domingo, 28 de julho de 2013

REFLEXÃO SOBRE A HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL



A importância dos estudos sobre a História do Negro no Brasil e da História da África,

deve ser entendida como parte importante da construção da identidade do povo brasileiro e,

em particular da população afrodescendente, através do qual, regata-se uma dívida histórica,

no registro histórico oficial, daqueles que colaboraram, em uma escala gigantesca, no acumulo

da riqueza nacional e no complexo multicultural que caracteriza e personaliza o povo

brasileiro.

Tratar uma temática tão complexa como a História do Negro no Brasil é um exercício

de busca das nossas principais raízes culturais, nas quais, estão inseridas 49% da população

brasileira

 



Ao estabelecer diretrizes nos estudos do negro no Brasil, deve-se levar em conta a

desinformação sobre a África, sua história e a sua complexidade cultural, que gera sentimentos

de desagregação no povo afro-brasileiro e desenvolve um processo de negação na sua origem

em função de uma história expropriada do continente africano.

A identificação com a África nem sempre é assumida com orgulho pela maioria dos

negros brasileiros e, neste sentido, a eloqüência do mito da democracia racial no Brasil no

ideal de branqueamento, sustentado pela mestiçagem, influência nos contornos na identidade

coletiva dos afro-brasileiros induzindo-os aos refúgios simbólicos dos mitos e heróis

nacionais, os quais, não os representam.

Neste contexto, a imagem caricatural do africano na sociedade brasileira é a do negro

acorrentado aos grilhões do passado, imagem construída pela insistência e persistência das

representações da África como a terra de origem dos negros escravizados, de um continente

sem história e repleta de animais selvagens. A África é tida sempre como o diferente com

relação aos outros continentes, há um bloqueio sistemático em pensar o negro sem o vínculo

da escravidão. O imaginário social brasileiro tem dificuldades no processo do exercício da

cidadania na formulação do modelo de origem dos afrodescendentes.



 
 

 
 



O fortalecimento desta construção identitária dos afro-brasileiros passa pelo trabalho

de reconstrução do seu lugar social, marcado por múltiplas rupturas e traumatismos na

trajetória de sua própria história. Portanto, os “grupos de pertença”

2 definem, o perfil de seus



integrantes, estabelecendo padrões próprios de ideal e auto-estima.

Iniciativas como o estudo da
 

História do Continente Africano, têm como relevância
 



social e histórica o contexto principal da História do Negro no Brasil, este espaço deve

oferecer a iniciação para buscar entender e fixar e, posteriormente, desenvolver e aprofundar,

as questões referentes à África, tendo como prerrogativa desvendar curiosidades e confirmar

relatos que na História Universal, se faz de maneira maquiada, no pressuposto da menor

importância das culturas africanas no contexto histórico mundial.

Os valores materiais e simbólicos dos africanos em sua terra natal, suas estruturas

sociais e religiosas, denotam personalidade singular no conjunto de um rico acervo artístico e

cultural, chegando aos dias de hoje, através de tribos de modo vivente agrário ou nas heranças

nos novos territórios da diáspora negra pelo mundo.

O discurso da História, na atualidade, tem um perfil renovador, o vasto continente

africano apresenta movimentos históricos próprios. A diversidade dos povos na África resulta

de uma geografia variada e de uma longa pré-história. As interações entre os muitos povos

africanos geraram movimentos populacionais surpreendentes nos últimos cinco mil anos como

a expansão dos bantos no continente africano. Os grandes impérios africanos são destacados

com suas características singulares, como também o movimento de islamização no século XI,

até a chegada dos portugueses, espanhóis, holandeses, ingleses e franceses, que se lançaram ao

mar e as conquistas econômicas e políticas, gerando dívidas históricas e deixando como

legado, conflituosas heranças no território africano, refletidas até os dias de hoje.

Os fatos históricos dos negros no Brasil são registrados, paralelamente a história oficial

brasileira, em algumas produções literárias, não sendo destacada de forma coerente na

historiografia brasileira, pois, tal construção foi relatada através da ótica do europeu, que deu

grande ênfase, a seus heróis, enaltecendo seus feitos e deixando à margem a efetiva

contribuição do povo negro no enriquecimento e na formação da nação brasileira.



 


GRUPO DE PERTENÇA  grupo ao qual o indivíduo está identificado social e economicamente; grupo ao



qual o indivíduo se encontra vinculado por laços ideológicos ou étnicos; grupo que reflete, identifica e

representa o indivíduo na sociedade a qual pertence.



 

A formação da população pluriétnica no Brasil, é decorrente das várias nações

africanas trazidas como mão-de-obra, que denotam ainda, nos tempos atuais, peculiaridades,

identidades e representações próprias, em alguns grupos específicos. Pelas mais variadas

formas de embarque e tramitação pelo território brasileiro, mesmo depois da proibição do

tráfico, o contrabando e a migração interna, realimentaram o fenômeno da miscigenação no

Brasil. Sem que se possa oferecer um balanço exato da extradição da África para o Brasil de

homens, mulheres e crianças, no entanto, pode-se afirmar que em maior números vieram às

etnias sudanesa e banto.

Na chegada ao Brasil, recebiam nomes de procedência, muitas vezes do navio que os

transportavam, outras vezes consignados em seus próprios documentos, assim, mesmo sabe-se

que não possuíam origem única, assim, jêjes, congos, angolas, cafres, cabindas, entre muitos

outros, eram embarcados na África, por exemplo, no Forte de São João da Mina e na chegada

ao Brasil, eram denominados “negros minas”.

Esta mão-de-obra foi trazida à revelia da vontade destes homens e mulheres, porém,

este contingente recrutado na África produziu riquezas, primeiro para a Metrópole portuguesa

e depois para os seus próprios signatários. Primeiro no ciclo da cana-de-açúcar, a seguir no

ciclo do ouro, depois no ciclo do café. Tipos étnicos distintos trabalharam no Brasil nas

charqueadas, nas plantações de algodão e fumo, nos engenhos, fazendas e estâncias, como

peões, boiadeiros, tropeiros, capatazes, negociantes, vendedores ambulantes, artesões e como

soldados, nas pelejas territoriais. Isto sem retratar a importância do papel da mulher africana,

nas artes do fazer, do cozer, do criar, do despojamento no amar e na suplantação das profundas

marcas das perdas.

Da África vieram nações de diversos locais como: Acra, Ajuda, Alto Volta, Ambacas,

Ambace, Amboim, Angoche, Angola, Axânti, Bacuir, Bailundo, Bamaco, Bamba, Bambara,

Bambo, Banguela, Benin, Barué, Bateque, Benguela, Biafra, Bié, Biguda, Bijangós, Bissau,

Cabinda, Cabo Verde, Cacheu, Cacongo, Cafraria, Calabar, Camarões, Caçange, Congo, Costa

dos Dentes, Costa dos Escravos, Costa do Marfim, Costa da Mina, Costa do Ouro, Costa do

Grão ou da Pimenta, Costa do Vento, Daomé, Fânti, Gabão, Gambia, Gaza, Guiné, Guiné-

Bissau, Ibo, Ilorim, Lagos, Libéria, Libolos, Libongo, Libreville, Loango, Lourenço Marques,

Luanda, Macuana, Malaui, Malemba, Mali, Manianga, Manica, Maniema, Moçambique,

Níger, Nigéria, Novo Redondo, Nupé, Quelimane, Quiçanga, Quimbande, São Jorge da Mina,

 

Sego, Senegal, Senegâmbia, Serra Leoa, Sofala, Sudão, Tanzânia, Tete, Togo, Tombuctu,

Uganda, Zama, Zâmbia, Zambézia, Zanzibar.

No Brasil, tais nações africanas, enfrentaram o desafio do pluralismo cultural em um

processo de empréstimos e de transculturação

 



A investigação histórica comprova a construção de uma identidade afro-brasileira,

resgatada através da memória e da valorização do povo africano. As migrações em território

brasileiro, na época Colonial e Imperial, propiciaram as culturas africanas estreitas relações que

formaram elos identitários, de onde se originaram as mobilizações e as resistências tais como: os

quilombos, as irmandades e as confrarias, as religiões de cultos africanos, como também, as

revoltas, insurreições e confrontos que contribuíram no inventário das mudanças e transformações

pela persistência na alteração das estruturas sociais, até os dias de hoje.

Os movimentos negros organizados, ao longo do tempo, nos discursos sobre as

desigualdades raciais, enfatizam a reconstrução de sua identidade como plataforma

mobilizadora no caminho da conquista da sua plena cidadania. O silêncio foi sempre uma

estratégia de sobrevivência das culturas de origem africana, porém, o esquecimento faz parte

da dívida histórica nacional brasileira.



 
TRANSCULTURAÇÃO Processo de troca recíproca de valores culturais

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