segunda-feira, 29 de julho de 2013

Qual é o papel do negro no Brasil?






A influência das línguas africanas no português do Brasil



A língua de um povo é o reflexo dele mesmo, mas vertido em sons e palavras. Através dela nos expressamos e manifestamos nossa própria existência. E a nossa língua portuguesa é resultado de muitas e diversas existências, dentre elas, a do negro africano. Ainda que uma existência difícil – esta que veio carregada pelos braços hostis da escravidão –, é rica e forte, poderosa de incutir na cultura do colonizador, dar-se com ela e sintetizar o que hoje conhecemos como genuinamente brasileiro.

Tão corriqueiro, mas um verdadeiro pilar da nossa identidade, a língua e seus contornos nos passam despercebidos e sua importância pode equivocadamente parecer pouca. Merecem então um olhar mais atento as raízes da nossa língua.

Detivemo-nos às africanas, partindo da sua origem até suas aplicações, ressaltando palavras que delas herdamos e observando as peculiaridades de sua construção.

Tanta riqueza não deve manter-se escondida, é preciso tê-la sabida e passá-la o prestígio que merece.
Abaixo algumas palavras muito conhecidas do nosso vocabulário:

Palavras de origem banta:



BAGUNÇA – desordem, confusa, baderna, remexido.

BANZÉ – confusão, barulho.

BATUCAR – repetir a mesma coisa insistentemente.

BELELÉU – morrer, sumir, desaparecer.

BERIMBAU – arco-musical, instrumento indispensável na capoeira.

BIBOCA – casa, lugar sujo.

BUNDA – nádegas, traseiro.

CACHAÇA – aguardente que se obtém mediante a fermentação e destilação do mel ou barras do melaço.

CACHIMBO – pipo de fumar.

CAÇULA – o mais novo dos filhos ou irmãos.

CAFOFO – quarto, recanto privado, lugar reservado com coisas velhas e usadas.

CAFUNÉ – ato de coçar, de leve, a cabeça de alguém, dando estalidos com as unhas para provocar o sono.

CALANGO – lagarto maior que lagartixa.

CAMUNDONGO – ratinho caseiro.

CANDOMBLÉ – local de adoração e de práticas religiosas afro-brasileiras da Bahia.

CANGA – tecido utilizado como saída-de-praia.

CANGAÇO – o gênero de vida do cangaceiro.

CAPANGA – guarda-costas, jagunço.

CAPENGA – manco, coxo.

CARIMBO – selo, sinete, sinal público com que se autenticam os documentos.

CATINGA – cheiro fétido e desagradável do corpo humano, certos animais e comidas deterioradas.

CHIMPANZÉ – espécie muito conhecida de macaco.

COCHILAR (a ortografia correta deveria ser coxilar) – dormir levemente.

DENDÊ – palmeira ou fruto da palmeira.

DENGUE – choradeira, birra de criança, manha.

FUNGAR – aspirar fortemente com ruído.

FUZUÊ – algazarra, barulho, confusão.

GANGORRA – balanço de crianças, formado por uma tábua pendurada em duas cordas.

JILÓ – fruto do jiloeiro, de sabor amargo.

MANDINGA – bruxaria, ardil, mau-olhado.

MARIMBONDO – vespa.

MAXIXE - fruto do maxixeiro.

MINHOCA – verme anelídeo.

MOLEQUE – menino, garoto, rapaz.

MOQUECA – guisado de peixe ou de mariscos, podendo também ser feito de galinha, carne, ovos etc.

MUCAMA – criada, escrava de estimação, que ajudava nos serviços domésticos e acompanhava sua senhora à rua, em passeios.

QUIABO – fruto do quiabeiro.

QUILOMBO – povoação de escravos fugidos.

SENZALA – alojamentos que eram destinados aos escravos no Brasil.

SUNGA – calção de criança.

TANGA – tapa-sexo.

TITICA – fezes, coisa sem valor, excremento de aves.

ZABUMBA – bombo.


Todos os dias nascem milhares de negros e negras neste país. Negros de todos os tons. Nascem exatamente como os outros brasileiros: com direito à vida e a dignidade. Como todas as crianças, aprenderão a andar; falar, brincar e sonhar... Crescerão com suas famílias, irão à escola, e perseguirão seus objetivos. Estamos por toda parte. Nas ruas, nos escritórios, nos shoppings, restaurantes...
Nadando contra a corrente, vamos aos poucos conquistando espaço e respeito. Dizem até que a moda hoje é ser black. Pois eu acho que o negro sempre esteve na moda. Afinal, como diz Carlinhos Brown, somos fortes, bonitos, poderosos.
O blog "Negro na Mída RS" toda semana vai falar sobre assuntos polêmicos e vai discutir sobre nossa identidade, resgatar nossa herança cultural e mostrar que a negritude é alegre, rica e vencedora. Estaremos atentos para lutar contra o preconceito, mas, acima de tudo queremos afirmar nossas qualidades.
Na luta!


As pessoas não percebem a sua negritude. Eu vejo bastante gente cantando como negro, se comportando como negro, mas não assume a sua negritude natural."Margareth Menezes - Cantora

"Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos, haverá guerra. Ainda estamos em guerra."


Bob Marley - Cantor

"A maior glória em viver não está em jamais cair, mas em nos levantar cada vez que caímos."


Nelson Mandela - Presidente da África do Sul

"Prefiro na chuva caminhar, que em dias frios em casa me esconder. Prefiro ser feliz embora louco, que em conformidade viver."

 Martin Luther King- Militante negro


Querem que a gente saiba

que eles foram senhores
e nós fomos escravos.
Por isso te repito:
eles foram senhores
e nós fomos escravos.
Eu disse fomos.


 
Qual é o papel do negro no Brasil?


Historicamente o negro sempre foi motivo de discussões no Brasil. Do seu uso como objeto de trabalho, de sua invisibilidade social a sua luta por inclusão. Vários são os temas que freqüentam os debates, mas, de uma maneira geral, as diretrizes não são traçadas pelos negros.
Desde o inicio, ainda no século XVI, a incorporação do negro ao Brasil foi balizada pela elite, este mesmo grupo para camuflar a dominação e exploração econômica, criou instrumentos de coerção intelectual que justificavam a idéia da superioridade branca. Com o passar do tempo esta dominação se incorporou aos conceitos sócio-culturais brasileiros e acabou tornando-se parte da superestrutura do Estado. Na colonização portuguesa no Brasil, os negros encontravam uma estrutura produtiva montada, onde eram dominados e usados como máquinas na fabricação de capital. A dominação nesse período se dava a partir da força, da repressão física na escravidão, na qual os negros eram submetidos a castigos quando não correspondiam aos interesses dos brancos. Assim, neste período, ficava estabelecido o modelo de relacionamento social que marcaria a história de negros e brancos no Brasil. Mas que modelo é esse? É um modelo fundamentado na relação econômica, onde o negro é explorado e o branco está no comando.
E hoje no século XXI, o que temos para dizer? Observamos uma ideologia da democracia racial, mecanismo que gera a falsa idéia de que no Brasil os segmentos étnicos convivem em perfeita harmonia. Mas na verdade, este sistema de idéias cria uma espécie de posição étnico-social, que passou a funcionar de duas maneiras, primeiro tira dos negros a ânsia de conquistarem visibilidade social, pois para o sistema eles já estão inclusos, basta aos excluídos que se incluam ao modelo capitalista. E esta idéia cria no inconsciente coletivo dos negros a rejeição por suas origens, já que elas representavam humilhação. Assim quanto mais próximos dos brancos, nas roupas ou mesmo na aparência, melhor. Isto da à elite branca o comando da sociedade brasileira, que é justificado não só pelo poder econômico, mas também por ser o modelo para todos aqueles que desejam alcançar o topo da pirâmide social.
Por isso da importância de existirem grupos de resistência étnico-racial, que possam lutar na valorização de seu povo e por seu espaço na sociedade. No âmbito da política ainda é ínfimo o número de governantes que abracem a causa do negro. A partir da constituição de leis o negro brasileiro começa a sair da passividade e tomar a frente nas decisões do país, porém ainda falta muito para vencer o preconceito velado que permeia no sistema brasileiro.
Na luta!
 
 

Nos meios de comunicação brasileiros são recorrentes as idéias de baixa estima, desorganização familiar e pouca afeição à política e ao mundo acadêmico e intelectual que caracterizariam a população negra. Usadas geralmente para justificar as condições desiguais em que se dão as disputas no mercado de trabalho e de ingresso nas melhores universidades, muito daquelas afirmações acabaram se consolidando no imaginário nacional. A marginalização social e a precariedade econômica em que se encontram a maioria dos afro brasileiros são problemas atribuídos exclusivamente às opções individuais e coletivas que tiveram ao longo da história. As dificuldades no acesso à educação formal, os limites legais impostos à organização social e as fronteiras raciais e econômicas reafirmadas no convívio em sociedade, que restringiram as possibilidades de ascensão social dos negros desde o período da escravidão, são omitidas ou minimizadas nos jornais, revistas e telenovelas. Infelizmente, ainda vivemos num país que desconhece parte importante e considerável da sua própria história. Muitas crianças negras são educadas a partir de cartilhas que reforçam aqueles estereótipos.
A escola não mostra exemplos de africanos que resistiram ao apresamento ou conquistaram a liberdade e voltaram para sua terra, nem de afro-brasileiros alfabetizados que se tornaram líderes e organizaram suas comunidades para enfrentar o preconceito e a discriminação. Nesse sentido, é necessário o enfrentamento das questões do nosso cotidiano, resultado de relações raciais desiguais, para se construir outra história dos negros brasileiros, o que nos encaminha para a construção de outras narrativas. A imprensa negra como fonte de pesquisa tem nos dado a possibilidade de investir em outras perspectivas históricas. Além de se prestar à reconstrução de uma determinada coletividade que tinha no jornal o principal meio de comunicação e reivindicação, também pode ser fonte na reconstrução de trajetórias individuais que participaram como lideranças, bem como nos ajuda a reescrever a contribuição dos intelectuais negros ao que se conhece como pensamento social brasileiro. Isso pode nos encaminhar para o processo de desnaturalização da imagem negativa ou de desajustados sociais que paira sobre as cabeças de carapinha. Nesse sentido, esse breve artigo pretende contribuir para minorar o caráter fragmentário, justificado muitas vezes pela falta de fontes de pesquisa, da historiografia sobre o negro no período posterior à abolição no Rio Grande do Sul, saga que ainda está para ser recuperada no conjunto e que reconstitua a história dessa população.
A imprensa negra é constituída por jornais publicados, a partir do final do século XIX, com a intenção de criar espaços de comunicação, informação, educação e protesto da comunidade negra.
Perseguindo as datas festivas de aniversários, casamentos, batizados, festas e bailes, também os anúncios de morte e doenças, artigos assinados e reportagens, temos uma moldura aproximada dos comportamentos, anseios, esperanças e reivindicações daquelas pessoas. O protesto contra o preconceito racial e a marginalização social, poesia, teatro, música, conselhos e fofocas que tinham o objetivo de indicar regras morais e de comportamento para os leitores, bem como juízos afirmativos de uma identidade negra, tudo isso e muito mais se pode vislumbrar na imprensa negra.
Naquele período, as páginas dos jornais vinham recheadas de discursos reivindicativos e pedagógicos; as preocupações maiores eram com o ordenamento familiar e a formação profissional dos egressos da senzala. O processo de urbanização e industrialização do pós-abolição exigia novos sujeitos sociais, no entanto, a idéia central que nos leva a definir a imprensa negra como meio de comunicação e protesto para o povo negro chegou até nós. Ou seja, os problemas que atingiam a população negra naquele período, como a falta de visibilidade nos meios de comunicação, por exemplo, ainda são justificativas para a criação de periódicos e tvs da gente dirigidas ao público afro-brasileiro. Na maioria das vezes, a imprensa negra não permite o acesso a uma série ininterrupta de periódicos, o que é comum nesse tipo de publicação realizada por e para pessoas tão RS Negro – Cartografias sobre a produção do conhecimento sujeitas às vicissitudes da sobrevivência. No caso do Rio Grande do Sul, essa imprensa assumiu caráter diferenciado do restante do país, uma vez que houve longevidade na proposta quando da criação, em 1892, de O Exemplo, em Porto Alegre. Muito embora os fundadores não tenham mantido a periodicidade, pois houve anos em que não foi
publicado ou foram perdidos os exemplares, o jornal sobreviveu até a década de trinta. Longevidade foi a marca do jornal A Alvorada que, fundado em 1907, circulou na cidade de Pelotas e região até 1965.
Os dois jornais tinham um escopo de interesse temático e circulação que não se restringia apenas à comunidade negra, discutiam questões como a necessidade de leis trabalhistas, aumento dos aluguéis e dos alimentos, política nacional, temas que diziam respeito a toda sociedade, indiscriminadamente. No entanto, os problemas abordados na imprensa negra eram aqueles que atingiam os seus principais leitores, para quem os jornais eram dirigidos. A discussão pública em torno da questão racial, por exemplo, era tratada de forma
recorrente. O estigma da cor preta ou parda, estereótipo do negro como vagabundo ou marginal, era entendido por alguns articulistas dos jornais como sendo um reflexo da escravidão e permanecia como sinal da ignorância em que ainda vivia a maioria dos brasileiros. Segundo alguns articulistas, aqui reconhecidos como intelectuais negros, a sociedade branca repudiaria a todos enquanto indivíduos sem instrução, não enquanto homens negros, o que definia a instrução como o principal meio de integração racial e ascensão social para essa população. Era uma estratégia possível para buscar a mobilidade social que podia variar de acordo com as experiências de cada um. No caso daqueles que fundaram e mantiveram os jornais, o acesso à ducação e a proximidade com as classes médias deram-lhes condições de buscarem a igualdade de direitos e vislumbrarem a possibilidade da superação das diferenças raciais e sociais.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


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