sexta-feira, 26 de julho de 2013

ÁFRICA, O 'BERÇO DA HISTÓRIA DA HUMANIDADE': ORIGENS DOS PRIMEIROS POVOS AFRICANOS

PROBLEMAS ACERCA DAS HERANÇAS TEÓRICAS CRIADAS COM O IMPERIALISMO EUROPEU DE FINS DO SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX.


Na segunda metade do século XIX até a Primeira Guerra Mundial os europeus, em especial os alemães, tinham uma teoria sobre a origem do Homem na África, chamada de Camítica, que pressupunha que os povos camíticos da Ásia teriam desenvolvido a civilização africana com tecnologia e biótipos físicos. Acrescenta-se aqui que essa teoria foi influenciada pelo filósofo alemão Hegel que ainda afirmava haver dois tipos de povos: os povos históricos, que contribuíram para a construção da Humanidade; e os povos não-históricos, que não contribuíram.

No inicio do século XX surge uma teoria baseada na Escola Histórico-cultural, liderada por Stuhlmann, que vai contradizer essa idéia afirmando que haveria um circulo de civilização diferenciada identificado através da cultura material, mas essa teoria continuaria com a idéia de que os primeiros povos da África teriam vindo de lugares externos ao do continente, como seria o caso de povos negros que partiram do Sudoeste da Ásia e foram para a África ensinar aos povos autóctones – Pigmeus e San de baixa estatura – o uso de enxada, agricultura e criação de gado; cruzaram ‘raças’ e deram origem aos bantu. Outros grupos camitas da Ásia Oriental migrariam para a África dando origem aos Somali, Peul, Masai, Khoi-khoi, entre outros, e introduziriam o gado cornífero de grande porte, a lança e o uso do couro.

Teorias lingüísticas lideradas por Meinhof derrubariam a teoria a escola Histórico-Cultural. Afirmariam que os San seriam os autóctones mais antigos da África e haveria os negros autóctones da zona equatorial e sudanesa. Depois os camitas da Arábia iriam para o Sudão passando pelo Norte, introduziriam a criação de gado eram de cultura superior ao dos negros autóctones. A miscigenação com o lado Oriental do continente daria origem aos povos bantu.
Porém, as descobertas do Australopitecus na província do Cabo, África do Sul, em 1924, e outras no norte, no leste na região da Tanzânia, no Quênia e Etiópia comprovaram que as idéias acima estavam erradas. Essas descobertas mostraram que o continente africano é o “berço da História da Humanidade”. Essa afirmação é reforçada com achados de restos de lareira e fragmentos de cerâmicas encontrados entre a Argélia e a Líbia (em Tassili n’Ajjer e em Tadrart-Acacus) datando de 8.000 anos. Além de esqueletos negróides de Acacus que datam de 9.000 anos. Os vestígios orgânicos encontrados na Baixa Núbia indicam a prática da colheita e preparação de cereais selvagens, assim o neolítico da África ocorreu em pelo menos 13.000 anos, antes da região do chamado Crescente Fértil do Oriente Médio.


O antropólogo e historiador russo, pesquisador da História da África, Dmitri Alexeyevich Olderogge, demonstra um cuidado com os problemas da Antropologia e da Lingüística acerca das pesquisas sobre origem e disseminação dos povos da antiguidade africana. Afirma ser difícil trabalhar com as teorias lingüísticas para definir uma “’planta’ cultural dos povos africanos” pelo fato das línguas mudarem freqüentemente. Já a Antropologia é mais confiável, pois os traços físicos e biológicos tendem a perpetuar mais tempo, podendo ser usado como base os traços biótipos atuais para resgatar possíveis “raças” da antiguidade africana. Com essas idéias o autor afirma que as “raças” do mediterrâneo do Norte da África são de eras longínquas; já a África Ocidental foi habitada por povos Etiopóides e a parte Sul por grupos San. As Florestas Tropicais e Equatoriais forma ocupadas por Pigmeus.

As “raças” conhecidas por Sudanês ou congolês adaptaram-se nas latitudes tropicais como regiões da África Oriental. A população negra foi predominante nessa área, porém havia grupos afro-mediterrânicos como foi o caso dos povos líbios Tamehu, de pele clara e olhos azuis. ; também os povos Tehenu, de pele mais escura. Na região do Vale do Nilo, com a desertificação há 13.000 anos, grupos negros saem do deserto em busca de solo úmido e chega ao Vale do Nilo, o mesmo ocorreu com nas regiões do Baixo Senegal, Médio Níger e Chade.


A INTERAÇÃO ENTRE OS GRUPOS ÉTNICOS AFRICANO


A interação dessas “raças” foi resultado de múltiplos fatores que em alguns casos permitiu o distanciamento dos traços herdados, e em outros mantiveram essas traços. Podemos levar em consideração dessas mudanças aspectos do meio ambiente: insolação, temperatura, cobertura vegetal, umidade, etc. (em outro artigo desse blog há informações da parte geográfica histórica da África que pode ajudar nesse assunto. O autor também alerta para evitar criações teóricas errôneas ou precipitadas que generalizam os grupos só com bases no aspecto geográfico, para derrubar teorias como essa é bom considerar o exemplo dos grupos Dinka, do Alto Nilo e os Wolof do Senegal, ambos com pele escura e estatura alta.

No caso dos Pigmeus africanos, sua primeira aparição registrada ocorreu na região do Egito na sexta Dinastia do Antigo Império. No tumulo de Herkhuf, em Assuã, há menção a um anão chamado Deng, palavra de origem da língua dos Pigmeus da Etiópia. Os Pigmeus das Florestas Equatoriais e Tropicais cederam a região aos bantu e partiram para as florestas de Ituri e Uele (no nordeste e leste do Congo).

Os San são originários da África, de pequena estatura, pele amarelada e cabelos em pequenos tufos. Não podemos associá-los aos Khoi-khoi. Muitos fazem essa associação por causa a pouca semelhança lingüística (consoantes do mesmo valor fonêmico) e a cor da pele. Antropologicamente os Khoi-khoi são mais altos, crânios e cabelos diferentes. Olderogge estudou aprofundadamente sua língua e notou uma diferença entre as línguas Khoi-khoi e San, as estruturas gramaticais e o vocabulário. Os San são nômades e constituem remanescentes de povos originais do extremo sul africano, hoje estão em regiões como Namíbia, Calaari e Angola. No passado habitaram a savana meridional e oriental até o Quênia.

Os Hadzapi, do lago Eyasi, na Tanzânia, são a extensão dos antigos povos San. Usam uma técnica também usada pelos San que é pedras redondas furadas que serviam pra lastrear estacas para desenterrar raízes comestíveis. Na Etiópia também foram encontradas essas técnicas, no entanto, não podemos afirmar que os San inventaram essa técnica.

Contudo, não podemos limitar o mapa étnico geográfico situando os Khoi-khoi como sendo únicos povos mais antigos da Floresta africana e os San das Savanas. Ouve outros povos, como foi o caso dos Kwadi na Angola, com língua igual a dos San; Os Otavi em Vedder, com baixa estatura e nomadismo e se autodenominando Nu-Khoin (“homens negros”, diferente de Khoi-khoi que significa “homens vermelhos”). Com essa breve explanação podemos ver como é complexo listar e enumerar geograficamente os povos das regiões das florestas e savanas da África Central e Meridional. Acrescenta a essa dificuldade o fato de que o mapa lingüístico atual não coincide com a distribuição dos tipos “raciais” dos povos antigos que se cruzaram e quebraram heranças genéticas.

No que diz respeito à língua, a África do Norte, da Mauritânia e Etiópia, pertencem as línguas camito-semíticas. E essas línguas se dividem em cinco grupos: semítico, cuchítico, berbere, egípcio antigo e grupo lingüístico do Chade. No Extremo Sul as línguas San, juntando as línguas Kwadi na Angola e Hadzapi na Tanzânia, pertencem ao mesmo grupo, são chamadas de língua paleoafricana. As línguas Khoi-khoi não são incluídas aqui pois tem outro sistema gramatical, mas alguns San adotaram essa língua, como é o caso do povos do Monte Otavi e dos Naron do Centro. A expansão dos khoi-khoi do Alto Nilo para as Savanas Orientais é confirmada com o grupo Sandawe do lado Eyasi, com língua igual aos Khoi-khoi.
Entre as línguas Camilo-semíticas do Norte e as Línguas paleoafricanas do Sul temos as línguas que o autor prefere reunir em uma família lingüística chamada de Zindj. Dentro dessa língua temos as línguas bantu com sua grande heterogeneidade lingüística interna por causa das inúmeras influencias passadas. Temos também nessa família lingüística o subgrupo mande, a leste e oeste dessa tem uma língua chamada de gur, mas que há uma confusão em nomear e situar – os ingleses a chamam de Mel, e também já foram refutados. Fato é que essa região abriga, espremida, uma variedade de pequenos povos.
Dentre as línguas do Sudão Oriental, as Nilóticas, estão a parte, isolando-se. E nos grupos lingüísticos da família congo-saariana, as línguas bantu tem parentesco. Percebe-se as diversas áreas que citamos os bantu, isso demonstra a dificuldade de encontrar a “gênese dos bantu”. Uns localizam essa origem ao Norte (camarões e bacia do Chade), outros situam na África Meridional. O lingüista Malcolm Guthrie encontrou uma hipótese mais aceita. Situa a origem dos bantu entre os Luba e Bemba no Alto Zaire. Além dele, alguns arqueólogos associam a difusão do ferro na região Meridional à migração bantu e sua tecnologia superior, Guthrie faz uma ligação as jazidas de cobre e de ferro do Alto Zaire a alta tecnologia dos bantu e a difusão do ferro por eles. Porém, o termo bantu se limita a um caráter lingüista, antropologicamente são diversificados como cor de pele, altura, dimensões corporais, etc. os bantu das florestas tem características diferentes dos bantu das savanas. Acentuamos suas diferenças analisando a atividade econômica e organização social: uns são matrilineares (a organização familiar se concentra na família da mãe), outros patrilineares (a organização familiar se concentra na família do pai); uns usam máscaras e têm sociedades secretas, outros não têm nada de semelhante; a língua também tem suas diferenças.
Os povos bantu que saíram do Saara no período de desertificação e foram para áreas úmidas, como montanhas do Norte, vale do Nilo e leste, eram caçadores e criadores de gado e dominaram os povos autóctones que se retiraram para o sul, que por sua vez dominam os povos autóctones do Sul. Para finalizar sobre os bantu, quanto mais próximo da área de origem citada por Guthrie, a pureza lingüística é mais acentuada, e quanto mais distante aumenta ainda mais sua miscigenação com outras línguas.


Mulheres da etnia San na Namíbia.

Crianças Soninké.





Essas duas imgens são do chamado grupo Khoisan (o termo vem de muitos colocar os San e os khoi-khoi no mesmo grupo etnico), a característica das nádegas avantajadas são típicas das mulheres dessa etnia. A imagem reproduzida por um desenho faz uma alusão á Saartjie "Sarah" Baartman, mulher khoisan que foi capturada no final do século XVIII e levada para a Europa e atuar nos freak Show eurropeus. Ela, por ter as nádegas com um tamanho bem maior que das outras mulheres khoisan e os lábios vaginais também um formato e tamanho atípico, foir forçada a ficar nua exibindo-se para os europeus. Foi libertada da condição de escrava após o fim da escravidão em terrenos sob o domínio inglês. Seu nome Saartjie Baartman é de origem africander, é desconhecido seu nome de origem.


Grupo bantu.


Nenhum comentário:

Postar um comentário