terça-feira, 30 de julho de 2013

Nefertiti

 

Notícias da África

José Bonifácio ouvia e anotava informações sobre geografia e cultura africanas que lhe eram transmitidas por escravos


José Bonifácio d'Andrada e Silva
Retrato a óleo por Dácio Rodrigues Vilares
Museu Histórico do Rio de Janeiro, Brasil

Numa carta de 30 de novembro de 1826, José Bonifácio de Andrada e Silva dava, de Talance, a Antônio de Menezes Vasconcellos de Drummond (1794-1865), em Paris, instruções sobre a publicação de uma “Notícia do interior da África e curso do Níger”: que fosse entregue ao Journal Géographique ou aos anais de viagens de Malte-Brun e Eyriès. Quatro meses depois voltaria ao assunto, dando ao amigo poder para reduzir o artigo, como queriam as revistas. O texto de José Bonifácio nunca foi publicado ou está esquecido nas páginas de alguma revista francesa. Tampouco se sabe onde repousa o original manuscrito. Conhecemos, contudo, parte do seu conteúdo, porque Menezes de Drummond – era assim que assinava – publicou em dezembro de 1826, no Journal des voyages, découvertes et navigations modernes, um longo trabalho em francês intitulado “Cartas sobre a África antiga e moderna”, no qual se refere a Andrada e aos comentários que este estava escrevendo sobre o périplo de Hanon (cartaginês que teria, no século V a.C., navegado ao redor do continente africano).

Drummond afirma dever a José Bonifácio noções preciosas sobre o curso do Rio Níger, obtidas em 1819, durante conversas com seis escravos hauçás. O Andrada tomara a iniciativa desses diálogos porque, tendo muito meditado sobre o assunto, estava convencido de que o Níger (nome que os europeus deram ao curso superior do rio, a única parte que precariamente conheciam) não ia desaguar num grande lago em Uângara (que não se sabe onde ficava, se é que ficava em algum lugar), onde os calores o fariam evaporar, nem formava um braço do Nilo, nem era as hipóteses então mais sustentadas na Europa. Suao alto Zaire ou Congo convicção se fortalecera com o que lhe dissera o escravo Francisco, que qualifica de homem inteligente, sábio e probo. Francisco, um ulemá, um letrado muçulmano que havia sido professor em seu país, lia e escrevia fluentemente o árabe, bem como o hauçá. E da língua hauçá ele faria para José Bonifácio um pequeno vocabulário, com 75 palavras, com o qual Drummond encerrou o artigo. Comparando-se esse vocabulário com um dicionário moderno de hauçá, não se notam mais do que ligeiros desvios. Um exemplo: pharsi, na transcrição de Bonifácio, seria farcè, e não se traduziria por “um dedo da mão”, mas por “unha”.

A maior parte do resumo de Drummond é formada pelas respostas que os escravos deram às perguntas de José Bonifácio. Nele mostra-se a curiosidade do brasileiro, seu respeito pelos interlocutores e o cuidado com que anotou o que lhe disseram. Os hauçás Mateus, José, Bernardo, Bento, Bonifácio e Francisco contaram ao Andrada como eram suas terras, de que montanhas e rios ficavam próximas, e o que sabiam sobre o Níger, para eles, o Gulby, que mais adiante se chamava Kwara.

Mateus, que fora aprisionado numa batalha pelos fukahis (fulanis ou fulas), disse ter nascido em Berni-Daurah, ou seja, no birni (cidade fortificada) de Daura, uma urbe de casas de barro com tetos planos. Suas muralhas tinham seis portas e continham seis mil habitantes. Kano e Zamfara ficavam próximas, e gastavam-se 35 dias a cavalo para ir de Daura à capital do reino de Bornu. Nessa cidade, era intenso o comércio, destacando-se o de uma seda especial, produzida por um inseto criado numa árvore chamada samiah. Não seria esse inseto aquela mesma aranha responsável pela seda que usavam os axantes nos seus panos do tipo kente?

Nem sempre conseguimos identificar os topônimos e etnônimos registrados por José Bonifácio, ou porque os ouviu mal, ou porque não correspondem aos anotados pelos viajantes ou hoje usados, ou ainda porque se referiam a aldeias que não ganharam lugar nos mapas. Não logramos, por exemplo, saber que grande cidade, com quatro portas e muralhas de tijolos, era a Tabaran onde nasceu o hauçá José. É provável que fosse Nupe o lugar, Nofeh, onde ele estava trocando sal e conchas por escravos e panos de algodão quando foi capturado, pois nufe é a palavra que os hauçás dão para nupe ou tapa. Dali José seguiu para o Iorubo, para Katango (ou Catunda, outro nome de Oió) e para o litoral. Disse conhecer o país de Zegzeghis (ou Zazau), cuja capital, Zaila (Zaira), ficava a três dias de marcha da sua terra natal.

Bernardo era natural do reino de Gobir, que descreve como uma cidade grande, amuralhada, com vários fortes e defendida por soldados de cavalaria e infantaria. Tinham por armas a espada e o arco e flecha, mas os que guardavam os fortes possuíam fuzis. Os cavaleiros empunhavam a azagaia ou a lança. Bernardo contou a José Bonifácio que fora feito cativo quando comerciava sal num lugar chamado Fugah, e dali conduzido a pé, durante quase meio ano, até um porto no Atlântico, Agaey (provavelmente Ágüe), onde o embarcaram para o Brasil.

Bonifácio nascera numa aldeia, Kabih, no reino de Zamfara. De sua capital, com o mesmo nome, disse que era grande e murada apenas num lado. Nela havia várias mesquitas, onde os imames explicavam o Alcorão. Os mouros traziam para Zamfara, entre outras mercadorias, o ouro de Tombuctu (na grande curva do Rio Níger). E o povo alimentava-se de arroz, milhetes, feijão, abóbora, carne de vaca, cabra, carneiro e elefante. Interrogado sobre o Níger, respondeu que na língua hauçá chamava-se Gulby, mas que, depois de percorrer o país de Zamfara e o lago de Kaduna, tomava o nome de Kwara, que era também o do país vizinho a Calabar (isto é, ao delta).

Interrogado sobre as partes da região que havia percorrido, respondeu que conhecia Katsina, Mali, Gana, Bornu, Daura e Kano, assim como Tombuctu, uma cidade onde os nobres e ricos passeavam a cavalo, vestidos de branco ou de um azul quase negro. Acrescentou que em Tombuctu trabalhavam carpinteiros, ferreiros, tecelões, alfaiates, ourives e vários outros tipos de artesãos. E que na área havia minas de ouro.
Bonifácio fora capturado pelos fulas de Bauchi, que o levaram para Tombuctu. De lá, desceu o Níger de piroga até Yerabah (o país dos iorubás, nome que os hauçás davam aos oiós e, naquela época, só aos oiós). Seguiu depois por terra até o forte de São Jorge da Mina, onde o venderam para o Brasil. A viagem inteira durou seis meses.

Bento não se abriu com José Bonifácio ou não tinha o que contar. Dele ficamos sabendo muito pouco: onde nasceu e que também fora capturado pelos nupes, levado em canoa Níger abaixo e passado por Borgu e pelo Iorubo antes de chegar ao mar.


Arquitetura hauça de Kano, Nigéria.

Em compensação, com Francisco a conversa foi a de um sábio formado na Europa com outro sábio, educado na África. Francisco nascera em Toobah, uma cidadezinha do reino de Kano, com quatro mil habitantes. Ele informou a José Bonifácio que o Gulby, ou Joliba, era o mesmo rio que tomava o nome de Kwara e ia desaguar no oceano.

Antes de ser capturado e vendido, Francisco fizera parte de uma caravana de 160 camelos, que fora a Tombuctu comerciar cavalos, roupas e escravos. O primeiro reino por que passou, na rota de Kano a Tombuctu, foi Daura. Dirigiu-se depois para Chaschena (que só pode ser Katsina), Zamfara e outras cidades e aldeias, antes de ter de atravessar, durante um mês, uma vasta planície desértica. Alojou-se em Tombuctu para vender suas mercadorias e adquirir roupas de seda, ouro, espadas e fuzis. Aprisionado na viagem de volta, foi conduzido para Sansany, sobre o Níger, e depois para Oió e Ico, onde foi comprado por um português, que o levou para Aguê e em seguida para o Brasil. O percurso da captura ao embarque durara três meses.

Na Hauçalândia capital (a que cidade se referiria?) era muito grande, cercada de muralhas, nas quais se abriam sete portas. O palácio do rei era de taipa, com teto plano. Os soldados de infantaria estavam armados de arco e flecha e de espadas, e os cavaleiros, de azagaias. Ali se faziam tecidos de algodão que tingiam de negro, e existiam oficinas de carpinteiros, ourives, seleiros e outros artesãos. No campo, cultivavam-se trigo, milho, três espécies de milhetes, melancia, batata- doce, arroz, cebola, alho e aipim. Possuíam bois, camelos, cavalos, mulas e jumentos. Nos arredores havia elefantes, dos quais comiam a carne, hipopótamos, antílopes, porcos selvagens, leões, panteras e zebras. E na cidade havia várias mesquitas.

Francisco descreveu Tombuctu como uma cidade enorme, envolta por muralhas de pedra e barro e guarnecida de peças de artilharia. Seus soldados usavam mantos com capuz, ou seja, albornozes. Explicou que o rei tinha três mulheres e seus vassalos, outras tantas. Para lá acorriam mercadores de muitas nacionalidades, inclusive mouros, bem como numerosos ulemás, que não traziam nada para vender, mas esmolavam, explicavam os sonhos e prediziam o futuro.

De suas conversas com os seis escravos, José Bonifácio concluiu que Níger, Joliba, Gulbi e Kwara eram um só e único rio, que nascia nas montanhas do Futa Jalom e ia dar ao Atlântico naquele enorme delta conhecido dos portugueses desde o fim do Quatrocentos. Soube a verdade sem ir à África, aprendendo com aqueles que mais conheciam o grande rio: os hauçás, mestres do comércio a distância, que tinham no Níger o grande eixo de onde desciam até as florestas as múltiplas rotas de suas caravanas. A maioria deles jamais percorreu toda a extensão do rio. Mas era como se o tivesse feito, pois de seu curso sobravam as notícias, nas longas conversas nos mercados, quando hauçás contavam a outros hauçás as suas peripécias de viagens.

A atitude de José Bonifácio difere do modo de proceder daqueles exploradores que, no fim do século XVIII e início do XIX, se aventuraram a percorrer o Níger, com o objetivo de lhe descobrir o curso e a foz. Mungo Park (1771-1806), por exemplo, jamais indagou a seus companheiros africanos onde desaguava o rio. Se o fez, não anotou a resposta, talvez por dela desconfiar, vinda de quem considerava bárbaro. Drummond destaca uma exceção: o explorador Giovanni Battista Belzoni (1778-1823), que acreditou nas informações que lhe foram dadas por africanos de que o Níger que passava por Tombuctu era o mesmo rio que desaguava num grande delta no golfo do Benim. Belzoni pensava em fazer o percurso contra corrente, delta acima. Morreu em 1823, em Gwato, Hugató ou Ughoton. Seria somente em 1830 que os irmãos Richard e John Lander, ao descerem o rio desde Bussa até o início do delta, confirmariam o que José Bonifácio, por volta de 1819, tinha por certo.
 
 

 

A Núbia Cristã caiu como fruto maduro

A Núbia Cristã caiu como fruto maduro não à força das armas, mas em resultado da penetração lenta e certa dos comerciantes árabes que finalmente colocaram no trono do monarca monofisita núbio, um príncipe convertido ao Islão em 1315.


Os três Reinos cristãos da Núbia.

Até pelos meados do século dezasseis, o Cristianismo monofisita deixou de existir na Núbia. O perfil militarista dos núbios era lendário por toda a parte no Mediterrâneo. A espada, a lança e a seta islâmicas, antes da pólvora faziam o temor dos núbios no Vale e mais além. Os Núbios forçaram os generais muçulmanos quando apareceram a tratar com eles os dois lados forçados a assinar um tratado de empate militar - o baqt de 652.

O mal para a Núbia foi que o pacto além do mais pautava principalmente a penetração comercial dos árabes nos territórios do sul da região nilótica. Desde logo os árabes mostraram-se mais interessados na captura de escravos para os insaciáveis mercados do Mediterrâneo. 

Uma história interessantíssima esta da escravatura e cultura da cana do açúcar no Mediterrâneo onde tudo começou, e eram vendidos não só estes africanos saharianos do Vale lá dos recônditos das terras nilóticas e saharianas, mas também europeus, não apenas estes peninsulares da Itália e Hispânia, mas ainda das longínquas terras eslavas lá no interior das bacias do Reno e Danúbio terras que ficaram a ser designadas por esta sinonimia do latim da decadência – slavus - para dizer escravo terras do recrutamento de escravos por excelência hoje povos eslavos derivação esquecida na bruma dos tempos.

As experiências e sucessos com a mão de obra escrava nos canaviais das Caraíbas e das Américas séculos mais tarde tiveram os seus primeiros ensaios aqui, nas ilhas, penínsulas e margens do Mediterrâneo, Chipre, Sicília, Malaga e Algarve, do Mediterrâneo aqui da nossa história. A cana do açúcar e a mão de obra escrava foi uma história que primeiro triunfou no Mediterrâneo antes do seu esplendor nas Caraíbas e nas Américas das economias dos séculos seguintes.

O Vale do Nilo ocupado pelas forças islâmicas desde aquele século, o século catorze, surge apenas como mais um centro de recrutamento para este mesmo propósito e muito mais. Quando depois de 1315 o comércio e a penetração islâmica se consolidaram no Vale do Nilo numa relação de matéria e forma - meio e objectivo - foi uma nova frente de história que se abria na Núbia para dizer que o fim da dinastia cristã significou o fim do cristianismo como religião do estado monofisita núbio. 

A Núbia Cristã perdia as suas ligações com a sua base monofisita alexandrina, no norte, onde começara, ela também a não existir há muito tempo. Instalava-se o fenômeno ”isolamento” numa altura em que o proselitismo islâmico tornava-se mais indiscreto e descarado sob a égide – agora - de um príncipe muçulmano. 

Nobadia, ao norte, tornara-se islâmica; Macuria, no centro, seguia o exemplo. Apenas Alodia (ou Alwa) mais para o sul manteve-se num estado de um cristianismo vegetativo, até o seu desaparecimento lento nos meados do século dezasseis derrubado, finalmente, por uma tribo árabe beduína que vai pelo nome de Fundj que podiam ser também os Shillukes dos Grandes Lagos, fundadores do Sennar, o estado sucessor da Núbia no século dezasseis.
 
 
 

 

Antigüidade greco-romana deixou marcas na Líbia

As cidades litorâneas do país norte-africano guardam ruínas milenares e impressionantes




O litoral da Líbia é um dos maiores tesouros arqueológicos do mundo. Suas cidades costeiras ainda guardam as ruínas de impérios erguidos por fenícios, gregos e romanos milênios atrás.

A posição estratégica do lugar foi decisiva para que ele fosse tão cobiçado: a África mediterrânea foi alvo do expansionismo de várias civilizações da Antigüidade.

A cultura que fincou raízes na Líbia, entretanto, foi a árabe, durante o período de conquistas territoriais que esse povo viveu por volta do século 8. Como era de se esperar, a expansão também deixou atrações arqueológicas para trás.


Cidade de Leptis Magna, provavelmente
fundada por colonos Fenícios em 1100 a.C.

Na parte oeste do litoral, as cidade de Sabratha, Leptis e Oea (ou Trípoli, a capital) remontam ao período de domínio fenício e romano. Mais para leste, podem ser encontradas as antigas cidades gregas de Shahat (Gorina), Sussa (Apolonia), Tolmitha (Ptolemias), Tukra (Tokhira) e Elmerj (Barqa).

Oeste romano 


Assai al-Hamra.

Uma vez na capital, o "castelo vermelho", ou Assai al-Hamra vale uma visita. Perto dali fica o museu Jamahiriya, que guarda peças arqueológicas encontradas no país.


A cidade de Sabratha, localizada a cerca de 80 quilômetros a
oeste de Trípoli, foi um grande entreposto comercial no passado.

Sabratha fica a oeste de Trípoli, a cerca de uma hora de viagem. A cidade foi fundada por fenícios um milênio antes do nascimento de Cristo. Suas ruínas incluem colunas de templos romanos, que se enfileiram e margeiam o mar azul.


Hoje menos famosa que Cartago, Leptis Magna também
detinha poder no Mediterraneo do século 4 a.C.

Junto de Sabratha, Leptis Magna é um dos principais destinos turísticos da Líbia, que está começando a ser descoberta pelos viajantes, depois de séculos fechada por motivos políticos.

Os anos de relativo isolamento refletem a estrutura turística das cidades menos procuradas: as placas e sinalizações são quase todas escritas em árabe, a língua local. O ocidental desenrolado, entretanto, não vai passar aperto se pedir informações aos líbios.

Leste grego 


Ruínas de Shahat.

Shahat foi declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco e é considerada um dos mais belos vestígios da civilização helênica. A cidade possui templos dedicados a Zeus, Baco e Apolo, um maravilhoso teatro grego e exemplares dos banheiros públicos criados pelos romanos.


Ruínas de Sussa (cidade também conhecida como Apolônia).

As ruínas de Sussa surpreendem os visitantes: uma parte delas está submersa pelo mediterrâneo. Há companhias de turismo que fazem passeios de barco pelo lugar e também acompanham mergulhadores.
 
 

 

Belezas da África: das cataratas aos safáris

As Victoria Falls, ou Cataratas Victoria, fazem parte do rio Zambeze, na fronteira entre a Zâmbia e o Zimbábue. São tidas por muitos como sendo as mais belas quedas d´água do mundo, rivalizando inclusive com as nossas Cataratas do Iguaçu.




Foram consideradas pela rede de televisão norte-americana CNN como uma das Sete Maravilhas Naturais. Pudera, essas quedas d´água (foto acima) são uma surpresa inigualável ao longo do curso do rio Zambeze. São as maiores cataratas do mundo.
Sua altura de 108 metros impressiona, assim como a fauna e a flora da região. Como se não bastasse, é imperdível o pôr-do-sol que pode ser visto em um cruzeiro pelo rio.

Botswana, território pouco explorado pelos turistas brasileiros, é hoje considerado exemplo de estabilidade política no continente, possuindo uma economia de grandes crescimentos anuais.




Entre os lugares mais fantásticos da região, destacam-se o Delta do Okavango, a reserva do Kalahari Central, o Parque Nacional de Chobe, o Parque Transfronteiriço de Kgalagadi e o sítio arqueológico de Tsodilo. Nos finais de tarde, também vale a pena aproveitar um passeio de barco pelo rio Okavango.

O sítio arqueológico de Tsodilo, no noroeste da Botswana e em pleno deserto do Kalahari, é responsável por uma das maiores coleções de arte rupestre do mundo, sendo apelidado de Louvre do Deserto. Outro ótimo programa é o safári na região do Chobe, onde se pode observar uma das maiores concentrações de elefantes do mundo (foto acima). Só não se esqueça do agasalho, pois as manhãs na região costumam ser bastante frias.
 
 
 
 

Nefertiti

Ela se casou com o homem mais poderoso do mundo, tornou-se sacerdotisa de uma nova religião e acabou adorada como deusa. No fim da vida, governou sozinha o maior império de seu tempo




Poucas vezes durante os quase 10 mil anos da história da humanidade a pessoa mais poderosa do mundo foi uma mulher. No Egito do século 14 a.C., no entanto, uma bela rainha que se tornaria deusa, liderou o mais poderoso império sobre a terra. E por quase 20 anos, Nefertiti foi a pessoa mais poderosa do planeta.
O ano era 1348 a.C. e o Egito encontrava-se em sua 18ª dinastia, uma época de prosperidade e riqueza, sustentadas pela relações comerciais com os vizinhos da Mesopotâmia e da Ásia Menor. Era um tempo de paz, quando a diplomacia egípcia evoluiu a ponto de surgirem impensadas alianças com povos antes belicosos, como o reino Mitani. Mas, se da cerca para fora tudo parecia tranqüilo, em casa um furacão se formava. No quarto ano de seu mandato, o faraó Amenhotep IV tomou a decisão que mudaria a história de sua vida e alteraria completamente a doce vida no Egito.
Amenhotep IV assumiu aos 16 anos a co-regência de seu país ao lado de seu pai no 28º ano de reinado de Amenhotep III. Em 1352, após a morte do pápi, ele iniciou carreira solo e, aos poucos, foi colocando as manguinhas de fora. Sem grandes explicações, o novo faraó resolveu substituir o culto ao deus Amon-Ra, o mais importante da época, pela adoração ao deus-sol Aton, representado simplesmente pelo círculo solar. Trocou seu nome para Akhenaton e proclamou-se o enviado do novo deus, em cuja homenagem mandou erigir uma cidade sagrada, Akhetaton, conhecida hoje como Tell El-Amarna, e para lá transferiu a capital do Egito, para desespero dos sacerdotes de Karnak. Antes, avisou: “Ninguém, nem mesmo minha esposa, me fará mudar de idéia”.

Mulher do rei

A influente esposa citada nos discursos do faraó – fato raríssimo para a época, e que, por si só, já demostra a importância da rainha – era Nefertiti. Não se sabe exatamente quando, nem onde Nefertiti – nome que significa “é chegada a bela” – nasceu. É possível que Ay, um alto funcionário de Amehontep III, pai de Akhenaton, fosse o pai da moça e que ela tenha tido algum grau de parentesco com a rainha Tiye, mãe de Akhenaton e mulher muito influente na 18ª dinastia.
De acordo com o egiptólogo (historiador especializado em antigo Egito) Antonio Brancaglion Junior, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), embora haja quem acredite que Nefertiti veio do reino de Mitani para o harém de Amenhontep III, herdado por Akhenaton, há evidências de que Nefertiti era egípcia. “Isso se reforça pela tese de que Tiye e Nefertiti fizeram uma aliança: a primeira teria escolhido a segunda para ser esposa de seu filho e assim continuar tendo influência no reinado de Akhenaton, após a morte do pai dele”, diz Antonio.
Nefertiti só passa a existir oficialmente após seu casamento com Amenhotep IV, quando ela tinha 14 anos. É quando começa a aparecer eminscrições em estelas e talatats, pequenos blocos de pedra, a base das construções egípcias. Uma das duas mulheres de Akhenaton – a principal, que possuía o título de Grande Esposa Real –, Nefertiti começou sua história como esposa e rainha, mas, ao longo do tempo, sua influência foi aumentando. “Na implementação da nova religião que cultuava Aton, Nefertiti teve um papel fundamental”, diz a historiadora Anna Cristina Ferreira de Souza, que em 2004 defendeu sua tese de mestrado na Universidade Federal Fluminense (UFF) justamente sobre o caráter divino de Nefertiti. Esse fato pode ser visto nas imagens da rainha gravadas nas paredes dos templos em Amarna – entre Tebas e Mênfis, a 590 quilômetros do atual Cairo. A princípio, Nefertiti aparece bem menor que Akhenaton. Com o tempo, no entanto, ela vai ficando cada vez maior, até alcançar o tamanho do marido – uma indicação de que seu status foi também subindo com o passar dos anos (veja quadro ao lado).

Sacerdotisa de Aton




O crescimento atípico da rainha, ao lado do faraó e à frente de seu povo, é costumeiramente associado ao papel de Nefertiti na nova religião criada pelo marido. Pela primeira vez, o deus egípcio era único. Mas, para entender a mudança de religião proposta por Akhenaton e o papel de Nefertiti nessa alteração, é preciso voltar ainda mais no tempo. Até então, a religião do Egito era formada pelo culto a diversos deuses, cujos representantes na Terra eram os próprios faraós. A origem da crença remonta à pré-história, quando tribos locais adoravam deuses e animais. “Eles acabaram sendo incorporados e até superpostos por outros cultos locais, dando origem à religião egípcia”, afirma Anna Cristina. Vários deuses, que apresentavam características masculinas e femininas, eram cultuados, numa forma de politeísmo, mas cada um de uma vez – o que era conhecido como monolatria.
Quando ainda era chamado Amenhontep IV, o faraó já dava indícios de sua nova fé: começou a levantar templos para Aton na cidade de Karnak, lugar de adoração de Amon-Ra. Até que oficializou o culto ao disco solar e ordenou o abandono do antigo deus. No quinto ano de seu reinado, começou a construção da nova capital, Akhetaton, o “Horizonte de Aton”, que ficou pronta três anos depois. A relação com os outros deuses, a partir de então, estava rompida. Segundo Anna Cristina, seria como se alguém hoje proibisse que os católicos adorassem seus santos.
Nefertiti não usava o título de “esposa do deus” – função sacerdotal banida pela nova religião, que era exercida por mulheres virgens da alta nobreza e cujo papel estava relacionado ao nascimento divino do rei: de acordo com a mitologia, o deus Amon-Rá mantinha relações sexuais com a rainha virgem e, assim, gerava o novo rei –, mas assumiu uma posição equivalente como sacerdotisa do culto diário. Entre as funções que desempenhava, ela acompanhava cortejos religiosos e fazia oferendas. “Nefertiti contava com grande empatia e carisma entre a população, dando alguma popularidade ao culto de Aton, que foi combatido pelos poderosos sacerdotes egípcios que preferiam os deuses tradicionais”, afirma a historiadora Deborah Vess, da Universidade de Geórgia, nos Estados Unidos, especialista em mulheres da Antigüidade. “Sua beleza, combinada com o poder que ela adquiriu durante o reinado de Akhenaton e em sua nova religião, a tornou uma das mulheres mais importantes da história”, diz. As outras rainhas foram simplesmente rainhas. Nefertiti não: ela virou uma deusa encarnada.

Deusa do sol




Akhenaton elevou a si mesmo e sua esposa à posição de deuses vivos. A alteração se deu aos poucos. A princípio, o deus-sol Aton era representado com corpo humano e cabeça de falcão. Com o passar do tempo, porém, a iconografia foi substituída por imagens da família real, que estava sempre recebendo sagradas emanações do disco solar. “Houve uma simplificação na hierarquia dos deuses do Egito: só subsistiram as figuras de Aton e do rei, que era o único meio de acesso à esfera divina”, afirma Anna Cristina. “Os cultos privados passaram a ser direcionados à família real, pois só esta conhecia e podia cultuar o deus.” De acordo com essa liturgia, Nefertiti assumiu papel de protagonista da história, pois encarnava todas as deidades femininas que os egípcios estavam acostumados a cultuar.
“Nefertiti foi certamente uma semi-deusa”, afirma Joyce Tyldesley, autora de Nefertiti – Egypt’s Sun Queen (“Nefertiti, a Rainha-Sol do Egito”, sem tradução para o português). “A religião de Akhenaton era muito diferente de tudo o que havia existido até então. O novo deus egípcio era um simples disco solar. Akhenaton precisava de um elemento feminino nessa religião, e usou Nefertiti para esse fim.”
O poder do Egito, um reino em que religião e política se misturavam, antes concentrado nas mãos dos sacerdotes de Amon, passou a ser exclusivo do casal real. “É provável que o status assumido pela rainha tenha ocorrido devido a essa concentração de poder na própria família real”, afirma Anna Cristina – para quem Nefertiti chegou a ser considerada uma deusa viva. “Ao ser retratada com a família, a maioria das cenas relaciona Nefertiti à deusa Tefnut, o que eleva seu status à deusa encarnada, uma verdadeira revolução.”




A família real passou a ser bastante retratada no reinado de Akhenaton. São comuns estelas nas quais Nefertiti aparece ao lado do marido com suas filhas (eram seis ao todo). Cenas inéditas de carinho e intimidade são mostradas: Nefertiti beija o marido, acaricia as filhas, alimenta a prole. “O casal aparece muito junto, em cenas cotidianas, se acariciando. Isso nunca havia sido visto antes”, afirma o egiptólogo Julio Gralha. “A época de Amarna foi intrigante: além do culto mais próximo ao monoteísmo que o Egito já viveu, ela também expôs como nunca a vida cotidiana dos poderosos.”
As mudanças promovidas por Akhenaton foram radicais. De fato, desde o início elas atraíram a oposição dos poderosos sacerdotes. “Quem foi esperto e mudou de religião teve seu emprego garantido”, diz Antonio Brancaglion. “Quem não o fez, acabou perseguido, preso e, às vezes, banido.” Com o tempo, a insatisfação chegou à nobreza, incomodada pela extrema concentração de poder na figura do faraó e de sua família e, finalmente ao povo, afetado pela construção da nova cidade que levou ao aumento de impostos e inflação.
Além disso, o faraó não tinha a menor vocação para a guerra ou a política. Durante seu reinado, o Egito perdeu seus territórios na Ásia para os hititas, o que solapou a coleta de ouro e de impostos. Diante das críticas ao seu governo, Akhenaton reagiu com mais perseguição religiosa e enviou mensageiros a Tebas e Mênfis para destruir qualquer menção a outros deuses que não Aton.
 
 

Nefertiti

Sozinha no poder

Esse era o clima, em 1336 a.C., quando Akhenaton morreu provavelmente de causas naturais, aos 34 anos – a média de vida dos egípcios daquela época, mesmo entre a elite, era de apenas 35 anos. Nessa época, as imagens de Nefertiti mostram-na usando paramentos típicos de faraó, como coroa e bastões. Para a maioria dos especialistas, o fato sugere que ela teria assumido o trono do Egito, primeiro ao lado do marido e, depois da morte Akhenaton, sucedendo-o. “Embora o assunto permaneça controverso atualmente a opinião de que ela tenha governado como rainha única é cada vez mais aceita”, diz Antonio Brancaglion.
Gravações em pedra encontradas em escavações no século 19 em Amarna mostram que, após a morte de Akhenaton, o Egito foi governado por um (ou uma) faraó de nome Nefernefruaton – que seria, na verdade, Nefertiti. A rainha teria governado como co-regente de Akhenaton após o 13º ano de seu reinado – quando o nome “Nefertiti” desaparece das inscrições em Amarna.
Para Zahi Hawass, secretário-geral do Conselho Supremo de Antigüidades Egípcias, não restam dúvidas sobre o poder acumulado por Nefertiti após a morte de Akhenaton. “As imagens de Amarna mostram a rainha sozinha, liderando procissões religiosas e até à frente de exércitos, posições reservadas exclusivamente aos faraós”, diz Hawass. Um dos fatos que reforça a hipótese de Nefertiti ter chegado ao mais alto cargo no Egito é que Nefernefruaton é justamente uma variação mais longa de seu nome. Além disso, vários documentos sugerem que o sucessor de Akhenaton tenha sido uma mulher.
Por outro lado, críticos à tese de que Nefertiti tenha governado sozinha o Egito apontam o fato de que o sucessor de Akhenaton tenha revogado quase tudo que o faraó fez durante seu reinado – o culto a Aton, por exemplo, foi extinto e os antigos deuses retomados menos de cinco anos após sua morte – para sustentar a hipótese de que o sucessor tenha sido outra pessoa. Afinal, por que Nefertiti abandonaria a religião do marido?
Anna Cristina Ferreira de Souza tem algumas hipóteses. “Akhenaton deixou o Egito em crise e após sua morte, vários setores da sociedade se revoltaram contra o trono. O retorno ao culto a Amon-Ra deve ter sido uma forma que a nova faraó encontrou para contar com o apoio do maior número possível de pessoas e pacificar o país”, diz. Segundo a especialista, isso justificaria o fato de Nefertiti ter trocado seu nome e tentado romper os vínculos com o antigo regime. “Foi uma decisão importante, tomada por uma mulher que tinha exata noção de seu papel na política do Estado.” O egiptólogo Antonio Brancaglion, concorda que a motivação de Nefertiti deve ter sido política. “Ela provavelmente percebeu que a nova religião estava levando o Egito ao colapso”, afirma.
Apesar disso, Nefertiti não conseguiu deter a crise religiosa e social que levou o Egito a um período de instabilidade política. Depois de apenas três anos de poder, ela teria morrido em situação nunca esclarecida. O Egito passou a ser governado pelo jovem Tutancâmon, que assumiu com cerca de 9 ou 10 anos e morreu assassinado aos 18 anos. Para quem acredita que Nefertiti terminou seus dias como a poderosa rainha do Egito é difícil aceitar que seu corpo jamais tenha sido localizado – embora uma especialista americana tenha afirmado, em 2003, que a achara. Para explicar o desaparecimento, no entanto, é preciso lembrar que durante o governo de Tutancâmon, Amarna – provável local do sepultamento da rainha – foi abandonada. Os crentes de Aton foram perseguidos e a maioria dos templos construídos por Akhenaton e Nefertiti depredados. Os rostos dos soberanos foram raspados das imagens esculpidas em pedra. É possível que, nessa época, a tumba da rainha tenha sido violada.

Silêncio eterno

Se Nefertiti não reinou como faraó, a outra hipótese é que ela tenha morrido no 14º ano de reinado do marido, quando seu nome desapareceu dos documentos oficiais. “Acredito que a esposa de Akhenaton foi enterrada na tumba real em Amarna, como previsto desde a época da construção da cidade”, afirma Joyce Tyldesley, que estuda as ruínas de Amarna há mais de 20 anos. “Essa tumba foi saqueada na Antigüidade, e novamente no século 19. Muito pouco foi recuperado dela. Mas há uma chance de que a múmia tenha sido resgatada quando Amarna foi abandonada. Nesse caso, ela poderia estar numa tumba do Vale dos Reis, em Tebas.”
Embora o período amarniano seja um dos mais estudados do Egito antigo (há mais de 2 mil livros publicados sobre a época), não há ponto final quando o assunto é Nefertiti. “Desde a descoberta de seu famoso busto, exposto hoje no Museu de Berlim, ela invadiu nossa imaginação”, afirma a historiadora Deborah Vess. “Sua beleza e o enorme poder que parece ter tido instigaram diferentes teses sobre sua vida e seu real papel na história do Egito.”
“Não sabemos quase nada sobre a personalidade dela”, diz Julio Gralha. “Alguns pesquisadores a tratam como mãe devotada e esposa carinhosa, agradável ao público. Outros a tem como uma mulher ambiciosa, poderosa, capaz de matar para ficar no poder.” Há quem defenda a tese de que Nefertiti chegou a matar Kiya, a segunda esposa de Akhenaton e mãe de Tutancâmon, só porque ela teria dado ao faraó algo que a rainha nunca conseguiu dar: um filho homem. Outros acham que foi a própria Nefertiti a cabeça da revolução religiosa que dividiu seu país e o levou à beira do colapso. Há ainda uma versão da história que afirma que Nefertiti não era o faraó sucessor de seu marido – e, sim, sua assassina.
Talvez as respostas para esses e outros enigmas só surjam quando o grande depósito de talatats encontrado em Amarna no século 19 for inteiramente decifrado. O que ainda pode levar décadas. Talvez não apareçam nunca e, então, Nefertiti terá levado seus segredos para a eternidade. 

Crescendo e aparecendo

Gravações em Amarna revelam que a importância de Nefertiti aumentou com o tempo

À SOMBRA DO REI

Quem disse que tamanho não é documento? Para a arte egípcia, é, sim. Nefertiti é o maior exemplo. No começo do reinado de seu marido, a rainha aparece em tamanho desproporcional ao dele – o que era comum na época, por causa da maior importância política e religiosa do faraó. Também era comum a arte ter uma gama limitada de cores: vermelho, amarelo, azul, verde, preto e branco – eram as únicas que os egípcios conseguiam obter.

OMBRO A OMBRO



Com o passar do tempo, a imagem de Nefertiti vai aumentando em relação à do marido. Até que ambos atingem a mesma altura. Sinal claro de que a importância da rainha também cresceu e atingiu patamares iguais à de Akhenaton. O rei, aliás, não alterou somente a religião de seu país. Ele mexeu em toda a estrutura vigente, inclusive na arte. Durante o reinado de Akhenaton, as linhas curvas passaram a ser valorizadas. Tudo para lembrar o círculo solar do rei Aton.

1. Disco solar
As imagens de Amarna mostram o deus Aton representado pelo círculo solar. Ele geralmente está localizado no centro do desenho, irradiando raios luminosos sobre as cabeças do casal real. Como o deus único agora era o Sol, os cultos se davam em lugares abertos, à luz do dia. A nova religião também era mais branda com os fiéis: assim que morrem, eles se livram automaticamente dos pecados, coisa que não acontecia nos outros cultos.

2. Nefertiti
A rainha Nefertiti foi retratada inúmeras vezes em situações de família ou em rituais ao lado do rei. Também aparece – mais vezes do que o próprio faraó – oficiando rituais a Aton sozinha. Há na arte de Amarna ainda relevos que mostram seu papel importante na política: Nefertiti aparece golpeando inimigos ou na presença de cativos, atitudes que até então eram relacionadas apenas ao faraó.

3. Akhenaton


Busto do Faraó Akhenaton, no Museu Egípcio, Cairo.


Akhenaton comumente era retratado com cintura de mulher, coxas grossas e seios, enquanto Nefertiti por vezes aparecia com feições masculinas – figuras bastante andróginas. Isso intrigava os pesquisadores, que achavam que o faraó tinha uma doença, a síndrome de Frölich, uma disfunção glandular que deixava o portador infértil. Só depois percebeu-se que, como seres masculinos e femininos, o casal real se assemelhava ao deus-sol.

4. Crianças
Pela primeira vez na história do Egito – e talvez de todo o Mundo Antigo – as cenas cotidianas da família real foram expostas durante o período amarniano. O casal de soberanos aparece se beijando em frente às filhas, pegando-as no colo, dando comida a elas, fazendo-lhes carinho. Nunca tanta intimidade havia sido mostrada. As crianças aparecem brincando ou chacoalhando instrumentos musicais em cultos a Aton. 

Rosto mutilado

Se a vida de Nefertiti é permeada por incertezas, após sua morte ao menos uma certeza há: a de que ela e seu marido incomodaram. E muito. Anos após a morte do casal real, já na 19ª dinastia egípcia, a população não o perdoou e destruiu a antiga cidade Akhetaton e quase todas as imagens do casal. Acusada de herege e de ter renegado os antigos deuses egípcios, Nefertiti teve os olhos de suas imagens riscados – para que ela não pudesse enxergar o paraíso após a morte.

O rei está morto

Ainda existe polêmica sobre a sucessão de Akhenaton

Está longe de ser consenso entre os historiadores que Nefertiti tenha assumido o trono do Egito como faraó. O que não faltam são teorias sobre a sucessão de Akhenaton. Todas elas tentam decifrar quem seria o faraó Nefernefruaton, também conhecido por Smenkhare, que reinou por um breve período, entre a morte de Akhenaton, em 1336 a.C. e a chegada ao trono de Tutancâmon, em 1332 a.C.. Além da teoria que aponta que Nefernefruaton seria Nefertiti, há uma linha de pesquisadores que defende que Smenkhare seria filho de Nefertiti e Akhenaton (embora as imagens egípcias só mostrem o casal rodeado por cinco filhas). “Ele teria governado como co-regente do pai até poucos meses antes de sua morte”, afirma Lanny Bell, historiador da Universidade de Brown, nos Estados Unidos. “Para alguns, Smenkhare teria sobrevivido à morte de Akhenaton e governado por quatro anos antes de morrer e ser substituído no trono por seu irmão Tutancâmon.” Há ainda egiptólogos que afirmam que, após a morte de Akhenaton, Nefertiti teria pedido ajuda a um rei inimigo, do reino de Hatti (dos hititas). Ela temia que, como Tutancâmon tinha apenas 5 anos, uma confusão se instalasse no Egito pelo trono. O rei dos hititas teria mandado um filho seu, que teria se casado com Meritaton, a filha de Nefertiti, e assumido como o faraó Smenkhare. “É possível que o príncipe hitita tenha governado por um tempo, mas, ao tomar atitudes que desagradavam Nefertiti, teria sido morto”, diz Bell. A própria rainha teria assumido o lugar do genro, com o mesmo nome dele. De acordo com o historiador americano, a confusão toda é provocada pelo fato de os egípcios costumarem proteger seus nomes. “Todos os indivíduos tinham seu nome secreto e seu nome público. Mas, no caso dos faraós, o nome público não era o nome real. Por isso, eles possuíam até três nomes”, diz. No caso do sucessor de Akhenaton, outro fato que gera controvérsia é ele ter dois nomes públicos, Smenkhare e Nefernefruaton.

Múmia desaparecida

Pesquisadora americana disse, em 2003, ter identificado a múmiade Nefertiti. Exames de DNA realizados há dois meses refutam a teoria

Um dos maiores mistérios da tão misteriosa vida de Nefertiti é o paradeiro de sua múmia. Uma egiptóloga americana, Joann Fletcher, especialista no estudo de perucas egípcias (parece bobagem, mas os apliques de cabelo são uma forma importante de identificar as múmias, já que resistem bem à decomposição), fez o maior barulho entre os estudiosos em setembro de 2003 ao afirmar que havia encontrado a tumba da rainha. Acabou desmentida em alto e bom som. Com uma equipe do canal de televisão Discovery a tiracolo, Joann Fletcher apontou uma tumba do Vale dos Reis, identificada como KV35, como a que guardava o corpo de Nefertiti. De acordo com ela, traduções de textos e algumas imagens dos três corpos guardados na KV35 a fizeram pensar que Nefertiti estava lá. Além disso, a KV35 guarda corpos de tumbas saqueadas – situação da antiga tumba da esposa de Akhenaton. Outra pista apontada pela especialista em cabelos da Antigüidade era justamente a peruca usada por Nefertiti – sim, a rainha era careca, uma forma de se manter longe dos piolhos. Uma peruca parecida com as usadas pelas mulheres da realeza foi encontrada ao lado de uma múmia mutilada em 1898, pelo pesquisador francês Victor Loret. E uma das três múmias da KV35 era exatamente a mutilada. Segundo Joann Fletcher, o fato também seria um indício de que aquela era Nefertiti: a múmia da rainha teria tido seu rosto destruído como vingança pelos seguidores do deus Amon-Ra. Para os egípcios, a destruição do rosto é um sacrilégio e significa, além do fim da beleza, a proibição do acesso pós-morte. Fletcher visitou duas vezes a tumba KV35. Da segunda vez, levou consigo uma equipe de especialistas em radiografia, para tentar provar sua teoria. Para as câmeras da TV, Joann mostrou os dois furos em uma das orelhas da múmia, hábito das mulheres da realeza. A pesquisadora saiu da KV35 com a certeza de que a múmia encontrada era Nefertiti. A comunidade mundial de egiptólogos se manifestou prontamente. Uma das respostas mais contundentes veio de Zahi Hawass, secretário-geral do Conselho Supremo de Antigüidades Egípcias – ele proibiu o acesso de Joann Fletcher ao patrimônio histórico do Egito. E justificou num artigo no jornal Al-Ahram: a pesquisadora havia descumprido o acordo de comunicar qualquer descoberta à organização egípcia em primeiro lugar. “Indo primeiro à imprensa com o que ela considerava uma grande descoberta, a doutora Fletcher quebrou o acordo”, escreveu. Para ele, a americana não se baseou em evidências e provas, e sim em semelhanças faciais. Hawass foi além: encomendou um raro teste de DNA na múmia atribuída à rainha Nefertiti. O resultado foi devastador, ao menos para a tese de Joann Fletcher. O corpo mutilado da KV35 era de um homem. Foi um vexame.
 
 
 

 

A Guiné Central e Oriental

Região já conhecida e contatada com os portugueses desde o Século XV, de traços culturais semelhantes em uma população com lingüística variada. Pode-se afirmar que a grande floresta influenciou bastante a cultura de Guiné Central, plantio de bananas, inhame, mandioca, palmeira de óleos. A floresta que antes havia sido um obstáculo, a Guine funcionou como proteção, o comercio estabelecido entre o Sudão, era de escravos, cola e ouro, etc., mas os reinos sudaneses jamais a submeteram.

Estes povos, que conheciam distintas formas de organização social de distintos graus de centralização política, deram algumas vezes origem à comunidade tipo cidade-estado que lembravam à Grécia Antiga.

Mas as formas gentílicas de organização pessoal permaneceram. A cultura artesanal era tão forte, que inúmeros especialistas europeus foram levados a procurar as origens e influências explicativas exteriores para a gênese das civilizações guineenses. G.P. Murdock identificou nas comunidades uma influência civilizatória chegada da Oceania. Outro estudioso afirmou que a ascendência do Egito, L. Frobenius foi bíblico, apontou a relação entre a Guiné e o Reino de Salomão.

 
 

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