quarta-feira, 31 de julho de 2013

Dualidades

Dualidades
 

Copa do Mundo: África do Sul não foi beneficiada


Em artigo na revista australiana Links, os pesquisadores sul-africanos Ashwin Desai e Goolam Vahed concluem que a África em geral e a África do Sul em particular não estão sendo beneficiadas pela Copa do Mundo. Dizem eles, notadamente:
“O marketing da Copa do Mundo como um evento africano fez aumentar a pressão sobre os organizadores para outorgar não apenas miríades de benefícios prometidos aos sul-africanos, mas também cumprir as expectativas dos países africanos. Entretanto, a economia política do futebol torna difícil realizar um evento 'africano'. O 'modelo' de Copa do Mundo da FIFA (...) permite que ela ganhe uma fortuna a partir dos direitos de televisão, publicidade e vendas de produtos licenciados.
"A África do Sul precisa financiar estádios no 'estado da arte', hospedagem de padrão mundial e desenvolvimentos infraestruturais relacionados. Isso foi um desafio para um país assombrado pela crescente desigualdade e por dificuldades fiscais. O coeficiente Gini, que mede a desigualdade da distribuição de riqueza, subiu de 0,62 em 1992 para 0,77 em 2001. Segundo a Pesquisa de 2005/06 sobre Renda e Gastos, os 10% de lares mais ricos na África do Sul receberam mais da metade da renda disponível; os 40 % mais pobres, menos de 7 %; e os 20 % mais pobres, menos de 1,5 %. O cidadão negro médio estava ganhando um oitavo de sua contraparte branca, segundo uma pesquisa do Instituto para Justiça e Reconciliação em janeiro de 2008. A desigualdade subiu de 0,60 em 2006 para 0,62, numa escala de zero a 1, na qual 1 representa a desigualdade absoluta".
A conclusão geral é de que os investimentos na Copa beneficiaram muito mais a Fifa do que a África do Sul e de que o próprio futebol africano não vai sair melhor da Copa do que estava sem a Copa.



Copa do Mundo: África como alerta


Complementando o comentário do autor do texto sobre a Copa do Mundo, o monumental e caríssimo estádio Soccer City, o principal da Copa, praticamente não foi utilizado desde o final da competição. O motivo? Os clubes da região são pobres e o preço do aluguel do estádio é exorbitante. Sendo assim, Johanesburgo construiu um legítimo “elefante branco” com capital do governo e sem retorno para a sociedade. Capital este que o governo poderia (e deveria) ter investido em áreas como educação, saúde e transportes, entre outras. Por mais incrível que possa parecer, o estádio citado ainda passa longe de ser o maior “elefante branco” da Copa na África do Sul: algumas cidades onde estádios foram construídos nem ao menos têm times de futebol. Sim, alguns estádios estão fechados desde o final da Copa.

Alerta para o Brasil?
As obras do Maracanã para a Copa do Mundo de 2014 estão orçadas em 700 milhões de reais. Se considerarmos que ainda falta muito para a conclusão das obras, e que os custos sempre aumentam, podemos dizer que um dos doze estádios do evento custará quase 1 bilhão de reais (!!!). Valor absurdo que sairá, em boa parte, dos cofres públicos. Ou seja, o seu, o meu, o nosso dinheiro dos impostos que deveria retornar para a sociedade em investimentos do governo construirá um estádio de futebol. Mas tudo estará bem enquanto o povo tiver o Bolsa Família e os estádios de futebol. É a política do “pão e circo” no século XXI...
Para mostrar que não temos memórias curtas, devemos lembrar que o alerta já foi dado, em 2007. Naquele ano, a cidade do Rio de Janeiro sediou os Jogos Pan-americanos, que são muito...que...são... Bem, o Pan não é nada no cenário internacional, principalmente se comparado à Copa do Mundo e aos Jogos Olímpicos. Então, naquela época o Estádio do Maracanã passou por uma mega reforma que, obviamente, custou milhões. Foi construído o Estádio Olímpico João Havelange, ao custo de 500 milhões de reais. “Tudo pronto para a Copa de 2014?” Não. O Engenhão será um mero campo de treinos para as seleções e o Maracanã precisará de outra reforma.
“Ah... Mas para as Olimpíadas tudo já está pronto, não é?” Não! Bilhões de reais ainda serão gastos. “Pelo menos temos o ‘legado do Pan’...”Esse “legado” não passa de vários prédios da Vila Pan-americana afundando, um parque aquático que quase virou criadouro de mosquitos da dengue, um estádio de futebol que foi praticamente doado ao Botafogo e um velódromo que foi usado UMA vez.
“Os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo trarão benefícios inestimáveis para o Brasil” Concordo: o país vai lucrar, os empresários principalmente, já o povo... Para a Copa um estádio de quase um bilhão de reais será construído em Manaus. Quantos times de futebol em Manaus terão condições de jogar lá? Nenhum. Nem a cidade, nem o estado possuem clubes de futebol nas séries A ou B do Campeonato Brasileiro. Na verdade, nunca um clube da Região Norte do país foi campeão nacional.
Já no Rio de Janeiro existe o projeto de demolição do Parque Aquático Julio Delamare e do Estádio de Atletismo Célio de Barros para a construção de um estacionamento. O único problema é que centenas de crianças, algumas de favelas ao redor do Maracanã, têm nesses locais o único meio de praticar atividades físicas e de ocupar o tempo livre. Obviamente (para seres pensantes, e não para políticos), esses meninos e meninas não têm condições de praticarem tais atividades na Barra da Tijuca, mesmo que existam projetos similares nesta região.
Com tanto tempo livre, será que essas crianças não entrarão para a marginalidade? Sem o dinheiro que o governo deveria investir, será que elas terão oportunidades para receberem educação? E se receberem, será que elas conseguirão postos no mercado de trabalho, mesmo morando longe do bairro favorito dos políticos (Barra da Tijuca)? Os grandes eventos internacionais funcionam muito bem nos países desenvolvidos. Será que funcionam aqui também?

Alô Africa





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