quarta-feira, 17 de julho de 2013

CULTURA ÁGRAFA VERSUS CULTURA GRÁFICA

CULTURA ÁGRAFA VERSUS CULTURA GRÁFICA
OralidaeO Homem desenvolveu o seu sistema de comunicação por milhares de anos, sempre buscando a sobrevivência da espécie humana no planeta. Desvendar o universo, descobrir seus enigmas e segredos, sistematizar esses conhecimentos no uso cotidiano e transmitir tais conhecimentos para outras gerações de humanos
A cultura ágrafa permaneceu nas comunidades humanas por muitos milhares de anos. O homem desenvolveu outros segmentos da sua cultura comunicacional como a fala, a formação de linguagem oral diversificada, linguagem gestual, linguagem corporal e linguagem simbólica, até que surgiu a grafia na forma de escrita propriamente dita, com os povos mesopotâmicos e os egípcios.
Presume-se que o homem observando a sua própria pegada na terra molhada, aprendeu a discriminar o que seria o animal humano, distinguindo-o dos outros animais, posteriormente aprendendo a distinguir muitos animais uns dos outros e até mesmo distinguir homens uns dos outros, seu peso, seu tamanho etc.
No processo de leitura topográfica estabelecido foi dado um outro passo para a consolidação da comunicação por esse meio gráfico, que foi a reprodução daquelas formas ou pegadas com a finalidade exclusiva de comunicação entre seres humanos.
HierogligosO passo seguinte foi a reprodução dessas formas ou pegadas através do desenho, fazendo com que essas formas fossem representadas por traços, sinais, desenhos gráficos.

De grande importância para o homem essa fase, pois significou a sua inserção definitiva no ambiente virtual, no mundo dos significados, dos signos e símbolos.
Foi a partir dos desenhos das figuras existentes em cada comunidade e da simplificação dos desenhos representativos de cada coisa que chegou-se à criação das letras e de alfabetos.
A cultura humana é elemento abstrato, porém vivo e muito dinâmico. A cultura é sempre avassaladora, dominadora e expansiva. A cultura faz conquistas e estabelece domínios continuamente, estando sempre em expansão.
Quando se trata de cultura já estabelecida em grupo étnico ou econômico ou outro qualquer tipo de agrupamento humano, as intersecções culturais, as fusões, as adaptações e moldagens são constantes, resultando sempre em uma cultura dominante com resquícios de outras culturas dominadas e que dará lugar no futuro a outra cultura.
O acervo cultural de conhecimentos é muito vasto e tem sua dinâmica própria. Incorpora os novos conhecimentos e expurga conhecimentos defasados pelo tempo.
“ O homem ágrafo", tal como os que vivem em sociedades que conhecem a escrita, não é autômato nem infantil.
É um homem prático, que aproveita as vantagens que se lhe apresentam, contanto que não estejam “excessivamente afastadas dos padrões tecnológicos de sua cultura...”
“O retrato do homem ágrafo" que podemos esboçar na base do estudo de sua tecnologia e cultura material são o de um indivíduo que trabalha
“arduamente, que recorre às habilidades adequadas para viver como deseja.”
A genealogia Yoruba não faz referência a re-encarnação e sim concebe que a matéria primordial é roubada da terra, o Orisa Onile. E o Orisa Iku, a morte, é o encarregado de fazer essa reposição, devolvendo à terra, a matéria roubada. Conseqüentemente a vida é uma corrida constante pela restauração do equilíbrio através de negociações e trocas, para aplacar ou enganaIku e Onile.
Isto estabelece um grande dinamismo nas negociações forçando novos meios, forjando a criação de novas formas pessoais de negociação quando as já conhecidas não surtem mais efeitos.
A vida é para ser vivida com plenitude, harmonia e alegria, o que explica tanta festa, comidas e bebidas. A vida deve ser uma celebração contínua, o céu, o nirvana é aqui e agora. Não há nenhuma garantia de que espíritos de humanos terão acesso ao Orum, espaço sagrado dos Orisa ou mesmo de que retornarão ao Aiye, mundo dos seres vivos. Portanto deve-se viver intensamente a vida, desfrutando de tudo de bom que se possa ter acesso, principalmente construindo um viver cheio de alegria e prazeres de toda sorte, sem jamais sentir culpa.
A alegria é um direito do ser humano, uma dádiva do Orisa Esu Odara, aquele que traz a alegria para o mundo, a sua grande contribuição para a humanidade. Por extensão, a alegria é a maior contribuição dos povos africanos e afro-descendentes para a cultura contemporânea mundial. Ara Dundun Kayode, o negro traz a alegria.
O indivíduo não precisa ter boa memória e sim ser um hábil capturador de conhecimentos armazenados. Claro que nesse sistema gráfico o acervo da cultura humana se tornou incomensurável.
Uma forte intersecção entre os dois segmentos ocorre resultando em um terceiro sistema ainda em adaptação. Inclusive a comunicação com os Orisa e outras entidades já se fazem também através da escrita e de desenhos.
Entre o sistema ágrafo e o sistema gráfico apresentam-se diferenças culturais de grande importância que são determinantes na filosofia cultural de cada grupo, influindo diretamente no modo como cada sujeito se insere no mundo, como se relaciona com a sociedade, com a vida, com o divino e como concebe o mundo.
A mensagem é emanada do Orisa principal daquela casa, que a comunica para a sua principal interlocutora e autoridade máxima, a Iyalorisa, Mãe de Santo ou Babalorisa, Pai de Santo. Este recebe o comunicado através do Jogo divinatório de Ifá, Orisa da Comunicação entre os deuses e os homens, entre o mundo encantado dos Orisa, o Orum e o mundo natural ou dos vivos, o Aiye.
E cada sacerdotisa reinterpreta o comunicado e o repassa para outra sacerdotisa mais nova, que por sua vez repete o mesmo procedimento, até o comunicado alcançar o total daquela comunidade interna. Via de regra o comunicado inicial, sempre passível de interpretações, acréscimos e adaptações são finalizadas junto aos sujeitos receptores com sentido bastante diverso do sentido original. A poesia, a ficção e o estético possuem valor igual ou maior que o valor da fidedignidade.
Transmissão Oral
O comunicado é recebido, interpretado e repassado com os acréscimos da nova interpretação. E sucessivamente transmitido por camadas de idade iniciática e de importância honorífica, sempre a partir da interpretação que cada um faz com base no seu repertório individual, suas habilidades interpretativas, sua capacidade dramática, sua criatividade. É muito comum tais comunicados chegarem à base da comunidade com o sentido inteiramente inverso do sentido original. E alguma interpretação mais convincente do fato acaba por justificar a inversão.
Uma das finalidades desses acréscimos é a retenção da essência do comunicado. Uma estória com início, meio e fim e que têm por base um ensinamento filosófico e moral têm maior retenção na memória do grupo.
Nesse sentido é comum a atribuição de fatos acontecidos com membros da comunidade serem atribuídos aos Orisa, conquanto possuam ensinamento filosófico significativo para aquela comunidade. A estória fica preservada, sobrevive anexada aos mitos daquele Orisa, o que explicam muitas contradições entre os diversos mitos de um mesmo Orisa.
Pelo sistema mais informal, os comentários chamados “boca a boca”, se encarregam de difundir o comunicado pela grande massa da comunidade externa e pode propagar-se de modo muito significativo, dependendo do apelo dramático e espetacular da notícia. Uma essência primordial do comunicado é mantida, uma espécie de “gancho” da notícia, para manter alto o interesse pela notícia. Então quando se trata de um evento, pode-se esperar a casa cheia de gente, pois todos tomarão conhecimento daquela notícia.

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