quarta-feira, 24 de julho de 2013

Personalidades negras


Filha de negros, Carolina de Jesus nasceu em Sacramento, estado de Minas Gerais. De família pobre, a intelectual brasileira contou com a proteção de Maria Leite Monteiro de Barros, que patrocinou seus estudos. Célebre intérprete lírica brasileira, Carolina foi também escritora e tem em sua obra um importante referencial para os estudos culturais no Brasil e no mundo.
Por meio de sua escrita de contestação, Carolina revela a importância do testemunho como meio de denúncia sociopolítica de uma cultura hegemônica que exclui. Sua obra mais conhecida é Quarto de despejo, que resgata e delata uma face da vida cultural brasileira no início da modernização da cidade de São Paulo e do surgimento de suas favelas.
Sua obra, que é considerada a literatura das vozes subalternas, inspirou diversas expressões artísticas, como a letra do samba Quarto de despejo, de B. Lobo; o texto em debate no livro Eu te arrespondo, Carolina, de Herculano Neves; a adaptação teatral de Edy Lima e o filme Despertar de um sonho, realizado pela Televisão Alemã, utilizando a própria Carolina de Jesus como protagonista.
 
Exemplo de fé e determinação, Benedita da Silva nasceu em 11 de março de 1942 na favela da Praia do Pinto, no Rio de Janeiro. Sua vida é alicerçada pela autoestima de quem conhece a extensão do próprio valor, e do valor de sua raça. Com tal qualidade aliada a uma capacidade inata de fazer política Benedita desenhou uma trajetória política incomum.
Formou-se aos 40 anos de idade em Estudos Sociais e Serviço Social e só em 1982 tornou-se a primeira negra a ocupar uma cadeira na Câmara de Vereadores da Cidade do Rio de Janeiro. Foi eleita Deputada Federal por duas vezes. Em seu primeiro mandato, durante a reforma da Constituição do Brasil, ela garantiu às mulheres presidiárias o direito de permanecerem com os seus filhos durante a amamentação.
Foi autora de 84 projetos de leis de grande importância para a população. Sua atuação ajudou a escrever a história recente do país. Foi também a primeira negra a chegar ao Senado Federal, o mais alto escalão do Poder Legislativo brasileiro. Disputou o Governo do Estado do Rio de Janeiro onde foi Vice-Governadora e desenvolveu todos os projetos sociais da gestão. Em 2010 foi eleita mais uma vez para Câmara Federal.
 
Nascida em 11 de julho de 1901, Antonieta de Barros foi a primeira mulher a integrar a Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Educadora e jornalista atuante, teve que romper muitas barreiras para conquistar espaços que, em seu tempo, eram inusitados para as mulheres – e mais ainda para uma mulher negra.
Deu início às atividades como jornalista na década de 1920, criando e dirigindo em Florianópolis, onde nasceu, o jornal A Semana, mantido até 1927. Na mesma década, dirigiu o periódico Vida Ilhoa, na mesma cidade. Como educadora, fundou o Curso Antonieta de Barros, que dirigiu até a sua morte, em 1952, além de ter lecionado em outros três colégios.
Manteve intercâmbio com a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino e, na primeira eleição em que as mulheres brasileiras puderam votar e receberem votos, filiou-se ao Partido Liberal Catarinense, que a elegeu deputada estadual. Tornou-se, desse modo, a primeira mulher negra a assumir um mandato popular no Brasil, trabalhando em defesa dos diretos da mulher catarinense.
 
Alberto-LuthuliPrimeiro negro a receber o Prêmio Nobel da Paz, Albert John Luthuli Mvumbi foi defensor da não-violência e forte opositor do Apartheid. Lutou incansavelmente por uma África do Sul que pertencesse a todos os que nela viviam, fossem negros ou brancos. Foi presidente do Congresso Nacional Africano e, em conjunto com o Congresso Indiano da África do Sul, retomou, nos anos 1950, a luta de não violência iniciada por Ghandi.
Filho de um Adventista do Sétimo Dia, Albert Luthuli nasceu em 1898 perto de Bulawayo, Rodésia do Sul. Desde jovem era considerado liderança em grupos que iam de familiares a comunitários, chegando à política. Profundamente religioso, foi um pregador leigo da paz em um momento em que muitos de seus contemporâneos pediam atitudes militantes contra o Apartheid.
Liderou milhares das pessoas que boicotaram os ônibus onde a distinção racial era vigente, não adquiriam certos produtos agrícolas e desobedeciam as leis racistas. Como a maioria que lutava pela igualdade entre os homens, Luthuli foi preso e processado. Em 1959 foi proibido de participar de manifestações populares e obrigado a se exilar de sua terra natal durante 5 anos. Morreu misteriosamente atropelado por um trem em 1967.
 
Nascido em 1914 no município de Franca, Estado de São Paulo, Abdias foi filho de Dona Josina, a doceira da cidade, e Seu Bem-Bem, músico e sapateiro. Embora de família pobre, conseguiu se diplomar em contabilidade em 1929. Aos 15 anos alistou-se no exército e foi morar na capital São Paulo, onde anos depois se engajou na Frente Negra Brasileira e se envolveu na luta contra a segregação racial.
Dramaturgo, poeta e pintor, atuou também como deputado federal, senador e secretário de Estado onde desenvolveu aspectos dessa luta. Autor das obras Sortilégio, Dramas para Negros e Prólogo para Brancos e O Negro Revoltado, relatou em seus livros as realidades quilombolas e levantou temas como o pensamento dos povos africanos, combate ao racismo, democracia racial e o valor dos orixás nas religiões de matriz africana.
Com uma trajetória marcada pelo ativismo, Abdias teve como resultado de suas iniciativas importantes desdobramentos na defesa e na inclusão dos direitos dos afrodescendentes brasileiros. Conquistas de suas lutas foram a contemplação da natureza pluricultural e multiétnica do país na Constituição de 1988, a criminalização do racismo e os primeiros processos de demarcação das terras de quilombos.
 
Nascida em 7 de fevereiro de 1901, Clementina de Jesus da Silva surgiu como o elo perdido entre a moderna cultura negra brasileira e o continente africano. Nascida na comunidade do Carambita, bairro da periferia de Valença, no sul do Rio de Janeiro, trabalhou como empregada doméstica por mais de 20 anos até ser “descoberta” pelo compositor Hermínio Bello de Carvalho em 1963.
Filha de escravizados, Clementina demonstrava na voz o respeito a sua ancestralidade, e logo foi considerada a “rainha do partido alto”. Além deste gênero gravou corimás, jongos, cantos de trabalho e outros estilos que recuperaram a memória da conexão afro-brasileira. Em 1968, com a produção de Hermínio Bello de Carvalho, registrou o histórico LP ”Gente da Antiga” ao lado de Pixinguinha e João da Baiana.
Conhecida também como Rainha Ginga e Quelé – duas maneiras de trata-la com a imponência do título de realeza e com a corruptela carinhosa de seu nome – Clementina fascinou boa parte dos representantes da Música Popular Brasileira. Artistas como João Bosco, Milton Nascimento e Alceu Valença fizeram questão de registrar sua voz em seus álbuns. Apesar de não registrar grande sucesso em vendagem de discos, a rainha impressionava a todos com suas apresentações nos palcos, onde tinha um contato direto com seu público.

Conceição Evaristo nasceu em 29 de dezembro de 1946 numa favela da zona sul de Belo Horizonte, Minas Gerais. Filha de uma lavadeira que, assim como Carolina Maria de Jesus, matinha um diário onde anotava as dificuldades de um cotidiano sofrido, Conceição cresceu rodeada por palavras. Teve que conciliar os estudos com o trabalho como empregada doméstica, até concluir o curso Normal, em 1971, já aos 25 anos.
Uma das principais expoentes da literatura Brasileira e Afro-brasileira atualmente, Conceição Evaristo tornou-se também uma escritora negra de projeção internacional, com livros traduzidos em outros idiomas. Publicou seu primeiro poema em 1990, no décimo terceiro volume dos Cadernos Negros, editado pelo grupo Quilombhoje, de São Paulo. Desde então, publicou diversos poemas e contos nos Cadernos, além de uma coletânea de poemas e dois romances.
A poeta traz em sua literatura profundas reflexões acerca das questões de raça e de gênero, com o objetivo claro de revelar a desigualdade velada em nossa sociedade, de recuperar uma memória sofrida da população afro-brasileira em toda sua riqueza e sua potencialidade de ação. É Uma mulher que tem cuidado de abrir espaços para outras mulheres negras se apresentarem no mundo da literatura.
 
Ernesto-CarneiroMédico e literato brasileiro nascido em Itaparica, Estado da Bahia, o afrodescendente Ernesto Carneiro Ribeiro foi pioneiro ao produzir uma gramática baseada na língua portuguesa. Diferente das gramáticas então existentes, expôs e defendeu a normatização de peculiaridades da língua oficialmente falada no país. Formado em medicina, Ernesto dedicou-se ainda ao magistério.
Polêmico, foi responsável por famosos debates linguísticos sobre o parecer do jurista Rui Barbosa em relação aos oito volumes do Projeto do Código Civil Brasileiro, publicado pela Imprensa Nacional (1902). Envolvido a contragosto na apreciação do projeto, destacou aspectos do português falado no Brasil, nunca antes percebidos pelos gramáticos.
Sobre o assunto, publicou A redação do projeto do código civil (1902) e A réplica do dr. Rui Barbosa (1905). Quando recém-proclamada a República, participou de uma comissão formada pelo governador Manuel Vitorino, destinada a elaborar um plano de ação educacional. Ernesto Carneiro faleceu em sua terra natal, em 13 de novembro (1920), aos 81 anos.
 
Quilombola de Conceição das Crioulas, em Salgueiro, Givânia é descendente de mulheres que chegaram ao sertão pernambucano no século XVIII e marcaram a história da região com o trabalho de produção e fiação do algodão. Foi a primeira de sua comunidade a cursar a faculdade, graduando-se em Letras, apesar das dificuldades de morar na zona rural, com pouco dinheiro e enfrentando as mazelas do racismo.
Exemplo de superação, Givânia foi a primeira diretora da Escola Professor José Mendes, criada no quilombo de Conceição das Crioulas. Mestre em Políticas Públicas e Gestão da Educação pela Universidade de Brasília, com concentração na área de relações raciais, ela luta pela visibilidade nacional e internacional na luta pela promoção da igualdade racial.
Uma das fundadoras da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Givânia é uma das principais representantes das comunidades tradicionais de quilombos. Reconhecida pelo Governo do Presidente Lula, assumiu a Secretaria de Políticas para Comunidades Tradicionais (Subcom), na Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), para a qual levou importante contribuição no sentido de gerir a política de promoção da igualdade racial.
 
Janete Rocha Pietá nasceu no Rio de Janeiro em 3 de novembro de 1946. Formou-se em História pela Faculdade de Filosofia Ciências Santa Úrsula, em 1971. Ainda no Rio de Janeiro, trabalhou como professora até mudar-se para Belo Horizonte, em 1972. Foi a primeira mulher a se formar pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), em 1977 e licenciou-se em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Guarulhos, em 1993.
Suas conquistas também continuaram na política. Foi a primeira parlamentar afrodescendente eleita pelo Partido dos Trabalhadores paulista para a Câmara dos Deputados. Costuma dizer que sua militância teve início aos cinco anos de idade, quando a família organizava reuniões para discutir problemas dos bairros em Nova Iguaçu (RJ), onde residiam, e ela acompanhava tudo bastante atenta.
Após coordenar a área social na prefeitura de Guarulhos, Janete foi eleita para o primeiro mandato de deputada federal em 2006 e teve participação fundamental na aprovação do Estatuto da Igualdade Racial. Foi vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias e integrou as comissões de Legislação Participativa e de Relações Exteriores e Defesa Nacional.
 
Militar brasileiro, João Cândido Felisberto, o Almirante Negro, nasceu em 24 de junho de 1880 em Encruzilhada, Rio Grande do Sul, numa família de ex-escravos. Entrou para a Marinha do Brasil aos 14 anos, onde presenciou penalidades a chibatadas sobre seus companheiros, apesar de este tipo de castigo ter sido abolido em 1890.
No ano de 1910, liderada por João Cândido, a tripulação da embarcação Minas Gerais se revoltou contra seu comandante, que castigara um dos homens da tripulação com 25 chibatadas. O marinheiro passou a reivindicar o fim dos maus-tratos psicológicos e das punições corporais, liderando assim a Revolta da Chibata.
Outras reivindicações do movimento foram o aumento de salário, a redução da jornada de trabalho e a anistia dos revoltosos. A principal conquista da rebelião foi o compromisso do governo da época de acabar com a chibata na Marinha. João Cândido foi expulso da corporação ainda em 1910, sob acusação de ter favorecido os rebeldes. Faleceu no Rio de Janeiro aos 89 anos.

22 DE NOVEMBRO: Centenário da Revolta da Chibata

No dia 22 de novembro de 1910, tiros de canhão abalaram a cidade do Rio de Janeiro. Liderados por João Cândido Felisberto, conhecido como “Almirante Negro”, marinheiros deram início à Revolta da Chibata, que reivindicava o fim dos castigos físicos na Marinha.
A Revolta contra os maus-tratos paralisou o coração do Brasil por quatro dias e custou a vida de dezenas de pessoas, entre civis e militares. A punição pela chibata, até então, era um hábito herdado da Marinha portuguesa. Os castigos tinham a função de educar na marra os supostos maus elementos que compunham os quadros inferiores.
Os marinheiros não suportavam mais aquela situação e logo organizaram, sob a liderança do “Almirante Negro”, a manifestação. Dezenas de oficiais foram mortos, outros, detidos ou ainda desembarcados. Todo aquele que tentasse impedir o levante ou não se apresentasse a favor era considerado inimigo e tinha a embarcação tomada. Uma após outra, quase todas as embarcações foram sendo assumidas pelos marujos, e João Cândido, juntamente com outros líderes, assumiu o comando de toda a Armada. Pela primeira vez na história da humanidade um marinheiro foi comandante de toda uma esquadra. E um marinheiro negro.
O ministro da marinha e demais setores militares se opunham à rendição diante de tripulações de marujos, majoritariamente, negros, analfabetos e descalços. Contudo, não havia outra maneira. O governo então, cedeu, e afirmou aceitar as condições da negociação e anistiar os participantes da revolta.
A anistia não durou dois dias. Traídos, presos e torturados, os revoltosos foram expulsos da Marinha. João Cândido, o líder da Revolta, foi um dos que mais sofreram perseguições, vindo a morrer muito pobre e doente. A sua prisão na Ilha das Cobras foi marcada por atrocidades e barbaridades. Após ser preso e torturado, o “Almirante Negro” foi internado num manicômio. Nos anos seguintes, enfrentou uma série de mazelas pessoais e familiares, sempre discriminado pela Marinha.
Imortalizado no samba “O mestre-sala dos mares”, ele foi anistiado postumamente em julho de 2008. Hoje, a Revolta da chibata completa 100 anos, e João Cândido, um símbolo da luta contra a opressão no Brasil, merece destaque.
JOÃO CÂNDIDO
Durante a infância, João Cândido viveu em Rio Pardo, no interior do Rio Grande do Sul. Filho de ex-escravizados, ele deixa cedo a vida na fazenda e alista-se na Marinha. Ali, ganha experiência viajando pelo Brasil e pelo mundo. Com bom trânsito entre os oficiais e admirado pelos companheiros, o jovem acaba liderando uma das mais importantes rebeliões populares do Brasil.
O “Almirante Negro” chegou a levar fama de “perigoso”, no entanto pessoas que acompanharam sua vida após o fim da revolta afirmam que sua postura não condizia com isto. Mesmo assim, sua vida foi marcada pela perseguição política, pela penúria e pelas tragédias pessoais.
Problemas financeiros, a dura rotina de trabalho descarregando peixe durante a noite e de madrugada, no entreposto da Praça XV, no Rio de Janeiro, as perdas trágicas da mulher e da filha e as recaídas constantes da tuberculose mascaram os últimos anos de vida de João Cândido.
O “Almirante Negro” passou de marinheiro a trabalhador braçal, recluso e doente. Teve a polícia em seu encalço até mesmo durante seu enterro. O líder da Revolta da Chibata faleceu no Rio de Janeiro, em 1969, aos 89 anos.


Dona de uma voz rouca, forte, de tom popular e força batente, Jovelina Pérola Negra foi uma das grandes damas do samba e do pagode no Brasil. Carioca da gema, nasceu em 21 de julho de 1944 e herdou de Clementina de Jesus o jeito inconfundível de cantar e, assim como ela, foi empregada doméstica antes de fazer sucesso no mundo artístico.
Na dinastia das grandes vozes femininas “As Divas Negras”, Jovelina Pérola Negra foi uma das personalidades mais importantes na condução do samba de fundo de quintal e do pagode para a linha de frente da Música Popular Brasileira. O estilo muito pessoal conquistou muitos fãs no meio artístico, levando Maria Bethânia a uma apresentação no Terreirão do Samba, na Praça Onze de Junho, de onde a diva da música popular brasileira só saiu depois de ouvir “dona Jove versar”.
Pérola Negra gravou cinco discos individuais e conquistou um Disco de Platina. Atualmente, grandes sucessos como “Feirinha da Pavuna”, “Bagaço da Laranja” (gravada com Zeca Pagodinho), “Luz do Repente”, “No Mesmo Manto” e “Garota Zona Sul” são encontrados apenas em coletâneas, entretanto,Jovelina sempre é lembrada pela voz potente e o amor a música.

Afro-descendente nascido na capital da Bahia, Juliano Moreira ingressou na Faculdade de Medicina do Estado em 1886, apesar da origem humilde. Um dos pioneiros na psiquiatria brasileira, foi o primeiro professor universitário a citar e incorporar a teoria psicanalítica em suas aulas, além de ter representado o Brasil em congressos internacionais como os de Paris, Berlim, Lisboa e Milão nos anos de 1900.
Moreira contrariou o pensamento racista existente no meio acadêmico de sua época, que atribuia os problemas psicológicos dos brasileiros à miscigenação. À frente do Hospício Nacional dos Alienados do Rio de Janeiro, humanizou o tratamento e acabou com a clausura dos pacientes. Defendeu a idéia de que a origem das doenças mentais se devia a fatores físicos e situacionais, como a falta de higiene e de acesso à educação.
Uma de suas principais lutas foi a reformulação da assistência psiquiátrica pública.
Destacou-se por incentivar a promulgação da primeira lei federal de assistência aos alienados em 1903, ao mesmo tempo em que sugeriu novos formatos institucionais e de tratamento para as doenças mentais. Deve-se a esse grande cientista e gestor afro-brasileiro a criação do Manicômio Judiciário e a aquisição do terreno para construção da Colônia Juliano Moreira.

Destaque como mulher negra na política brasileira, Jurema da Silva Batista começou sua carreira como presidente da Associação de Moradores do Andaraí, em 1979. Formada em Português e Literatura pela Universidade Santa Úrsula, participou da criação do Partido dos Trabalhadores, no Rio de Janeiro, no início da década de 80. Em 2002, foi eleita deputada estadual e durante seu mandato na Assembléia Legislativa (Alerj), presidiu a Comissão de Combate à Discriminação de Etnia, Religião e Procedência Nacional.
Em 2005 foi uma das 1000 mulheres do mundo indicadas para ganhar o Nobel da Paz. Em 2007 foi convidada para presidir a Fundação para a Infância e Juventude (FIA) do governo do estado. Atualmente exerce o cargo de Gerente de Segurança Alimentar na Secretaria de Assistência Social, da qual é funcionária de carreira. É membro do Movimento Negro Unificado, onde exerce o cargo de coordenadora de formação política.
Entre seus projetos mais importantes estão a garantia da gratuidade do teste de DNA para famílias pobres, o projeto de lei que cria o Dia de Lembrança do Holocausto, o programa que mantém a Feira de Tradições Nordestinas em São Cristóvão e o projeto Rio Charme que permite a permanência do baile charme no Viaduto de Madureira. É autora da lei que garante 40% de negros na propaganda oficial do município, bem como, autora do Diploma Zumbi dos Palmares na Alerj e do Disque Discriminação na mesma casa de Lei.
 
 
Nascida no Rio de Janeiro, em 11 de março de 1933, Léa Lucas Garcia de Aguiar, conhecida apenas como Léa Garcia, foi criada pela avó materna desde os 11 anos de idade, após o falecimento da mãe. Como a avó trabalhava para uma rica e tradicional família carioca, Léa pôde estudar nos melhores colégios da cidade. Aos 16 anos, conheceu o Teatro Experimental do Negro.
Para assistir aos espetáculos teatrais, a jovem passou a negligenciar os estudos, o que lhe rendeu uma surra pública dada por seu próprio pai. Com isso, Léa fugiu de casa e passou a viver com Abdias Nascimento, fundador do Teatro, com quem teve dois filhos e adquiriu um espírito militante contra a discriminação racial e de gênero, característica que marcou sua trajetória artística.
Em 1952, estreou como atriz na peça “Rapsódia Negra”, o primeiro de dezenas de trabalhos nos palcos. O cinema surgiu na vida de Léa quase que simultaneamente ao teatro. Em 1959, estreou na telona no aclamado “Orfeu Negro”, filme que ganhou o Oscar de melhor obra estrangeira no ano seguinte, e lhe deu a segunda colocação no Festival de Cinema de Cannes. Foi a única brasileira escolhida pelo Guilford College dos Estados Unidos como uma das dez mulheres do século XX que mais contribuíram para a luta dos direitos humanos e civis.
 
Leci Brandão da Silva nasceu no Rio de Janeiro em 12 de setembro de 1944 e atualmente é considerada umas das mais importantes intérpretes de samba da música popular brasileira.Começou sua carreira no início da década de 1970, tornando-se a primeira mulher a participar da ala de compositores da Mangueira e ao longo de sua carreira, gravou 20 álbuns e três compactos.
Atualmente, além de se dedicar à carreira musical, é membro do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial e do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Em fevereiro de 2010, Leci Brandão filiou-se ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e foi eleita para ocupar o cargo de Deputada Estadual pelo estado de São Paulo. Sua defesa dá ênfase a negros, igualdade racial, combate ao racismo e a inclusão do samba na política cultural do Estado de São Paulo, entre outras propostas.
Ao lançar seu primeiro DVD, “Canções Afirmativas”, ela ressaltou sua luta pela igualdade. “Quando comecei minha carreira, pensei: ‘Vou fazer da minha arte um instrumento para requerer os direitos humanos’, e fiz. Ao ver o disco montado, antes de gravá-lo, tive a idéia do nome Canções Afirmativas, que é um título bem forte e sintetiza tudo o que fiz na minha trajetória”

Filha de um ferroviário negro e de uma empregada doméstica indígena, Lélia Gonzalez nasceu em Belo Horizonte-MG, em 1º de fevereiro de 1935. Autora de artigos, ensaios e livros sobre a temática racial, a antropóloga e militante do movimento negro nos anos 1970, Lélia foi também um expoente no combate ao preconceito contra a mulher.
Sua obra acadêmica e seu trabalho como militante contribuíram para impulsionar não apenas o debate sobre a problemática racial no Brasil, mas também os seus desdobramentos a partir, basicamente, de dois temas correlatos: o tema da ideologia do branqueamento e seus efeitos e o da dupla exposição da mulher negra, discriminada pelo racismo e pelo sexismo.
Lélia fez parte do grupo de fundadores do Movimento Negro Unificado – MNU, principal canal de ressurgimento da luta pela igualdade racial, nos anos 70. Incansável na luta contra o racismo e a discriminação racial, foi também uma militante da causa feminina, particularmente da mulher negra. Sua importância para o movimento negro brasileiro tem sido comparada à de Ângela Davis, grande ícone do movimento negro americano.
 

Filho de escravos em um Brasil que lutava para abolir oficialmente a escravidão, Afonso Henriques de Lima Barreto teve oportunidade de boa instrução escolar, vindo a tornar-se jornalista e um dos mais importantes escritores e militantes da causa do País. Ainda jovem, aprendeu a trabalhar com tipografia e, em 1902, começou a contribuir para a imprensa brasileira, escrevendo para pequenos veículos de comunicação.
Em jornais de maior circulação, começou a escrever em 1905, destacando-se, especialmente, no jornal Correio da Manhã, ao realizar uma série de reportagens sobre a demolição do Morro do Castelo. Posteriormente, passou a colaborar em vários jornais e revistas, sendo considerado um dos maiores críticos contra o regime republicano. Simpático ao anarquismo, passou a militar na imprensa socialista.
Resultado das lembranças do fim do período imperial no Brasil, bem como remotas recordações da Abolição da Escravatura, os livros de Lima Barreto são pincelados com indisfarçáveis traços autobiográficos. Eles começaram a ser publicados em 1909, em Portugal, sendo o primeiro o romance Recordações do escrivão Isaías Caminha. O autor teve publicados 11 livros. Sua obra mais famosa é Triste fim de Policarpo Quaresma.
 
 
Nascida em Costa Mina, na África, no início do século XIX, Luísa Mahin foi trazida para o Brasil como escrava. Pertencente à tribo Mahi, da nação africana Nagô, Luísa esteve envolvida na articulação de todas as revoltas e levantes de escravos que sacudiram a então Província da Bahia nas primeiras décadas do século XIX.
Quituteira de profissão, de seu tabuleiro eram distribuídas as mensagens em árabe, através dos meninos que pretensamente com ela adquiriam quitutes. Desse modo, esteve envolvida na Revolta dos Malês (1835) e na Sabinada (1837-1838). Caso o levante dos malês tivesse sido vitorioso, Luísa teria sido reconhecida como Rainha da Bahia.
Como negra africana, sempre recusou o batismo e a doutrina cristã, e um de seus filhos naturais, Luís Gama (1830-1882), tornou-se poeta e um dos maiores abolicionista do Brasil. Descoberta, Luísa foi perseguida, até fugir para o Rio de Janeiro, onde foi encontrada, detida e, possivelmente, deportada para Angola, Não existe, entretanto, nenhum documento que comprove essa informação.
 
 
Nascida no Estado da Bahia em 1942, Luislinda Dias de Valois Santos se mostrou lutadora contra o racismo ainda criança. Filha de motorneiro e de costureira, aos nove anos teve seu primeiro embate em uma sala de aula quando um professor a desprezou pela simplicidade de seu material escolar. Ele afirmou que se ela não podia comprar o material adequado, não devia estar estudando e sim cozinhando feijoada para brancos.
Foi nesse momento que surgiu a determinação da mulher que se tornaria, em 1984, a primeira negra a exercer o cargo de magistrado e a primeira a sentenciar, em 1993, tendo como base a Lei do Racismo no Brasil. Luislinda já foi homenageada e premiada em diversas esferas públicas e entidades no país e no exterior pelos projetos de inclusão e acesso à Justiça que desenvolveu nas comarcas pelas quais passou.
Consciente de que é parâmetro de sucesso para a raça negra, defende o sistema de cotas, acredita que a Lei contra o Racismo ainda não é muito bem utilizada e afirma que o preconceito existe, sim, no Brasil, apesar de velado. Como exemplo, faz questão de lembrar que já foi vítima de preconceito no exercício da magistratura, mas afirma que com simplicidade, sinceridade e altivez sempre resolve essas situações.
 
 
Luiz-GamaFilho de fidalgo português com uma africana, Luiz Gonzaga Pinto da Gama nasceu livre em Salvador, porém, aos 10 anos, foi vendido como escravo pelo pai para pagar uma dívida de jogo. Foi transportado para o Rio de Janeiro e mais uma vez vendido num lote de mais de cem escravos, dessa vez, seguindo para a Província de São Paulo. Aprendeu os ofícios do escravo doméstico – copeiro, sapateiro, lavagem e passagem de roupas.
Aos 17 anos, serviu ao estudante Antônio Rodrigues de Araújo, que se hospedou na fazenda onde Luiz vivia. O jovem tornou-se seu amigo e o ensinou a ler e escrever. Frequentou o curso de Direito, que não chegou a completar. Tornou-se jornalista renomado ligado aos círculos do Partido Liberal. Junto a Rui Barbosa, fundou o jornal Radical Paulistano em 1869. Foi líder da Mocidade Abolicionista e Republicana.
Sua liderança deu origem ao movimento abolicionista paulista. Apesar de não ter se formado, tinha autorização do poder judiciário para exercer a advocacia em primeira instância. Sozinho, foi o responsável pela libertação de mais de mil cativos, um feito notável considerando-se que agia exclusivamente com o uso da lei. Luiz Gama faleceu vítima de diabetes na cidade de São Paulo em 1882.

Ministra de Estado Chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial Luiza Helena de Bairros, nasceu em 1953, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, onde cursou a graduação em Administração Pública e Administração de Empresas, na Universidade Federal gaúcha. Possui Mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia e doutorado em Sociologia pela Universidade de Michigan.
Sua trajetória contra a discriminação racial se inicia em 1979 após conhecer o Movimento Negro Unificado da Bahia. Logo iniciou sua militância no Grupo de Mulheres do MNU. Participou ativamente das principais iniciativas do movimento em todo Brasil, sendo eleita, em 1991, como primeira Coordenadora Nacional do MNU, onde permaneceu até 1994.
Seus artigos sobre racismo, sexismo, o negro no mercado de trabalho e enfrentamento ao racismo institucional, já foram publicados em livros de coletânea e periódicos das Nações Unidas no Brasil e em revistas como Afro-Ásia, Análise & Dados, Caderno CRH, Estudos Feministas, Humanidades, e Força de Trabalho e Emprego. Atuou também como consultora do Sistema Nações Unidas no Brasil no processo da III Conferência Mundial contra o Racismo e em projetos de interesse da população afrobrasileira.
 
 
Filha de africanos, Eugênia Anna Santos, a ialorixá Obá Biyi, nasceu em Salvador. Mais conhecida como Mãe Aninha, ela foi instruída no candomblé do Engenho Velho – a casa de Mãe Nassô –, fundado por volta de 1830 e o primeiro a funcionar regularmente na Bahia. Saiu de lá para formar uma nova casa, o Ilê Axé Opô Afonjá, hoje considerado Patrimônio Histórico Nacional.
Mãe Aninha sempre lutou para fortalecer o culto do candomblé no Brasil, além de garantir condições para o seu livre exercício. Por intermédio do ministro Osvaldo Aranha, que era seu filho de santo, Mãe Aninha provocou a promulgação do Decreto Presidencial nº 1202, no primeiro governo de Getúlio Vargas, pondo fim à proibição aos cultos afro-brasileiros em 1934.
Em sua época, foi uma personalidade importante, muito respeitada e popular, principalmente nos candomblés do Estado da Bahia. Falecida no ano de 1938, a ialorixá Mãe Aninha foi sucedida por Mãe Bada de Oxalá e, posteriormente, por Maria Bibiana do Espírito Santo, Oxum Muiuá, popularmente conhecida como Mãe Senhora de Oxum.
 
 
Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima nasceu em Rio Branco, no Acre, em 1958. Filha de seringueiros enfrentou uma vida difícil. Perdeu a mãe na adolescencia, trabalhou como empregada doméstica e começou a estudar tarde. Porém o progresso nos estudos foi rápido levando-a a tornar-se referência em suas graduações. Ambientalista, historiadora e pedagoga dedicou-se a causa da floresta amazonica.
Em quase 30 anos de vida pública, Marina Silva ganhou reconhecimento dentro e fora do país pela defesa da ética, da valorização dos recursos naturais e do desenvolvimento sustentável. Uma reputação construída em mandatos de vereadora, deputada estadual e senadora – eleita sempre com votações recordes – e no período em que esteve à frente do Ministério do Meio Ambiente, entre janeiro de 2003 e maio de 2008.
Nos cinco anos e quatro meses no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a ser vista também como gestora competente. Na pasta, uma de suas conquistas foi o Plano de Ação para Prevenção e o Controle do Desmatamento da Amazônia Legal, que contou com o esforço integrado de 14 ministérios. Graças ao projeto, o ritmo de desmatamento da Amazônia caiu 57% em apenas três anos.
 
 
Nascida no Centro Histórico de Salvador em 10 de fevereiro de 1894, Mãe Menininha do Gantois, como ficou conhecida Maria Escolástica da Conceição Nazaré, teve como pais Joaquim e Maria da Glória. Descendente de escravos africanos, ainda criança foi escolhida para ser Iyálorixá no terreiro Ilê Iyá Omi Axé Iyamassê, fundado em 1849 por sua bisavó, Maria Júlia da Conceição Nazaré, cujos pais eram originários de Agbeokuta, sudoeste da Nigéria.
Foi a quarta das Iyálorixá do Terreiro do Gantois e a mais famosa do País. Iniciada no culto aos orixás de Keto aos oito anos de idade, assumiu definitivamente o terreiro aos 28. Foi uma das principais articuladoras do término das restrições a cultos impostas pela Lei de Jogos e Costumes de 1930, que condicionava a realização de rituais à autorização policial e limitava o horário de término dos rituais às 22 horas.
Símbolo da luta pela aceitação do candomblé pela cultura dominante, Mãe Menininha abriu as portas do Gantois aos brancos e católicos. Nunca deixou de assistir às celebrações de missa e convenceu os bispos baianos a permitirem a entrada de mulheres – inclusive ela – vestidas com as roupas tradicionais das religiões de matriz africana nas igrejas. A Iyálorixá faleceu de causas naturais, aos 92 anos de idade.
 
 
Beatriz Moreira Costa, nascida em 20 de janeiro de 1931, em Cachoeira do Paraguaçu, Recôncavo Baiano, filha de Maria do Carmo e OscarMoreira, teve a mãe e o pai como exemplos de vida. Sua mãe, negra trabalhadora, mas de saúde frágil, legou à sua filha grande respeito à pessoa humana e seu pai, Oscar, a característica de saber lidar com as ferramentas do trabalho e da vida.
Na década de 1950, Beatriz mudou-se para a cidade de Salvador, onde foi iniciada para o orixá Iemanjá no candomblé por Mãe Olga do Alaketu. Mesmo presa a princípios tradicionais em razão da influência de uma família patriarcal tornou-se de vanguarda ao fazer cursos de teatro amador e participar de grupos folclóricos. Casa-se com Apolinário Costa com quem teve quatro filhos. Em 1969 Biata separou-se de seu marido e migrou com os filhos para o Rio de Janeiro em busca de melhores condições de vida.
Sem apoio da família consangüínea, é na família-de-santo que encontra acolhimento, a história se repete no sentimento de resistência do quilombo contemporâneo que reconstrói a auto-estima desta mulher negra. O Ilê Omi Oju Arô, comunidade na qual Biata é sacerdotisa suprema, atua em diversas frentes sociais: religião e saúde, luta contra formas de discriminação e intolerância religiosa, cultura da paz, acesso à educação, ações afirmativas, direitos humanos e movimentos de mulheres negras.
 

O pastor norte-americano Martin Luther King foi um grande defensor da resistência não violenta contra a opressão racial e, por este motivo, elevado à condição de líder do movimento em favor dos direitos civis das minorias. Por sua militância em defesa da vida, recebeu, em 1964, a mais alta honraria internacional concedida aos pacifistas: o Prêmio Nobel da Paz.
Luther King lutou por um tratamento igualitário e contribuiu para a melhoria da situação da comunidade negra mediante protestos pacíficos e discursos enérgicos sobre igualdade racial. Em 1955, organizou o famoso boicote ao transporte público em Montgomery (Alabama), em protesto contra a prisão de Rosa Parks, uma mulher negra que recusou lugar a uma passageira branca em um coletivo.
A ação, que durou 381 dias, representou uma grande vitória para o protesto pacifista, fazendo com que Luther King emergisse como líder altamente respeitado. Apesar do reconhecimento, foi preso, teve sua casa atacada e recebeu diversas ameaças contra a sua vida. Em abril de 1968, foi assassinado em Memphis, Tenessee, por um branco que havia escapado da prisão.
 

Miriam MakebaConhecida como Mama África, a cantora sul-africana Zenzile Miriam Makeba foi uma das grandes vozes pelos direitos humanos, além de lutadora contra o apartheid em Joanesburgo, sua terra natal. Compromisso que pagou com mais de 30 anos de exílio. Seu momento decisivo aconteceu em 1960 quando participou do documentário antiapartheid Come Back, Africa.
Em 1963, depois de um testemunho sobre as condições dos negros na África do Sul perante o Comitê das Nações Unidas contra o apartheid, seus discos foram banidos do país pelo governo racista e seu direito de regresso ao lar e a sua nacionalidade foram cassados. Mama África tornou-se apátrida, mas ainda assim sua voz celebrou todas as independências do continente africano.
Na década de 1990, regressou ao país após a libertação de Nelson Mandela, mas esperou seis anos antes de gravar um novo disco, Homeland. Obra onde a principal canção descreve sua alegria pelo regresso com o movimento racista já banido. Foi a primeira mulher negra a receber o prêmio Grammy Award de música, o qual partilhou com o cantor norte americano Harry Belafonte em 1965.
 

Símbolo da luta contra o Apartheid e da recuperação da África do Sul, como ficou conhecido Nelson Mandela, tem em sua história 69 anos de militância pela liberdade. Dada sua relevância como pacifista no cenário mundial, o homem que abriu mão da vida privada em prol de seu povo teve o dia de seu nascimento instituído, em 2010, como Dia Internacional de Nelson Mandela pela Organização das Nações Unidas (ONU).
A liberdade de Mandela, após 27 anos de prisão, foi um dos principais marcos para uma sociedade democrática na África do Sul. Três anos depois de sua soltura recebeu junto de Frederik de Klerk, presidente que o libertou, o Prêmio Nobel da Paz. Em 1994, Mandela se tornou o primeiro presidente negro da África do Sul, diante de uma multidão de brancos e especialmente negros que votaram pela primeira vez em seu país.
Duas de suas ações mais importantes foram a criação da Comissão Verdade e Reconciliação e a reescrita da Constituição. Sua experiência de luta contra o Apartheid, sua postura no período de transição e seu claro objetivo de operar a reconciliação nacional o elevaram a político com maior autoridade moral do continente Africano, o que lhe permite ainda hoje desempenhar o papel de apaziguador de tensões e conflitos.
 
 
Gaúcha de Porto Alegre, Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva é graduada em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com licenciatura em português e francês e tem trajetória no âmbito da Educação. Do magistério nas redes pública e particular, partiu para a busca de maior preparo, aprofundando a formação profissional.
Da docência e coordenação pedagógica no Ensino Médio em escolas como Godói e Sévigné ou cargos técnicos na Secretaria de Educação do RS, Conselho Estadual de Educação do RS e atividades ligadas à Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul (PUC-RS), foi chamada para a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), de onde irradiou suas potencialidades em ações vinculadas à Universidade de São Paulo (USP) e eventos científicos pelo Brasil e países como Peru, México, EUA, Canadá, Senegal.
Indicada pelo movimento negro para a Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, Petronilha integrou como relatora à comissão que elaborou o parecer CNE/CP n.º 3/2004. O documento regulamenta a lei 10.639/2003 e estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana nos termos do Artigo 26 da Lei 9394/1996 das Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
 
Ruth Pinto de Souza nasceu no Rio de Janeiro em 12 de maio de 1921. Até os 9 anos de idade viveu com a família em uma fazenda em Porto do Marinho, pequena cidade do interior de Minas Gerais. Com a morte do pai, ela e a mãe voltaram a morar no Rio de Janeiro, em uma vila de lavadeiras e jardineiras, no bairro de Copacabana. Interessou-se por teatro ainda menina, quando assistiu a récitas no Theatro Municipal.
Pela Revista Rio, tomou conhecimento do grupo de atores liderados por Abdias do Nascimento, o Teatro Experimental do Negro. Uniu-se ao grupo e fez história em sua estreia como primeira atriz negra a representar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro em O imperador Jones, de Eugene O’Neill, em 8 de maio de 1945. Sua postura como atriz ajudou a abrir caminho para o artista negro no Brasil.
A atriz também foi uma das pioneiras da TV brasileira. Participou de programas de variedades e musicais no início das transmissões da Tupi, até adaptar para a televisão, com Haroldo Costa, a peça O Filho Pródigo, que havia encenado no Teatro Experimental do Negro. Em 1969 integrou o elenco da TV Globo onde se tornou a primeira negra a protagonizar uma novela: A Cabana do Pai Tomás.
 
 
 
Sandra Cristina Frederico de Sá nasceu no Rio de Janeiro em 27 de agosto de 1955 e é considerada a rainha do soul brasileiro. É chamada por alguns de “Tim Maia de saias”, por se identificar com o cantor no balanço e no timbre grave da voz, além de suas histórias juntos, como o famoso clipe do hit “Vale Tudo”, em que Tim a escolheu para fazer o dueto com ele.
Seu pai era baterista e, por isso, em sua adolescência Sandra frequentava os bailes de gafieira,samba e soul, além de aprender sozinha a tocar violão e começar a escrever canções. Por suas letras de forte conscientização social, ganhou prêmios como cantora e compositora em diversos festivais de Música Brasileira. Em 1977, começou a estudar psicologia, na Universidade Gama Filho, curso que teve de abandonar quase no momento de concluir, pois despontou como compositora após a música “Morenando” ter sido gravada por Leci Brandão.
Na década de 1990, Sandra criou a expressão “Música Preta Brasileira”, brincando com a sigla MPB Música Popular Brasileira. Segundo Sandra, “a nossa música é essencialmente preta (suingada/balançante), pois começa e termina no tambor, no suingue. Não há ritmo que cantemos ou toquemos aqui que não contenha um toque de brasilidade. Isto é a nossa pretitude. Até porque se é popular, é do nosso povo, que é altamente miscigenado.”
 
 
Sueli Carneiro é doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) e fundadora do Geledés – Instituto da Mulher Negra – primeira organização negra e feminista independente de São Paulo. Teórica da questão da mulher negra criou o único programa brasileiro de orientação na área de saúde física e mental específico para mulheres negras, onde mais de trinta mulheres são atendidas semanalmente por psicólogos e assistentes sociais.
Em 1988 foi convidada a integrar o Conselho Nacional da Condição Feminina, em Brasília. Após denúncias de um grupo de cantores de rap da cidade de São Paulo, que queriam proteção porque eram vítimas frequentes de agressão policial. Ela decidiu criar em 1992 um plano específico para a juventude negra, o Projeto Rappers, onde os jovens são agentes de denúncia e também multiplicadores da consciência de cidadania dos demais jovens.
A filósofa também é autora da obra Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil que traz uma abordagem crítica dos comportamentos humanos e apresenta os principais avanços na superação das desigualdades criadas pela prática da discriminação racial – indicadores sociais, mercado de trabalho, consciência negra, cotas, miscigenação racial no Brasil, racismo no universo infantil, obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Africana e Afro-Brasileira nas escolas públicas do País, entre outros.
 
 

Hilária Batista de Almeida,conhecida como Tia Ciata, nasceu na Bahia em 1854.Aos 22 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, no êxodo que ficou conhecido como diáspora baiana. No Rio, formou nova família ao se casar com João Baptista da Silva, funcionário público com quem teve 14 filhos.Mãe-de-santo respeitada, Hilária foi confirmada no santo como Ciata de Oxum, no terreiro de João Alabá, na Rua Barão de São Felix, onde também ficava a casa de Dom Obá II e o famoso cortiço Cabeça de Porco.
A mais famosa das chamadas “tias” baianas, teve um papel preponderante no cenário de surgimento do samba no Rio de Janeiro, no final do século XIX e início do XX. Além de promover a cultura popular trazida da Bahia e ser uma respeitada sacerdotisa, era grande quituteira e uma das principais articuladoras da cultura negra nas nascentes favelas cariocas.
A casa de Tia Ciata, na rua Visconde de Itaúna 117, era a capital da Pequena África. Dos seus freqüentadores habituais, que incluíam Pixinguinha, Donga, Heitor dos Prazeres, João da Baiana, Sinhô e Mauro de Almeida, nasceu o samba. A música Pelo telefone foi o primeiro samba registrado, no final de 1916, e virou sucesso no carnaval de 1917.
 

Maria José Motta de Oliveira nasceu em Campos dos Goytacazes em 27 de junho de 1948. Começou a carreira de atriz em 1967 estrelando a peça Roda-viva, de Chico Buarque, sob a direção de José Celso Martinez. Em seguida, atuou em Fígaro Fígaro, Arena conta Zumbi, A vida escrachada de Joana Martine e Baby Stompanato, Orfeu negro, Godspell, entre outras.
Além de diversos trabalhos para televisão, como novelas e minisséries, Zezé Motta também desenvolveu uma carreira como cantora a partir de 1971.Mas, foi no cinema que Zezé Motta interpretou uma das personagens mais sedutoras do cinema brasileiro, a exuberante Xica da Silva, no filme homônimo de Cacá Diegues. O filme fez muito sucesso e a atuação de Zezé lhe rendeu vários prêmios de Melhor Atriz e o reconhecimento internacional.
Reconhecida como uma das mais importantes militantes do movimento negro brasileiro, Zezé Motta é uma referência no que se refere à expansão da cidadania social da população afro-brasileira.É presidente de honra do CIDAN (Centro de Informação e Documentação do Artista Negro) e já ocupou o cargo de superintendente da Igualdade Racial do governo do Rio de Janeiro. No I Grande Prêmio Brasil de Cinema (2000), recebeu um troféu-homenagem por sua trajetória e contribuição à cultura brasileira.
 
Zumbi dos Palmares nasceu em 1655, no estado de Alagoas. Ícone da resistência negra à escravidão, liderou o Quilombo dos Palmares, comunidade livre formada por escravos fugitivos das fazendas no Brasil Colonial. Localizado na região da Serra da Barriga, atualmente integra o município alagoano de União dos Palmares.
Embora tenha nascido livre, Zumbi foi capturado aos sete anos de idade e entregue a um padre católico, do qual recebeu o batismo e foi nomeado Francisco. Aprendeu a língua portuguesa e a religião católica, chegando a ajudar o padre nas celebrações de missas. Porém, aos 15 anos, voltou a viver no quilombo, pelo qual lutou até a morte, em 1695.
Zumbi é considerado um dos grandes líderes de nossa história. Símbolo da luta contra a escravidão, lutou também pela liberdade de culto religioso e pela prática da cultura africana no País. O dia de sua morte, 20 de novembro, é lembrado e comemorado em todo o território nacional como o Dia da Consciência Negra.
 
 
 
 
 

Um comentário:

  1. eis ai a questao. cheguem em qualquer escola publica, onde a maioria e de crianças negras ou afro decendetes e pergunte sbre meios contraceptivos, ou sobre direitos homo afetivos. acredito que a maioria saiba algo. agora pergunte qual a etnia de aleijadinhi, de juliano moreira e outros. se alguem responder. entao a professora desta estituição merece osmeus parabens. começo a acreditar num complo para subjulgo de uma raça. onde se ensina a historia da escravidao o quando eram considerados inferiores a raça negra, porem nao se exalta os martires que passaram pelas situações e se sobresairam. melhor fizeram a diferença nao so pra sua etnia mas pra um feração inteira.

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