Quantos tempos mais
têm de esperar? Quanto tempo mais tem que sofrer com o preconceito, a
intolerância e o desrespeito? Quanto tempo mais? Quanto tempo mais...
Estas são perguntas
que reiteradas vezes as populações, discriminadas pela sua raça, suscitam no
seu cotidiano, todas as vezes que os olhares, as atitudes e o discurso das
pessoas demonstram intolerância. Somos iguais, mas historicamente reforçamos as
diferenças de maneira negativa, tornando necessário que ações sejam
desenvolvidas para conquistar a igualdade, sucessivamente postergada, pelo
manto (in) visível de que vivemos num país sem preconceito racial.
Mas esconder não é
possível. Como escamotear trezentos e oitenta e oito anos de escravidão e
negação de direitos? Apesar desta constatação existem esforços nesse sentido.
Dizemos isto, haja vista, há aproximadamente sete anos se encontrar tramitando
no Congresso Nacional, o Estatuto da Igualdade Racial, recentemente aprovado no
âmbito do Senado Federal. Porém, o texto original sofreu modificações, de forma
que bandeiras de lutas essenciais, a exemplo do sistema de cotas, foram
retiradas.
Sobre as cotas, ponto
polêmico, sobretudo pelas possibilidades que criam para os povos discriminados,
é válido ressaltar que o Brasil é signatário da III Conferência mundial contra
racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância, realizada em Durban,
África do Sul, em 2001. Este fato, a priori, deveria nortear e considerar
relevante assumirmos que precisamos realizar o enfrentamento do racismo, sem
subterfúgios.
Atualmente existe quem
afirme, e concordamos que pelo menos dois terços dos conflitos do mundo têm
motivação econômica e étnica. Consideramos que não adianta nada querermos mudar
apenas nossa vida. O que interessa é o coletivo, é a luta de homens e mulheres
contra a opressão social e a intolerância racial. Nos tempos atuais a xenofobia
relacionada aos mulçumanos, orientais, africanos e indígenas se faz presente
nas relações sociais intercontinentais.
Portanto, é essencial
estabelecermos medidas de recusa ao racismo no Brasil e a reparação aos dez
milhões de africanos e africanos que foram submetidos à tortura, estupro,
escravidão, perseguição religiosa, exploração e que ainda hoje sofrem com o
fenômeno do racismo estrutural, que continua caracterizando nossa sociedade.
Frente a essa
realidade somos da opinião que o Estatuto da Igualdade Racial aprovado não
representou avanços. Sendo assim, a luta pela conquista de direitos permanece,
o percurso é longo, mas precisa ser trilhado, no intuito de que na sociedade
brasileira a igualdade para todos se torne, de fato, uma realidade.
Nessa seara, a
sociedade civil organizada tem um papel salutar de estimular o debate,
denunciar as condições de vida deploráveis, às quais as populações
discriminadas são submetidas, participar das ações coletivas em defesa dos
direitos dessas populações e propor alternativas que visem à garantia de acesso
a todos, na perspectiva de que somos iguais na diferença.
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