sexta-feira, 19 de julho de 2013

O QUE É ETNOCENTRISMO


O QUE É ETNOCENTRISMO


 Pensamento em Partir

Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência.

Perguntar sobre o que é etnocentrismo é indagar sobre um fenômeno onde se misturam tanto elementos intelectuais e racionais quanto elementos emocionais e efetivos. No etnocentrismo, estes dois planos do espirito humano – sentimento e pensamento.

Assim a colocação central sobre o etnocentrismo pode ser expressa como a procura de descobrir os mecanismos, as formas, os caminhos e razões, pelos quais tantas e tão profundas distorções se perpetuam nas emoções, pensamentos, imagens e representações.

Temos de pano de fundo da questão etnocêntrica a experiência de um choque cultural de um lado o “eu” ou o “nosso” e do outro lado o “outro”. Este choque gerador do etnocentrismo nasce talvez, na constatação das diferenças a grosso modo, um mal-entendido sociológico. A diferença é ameaçadora porque fere nossa própria identidade cultural. O monólogo etnocêntrico sendo o grupo do “eu” faz da sua visão a única possível ou, mais discretamente se for o caso, a melhor, a natural, a superior, a certa. O grupo do “outro” fica, nessa lógica, como sendo engraçado, absurdo, anormal ou inteligível.

O que importa neste conjunto de ideias é o fato de que, no etnocentrismo, uma mesma atitude informa os diferentes grupos. Cada um traduz ou traduziu nos termos de usa própria cultura o significado dos objetos cujo sentido original foi forjado na cultura do “outro”. O etnocentrismo passa exatamente por um julgamento do valor da cultura, do “outro” nos termos da cultura do grupo do “eu”.

Na maioria das vezes o etnocentrismo implica uma apreensão do “outro” que se reveste de uma forma bastante violenta. Negamos aquele o mínimo de autonomia necessária para falar de si mesmo.

Alguns livros colocavam que os índios eram incapazes de trabalhar nos engenhos de açúcar por serem indolentes e preguiçosos, ou seja, fora dos seus contextos culturais como um povo ou uma pessoa trabalha como escravo com satisfação e eficiência?

Como o “outro” é alguém calado, a quem não é permitido dizer de si mesmo, mera imagem sem voz, manipulando de acordo com desejos ideológicos, o índio é, para o livro didático, apena uma forma vazia que empresta sentido ao mundo dos brancos.

O primeiro papel que o índio representa é no descobrimento do Brasil, no segundo momento na catequese sendo colocado com uma criança e no terceiro momento o corajoso, altivo, cheio de amor à liberdade. Assim são as sutilezas, violências, persistências do que chamamos etnocentrismo.

Quando compreendemos o “outro” nos seus próprios valores e não nos nossos: estamos relativizando, ou seja, relativizar é ver as coisas do mundo como uma relação capaz de ter tido um nascimento, capaz de ter um fim ou uma transformação.

A diferença não se equaciona com a ameaça, mas com a alternativa sendo a busca pelo senso comum o motivo da Antropologia no sentido de ver a diferença como forma pela qual os seres humanos deram soluções diversas a limites existenciais comuns.


Primeiro movimento

O Evolucionismo baseado na procura para explicar as diferenças entre as sociedades. O evolucionismo antropológico a noção de progresso torna-se fundamental, pois é no seu rumo que a história do homem se faz. Acredita-se na unidade básica da espécie humana e o fator tempo passa a ser bastante importante.

Existia um problema teórico: quais definições dos critérios pelos quais seria possível medir o estádio de “avanço” de cada uma das sociedades existentes? A solução estava no próprio conceito de cultura adotado pelos evolucionistas.

Segundo Sir Edward Tylor: “cultura ou civilização, no seu sentido etnográfico estrito, é este todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, leis, moral, costumes e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade”.

A mudança na sociedade se daria pela invenção, consequência do aperfeiçoamento do espírito cientifico. Isto fez com que os evolucionistas pudessem pensar o “selvagem” sem conhecê-lo de perto, pois ele era visto como uma fase passada de mim mesmo.

O etnocentrismo estava em achar que o “outro” era complemente dispensável como elemento de transformação da teoria. A relativização não tinha espaço. Assim como os evolucionistas ao dispensarem o “trabalho de campo” e a relativização, acreditando-se capaz de ter todo o conhecimento do “outro” dentro de sim mesmo, acabaram impossibilitados de achar algumas respostas importantes.

Quanto mais sabemos mais sabemos o quanto falta saber. A magia esta na consciência de quão pouco se sabe. Neste processo, a sociedade do “eu” começa até a questionar-se a si própria.


 O Passaporte

O século XX traz para a Antropologia um conjunto vasto e complexo de novas ideias formuladas por um grupo brilhante de pesquisadores. Relativizar é uma palavra que, até hoje, muito pouco saiu das fronteiras do conhecimento produzido pela Antropologia.

O mais interessante é que a própria Antropologia vai ser capaz de relativizar a noção ocidental de tempo, assim como a noção ocidental de indivíduo, assim como outras tantas noções tão fundamentais à sociedade do “eu”.

Franz Boas, suas ideias e seus alunos, a Antropologia se transforma substancialmente, que relativiza as ideias de cultura e história. A articulação destas ideias formava um eixo da forma de pensar do “outro” dentro do evolucionismo.

Foi Boas o primeiro a perceber a importância de estudar as culturas humanas nos seu particulares e é claro o resultado foi que tudo passa a ser infinitamente mais complicado no estudo das culturas humanas.

Toda vez que um campo de conhecimento se abre, se lança de frente para a complexidade, ele também se relativiza.

O esforço de relativizar problematiza qualquer “saber”. As ideologias, em especial as extremadas, odeiam qualquer possibilidade de relativização. Elas são centradas em seu próprio monólogo e a descentralização quebra sua auto referência abrindo espaço a uma multiplicidade de pontos de vista, soluções e perguntas.

Boa não organizou e apresentou para a posteridade uma teoria da cultura que permitisse, a alguém que fizesse uma “história das ideias” antropológicas, torna-la com um conteúdo evidente do seu trabalho, mas pesquisou: Antropologia Física, Linguística, Folclore, Geografia, Migração, Organização Social e nisto tudo, a ideia de cultura se renova, se transforma, foge, é reencontrada diferentemente.

A escola personalidade e cultura representada por dois grandes nomes: Ruth Benedict e Margaret Mead. Foi uma escola que relativizou e muito. Comparou a sociedade americana com as sociedade tribais fazendo um trabalho de ida ao “outro” e volta ao “eu”.

Assim, são duas as principais marcas desta escola:

Seria a de instalar um profundo diálogo entre Antropologia e Psicologia, discutindo as formas de interação entre indivíduo e sociedade;

Marca a incrível penetração conseguida pela escola, o seu destino popular por assim dizer.

A ideia central da escola estabelece a relação entre a cultura e as personalidades

individuais.

Um dos problemas maiores desta corrente de pensamento, como de resto dos demais grupos que desenvolveram as ideias de Boas, é aquilo que chamamos “reducionismo”, ou seja, a dificuldade de explicar alguma coisa que contém várias outras a partir de uma única das coisas contidas. Melhor dizendo, explicar o todo – a cultura – por uma de suas partes, no caso, a personalidade. Outro problema é a dificuldade de trabalhar o complicadíssimo conceito de personalidade com o complicadíssimo conceito de cultura, ainda mais usando um para explicar o outro e o outro para explicar o um.

As ideias deste grupo muito contribuíram para o avanço de disciplinas como a sociolinguística e a etnolinguística. A ideia básica que vincula as relações entre cultura e linguagem é uma ideia complexo e abstrata.

Outro grupo alunos de Boas partiu para relacionar a cultura e o ambiente. Aqui fica pressuposto a noção de que o ambiente é o fator determinante que restringe as opções culturais. A importância deste grupo é a de ter colocado questões de equilíbrio, preservação e mutua dependência entre as culturas e destas com o ambiente onde se erigem, também, outra linha de estudo focaram na cultura e da história humana.

Franz Boas deixou grandes lições. Relativizando com ele temos:

Uma concepção da história pluralizada, estilhaçada, como uma história de “h” minúsculo, de cada cultura humana no que esta tinha de seu, de específico;

Uma concepção de cultura que não colocou a cultura do “eu” como centro, mas que procurou ver que fatores diversos determinavam também diversamente o perfil das culturas;

O desenvolvimento de uma Antropologia inquieta, atenta, humilde e propondo diálogos com outras disciplinas em volta, se criando e se transformando pelo enfrentamento do risco que significa estudar a diferença.


  Voando Alto

Tanto o evolucionismo quanto o difusionismo os trabalhos produzidos, via de regra, demonstravam a permanência de um tema. Era a história sempre a permear os estudos e reflexões em quase toda a literatura sobre as culturas humanas.

O pensamento difusionista propunha o estudo da história concreta de cada cultura, os processos próprios de mudança, troca e empréstimos que as caracterizariam. É uma história com “h” minúsculo, de cada cultura particular e especifica.

Radcliffe-Brown discordou desta vinculação que existia entre a compreensão do presente de uma cultura e o estudo do seu passado. Em termos mais técnicos a sincronia presente não está submetida à diacronia – história.

A diferença é que a diacronia analisa todos os tempos passados até chegar ao presente e a sincronia centra sua análise no momento determinado pelo estudo. Para a história, seja ele difusionista ou evolucionista, o presente se conhece pelo passado e estudar a história das culturas significa conhecer a verdadeira dimensão da cultura.

A razão pela qual o funcionalismo relativizou pode ser encontrada no fato de que ele iria se opor ao estudo diacrônico e se conjugar com os estudos sincrônicos. Ao fazer esta opção a Antropologia se desvincula da história e parte para o estudo da sociedade do “outro” sem se preocupar com o passado desta sociedade. Isto é uma relativização fundamental na medida em que, se pensarmos bem, veremos que a preocupação com a história é, antes de tudo, uma preocupação típica da sociedade do “eu”.

Quando Radcliffe-Brown desamarra a Antropologia da História abre um imenso espaço para que a sociedade do “outro” se mostre tal com ela é. Assim, para Radcliffe a sincronia deveria ser analisada por conceitos bem precisos. É o caso de noções como “processo”, “estrutura”, e “função”, que são cuidadosamente definidas para formarem um esquema interpretativo da realidade social. Onde o mesmo achava conveniente estabelecer uma comparação entre a Antropologia e as Ciências Naturais, por exemplo, comparava o sistema social ao corpo humano.

A Antropologia, então, livre para estudar a sincronia, passa a poder esboçar uma tentativa mais solta de compreender o “outro”.

Malinowski foi o grande viajante da Antropologia não tendo como relacionar o trabalho de campo com o pesquisador.

Durkheim outra autora de grande importância para a Antropologia afirmava categoricamente uma ruptura: o social não se explica pelo individual. Com isto, o social como objeto de estudo não apenas se afirma no presente, na sincronia, mas também se afirma como entidade autônoma, independente do indivíduo.

Afirmava Durkheim que: “é fato social toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que possa ter”.

Acompanhando esta definição temos que o fato social é:

COERCITIVO: o fato social pressiona o indivíduo, torna-se uma força diante da qual este é coagido a uma participação independente da sua vontade.

EXTENSO: o fato social se estende por todo o grupamento onde se acontece.

EXTERNO: o fato social é externo ao querer e ao poder do indivíduo. Possui força autônoma, independente e própria, para além das manifestações individuais.

O fato social é por todo e para todos, uma “coisa” que ultrapassa cada um.

O importante, nas duas culturas, é que os objetos valem não pelos seus aspectos utilitários ou comerciais, mas pela sua posse pura e simples.

A comparação relativizadora, o trabalho de campo, a autonomia da Antropologia diante da História e do fato social frente ao individual são passos gigantescos. O “outro” é, também, uma fonte possível de reflexão, de transformação até, da própria sociedade do “eu”.
 
 
RESUMO
Etnocentrismo é um conceito antropológico, que ocorre quando um determinado individuo ou grupo de pessoas, que têm os mesmos hábitos e caráter social, discrimina outro, julgando-se melhor,ou pior, seja por causa de sua condição social, pelos diferentes hábitos ou manias, ou até mesmo por uma diferente forma de se vestir.Essa avaliação é, por definição, preconceituosa, feita a partir de um ponto de vista específico. Basicamente, encontramos em tal posicionamento um grupo étnico considerar-se como superior a outro. Do ponto de vista intelectual, etnocentrismo é a dificuldade de pensar a diferença, de ver o mundo com os olhos dos outros.
O fato de que o ser humano vê o mundo através de sua cultura tem como consequência a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural. Tal tendência, denominada etnocentrismo, é responsável em seus casos extremos pela ocorrência de numerosos conflitos sociais.
Não existem grupos superiores ou inferiores, mas grupos diferentes. Um grupo pode ter menor desenvolvimento tecnológico, se comparado a outro mas, possivelmente, é mais adaptado a determinado ambiente, além de não possuir diversos problemas que esse grupo "superior" possui.
A tendência do ser humano nas sociedades é de repudiar ou negar tudo que lhe é diferente ou não está de acordo com suas tendências, costumes e hábitos. Na civilização grega, o bárbaro, era o que "transgredia" toda a lei e costumes da época; este termo é, portanto, etimologicamente semelhante ao selvagem na sociedade ocidental.
O costume de discriminar os que são diferentes, porque pertencem a outro grupo, pode ser encontrado dentro de uma sociedade. Agressões verbais, e até físicas, praticadas contra os estranhos que se arriscam em determinados bairros periféricos de nossas grandes cidades é um dos exemplos.
Incluem-se aqui as pessoas que observam as outras culturas em função da sua propria cultura, tomando-a como padrão para valorizar e hierarquizar as restantes.
Comportamentos etnocêntricos resultam também em apreciações negativas dos padrões culturais de povos diferentes. Práticas de outros sistemas culturais são catalogadas como absurdas, deprimentes e imorais.



 
 

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