quinta-feira, 18 de julho de 2013

Os povos indígenas no Brasil

Os povos indígenas no Brasil compreendem um grande número de diferentes grupos étnicos que habitam o país desde antes do início da colonização europeia, que principiou no século XVI. No momento da descoberta europeia do Brasil, os povos nativos eram compostos por tribos seminômades que subsistiam da caça, pesca, coleta e da agricultura migrante. Muitos dos cerca de 2 000 povos e tribos que existiam no território brasileiro no século XVI morreram em consequência da escravização e das doenças que vieram com a colonização europeia ou foram absorvidos pela sociedade brasileira.
Os povos indígenas brasileiros deram contribuições significativas para a cultura mundial, como a domesticação da mandioca e o aproveitamento de várias plantas nativas, como o milho, o tabaco, o guaraná, a erva-mate, a batata-doce, a pimenta, o caju, o abacaxi, o cará, o pinhão, o açaí, a pitanga, a jabuticaba, a mangaba, o cajá, o umbu, o urucum, o jenipapo, o maracujá, a goiaba, o pequi, o amendoim, o mamão,2 o jambu, o jatobá, o buriti, a carnaúba, a juçara, a pupunha, o jerivá, a copaíba, a andiroba, o tucum, o tucumã, a abóbora,3 o feijão, o cambuci etc. Além disso, difundiram o uso da rede de dormir e a prática da peteca e do banho diário e frequente (costume este desconhecido do europeu do século XVI ).
A população indígena foi amplamente exterminada pelos conquistadores europeus, caindo de uma população de milhões na era pré-colombiana para cerca de 300 000 em 1997, agrupados em cerca de 200 tribos diferentes. No entanto, o número pode ser muito maior se as populações urbanas indígenas forem consideradas em todas as cidades brasileiras atuais. Uma pesquisa linguística de 1985 encontrou 188 línguas indígenas vivas, com 155 000 falantes.
Em 18 de janeiro de 2007, a Fundação Nacional do Índio informou que havia confirmado a presença de 67 diferentes tribos isoladas no Brasil, contra 40 em 2005. Com esta adição, o Brasil ultrapassou a Nova Guiné como o país com o maior número de povos isolados no mundo. No último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010), 817 000 brasileiros se classificaram como indígenas, embora milhões de brasileiros tenham ascendência ameríndia.

Definição


"Família de botocudos em marcha", pintura de Jean-Baptiste Debret
Na Idade Média, a palavra "índio" era empregada para designar todas as pessoas do Extremo Oriente. Ao chegar às Américas, Cristóvão Colombo acreditou que havia encontrado um novo caminho para as Índias e resolveu chamar os nativos que encontrou de "índios".6 O conceito de "índio" é, portanto, uma invenção europeia. Os habitantes originais das Américas nunca se enxergaram como um povo uno. Pelo contrário, diferentes grupos indígenas nutriam grande animosidade e constantemente guerreavam entre si. No Brasil, os tupis viviam ao longo do litoral quando da chegada dos portugueses, sendo oriundos, no entanto, da Amazônia. Com o crescimento populacional na Amazônia, os tupis começaram a migrar para o sul, expulsando e exterminando outros povos indígenas que viviam naquelas áreas e ocupando as regiões que historicamente esses outros povos habitaram. Os tupis eram adeptos da antropofagia e tinham o hábito de comer partes do corpo dos guerreiros vencidos das tribos inimigas, pois, na sua cultura, acreditavam absorver a força do inimigo ao comê-lo.
Quando os europeus chegaram às Américas encontraram, portanto, não um povo indígena, mas diferentes povos que nutriam animosidade entre si e não se enxergavam como pertencentes a um mesmo povo. Uma "identidade indígena" só foi criada séculos depois, com a chegada dos europeus.

Histórico

Origem


Distribuição dos povos indígenas brasileiros no século XVI

"Família de um chefe camacã se preparando para a festa", por Jean-Baptiste Debret
Pesquisas arqueológicas em São Raimundo Nonato, organizadas pela arqueóloga Niède Guidon no interior do Piauí, registram indícios da presença humana datados como anteriores a 10 000 anos atrás.A maioria dos pesquisadores acredita que o povoamento da América do Sul deu-se a partir de 20 mil a.C. Indícios arqueológicos no Brasil apontam para a presença humana em achados datados de 16000 a.C., de 14200 a.C. e de 12770 a.C. em Lagoa Santa (MG), Rio Claro (SP) e Ibicuí (RS).Em Lapa Vermelha, (Minas Gerais), foi encontrado um verdadeiro cemitério com ossos datados em 12 000 anos, o primeiro dos quais encontrado por Annette Laming-Emperaire na década de 1970 e que foi "batizado" de Luzia e que parecia mais aparentada com os aborígines da Austrália ou com negrito das Ilhas Andaman.
Todos os seres humanos são descendentes dos mesmos antepassados que habitaram a África milênios atrás. A espécie humana surgiu na África, há cerca de 130 000 anos. Por milhares de anos, a África foi o único lugar do mundo onde havia seres humanos. As primeiras pessoas só saíram do Continente Africano há cerca de 50 000 anos e, a partir de então, passaram a se espalhar pelo resto do mundo.Os humanos caminharam, durante milhares de anos, rumo ao norte, até saírem da África e atingirem a região que hoje conhecemos como o Oriente Médio. Por centenas de anos, esse grupo de pessoas viveu no Oriente Médio até que, em algum momento da história, parte desse grupo de pessoas tomou rumos diferentes: alguns seguiram para o oeste, atingindo a Europa e dando origem aos europeus, enquanto que outra parcela rumou para o leste, atingindo a Ásia, dando origem aos asiáticos.Os índios das Américas são descendentes desse grupo que seguiu para o leste e que povoou a Ásia. Durante a Idade do Gelo, a Ásia era uma região gelada, o que propiciava a formação de grande cobertura de gelo sobre as quais as pessoas podiam caminhar. Naquela época, uma imensa cobertura de gelo existia interligando a Ásia e a América do Norte, no Estreito de Bering. Os seres humanos, ao continuarem migrando rumo ao leste, chegaram àquela região e atravessaram as geleiras, atingindo o que hoje é o estado americano do Alasca. Com o fim da Idade do Gelo, aquela grande cobertura de gelo derreteu e abriu-se o oceano que separa hoje o Continente Asiático do Americano, impedindo novas migrações e separando definitivamente a população que ficou na Ásia da que migrou para a América. Como não havia outra alternativa, essas pessoas continuaram migrando, ao longo de milhares de anos, rumo ao sul, saindo da América do Norte e povoando a América Central e a América do Sul.
O Brasil, ao ser formado pela migração de índios, africanos e europeus, tornou-se um ponto de "reencontro" dessas pessoas que, apesar de terem a mesma origem ancestral, ficaram separadas durante milênios devido às migrações para diferentes partes do mundo. Esses milênios de separação criaram diferenças culturais, linguísticas e fenótipas, em decorrência da adaptação de cada grupo a meios ambientais completamente diferentes. Apesar dessas diferenças serem muitas vezes interpretadas como formadoras de "raças" humanas diferentes, do ponto de vista genético o conceito de raça é infundado.

Contato com os europeus


"Soldados nativos da província de Curitiba escoltando selvagens", pintura de Jean-Baptiste Debret

"Preparo da carne humana em episódio canibal", de Theodor de Bry, com base nos desenhos de Hans Staden, de 1557.Uma representação de nativos americanos com feições europeias, no século XVI.
A imagem do índio se modificou ao longo da história brasileira. Nos primeiros séculos, o índio era retratado como um selvagem, um "quase-animal" que deveria ser domesticado ou derrotado. No século XIX, houve uma reviravolta, por meio do "indianismo romântico". O índio passou a ser tratado, então, como o "bom selvagem". Essa concepção adentrou o século XX, trazendo a ideia de que o índio era dono de uma moral intangível, sendo ele uma vítima indefesa da crueldade europeia, sendo seu destino combater os europeus ou se submeter a eles. Nessa concepção, os índios viviam em harmonia nas Américas, até que chegaram os portugueses, os quais semearam guerras e destruíram pessoas, culturas e plantas Esse discurso até hoje produz eco nos meios popular e escolar brasileiros. Porém, nas últimas décadas, as novas produções históricas têm dado visibilidade a uma outra análise da questão indígena. Sem negar a violência com que muitos europeus trataram os indígenas, a história têm passado a tratar o índio não como uma vítima passiva da colonização europeia, mas também como um agente que interferiu e teve papel fundamental nesse processo.
Sem a ajuda dos índios, a colonização europeia em diversos pontos das Américas teria sido impraticável. No Brasil, muitos índios se beneficiaram com a chegada dos portugueses. Os índios tupis do litoral viviam envolvidos em guerras com outros índios. Muitos índios se aliaram aos portugueses visando a exterminar grupos indígenas inimigos. Caso emblemático foi a Guerra dos Tamoios, travada no Rio de Janeiro nos anos de 1556 e 1557. Os tupiniquins e os temiminós ajudaram os portugueses a expulsar os franceses da região, e depois contaram com o apoio português para exterminar seus inimigos antigos: os índios tupinambás (também chamados tamoios).Para um grupo indígena, um grupo indígena rival era tão "estrangeiro" quanto os portugueses, franceses, espanhóis ou holandeses.
Os índios ajudaram os colonos portugueses a escravizar e a exterminar outros índios. As bandeiras, expedições coloniais que visavam a escravização indígena, eram formadas majoritariamente por índios e alguns poucos não índios, denominados de paulistas, eles próprios majoritariamente mestiços de mãe indígena e pai europeu. Em 1605, o padre Jerônimo Rodrigues ficou espantado em Santa Catarina ao ser recebido por índios interessados em vender outros índios, inclusive pessoas da própria família, em troca de roupas e ferramentas. O padre escreveu: "Outro moço vindo aqui onde estávamos, vestido em uma camisa, perguntando-lhe quem lhe dera, respondeu que, vindo pelo navio, dera, por ela, por alguma ferramenta, um seu irmão (...)"
A aliança entre índios e portugueses proporcionou vantagens para ambos os lados. Os índios se beneficiavam com a presença portuguesa, contando com o seu apoio para exterminar tribos inimigas. As novas tecnologias trazidas pelos portugueses e desconhecidas dos índios provocaram uma revolução e um melhoramento na vida das tribos. Tecnologias como o anzol facilitaram enormente a pesca. O uso do machado diminuiu, em várias horas, o trabalho dispendido para se cortar coisas. A introdução de novos alimentos, como a banana, a jaca, a manga e a laranja, diminuíram o estorvo que era para se obter comida nas tribos. Até mesmo a introdução do cavalo e do cachorro domesticado protegiam as tribos de ameaças. Para os portugueses, também houve benefícios: os índios aliados protegiam as povoações e guiavam os colonos nas suas expedições.

Integração na sociedade brasileira


"Primeira Missa no Brasil", de Vítor Meireles, 1860, Museu Nacional de Belas Artes. Imagem com características românticas, mostrando uma integração pacífica. Durante o século XIX, o Romantismo tornou o índio um personagem heroico virtuoso.
Os indígenas ficaram muito interessados no modo de vida dos europeus. Os índios brasileiros ainda viviam no Paleolítico, desconheciam tecnologias como a roda, o espelho ou armas bem elaboradas. A maioria dos grupos indígenas, com a exceção das grandes civilizações dos astecas, maias e incas, ainda levava um meio de vida primitivo, quando comparado às populações da Europa, Ásia e África. Isto porque, desde o derretimento da camada de gelo no Estreito de Bering, separando a Ásia da América com um oceano no meio, os habitantes das Américas passaram a viver isolados do resto do mundo. Enquanto europeus, africanos e asiáticos interagiam desde a Antiguidade, fazendo as tecnologias se espalharem por essas regiões por meio desse choque cultural, os índios ficaram confinados por milênios, sem interação com as outras populações humanas, sem poder ensinar ou aprender novas técnicas. Portanto, a chegada dos europeus representou um rompimento de milhares de anos de isolamento. A vida junto aos "brancos" era muito atrativa e muitos indígenas abandonavam voluntariamente suas aldeias e iam viver junto com os portugueses. Em muitos casos, os índios nem precisavam sair de suas tribos, pois, com a expansão da colonização, essas aldeias eram assimiladas dentro da sociedade ocidental. Centros urbanos como Niterói ou Guarulhos eram aldeias indígenas que se transformaram em cidades
No Brasil, é corriqueiro o senso comum afirmar que os índios foram "exterminados" e atualmente restam alguns poucos representantes dessa população. É inegável que, com a chegada dos europeus, muitos índios morreram por guerras e pela escravidão. Mas, a grande mortalidade indígena se deu pelo contágio involuntário de doenças trazidas pelos europeus, contra as quais os índios não tinham imunidade, por terem vivido durante milênios isolados de outras populações. Porém, o que muitas vezes se ignora no Brasil é que grande parte da população indígena não pereceu, mas foi assimilada dentro da sociedade brasileira. Muitos índios foram viver ao lado de portugueses e africanos e com eles se miscigenaram, dando origem a grande parcela da população brasileira, sendo que seus descendentes não mais se identificam como "índios".
Gilberto Freyre, em Casa-Grande & Senzala, considera o elemento indígena como formador da identidade social brasileira, principalmente nos primeiros séculos de contato com os europeus, atribuindo um papel essencial às "cunhãs", mulheres nativas, como importante agente contribuinte à colonização portuguesa:
Cquote1.svg"Para a formidável tarefa de colonizar uma extensão como o Brasil, teve Portugal de valer-se no século XVI do resto de homens que lhe deixara a aventura da Índia. E não seria com esse sobejo de gente, quase toda miúda, em grande parte plebéia, além do mais, moçárabe, isto é, com a consciência de raça ainda mais fraca que nos portugueses fidalgos ou nos do norte, que se estabeleceria na América um domínio português exclusivamente branco ou rigorosamente europeu.A transigência com o elemento nativo se impunha à política colonial portuguesa: as circunstâncias facilitaram-na. A luxúria dos indivíduos, soltos sem família, no meio da indiada nua,vinha servir a poderosas razões do Estado no sentido de rápido povoamento mestiço da nova terra. E o certo é que sobre a mulher gentia fundou-se e desenvolveu-se através dos séculos XVI e XVII o grosso da sociedade colonial, em um largo e profundo mestiçamento, que a interferência dos padres da Companhoa salvou de resolver-se todo em libertinagem para em grande parte regularizar-se em casamento cristão."Cquote2.svg
Gilberto Freyre, Casa-Grande & Senzala
É factível que essa miscigenação não foi tão intensa como aquela entre portugueses e africanos e, quando comparado com outros países da América Latina, a contribuição indígena no Brasil é bem menor, mas ela é existente em maior ou em menor grau. Esse processo de assimilação indígena, que já terminou na maior parte do Brasil, ainda está em curso na Região Norte do Brasil. Segundo a Fundação Nacional do Índio, cerca de 25 por cento da população indígena da Amazônia já mora em cidades e só metade desse contingente se considera indígena, mesmo falando uma segunda língua e praticando rituais. Considerando-se todos os brasileiros que têm alguma ascendência indígena, que são vários milhões, a população com ascendência indígena, ao invés de ter diminuído desde 1500, na realidade aumentou dezenas de vezes desde a chegada dos portugueses e a consequente multiplicação da população brasileira por meio da miscigenação entre índios, europeus e africanos

Conflitos


Nativos brasileiros, por Jean-Baptiste Debret
Estimativas da população indígena na época do descobrimento apontam que existiam, no território brasileiro, mais de mil povos, sendo 5 000 000 indígenas Outras estimativas variam entre 2 500 000 de indígenas em 1500 a até 6 000 000.
Durante o século XIX, com os avanços em epidemiologia, casos documentados começaram a aparecer de brasileiros usando epidemias de varíola como arma biológica contra os índios. Um caso "clássico", segundo antropólogo Mércio Pereira Gomes, é o da vila de Caxias, no Sul do Maranhão, por volta de 1816. Fazendeiros, para conseguir mais terras, resolveram "presentear" os índios timbiras com roupas de pessoas infectadas pela doença (que normalmente são queimadas para evitar contaminação). Os índios levaram as roupas para as aldeias e, logo, os fazendeiros tinham muito mais terra livre para a criação de gado. Casos similares ocorreram por toda a América do SulAs "doenças do homem branco" ainda afetam tribos indígenas no Amazonas.

Povos indígenas emergentes

A partir das últimas décadas do século XX, apareceram novas etnias quando populações miscigenadas reivindicaram a condição de "povo indígena". Isto ocorreu principalmente na Região Nordeste do Brasil. São exemplos desse processo:

Legislação e demografia


Índios durante a audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado que abordou os direitos dos povos indígenas

Índios isolados encontrados em uma região remota do estado do Acre em 2009. Segundo a FUNAI, existem cerca de 82 grupos indígenas que ainda hoje permanecem vivendo de forma isolada no Brasil, com pouco ou nenhum tipo de contato com a civilização mundial.19
O Serviço de Proteção ao Índio foi criado em 1910. O Estatuto do Índio ainda determina que "os índios e as comunidades indígenas ainda não integrados à comunhão nacional ficam sujeitos ao regime tutelar". Apesar dos diversos decretos, o índio brasileiro tem que se integrar na cultura brasileira para requerer emancipação.
A denominação mais conhecida das várias etnias não é quase nunca a forma como seus membros se referem a si mesmos, e sim o nome dado a ela pelos brancos ou por outras etnias, muitas vezes inimigas, que os chamavam de forma depreciativa, como é o caso dos caiapós.
Entre as primeiras obras publicadas sobre os povos indígenas brasileiros, no século XVI, encontram-se os livros escritos pelo mercenário alemão Hans Staden, pelo missionário francês Jean de Léry e pelo historiador português Pero de Magalhães Gândavo.
Frei Vicente do Salvador (1564-1635), no seu "História do Brasil 1500-1627" classificou, entre os mais bárbaros indígenas, os tapuias, com diversas nações e línguas e que viviam em constante guerra entre si. Os menos bárbaros incluíam os carijós, que viviam de São Vicente até o Rio da Prata, os tamoios, no Rio de Janeiro, os tupinambás, na Bahia, os amaupiras, no Rio São Francisco e os potiguaras, de Pernambuco até o Rio Amazonas, todos falando a mesma língua, a língua tupi.
O primeiro inventário dos nativos brasileiros só foi feito em 1884, pelo viajante alemão Karl von den Steinen, que registrou a presença de quatro grupos ou nações indígenas, de acordo com as suas línguas: tupi, macro-jê, caribe e aruaque.

Dez municípios brasileiros com maior população indígena

Segundo dados do recenseamento de 2000, feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, dos dez municípios brasileiros com maior população autodeclarada indígena, cinco estavam na Região Norte do Brasil e dois na Região Sul do Brasil. Os três restantes são na Região Nordeste do Brasil, Região Sudeste do Brasil e Região Centro-Oeste do Brasil, desmontando o caráter ubíquo da população autóctone do Brasil.

Terras indígenas

A definição de áreas de proteção às comunidades indígenas foi liderada por Orlando Villas-Bôas, que, em 1941, lançou a expedição chamada Roncador-Xingu. Em 1961, foi criada a primeira reserva indígena brasileira, o Parque Indígena do Xingu, com forte atuação, ainda, dos irmãos Villas-Bôas (Leonardo, Cláudio), Marechal Rondon e Darcy Ribeiro, entre outros, para que a natureza, os povos nativos da região, suas culturas e costumes fossem preservados. O modelo de criação das reservas indígenas mostrou-se como um dos únicos meios para que a cultura dos povos pré-coloniais remanescentes e mesmo a natureza nessas reservas sejam preservados. Em 1967, foi criada a Fundação Nacional do Índio, que passou a definir políticas de proteção às comunidades indígenas brasileiras.
O modelo das reservas indígenas demarcadas pela Fundação Nacional do Índio difere no modelo norte-americano, no qual as terras passam a pertencer aos povos indígenas. No Brasil, as reservas indígenas demarcadas pela Fundação Nacional do Índio pertencem ao governo brasileiro para usufruto vitalício dos índios, não havendo, portanto, como associá-las a uma perda de soberania. Uma crítica comum sobre as reservas indígenas brasileiras considera a atuação de organizações não governamentais nacionais e internacionais junto às comunidades indígenas sem que se tenha o conhecimento preciso da natureza da atuação dessas organizações. Nesse sentido, controles mais rígidos sobre a atuação dessas organizações junto às comunidades indígenas estão sendo estudados.
O problema da demarcação de reservas tem sido acompanhado de grande controvérsia, violência e denúncias repetidas de corrupção oficial e violações de direitos humanos. Em 2012 o índice de violência contra índios cresceu 237% em relação a 2011, em crimes geralmente associados à demarcação de terras. Segundo o Conselho Indigenista Missionário, 563 índios foram assassinados nos últimos dez anos no país.Os povos indígenas brasileiros repetidamente têm tentado se fazer ouvir nesta e em várias outras questões, mas dizem que a resposta tem sido insuficiente, os protestos se amiúdam e as denúncias são sérias.Vários atos governamentais e leis recentes são considerados por eles como ameaças à sua sobrevivência e à sua integridade cultural, como a Portaria 419/11, a Portaria 303/12 e o Decreto 7957/13.

Lideranças da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), entidade que representa nacionalmente os povos indígenas brasileiros, são recebidas pelo Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e outros oficiais do governo em 2012. Os índios protestam contra a Portaria 303, considerada uma ameaça à integridade das terras indígenas.
Projetos hidrelétricos são uma das maiores fontes de conflito A mineração é outra origem de muitos problemas. Uma matéria publicada em abril de 2013 no jornal Valor Econômico afirmou: "Existem 152 terras indígenas na Amazônia potencialmente ameaçadas por projetos de mineração". Segundo o advogado Raul Silva Telles do Vale, do Instituto Socioambiental, "entendemos que, para o Brasil, seria muito mais importante garantir que as terras indígenas sejam usinas de prestação de serviços ambientais do que espaços de escavação para recursos finitos". Tais medidas do governo têm encontrado o protesto, além dos indígenas, também de antropólogos, ambientalistas, juristas, artistas, movimentos sociais e até de setores do próprio governo Mas a oposição aos interesses dos índios é grande entre vários setores da sociedade, especialmente os ligados ao agronegócio, empreiteiras e indústrias.
Em 2013 as lideranças indígenas entregaram uma carta à presidente Dilma Rousseff exigindo respeito a seus povos, a revogação desses instrumentos legais ofensivos e várias outras medidas para, segundo declararam, evitar "a extinção programada" de suas etnias que vem sendo orquestrada pelo governo.
A solução do problema das terras indígenas terá importante efeito tanto para aqueles povos quanto para a conservação das florestas, considerando o grande desmatamento que afeta o Brasil atualmente e as inúmeras outras ameaças que põem em risco a biodiversidade e a sociedade. De fato, muitas dessas comunidades são consideradas exemplos em manejo sustentável das florestas, e o Millennium Ecosystem Assessment, uma das maiores sínteses científicas das últimas décadas sobre o meio ambiente, declarou que os povos indígenas são tão efetivos para a preservação das florestas quanto sua transformação em reservas protegidas.

Dia do Índio

O Dia do Índio, 19 de abril, foi criado pelo presidente brasileiro Getúlio Vargas através do decreto-lei 5 540, de 1943, e relembra o dia, em 1940, no qual várias lideranças indígenas do continente resolveram participar do Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, realizado no México. Eles haviam boicotado os dias iniciais do evento, temendo que suas reivindicações não fossem ouvidas pelos "homens brancos". Durante este congresso, foi criado o Instituto Indigenista Interamericano, também sediado no México, que tem, como função, zelar pelos direitos dos indígenas na América. O Brasil não aderiu imediatamente ao instituto, mas, após a intervenção do Marechal Rondon, apresentou sua adesão e instituiu o Dia do Índio no dia 19 de abril.

Organizações e associações

As associações e organizações indígenas surgiram, no Brasil, ainda durante o século XX, nos anos 1980. Entre os organismos e associações nativas que têm, como objetivo estatutário, a defesa dos direitos humanos dos povos indígenas, incluem-se o "Warã Instituto Indígena Brasileiro" e o GRUMIN.Com o objetivo de preservar e difundir a cultura indígena e facilitar o acesso à informação e comunicação entre as diferentes nações indígenas, foi fundado o "Índios online"

Cultura


"Aldeia dos Apiacás", aquarela de Hércules Florence, realizada durante a expedição de Georg Heinrich von Langsdorff em 1825
Há grande diversidade cultural entre os povos indígenas no Brasil, mas há também características comuns:

A habitação coletiva, com as casas dispostas em relação a um espaço cerimonial que pode ser no centro ou não.Em cada habitação, moram de setenta a oitenta casais com suas famílias, que, à noite, acendem fogueiras e dormem em redes. Quando a aldeia ficava não muito longe das dos inimigos, era cercada por duas ou três paliçadas de troncos de árvores. Entre as paliçadas, fossos eram cavados e, no fundo, eram fincadas estacas pontiagudas. A parte superior de cada fosso era disfarçada com ramos e folhas. Normalmente, ficavam em cada aldeia até que as palhas que cobriam as habitações apodreciam, o que levava de três a quatro anos. Algumas tribos, como os aimorés, não construíam aldeias. Simplesmente limpavam uma área e dormiam debaixo das árvores, mantendo, à noite, fogueiras acesas. Deitavam-se com os pés voltados para o fogo, que era protegido, em noites de chuva, por couro de veado sustentado por quatro estacas.
A vida cerimonial como base da cultura de cada grupo, com as festas que reúnem pessoas de outras aldeias, os ritos de passagem dos adolescentes de ambos os sexos, os rituais de cura e outros

O amplo conhecimento da produção de bebidas fermentadas a partir de tubérculos, raízes, folhas, sementes e frutos como o abatiui (milho), beeutingui (farinha de mandioca), cachiri (mandioca, batata-doce ou inhame), cacimacaxera (mandioca), caiçuma (mandioca e frutos), caoi (fruto de acaijba), catimpuera (milho), caxiri (buriti), caviracaru (mandioca), caxiri (mandioca), cauim (nome genérico para várias bebidas fermentadas à base de milho, mandioca, caju, batata, amendoim, banana, ananás etc.), eivir (farinha de milho), giroba (mandioca), guariba (mandiocaba ou mandioca doce), ivir (milho), jetiuy (batata), manavy (ananás), mocororó (arroz ou mandioca), nanaí (abacaxi), oloniti (milho), pacobi (frutos de pacobete e pacobuçu), pacouy (mandioca), pajaurú (beiju), pajuarí (frutos fermentados), tarubá (beiju), tepiocuy (beiju), tiborna (mandioca), tikira (beiju), tipiaci (farinha de mandioca), tucanaíra (mel de abelhas, saburá de favos e água)
A arte como parte da vida diária, encontrada nos potes, nas redes e esteiras, nos bancos para homens e mulheres, e na pintura corporal, sempre presente nos homens.

A educação das crianças era compartilhada por todos os habitantes da aldeia. A mãe amamentava o filho até aos oito anos, conquanto não tivesse outro no período. A criança era carregada o tempo todo pela mãe ou pelo pai. Se fosse menino, o pai lhe ensinava logo cedo a manejar o arco e a flecha, a construir balaios e outras lidas. Quando menina, a mãe a introduzia no míster de fiar algodão, tecer redes e fabricar enfeites para o cabelo.
uanto à família, esta podia ser monogâmica ou poligâmica

Deixaram forte herança na culinária brasileira, com pratos à base de mandioca, milho, guaraná e palmito, tais como pamonha e biju; a arte indígena também foi assimilada à brasileira em objetos; uso de redes e jangadas, canoa, armadilhas de caça e pesca; no vocabulário: em topônimos como Curitiba, Piauí etc., em nomes de frutas nativas ou de animais como caju, jacaré, abacaxi, tatu. E deixaram no brasileiro hábitos como o uso do tabaco e o costume do banho diário[carece de fontes?].

Índia guajajara e seu filho
Da culinária indígena à base de mandioca, foram adotadas a farinha fina, de carimã, o mingau e o beiju, também chamado de tapioca. O beiju simples é um bolo de massa fresca, úmida, passado pela urupema (peneira de fibras vegetais) para formar grumos, que devido ao calor ficam ligados; o beiju-ticanga, feito de massa de mandioca mole e seca ao sol; o beijuaço, redondo, feito como o beiju-ticanga, mas seco no forno; o beijucica feito de massa de macaxeira, em grumos bem finos; o beiju de tapioca, de tapioca umedecida, saindo da urupema em pequeninos grumos e quando pronto é enrolado; o caribé, que é o beijuaço posto de molho e reduzido a massa que, quando água é acrescentada, forma um tipo de mingau; o curadá, um beiju grande, feito de tapioca umidecida, em grumos maiores, levando castanha crua, depois sendo enrolado.

Dos alimentos vegetais herdados dos indígenas, além da mandioca e do milho, incluem-se a batata-doce, cará, pinhão, cacau e amendoim. O caruru, a serralha e o palmito foram também introduzidos por eles. Quanto a frutos, os mais comuns são o mamão, o araçá e o caju, embora haja dezenas de outros hoje pouco comuns ou de conhecimento apenas de pessoas que vivem em regiões onde eles ainda ocorrem como: abajeru, amaitim, apé, araticum, azamboa, bacaba, bacupari, bacuri, caiuia, camboim, cambucá, camichã, curuanha, curuiri, guti, gravatá, grumixama, guajirí, guapuronga, embaúba, jataí, mocurí, mucujé, mundururu, murici, pajurá, penão, ubaia, ubucaba e umari. Outros vegetais introduzidos pelos indígenas foram fibras como o algodão, o tucum e o guaratá bravo; para fazer vassouras, a peipeçaba (piaçava ou piaçaba); gêneros de abóboras para produzir cabaças, usadas para armazenar água ou farinha. Dos alimentos derivados de animais, destacam-se os de tartarugas e seus ovos como o arabu, o abunã, o mujanguê e o paxicá. Provenientes de peixes: paçoca e o moquém (também podem ser de outros animais), o piracuí, a moqueca indígena e a mixira.

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