eram ferozes canibais, capazes de

devorar a carne negra e guardar o sangue para tingir tecidos ou

preparar vinho.

Desconfiados de que os europeus podiam prejudicar seus

negócios, nada lhes foi facilitado. Nenhum chefe político franqueou-

lhes o acesso às zonas auríferas no interior da África, nem

os comerciantes os introduziram nas rotas transaarianas. Mas os

europeus persistiram. Arguim foi escolhida para servir de

entreposto comercial. Lá, construíram a primeira feitoria portuguesa

fortificada na África em 1445, para onde pretendiam desviar

o comércio transaariano.

A persistência portuguesa foi bem recompensada. Aos poucos,

foram sendo vencidas desconfianças, combinados preços

satisfatórios, e foram crescendo os negócios com os africanos que

viviam nas proximidades do rio Gâmbia, gente do poderoso Império

do Mali. Tanto que, por volta de 1460, tinham com eles boas

relações comerciais. Mas o principal objetivo dos portugueses, que

era se apropriar do comércio transaariano, ainda não havia sido

alcançado. Tão pouco tiveram acesso às minas de ouro, como sonhavam.


A Costa do Ouro


Ao longo dos séculos XVI e XVII, novas perspectivas de negócios

surgiram para os portugueses com o comércio de cabotagem

realizado entre portos não muito distantes, na região conhecida

como Costa do Ouro. Para que mercadorias valiosas, como noz

de cola (semente com propriedades medicinais, que mastigada refresca

a boca, reduz o cansaço, a fome e a sede), obtivessem bons

preços era preciso percorrer longas distâncias. Entre o produtor e


o consumidor final havia uma série de intermediários, o que encarecia

os produtos, embora garantisse a vitalidade do comércio

interno africano. Os portugueses se deram conta do funcionamento

dessa rede e do valor do escravo como moeda de troca.

Passaram então a comprar africanos para vender a outros africanos,

beneficiando-se da velocidade das caravelas no transporte

ao longo da costa.

Ao sucesso comercial dos portugueses passou a

corresponder o infortúnio do continente africano. No litoral, a

venda de escravos passou a determinar a prosperidade e a força

militar de uns e a miséria de outros grupos africanos. O comércio

com os europeus reforçou o poder de chefes dispostos a guerrear

contra povos inimigos com o único intuito de fazê-los cativos. A

presença portuguesa redimensionou a vida de populações litorâneas

que, até então, não tinham poder econômico e político significativo

e que passaram a ter na captura de cativos uma atividade

corriqueira, sistemática. A guerra produzia o cativo e o comércio

distribuía o escravo. O leitor deve estar lembrado que antes dessa

investida comercial lusitana os grandes negócios da economia africana

aconteciam no interior e no norte da África, dependiam da

resistência dos camelos e da habilidade dos caravaneiros do Saara.

Para os portugueses, com a prosperidade dos negócios, era

urgente o estabelecimento de mais feitorias no litoral africano,

fortalezas muradas e protegidas com canhões que desencorajassem

a aproximação de outros europeus e abrigassem mercadorias, inclusive

escravos. O castelo de São Jorge da Mina foi a mais importante

delas. Em 1482, onde hoje é a República de Gana, foi erguida

a sólida construção feita de pedra e cal, do mesmo modo que as

edificações européias. A imponência do forte deixava evidente

que os portugueses tinham planos ambiciosos, que pretendiam

permanecer por muito tempo na região, e os fantes (ou fantis) e

acãs (ou akans) — moradores locais —, temerosos, tentaram

inviabilizar ou pelo menos adiar a construção. Dificultaram a concessão

da terra, cobraram altos tributos, restringiram o acesso a

água potável e, ainda, atacaram os homens ocupados com a obra.

Apesar dos contratempos, ao final de oito anos a fortaleza

estava pronta, tendo dois fossos, altas torres e potentes canhões
 
 


prontos para atacar invasores e abrigar com segurança até mil cativos.

Mas a fortaleza não se mostrou tão segura. Em 1637, a Companhia

Holandesa das Índias Ocidentais a tomou de assalto, visando

controlar o comércio negreiro da região para abastecer Pernambuco,

sob o seu domínio desde 1630. Naquela época, a economia

pernambucana, baseada nos engenhos de açúcar, era grande

consumidora de escravos africanos.

Enquanto dominaram o castelo, os portugueses atraíram para

a vizinhança outros astutos negociantes, os mandingas, que compravam

dos lusitanos escravos e tudo mais que pudessem revender

aos caravaneiros do deserto. Formava-se, assim, uma rede comercial

que incluía os portugueses, mas também ampliava os lucros

dos comerciantes africanos. Por outro lado, a fortaleza facilitava

o deslocamento dos moradores do forte ao longo do litoral,

através da navegação de cabotagem, o que propiciava a negociação

direta com os reinos mais ao sul.

Os europeus levavam sal para uns, arroz, tecidos de lã e panos

de algodão para outros e, em contrapartida, recebiam ouro e

escravos, que, por sua vez, eram trocados por outros produtos, a

exemplo da pimenta. Estima-se que, entre 1500 e 1535, os portugueses

levaram para o castelo de São Jorge entre dez e doze mil

escravos. Muitos deles foram entregues pelos mandingas, e muitos

outros adquiridos no Golfo do Benim, onde as caravelas portuguesas

passaram a navegar com mais freqüência a partir do final

do século XV. Em 1479, por exemplo, numa só viagem quatrocentos

cativos vindo do Golfo do Benim foram trocados por ouro

no castelo de São Jorge.


A Costa dos Escravos


Antes de os portugueses começarem a comercializar no Golfo do

Benim não havia grandes reinos africanos em regiões florestais. A

exuberante floresta tropical dificultava a penetração comercial

nessas terras. O reino do Benim foi uma exceção. Nos últimos

anos do século XV, uma expedição portuguesa foi à capital do

reino e lá se deparou com uma grande cidade com ruas largas e

compridas e muitas casas. Mas, não há dúvidas de que a expansão
 
 


desse reino foi acelerada com a sua incorporação ao comércio

negreiro nos séculos XVI e XVII.

No Benim o controle comercial era do rei que comprava e

vendia sal, peixe seco, noz de cola, couros, tecidos e cobre. Cientes de

que o monopólio sobre o comércio garantia ao rei do Benim uma

considerável força política, os portugueses tentaram convertê-lo ao

catolicismo. Era uma forma de aproximar aquele reino africano do

lusitano. Mas, ao rei do Benim não interessava ter compromissos exclusivamente

com Portugal, já que outros europeus também cobiçavam

integrar-se ao esquema comercial do lugar. Franceses, ingleses e

holandeses também lhes propuseram acordos mercantis. A atitude

do rei do Benim deixa claro que os termos desses acordos comerciais

não dependiam apenas da habilidade dos europeus, também estavam

a mercê dos interesses dos diferentes povos africanos.

Por isso, não se pode entender a prosperidade do tráfico de

escravos sem levar em consideração a combinação de interesses entre

europeus e africanos. É bem verdade que as nações européias tentaram

manter o controle sobre as regiões produtoras de escravos, mas o

tráfico africano era um negócio complexo e envolvia a participação e

cooperação de uma cadeia extensa de participantes especializados,

que incluía chefes políticos, grandes e pequenos comerciantes africanos.

Há estimativas de que 75 por cento das pessoas vendidas nas

Américas foram vítimas de guerras entre povos africanos.

A avidez por escravos reorganizou de tal maneira o mapa

político africano que alguns reinos experimentaram o apogeu nos

séculos XVII e XVIII graças ao tráfico negreiro. Foi o caso dos

reinos de Daomé, Sadra, Achanti e Oió. Até o século XVI, Oió

era apenas uma cidade-estado iorubana que tinha na agricultura e

na tecelagem as suas principais atividades. Dedicava-se especialmente

à fabricação de tecidos, os famosos panos-da-costa que

viriam a ser tão apreciados pelos negros na Bahia. Mas as atividades

agrícolas e artesanais perderam importância diante do tráfico.

No final do século XVI, as cidades iorubanas participavam tão

ativamente desse comércio que a região do golfo de Benim passou

a ser conhecida como Costa dos Escravos.

Formou-se ali um mercado bastante competitivo. Entre os

vendedores de escravos, principalmente os iorubás e daomeanos


Por falarem variações do mesmo idioma, adorarem a

alguns deuses em comum, compartilharem a mesma

origem mítica e ocuparem o mesmo território (entre o

sudoeste da Nigéria e o sudeste da república de Benim)

vários reinos, a exemplo de Queto, Egba, Oió e Ijexá,

passaram a ser denominados pelos missionários europeus

de iorubás. Até o século XIX, o termo só se referia

ao povo de Oió. Oió subjugou vários outros reinos

iorubanos, além de vizinhos como o Daomé, Nupe e

Borgu. O poderoso reino de Oió entrou em colapso a

partir do final do século XVIII, devido a conflitos internos

e externos. A sua capital foi parcialmente destruída

e abandonada por volta de 1830.

 


competiam pelas mercadorias européias. Entre os compradores,

a concorrência não era menos acirrada. Nos portos da Costa dos

Escravos, ingleses, holandeses, franceses, portugueses e brasileiros

abarrotavam os navios de gente destinada a ser “exportada”

para as Américas. De fato, nenhuma grande nação européia ficou

fora deste que era o negócio internacional mais rentável da época.

Os africanos escravizados, moradores de pequenas aldeias cada

vez mais distantes do litoral, eram vítimas de assaltos e guerras.

Presas pelo pescoço umas às outras, essas pessoas eram levadas

para os mercados onde aguardavam os compradores, às vezes

por meses. Eram então trocadas, no século XVIII, principalmente

pelo fumo de rolo produzido na Bahia, produto muito procurado

naquela região e que garantia a primazia dos brasileiros.

Mas o sucesso comercial não impediu que o reino iorubá corresse

risco. Com a expansão do reino vizinho, o Daomé, vários territórios

subordinados a Oió passaram a ser saqueados e a ter os seus

habitantes escravizados. Desse modo, de implacáveis caçadores

de escravos, os iorubás foram transformados eles mesmos em cativos,

principalmente a partir do final do século XVIII.

O reino do Daomé foi fortemente centralizado e se desenvolveu

a partir de 1700 com o próprio tráfico atlântico. Como era

imprescindível a um reino tão intimamente dependente do comércio

de escravos, ali se concentrava um poderoso exército armado

de mosquetes, encarregado de ampliar as fronteiras e capturar

escravos, inclusive, no final do século XVIII, entre as populações

sob o domínio do reino de Oió. O tráfico era tão fundamental

para o reino de Daomé que em 1750, 1795 e 1805 foram enviados

embaixadores daomeanos à Bahia com a incumbência de

firmar acordos de monopólio comercial para o envio de cativos.

Como veremos no próximo capítulo, os negócios entre as elites

do Daomé e os proprietários baianos garantiram a regularidade

do tráfico de escravos para o Brasil. Nesta mesma época, os portugueses

já negociavam com os povos da África centro–ocidental,

e com eles estabeleceram vínculos políticos e religiosos mais estreitos

e negócios bem lucrativos, como veremos a seguir.
 
 


Kongo – Angola


Era 1483, quando o navegador Diogo Cão, procurando conhecer

melhor a costa africana, chegou à foz do rio Zaire, onde estava

estabelecido o poderoso reino do Kongo. Rapidamente se espalhou

entre os habitantes locais a notícia de que barcos enormes,

que mais pareciam pássaros gigantescos, estavam nas proximidades

do reino. A novidade vinda do mar trouxe inquietação. Na

região do Kongo-Angola pensava-se que os europeus vinham de

outro mundo, que eram seres sobrenaturais. Acreditava-se que entre

o mundo dos vivos e dos mortos havia uma linha divisória, a

Calunga. Daí que quando alguém morria o seu espírito atravessava

a fronteira entre a vida e a morte navegando numa zona transitória

que seria o oceano. Para eles, os homens brancos que desembarcaram

com Diogo Cão podiam ser espíritos de antepassados

voltando para casa.

A recepção aos portugueses foi calorosa. O mani-sônio (ou

mani Nsoyo), governante da província litorânea do reino, os acolheu

festivamente. Os navegantes também se mostraram entusiasmados

e curiosos. Queriam conhecer o rei, para quem traziam

presentes. Com tal fim foram enviados alguns mensageiros à cidade

real, Mbanza Kongo. O rei, o manicongo, deve ter ficado

bastante surpreendido com a presença daqueles brancos que diziam

ter cruzado o oceano. Talvez por isso, ao invés de mandálos

de volta a seus navios, os manteve em seu palácio.

Assim, os mensageiros tiveram a oportunidade de saber que

o reino do Kongo era uma estrutura político-administrativa bem

complexa e centralizada. A autoridade máxima era o manicongo,

escolhido por um conselho de nobres que ocupavam os cargos de

secretários reais, administradores provinciais, coletores de impostos,

juízes e oficiais militares. Já a economia estava assentada na

atividade agrícola e pastoril, embora houvesse grandes mercados

regionais para o comércio de sal e produtos de ferro, nos quais a

moeda usada era um tipo de concha da região da ilha de Luanda,

cuja coleta era monopólio real.

Ao perceber que os mensageiros enviados ao rei tardavam a

voltar, Diogo Cão resolveu tomar quatro reféns e levá-los diante


do rei de Portugal, com a promessa de trazê-los de volta depois

de algumas luas. Assim foi feito. Quando retornaram para o

Kongo os quatro africanos estavam vestidos como europeus e

falando português. Se os mensageiros que ficaram na cidade real

do Kongo tinham muito para contar a Diogo Cão, não eram

poucas as novidades que os raptados relataram ao manicongo.

Haviam visto muitos outros barcos enormes, armas e riquezas

que podiam assegurar o poderio de quem as possuísse.

Ambicioso, o manicongo Nzinga avaliou que era fundamental

firmar acordos com aqueles viajantes e, em 1489, enviou

numa das caravelas de Diogo Cão vários presentes e uma embaixada

ao rei português, d. João II. O objetivo dos embaixadores era

claro: solicitar autorização para que rapazes do reino africano pudessem

ser educados na Europa, conseguir que padres católicos

fossem enviados ao Kongo, assim como mestres no ofício da carpintaria,

pedraria e agricultura. O rei português não tardou a atender

aos pedidos. Uma aliança com outro soberano tão poderoso e

disposto a se converter ao catolicismo parecia a oportunidade ideal

para fincar os pés naquela região da África.

Por sua vez, o rei do Kongo visava apropriar-se dos conhecimentos,

técnicas e até hábitos e costumes europeus que pudessem

fortalecer ainda mais o seu reino. O manicongo, uma de suas

esposas e um filho foram batizados numa igreja de pedra e cal que

mandou erguer em 1491. Daquele dia em diante ao rei do Kongo

foi dado o nome de d. João I, a sua mulher, Leonor, e ao seu filho,

Afonso. É certo que houve quem se negasse a aderir ao catolicismo,

dentre eles, um outro filho do rei, Mpanzu a Kitima, mas este

foi vencido por Afonso na disputa pela sucessão do trono. Vitória

facilitada pela ajuda militar portuguesa na forma de cavalos e armas.

Além de propagar o catolicismo, d. Afonso sempre se

mostrava interessado em aproximar o Kongo de Portugal também

por meio dos costumes, língua, ensino e conhecimento

tecnológico. Contudo, ao fim de décadas de negociação, os portugueses

não tinham honrado o compromisso de ensinar aos

congueses como se construir grandes barcos a vela, tão pouco

moinhos e veículos de roda. As novidades ficaram restritas ao

 


cultivo do milho, da mandioca, batata-doce e amendoim vindos

da América. Em contrapartida, além do auxílio militar, sempre

que necessário d. Afonso contou com os portugueses para

incrementar o comércio do cobre, trocado por mercadorias européias

que, por sua vez, eram repartidas entre os chefes de distritos

do reino. Esses chefes faziam o mesmo com os líderes das aldeias,

que por sua vez também dividiam com os cabeças de grupos familiares.

Desse modo estava assegurada uma rede de lealdade capaz

de sustentar o poder do rei, que governou entre 1506 e 1543.

Mas, aos poucos, o controle dos negócios foi escapando

das mãos reais. Burlando a sua vigilância, administradores provinciais

começaram a negociar com os portugueses sem qualquer intermediação.

Ironicamente, quanto mais as elites do Kongo desejavam

os produtos europeus, como queria d. Afonso, mais risco

corria o seu reinado. Nas últimas décadas do século XVI, começava

a ruir um dos mais estáveis reinados da África centro-ocidental.

Já a demanda por produtos europeus crescia de tal modo que cobre

e peles já não eram suficientes para saldar as dívidas com os

comerciantes portugueses.

Até então a escravidão no Kongo era do tipo doméstico,

embora nas cidades fosse comum que um número significativo de

prisioneiros de guerra estivesse a serviço da nobreza. Mas, aos poucos,

os cativos passaram a ser usados como meio de conversão da

moeda local para a portuguesa, sem o intermédio da nobreza e do

rei. No decorrer do século XVII, mais e mais escravos foram envolvidos

nas transações entre chefes políticos e mercadores africanos

com os portugueses, que os aceitavam de bom grado. Multiplicaram-

se na região as guerras com o único fim de capturar mais pessoas

a serem embarcadas nos navios portugueses.

Ao mesmo tempo, os portugueses intensificavam o comércio

de escravos com Ndongo (Angola), vizinhos e vassalos do

Kongo, sem a intermediação de d. Afonso. Eles imaginavam que

encontrariam, naquelas terras, minas de prata. A pretensão

colonialista já era evidente em 1575, quando as terras diante da

ilha de Luanda foram consideradas uma capitania portuguesa. Logo

os moradores do lugar entenderam que, ao construírem casas, igreja

e fortificações, os portugueses visavam se fixar na região, e reagi

 
 


ram. A cada investida portuguesa para o interior do continente

correspondiam ataques de hábeis chefes políticos, a exemplo da

rainha Jinga (ou Nzinga). No mais, ainda existiam outros inimigos

bem poderosos: as febres, a escassez de comida, os insetos, a estiagem

e a frustração diante da inexistência de prata e ouro nas

proximidades.

Os portugueses concluiriam, então, que a empreitada conquistadora

não valia a pena e resolveram concentrar suas forças

no comércio de escravos, atividade que seguramente lhes rendia

muito lucro e menos trabalho, pois eram os próprios moradores

de Luanda que se lançavam à caça de cativos. Luanda rapidamente

se tornou uma grande feira de comércio de gente. Angola, desde

fins do século XVI até a primeira metade do século XVIII, foi o

maior fornecedor de escravos para as Américas portuguesa e espanhola.

Entre 1575 e 1591 foram embarcados da região de Angola

mais de 52 mil africanos para o Brasil.


A África Oriental


A busca dos portugueses por riquezas e rotas comerciais fazia com

que eles rondassem incessantemente toda a costa africana. Sem

dúvida, foi na África ocidental que a presença portuguesa foi mais

evidente. Mas eles também se aventuraram, no século XV, na costa

africana banhada pelo oceano Índico, onde se impressionaram

com a semelhança daqueles portos, ruas e casas com as que existiam

em Portugal e Espanha. Eles se deslumbraram diante das

construções com vários andares e terraços, que lhes eram tão familiares.

No porto de Mombaça, o movimento incessante dos

barcos transportando ouro, prata, pérolas, seda, vidros, especiarias

os deixaria ainda mais fascinados.

Sofala, Moçambique, Zanzibar e outras cidades-estado estavam

na fronteira do mundo islâmico. Eram cidades integradas às

redes comerciais do oceano Índico, controladas pelos muçulmanos

que, apesar do encantamento dos portugueses, não viam os

recém-chegados com bons olhos. A presença de estranhos não

era bem vinda, e disso os portugueses logo souberam, haja vista a

hostilidade com que foram recebidos. Entretanto, no século XVI,


algumas dezenas de portugueses já haviam se embrenhado no

interior da região combatendo os mouros, resistindo a doenças,

negociando com os reis africanos, pregando a fé cristã e instalando

feitorias, onde era considerável o número de escravos empregados

na lavoura e na criação de animais.

Mas era o ouro, a prata e o marfim que mais os incentivavam

a permanecer num território dominado por muçulmanos. Foram

muitos os embates entre portugueses e mouros pelo controle dos

principais centros comerciais — Quiloa, Mombaça, Massapa,

Melinde e Moçambique. Essas disputas desestabilizaram redes comerciais

milenares. A cobrança de tributos, os saques, incêndios e

as rebeliões contra os lusitanos, além das investidas dos holandeses

e ingleses, ameaçavam a prosperidade da atividade mercantil.

Os portugueses tentaram manter a hegemonia na região

construindo fortificações. Ergueram uma na ilha de Moçambique,

que era a capital dos estabelecimentos portugueses na África Oriental,

e em 1593 foi edificada em Mombaça a maior delas, a fortaleza

de Jesus. Esta fortaleza sofreu ataques de grupos muçulmanos,

foi cenário para revolta de escravos e abrigou aliados políticos,

e embora tivesse sido mantida sob o controle dos portugueses,

isto não lhes garantiu as riquezas que almejavam: ouro e prata

em grande quantidade. Como se via na parte ocidental da África,

foi com escravos que os aventureiros portugueses, holandeses e

ingleses conseguiram acumular fortuna.

A saga dos africanos seguia seu curso: por um lado, eles

buscavam integrar-se com lucro no circuito comercial atlântico,

por outro, viviam a trágica experiência da escravização em massa.

Não há dúvidas de que os comerciantes africanos eram os elos

mais fracos nesse circuito, pois viviam permanentemente na dependência

do grande traficante europeu ou brasileiro. Os negócios

do tráfico movimentaram a economia numa dimensão global,

mas as suas conseqüências foram brutais para as sociedades africanas.

Além dos incalculáveis sofrimentos causados pela separação

forçada de indivíduos de suas comunidades e famílias, aquele comércio

promoveu o esvaziamento demográfico de muitas regiões

da África. Ao privar as comunidades de indivíduos adultos, o trá

 
 


fico transplantava às Américas algo muito necessário na África:

o trabalho do africano. No mais, a presença dos europeus no

continente africano representou tanto a integração da África negra

ao grande circuito comercial do Atlântico, quanto determinou

os rumos das sociedades do Novo Mundo, que incluía a região

que veio a se tornar o Brasil.

EXERCÍCIOS:

 Comente a seguinte afirmativa: a escravidão doméstica

consistia em aprisionar alguém para utilizar a

sua força de trabalho na agricultura de pequena escala.
 
 

 Analise de que maneira a expansão islâmica

redimensionou a escravidão na África.
 
 

 Comente as relações comercias entre portugueses e

africanos do reino do Kongo.




 

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