quarta-feira, 17 de julho de 2013

ERAM OS GREGOS MACUMBEIROS ?

Gregos
ERAM OS GREGOS MACUMBEIROS ?
ATENAS
“Sócrates já se tinha tornado rijo e frio em quase toda a região inferior do ventre, quando descobriu sua face, que havia velado, e disse estas palavras, as derradeiras que pronunciou:
- Críton, devemos um galo a Asclépio; não te esqueças de pagar essa dívida.”
É desta forma que Platão (Fédon, 118a) narra os últimos momentos de Sócrates. Preocupado em rechaçar as acusações que haviam levado Sócrates à condenação, Platão procura retratar seu mestre como um ateniense bem-comportado, respeitador dos usos e costumes da época.
Dentre os quais estava, sem dúvida, pagar as dívidas para com os deuses. Em outras palavras, Sócrates pede a seu amigo Críton que pague uma obrigação, como diria qualquer pai-de-santo. Que os gregos faziam seus despachos, inclusive no pior sentido, está comprovado pela arqueologia,que recuperou inúmeras tabuinhas de imprecação. Nas palavras insuspeitas de um eminente helenista (FLACELIÈRE:250):
“Tratava-se de um rito mágico, pelo qual se procurava prejudicar os inimigos, sobretudo os adversários que se encontravam no tribunal, por ocasião de um processo, votando-os às divindades infernais (...) chumbando-os ao domínio dos mortos pela prática da feitiçaria.”
O processo consistia em uma espécie de vodu por escrito:“Por vezes, enumeram as diferentes partes do corpo do inimigo, as suas faculdades espirituais, e a sua atividade, de maneira a castigarem-nos em oda a sua pessoa. Os nomes das pessoas assim votadas à morte são cercados de uma rede de fios; depois a folha de chumbo em que se grava a
Imprecação é enrolada em torno de um prego de ferro, que se enterra no solo.”
Assim como os orixás africanos, cada deus grego era agraciado com oferendas específicas. Sacrifícios a Hermes incluíam incenso, mel, bolos, porcos e especialmente carneiros. Zeus, por sua vez, preferia bodes, touros e cabras. Os exércitos espartanos sempre viajavam com uma cabra para ser sacrificada ao mais poderoso dos olimpianos antes das batalhas, na crença de que isto lhes garantiria a vitória. Outra forma de granjear a simpatia dos deuses era através das libações: derramava-se ao solo um pouco de vinho antes de bebê-lo. Parece aquilo que os brasileiros chamam de “dar um golinho pro santo”. Em ambos os casos, trata-se de uma relação direta com a divindade, justificada pela crença de que as condições de uma existência feliz dependem do beneplácito dos deuses.
“acreditavam que moravam numa cidade cheia de forças espirituais poderosas que podiam fazer o bem para eles e lhes trazer boa fortuna – se conseguissem aprender a trabalhar com elas.”
São muitos os pontos de contato entre a religião grega clássica e as religiões afro-brasileiras e africanas
Ambas, por exemplo, fazem uso da adivinhação, embora os métodos variem muito: enquanto no candomblé usam-se búzios, os gregos valiam-se de oráculos, usando desde favas (caso das consultas menos importantes em Delfos) até o sopro do vento nas árvores (em um oráculo de Zeus). Zeus, aliás, era simbolizado em Creta por um duplo machado muito semelhante ao que ostenta Xangô
(VERGER,1981:135). Estas duas divindades têm muito mais em comum.Tanto Xangô quanto Zeus são apresentados como senhores da Justiça.Reis poderosos, autoritários ou até violentos, além de incansáveis perseguidores de parceiras femininas (embora Zeus fosse mais eclético neste particular, ilustrando o padrão bissexual aceito pelos gregos). O raioe o trovão simbolizam a ambos.
Comparemos agora Exu e Hermes.
Hermes
Exu representa um um canal de comunicação, o princípio da mobilidade. Por isto, o candomblé sempre é aberto com invocações a esta divindade.Hermes, com suas sandálias aladas que permitem voar, é também um mensageiro.
Asssim como as oferendas a Exu são depositadas nas encruzilhadas, Hermes era homenageado com hermas nas esquinas e nas portas, isto é, em locais de passagem. As hermas eram pequenos monumentos feitos de pedra consistindo de um busto do deus e de um falo semi-ereto, pois Hermes era associado à fertilidade.
Esu
Quanto a Exu, aprendemos com Pierre Verger que entre os fon, Exu-Elegbara é chamado de Legba e “é representado por um montículo de terra em forma de homem acocorado, ornado com um falo de tamanho respeitável”. Tanto Hermes quanto Exu são marcados pela ambiguidade, pelo comportamento às vezes traiçoeiro e, com o perdão da palavra, malandro: logo após o seu nascimento Hermes já aprontou a primeira, roubando gado do seu meio-irmão Apolo (ambos eram filhos do prolífico Zeus). Por conta da gracinha, teve que presentear.
Apolo com a cítara. Sempre de chapéu, de andar leve, esperto e músico, é difícil não aproximar Hermes dos malandros cariocas do início desse século.

Nenhum comentário:

Postar um comentário