ENQUETE CRONOLÓGICA DO FERVEDOURO
SÉCULO XVI
ENTRUDO - FESTIVIDADES CARNAVALESCAS DE ORIGEM EUROPÉIA
O entrudo traz, em sua reminiscência, as antigas práticas pagãs das festas romanas. Foi
chamado também de “brinquedo selvagem”.
O gordo entrudo era festejado em diversos países europeus além de Portugal, no
entanto, havia restrições alimentares. Comia-se de tudo, principalmente o porco. Muitos
doces, como os filhoses, e o exagero no consumo do vinho faziam parte da celebração do
entrudo em Portugal.
Em muitos países da Europa, o entrudo havia sido largamente festejado pela população,
e não só por ocasião do carnaval. Aparecia em outras animadas festas populares, como a
Festa da Epifania (Festa de Reis), na qual, se repetia o ritual de atirar água e alimentos uns
aos outros. Assim permaneceu até o século XVI, quando teve início o movimento da Reforma
Protestante e, em contrapartida, o da Contra-Reforma Católica. Tais movimentos foram
responsáveis por inúmeras mudanças na cultura popular européia tradicional.
A reforma européia colocava-se contra algumas formas de expressão da religiosidade
popular, magias e feitiçarias e outras manifestações de domínio da cultura popular secular,
especialmente, baladas, touradas, açulamentos de ursos, bonecos, danças, máscaras, feiras,
tabernas, jogos de cartas, etc. O carnaval, festa múltipla, que concentrava uma série desses
itens, foi a diversão popular contra a qual mais investiram.
Portugal, país católico e situado no extremo oeste do continente europeu, manteve-se
mais distante do movimento reformista da cultura. Entretanto, não escapou de suas
conseqüências nos festejos carnavalescos. Mais fortemente, estas alterações, fizeram-se
sentir no período em que Portugal estava sob domínio espanhol. Felipe III editou um alvará
proibindo o “brinquedo do entrudo” nas ruas de Lisboa, em 15 de dezembro de 1608, tendo
como resultado a suspensão dos arremessos das laranjadas. Para afastar o povo dos festivais
carnavalescos, instituiu-se o “jubileu das quarenta horas”, com pomposas festas de igreja,
com recreativas procissões nos três dias de entrudo.
A palavra entrudo vem do latim
introitus, que quer dizer introdução.
O ENTRUDO NO BRASIL
SÉCULOS XVII
O carnaval, no Brasil, tem suas origens no entrudo, chegando conjuntamente com os
portugueses, já que era hábito cultural, essa brincadeira, em sua terra natal. Esses jogos, que
se realizavam nos três dias que antecediam à quaresma, têm seu registro, com detalhes, no
Brasil, a partir de 1723.
O entrudo foi trazido, provavelmente, pelos portugueses da Ilha da Madeira, Açores e
Cabo Verde, como brincadeira de loucas correrias, mela-mela de farinha e água com limão,
surgindo depois as batalhas de confetes e serpentinas.
No Recife, registra-se o início do carnaval de rua, ainda em forma de entrudo, nas
últimas décadas do século XVII. No porto do Recife, existiam as Companhias de Carregadores
de Açúcar e as Companhias de Carregadores de Mercadorias. Essas companhias geralmente
se reuniam para estabelecer acordo no modo de realizar alguns festejos, principalmente,
para a Festa de Reis. Essa massa de trabalhadores era constituída, em sua maioria, de
pessoas de etnia negra, livres ou escravos, que suspendiam suas tarefas a partir do dia
anterior à Festa de Reis. Reuniam-se cedo, formando cortejos que consistia em caixões de
madeira carregados pelo grupo festejante e, sentado sobre ele, uma pessoa conduzindo uma
bandeira. Caminhavam improvisando cantigas em ritmo de marcha, e os foguetes eram
ouvidos em grande parte da cidade.
Mesmo sendo o entrudo composto de ações que lembravam uma espécie de guerra,
com limas-de-cheiro e similares, bacias com águas sujas atiradas pelas janelas, havia um tom
festivo que ficava por conta da população negra que ocupava as ruas com músicas e danças,
como os “cucumbis”, espécie de mascarada africana que saía em grande passeata, agitando
chocalhos e batendo rudes tambores.
Foi, até meados do século XIX, o entrudo, considerado pela elite de brutal. Do norte ao
sul do Brasil, a brincadeira era igual: água, farinha de trigo, fuligem e goma, ensopando os
transeuntes. Águas molhando famílias e ruas inteiras, em plena batalha. Criados, outrora
escravos, carregando latas, jarras, barris para suprimento dos patrões empenhados na
guerra. No Interior, nas senzalas e casas-grandes, nivelavam-se pela alegria do entrudo
senhores e escravos. Depois, o entrudo adquiriu formas mais leves, com as laranjinhas-decheiro
e borrachas com água perfumada.
A brincadeira do mela-mela e excessos de bebidas e comidas, era a herança fiel e
completa do entrudo Português. Todas as lembranças clássicas das saturnais, lupercais,
bacanais, festas orgiásticas, assírias, medo-persas, babilônicas, revividas nas brincadeiras do
entrudo.
SÉCULO XVIII
Este século tem como destaque os maracatus de baque-virado ou maracatus de nação
africana, que foram registrados, particularmente, a partir do século XVIII. Melo Morais Filho,
escritor do século passado, no seu livro
Festas e Tradições Populares, descreve a coroação de
um Rei Negro, em 1742.
Os primeiros registros dessas cerimônias de coroação, data da segunda metade desse
século nos adros das igrejas do Recife, Olinda, Igarassu e Itamaracá, no Estado de
Pernambuco, promovidas pelas irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos
e de São Benedito. Nessa época, as ruas não tinham a estrutura adequada para servir de
passarela, eram sujas, pois o esgoto corria a céu aberto, quem se dispunha a usar este reduto
era a classe popular.
O carnaval de rua do Recife era da população menos favorecida, como os escravos,
comerciantes e trabalhadores livres. As famílias da elite brincavam dentro das suas próprias
casas, assistindo pelas janelas e varandas aos cortejos de rua.
O que se estabelecia pelas ruas do Recife, do século XVIII, era o entrudo como fenômeno
antigo na sociedade brasileira. Entre os primeiros autores a anotá-lo estão Ferdinand Denis,
em 1838, e Thomas Ewbank, em 1846. Denis, em seu relato, identifica a festa como o
“espírito brasileiro”. Ewbank, em
Vidas no Brasil, aponta os pontos em comum entre o
entrudo e o carnaval; dizia que, embora "ambos estejam associados ao grande jejum da
quaresma (...), o primeiro (entrudo), em sua etimologia, não faz referência à abstinência de
carne, de que o último (carnaval), é expressão literal:
carni (carne) vale (adeus)".
O período de duração das duas festas era também um elemento diferenciador, continua
Ewbank, "A época do carnaval estende-se desde o dia primeiro de janeiro (da passagem do
ano), até o princípio da quaresma, ao passo que o entrudo se realiza na parte final de
fevereiro e dura apenas três dias, principiando invariavelmente no domingo que precede a
Quarta-feira de Cinzas".
No Brasil, a Igreja Católica não seguiu à risca as orientações determinadas pela Igreja na
Europa. Porém, não faltavam cartas régias proibindo festas públicas e comédias (autos) ao ar
livre.
O jogo carnavalesco do entrudo foi proibido várias vezes por alguns governantes do
Brasil Colonial: em 31 de janeiro e 13 de fevereiro de 1608; em 24 de fevereiro e 22 de
outubro de 1686; em 20 de setembro de 1691; em 6 e 20 de fevereiro de 1734; e em 25 de
fevereiro de 1808, entre outras datas. Entretanto, tais medidas eram inoperantes, pois o
entrudo continuava soberano como divertimento.
SÉCULO XIX - PROIBIÇÃO DOS JOGOS DO ENTRUDO
Com o advento da Independência, houve o aceleramento das mudanças no modo de
vida da sociedade brasileira, principalmente, da elite dominante, que se sentia no dever de
construir um Estado Nacional e, a partir da década de 30 do século XIX, nova campanha,
agora mais fortalecida com o ingresso dos jornais, decide banir, definitivamente, o entrudo
dos festejos carnavalescos no Brasil.
Em Pernambuco, poucos meses antes do Brasil tornar-se independente, a Junta
Provisória que, então, governava a província, lançou uma portaria proibitiva ao brinquedo do
entrudo, em 16 de fevereiro de 1822. A partir dessa data, deu-se início, na província de
Pernambuco, a uma campanha sistemática contra os jogos do entrudo.
Por todo o Brasil, campanhas são deflagradas. Em 1853, a portaria do chefe de polícia do
Rio de Janeiro atestou o sentido violento da celebração e exigiu o estabelecimento de rondas
policiais e fiscais encarregadas de disciplinar, vigiar e punir os foliões jogadores. Era uma
tentativa para liquidar os casos extremos, como o acontecido em 2 de maio de 1850, quando
o arquiteto francês Grandjean de Montigny, depois de ter "tomado um desses banhos de
água", morreu vitimado por uma pneumonia. A portaria baixada dizia textualmente: "Fica
proibido o jogo do entrudo. Qualquer pessoa que jogar incorrerá na pena de 4 a 12 mil réis e,
não tendo o que satisfazer, sofrerá de 2 a 8 dias de prisão. Sendo escravo, sofrerá 8 dias de
cadeia, caso o seu senhor não o mandar no calabouço com 100 açoites".
Nos festejos do entrudo, a rua era a sua sede. Os bailes carnavalescos eram as únicas
atividades em recinto fechado.
Difícil precisar datas, mas são seguramente os últimos vinte anos do século XIX, que
delimitam o início do carnaval como substituto do entrudo, tendo como agente
intermediador os bailes de máscaras.
Com o entrudo, chegaram as limas-de-cheiro, que foram substituídas pela bisnaga com
água aromatizada, em 1875. Logo depois, em 1877, surgem o confete e o jetone ou jetons
(confeitos em papéis coloridos). Em 1895, as línguas-de-sogra foram introduzidas no carnaval
brasileiro. As serpentinas, em 1892. Narizes e barbas postiças, bigodes e óculos de celulóide
coloridos, procedentes da Alemanha, entraram no carnaval em 1901. O lança-perfume surgiu
em 1906, fabricado na Suíça, pela Fábrica Rodo. Em 1927, surge o lança-perfume metálico
Rodouro, sendo proibido seu uso em 1962.
No Brasil, o carnaval é festejado tradicionalmente no sábado, domingo, segunda e terçafeira
anteriores aos quarenta dias que vão da Quarta-feira de Cinzas ao Domingo de Páscoa.
AS MÁSCARAS E OS BAILES
INTERMEDIADORES ENTRE O ENTRUDO E O CARNAVAL
As alterações no modo de vida das camadas sociais mais elevadas eram visíveis no
mundo social em que se constituíram os teatros e, foi em torno deles que se processou a
substituição do entrudo pelo novo formato das festividades carnavalescas.
O costume de dançar pelas ruas em cortejos e o uso de máscaras, durante os dias de
carnaval, era próprio dos próprios negros, desde os tempos do Brasil Colônia. Mas a elite
interessada em fazer uso das máscaras no carnaval necessitava apropriar-se dessa antiga
prática dos negros africanos, no Brasil, e atribuir-lhe um novo significado.
Nessa época, a ópera era a maior expressão de arte européia e impôs-se no Brasil como
misto de entretenimento e música. Reflexo da sociedade burguesa, o teatro passou a ser a
expressão do moderno, culto e civilizado. A escolha inicial do protótipo do carnaval, que
deveria substituir o entrudo, não poderia gravitar em outra órbita de influência senão
naquela representada pelos teatros, óperas e salões. Dentre vários carnavais que tinham
curso na Europa, privilegiou-se, numa primeira fase, aquele que se passava entre o brilho dos
teatros e salões: o carnaval de Veneza e de Paris.
Carnaval para a elite passou a ser sinônimo de luxo, danças, cantos, banquetes, músicas
e, especialmente, máscaras. Os “bailes de máscaras” constituíram-se, a partir de então, no
grande ideal de carnaval, no Brasil, em meados do século XIX.
Foi na cidade do Rio de Janeiro, então sede do Governo Imperial, que se realizou o
primeiro baile de máscaras público do Brasil, por ocasião do carnaval, por volta de 1840.
Na cidade do Recife, o primeiro baile, com características de baile de máscaras, teve
lugar na Passagem da Madalena, a estrada mais nobre da capital, naqueles tempos,
pontilhada por suntuosos e imponentes casarões. O segundo baile de máscaras de que se
tem notícia, no Recife, ocorreu em 23 de fevereiro de 1846, na casa grande do sítio do Sr.
Brito, no Cajueiro, denominado “Carnaval Campestre”.
No ano de 1847, anunciaram-se dois bailes de máscaras para os dias de folia, ambos a
serem realizados em teatros públicos, no Recife. O Teatro Público promoveria
O Carnaval de
Veneza
ou Folha Real, oferecendo três noitadas de diversões em seu programa. Estavam
previstas apresentações de três dramas a serem exibidos antes do baile. Danças de máscaras
animariam o baile: o quinteto chinês, a polca, a mazurca, a escocesa, o montenelo, a gavota,
o lundu, a caxuxa e outras danças de mascarados.
No Teatro Apolo, a exigência se fazia aos mascarados, sendo a fantasia necessária para
aqueles que pretendessem dançar. As máscaras seriam retiradas na entrada, à vista do
diretor, num quarto exclusivamente destinado a isso. Esse cuidado revelava o quanto se
temia o disfarce e o anonimato, por ele garantido, em caso de brigas e conflitos em domínios
públicos. Esse baile não chegou a ser realizado.
A mascarada carnavalesca, que predominava nos teatros e salões freqüentados pela
elite, foi, aos poucos, tomando fôlego, ganhando forças, até projetar-se e espalhar-se pelas
ruas. Isso por volta de 1850 a 1852. Os mascarados desfilavam pelas ruas da cidade a pé ou
de carro puxado a cavalos, estendendo-se o passeio até os arrabaldes. Desfilavam, às vistas
da população, grupos numerosos de estranhos personagens, em que as fantasias
apresentavam as figuras mais cômicas e ridículas ou as mais elegantes.
A mascarada, pouco a pouco, mudou as feições do carnaval, a elite passeando pelas vias
públicas da cidade, com fantasias, disfarces e trajes a caráter. O projeto da elite era retirar da
camada pobre da população muito do espaço público que ocupava anteriormente, desde os
tempos coloniais. A elite só ousou ir às ruas, em número expressivo, trajando máscaras,
quando algumas garantias de ordem pública e disciplina social lhes foram asseguradas. Na
época, uma das mais representativas dessas garantias foi a proibição de que os escravos
usassem máscaras durante o carnaval, o que foi feito em 1854.
Nos planos da elite, as máscaras se redefiniriam, perderiam sua origem negra, deixariam
de ter conotação de costumes selvagens e passariam a ter origem na burguesia européia,
esquecendo o passado colonial para transformar-se em sinal de civilidade, bom gosto e luxo.
Assim, os foliões da elite mascararam-se e fizeram sua entrada nos festejos carnavalescos de
rua.
Nos primeiros anos de instalação do novo modelo de carnaval de estilo moderno nas
ruas do Recife, eclodiram freqüentes distúrbios, em que os opositores eram mascarados e
amantes da brincadeira de água e pó dos jogos do entrudo. Para as camadas menos
favorecidas da sociedade, o entrudo continuava sendo a grande forma de divertir-se pelo
carnaval, embora tivessem sempre que fugir da perseguição policial. Era, inclusive, um
divertimento materialmente acessível ao bolso popular.
Já os bailes de máscaras públicos tinham alto custo nos ingressos, nas bebidas e nas
fantasias adequadas. Até mesmo, a mascarada de rua, propagada pela elite, rica e
extravagante, estava além de suas posses.
Em 1857, as crônicas carnavalescas divulgavam, em tom triunfal, a vitória da máscara
sobre o entrudo.
CARNAVAL DE RUA – ESPAÇO PÚBLICO
Os festejos carnavalescos do Recife desenvolveram-se em dois espaços da cidade, física
e socialmente distintos entre si: o espaço público e o privado. O espaço privado ficava
limitado ao interior das sedes das Sociedades Carnavalescas e Recreativas e aos salões dos
clubes e das residências particulares. Havia os salões para os quais afluía a elite social urbana
e outros mais modestos, onde as classes populares freqüentavam, tais como as sedes dos
Clubes Carnavalescos Pedestres e dos Maracatus.
Os salões das sociedades recreativas, dramáticas e musicais e os clubes sociais mais
elegantes da cidade, no século XIX, realizavam bailes nas noites de carnaval, para os quais a
imprensa não poupava elogios: “eram deslumbrantes, esplendorosos e magníficos”. Dentre
os que mais se destacavam, estava o Clube Internacional do Recife, o Clube Dramático
Familiar, o Clube Carlos Gomes, a Sociedade Recreativa 10 de Março, a Sociedade Recreativa
Juventude e o Atheneu Musical Pernambucano. Todos primavam pela iluminação e
decoração dos salões, alguns montavam cenários artísticos de custos elevados, que muito
impressionavam e agradavam à sociedade da época. Como tema, as cenas retratavam
paisagens tropicais, jardins ou lagos. Outros preferiam fazer críticas aos costumes e aos
últimos acontecimentos do momento, como o Clube Dramático Familiar, que montou, em
1899, um cenário alusivo ao arraial de Canudos.
O espaço público correspondia às áreas abertas e ao ar livre do centro da cidade e dos
arrabaldes: Apipucos, Monteiro, Casa Forte, Graças, Torre, Madalena, Várzea e Afogados. A
grande festa popular carnavalesca acontecia, de fato, nas principais freguesias do Recife:
Bairro do Recife, Santo Antônio, São José e Boa Vista.
Nos anos 80, do século XIX, nas ruas dos bairros de Santo Antônio, São José e Boa Vista,
e até em arrabaldes distantes, nomeavam-se comissões encarregadas da animação dos
festejos carnavalescos. Tais comissões eram responsáveis pela iluminação nas ruas, limpeza
das fachadas dos prédios, decoração do trecho com arcos e bandeirolas, instalação do coreto
para a banda de música e convites para as entidades carnavalescas que deveriam apresentarse
nos três dias dedicados ao carnaval. Essas comissões foram as responsáveis pelas
primeiras tentativas de organização do carnaval de rua do Recife.
O
Diario de Pernambuco registra no dia 18 de fevereiro de 1897: “Os moradores da rua
do Rosário da Boa Vista, em congregação, deliberaram enfeitar a dita rua nos três dias do
carnaval, para o que nomearam presidente da comissão o Sr. Manoel José de Santana
Araújo”.
Na passagem do século XIX ao XX, correspondendo ao deslocamento do centro do
comércio e da expansão urbana, o eixo central das festas carnavalescas concentrava-se nas
freguesias de Santo Antônio e Boa Vista. Em contrapartida, áreas onde outrora brilhara o
carnaval iam perdendo o entusiasmo e o brilho.
O antigo bairro portuário do Recife era cada vez menos visitado pela massa dos foliões e
pelos clubes carnavalescos compostos pelo pessoal da elite. A freguesia de São José,
formada, principalmente, de casas e comércio populares, abrigava a maior parte das sedes
dos Clubes Carnavalescos Pedestres, mas suas ruas já não se caracterizavam como focos de
animação, nem atraíam os foliões das camadas sociais mais elevadas da cidade. As ruas Nova
e Imperatriz Tereza Cristina, expressão e reflexo da modernidade, tornavam-se vias centrais
dos folguedos carnavalescos do início do século XX.
CLUBE CARNAVALESCO PEDESTRE E
CLUBES DE ALEGORIAS E CRÍTICAS
Havia, no Pátio do Terço, localizado no bairro de São José, nas cercanias do porto,
grandes foliões. Lugar tradicional pelos seus palanques armados, iluminação para os desfiles
das agremiações, muita comida e bebida. Nesses dias, os foliões destinavam-se a assistir ao
carnaval.
Possivelmente, o primeiro Clube Carnavalesco Pedestre formado no carnaval do Recife,
ainda chamado de entrudo, foi o dos
Caiadores, com sede na Rua do Bom Jesus, no bairro do
Recife, fundado por um português de nome Antônio Valente. O clube pedestre saía na terçafeira
de carnaval, à tarde, para a Matriz de São José, tocando e dançando marchas. Seus
sócios levavam nas mãos baldes, latas de tinta, escadinhas e varas com pincéis para caiarem
(pintarem), simbolicamente, a fachada da igreja, encenando a ocupação profissional do
grupo.
Os recifenses saiam às ruas e ficavam parados, em frente à Matriz de Santo Antônio,
para ver a passagem dos clubes. A brincadeira de rua acabava mais ou menos três horas da
tarde, quando apareciam os Clubes Pedestres que, na realidade, eram apenas uma primeira
versão dos Clubes de Frevo.
Esses clubes visitavam as redações dos jornais, trajavam-se à moda portuguesa e
italiana, usavam cavalos em seus desfiles. Atrás, marchavam o cordão e uma orquestra de
pau e corda, tocando lindas canções italianas e fados portugueses. A primeira redação que
visitavam era a do velho
Diario de Pernambuco. Rumavam, depois, para a Rua do Imperador,
onde visitavam o
Jornal do Recife, A Província e o Jornal Pequeno. Depois, saíam em passeio
pelas ruas da cidade.
Entretanto, havia dois tipos distintos de clubes. Os Clubes de Alegoria e Críticas ou
Sociedades Carnavalescas, no qual, faziam parte a elite da sociedade local e os Clubes
Carnavalescos Pedestres, constituídos pelas classes populares.
Em sua edição de 24 de fevereiro de 1873, o
Diario de Pernambuco faz alusão ao Clube
dos Azucrins, mas essa sociedade carnavalesca começa a desfilar bem antes, em 1869, de
acordo com os registros no
Jornal do Recife, de 6 de fevereiro de 1875. Essas sociedades
carnavalescas eram organizadas pela burguesia de então, bem à moda européia.
Em 1896, o
Diario de Pernambuco registrava o desfile em frente ao seu escritório dos
clubes Maroins, Dezoito de Março, Cana Verde, Caiadores, das Donzelas, Viúvas da Época,
Salteadores da Calábria e Beatas do Recife, como também elogiavam muitas sedes e
associações carnavalescas e não carnavalescas pela bonita ornamentação, dentre estas o
Ateneu Musical Pernambucano, o Núcleo Dramático Pernambucano e a Sociedade Recreativa
Juventude.
O
Diario de Pernambuco registra no exemplar de 4 de março de 1897: “Dos clubes
carnavalescos que percorreram as ruas e desfilaram em frente ao nosso escritório, cabe
incontestavelmente o primeiro lugar aos Filomonos, a distintíssima associação que tanto tem
contribuído para dar todo o brilho possível ao carnaval, alimentando entre nós o gosto por
essa diversão que tão apreciada é em todo o Brasil. Os Filomonos não saíram no domingo,
como é de sua praxe, pelo mau tempo que fez e, isto, foi um motivo para que a sua aparição
fosse saudada na segunda-feira O préstito imponentíssimo dos Filomonos foi um
verdadeiro triunfo por todas as ruas em que desfilou Após os clarins, seguiam-se
diversos sócios do clube formando um lúdico esquadrão, e o carro alegórico, onde uma
criança, representando o deus Momo, empunhava o estandarte da associação, ladeando
duas outras crianças como símbolos: a Paz e a Guerra”. O Clube de Alegorias e Críticas
Filomonos era formado por funcionários da Alfândega e altos comerciantes do Bairro do
Recife, criado em 1893.
Registra, também, no dia 05 de março do mesmo ano: “O Clube 33 somente pôde sair
no último dia de carnaval. Composto de luzido préstito, com importantes críticas, sentimos
não poder dar uma idéia do que foi o 33, por ter modificado seu horário, não fazendo trajeto
em frente da nossa redação. O Clube Beatas do Recife, também, apresentou-se de maneira a
conquistar os aplausos públicos. Durante o seu trajeto, distribuiu grande número de
exemplares do seu órgão A Beata, que anuncia muito gravemente que as Beatas do Recife
iam tomar Canudos, o reduto de Antônio Conselheiro. Em frente ao nosso escritório, as
Beatas fizeram exercício com a sua metralhadora, que atirou flores como projétil, o que não
sucedeu naturalmente quando tiveram de atacar Canudos. O Clube Cana Verde, simples,
despretencioso, nem por isso deixou de colocar-se, pelo seu espírito, na primeira fila, entre
os folgares do carnaval. Dos demais clubes e grupos que desfilaram em frente ao nosso
escritório, citamos pelo brilho que trouxeram aos folgares do deus Momo, o Clube dos
Caiadores, que traziam um esplêndido carro à fantasia, o Clube Vassourinhas, o Clube dos
Pirilampos, o Clube dos Velhos Vasculhadores e o Clube Matias Lima, que vieram
pessoalmente em comissão trazer-nos os seus cumprimentos no nosso escritório”.
Com o passar dos anos, foram aparecendo outras Sociedades de Alegorias e Críticas
como: Filocríticos, Cavalheiros de Satanás, Filhos da Candinha, Quatro Diabos, Anjos
Rebeldes, Caraduras, Dragões de Momo e o Homem da Meia-Noite.
Depois da “Abolição”, em 1888, com o relaxamento dos padrões de autoridades da
época, surgiram, oficialmente no carnaval de rua do Recife, as agremiações carnavalescas.
Supõe-se que as festas dos Reis Magos serviram de inspiração para a animação do carnaval
recifense. O primeiro Clube Pedestre foi o dos
Caiadores; outros clubes surgiram: Xaxadores,
Canequinhas Japonesas, Marujos do Ocidente e, depois, os Toureiros de Santo Antônio.
Com a Abolição da Escravatura e a Proclamação da República, no ano seguinte,
apareceram várias sociedades populares, algumas delas, a exemplo das irmandades
religiosas, formadas por trabalhadores das diversas categorias profissionais, que vieram
contribuir com o surgimento de novos Clubes Carnavalescos Pedestres no carnaval do Recife.
Tais clubes, ao contrário das Sociedades de Alegorias e Críticas, eram formados por pessoas
da classe trabalhadora urbana, como: comerciários, funcionários públicos, alfaiates,
costureiras, talhadores, estivadores, funileiros, gazeteiros, verdureiros, tecelões, carvoeiros,
entre outras, tendo, geralmente, com um ou mais sócios beneméritos que se encarregavam
da maior parte das despesas com os desfiles carnavalescos.
O bairro de São José era conhecido como o Quartel General do Carnaval e tinha, em
suas ruas, as sedes do Vassourinhas, Vasculhadores, Espanadores, Abanadores, Pescadores,
Jardineiros e Oitenta e Nove. Na Rua Imperial, tinham sedes vizinhas os clubes Leque de
Penas e Pavão Dourado. Na Boa Vista, no Pátio de Santa Cruz, na Rua da Glória, as Pás e
Lenhadores. No bairro de Afogados, existiam os seguintes clubes: Amantes da Lua, Penacho
de Prata, Malunguinhos, Cabeças Brancas e Três Estrelas. De Tejipió, vinha desfilar Angolões,
Cartolinhas e Aviadores do Peres. Do bairro da Várzea, Roçadores e Oleiros; da Torre,
Carpinteiros em Folia; do bairro do Arruda, os Ferreiros; do Feitosa, os Empalhadores; de
Casa Amarela, os Marceneiros; do bairro de Santo Amaro, os Carvoeiros, Calafates, Quatro
Espadas e Bola de Ouro; do Pombal, os Destemidos e Vencedores.
Depois do ano de 1918, apareceram, na Rua Imperial, o Clube Pão da Tarde e, em Santo
Antônio, o Clube dos Linguarudos. Entre outros: Clube Borboleta, Clube da Caninha Verde,
Clube Dezoito de Março, Clube Machadinho.
O CORSO NO RECIFE
O corso, desfile de carros puxados a cavalo como: cabriolé, aranha, charrete, entre
outros, surge, na cidade do Recife, no final do século XIX. Era um desfile que percorria o
seguinte itinerário: Praça da Faculdade de Direito, saindo pela Rua do Hospício, seguindo
pela Rua da Imperatriz, Rua Nova, Rua do Imperador, Princesa Isabel e parando, finalmente,
na Praça da Faculdade. A brincadeira no corso era confete e serpentina, água com limão e
bisnagas com água perfumada. Também havia caminhões e carroças puxadas a cavalo e bem
ornamentadas. Rapazes e moças fantasiados tocavam e cantavam marchas da época, dando
alegre musicalidade ao evento. Fanfarras contratadas pelas famílias desfilavam em lindos
carros alegóricos.
Com o nome de mela-mela, o entrudo ressurge nas ruas do Recife, nos anos 60, do
século XX. O corso passou de batalhas de confetes a água, talco, graxa, farinha, goma,
colorau, batom, tintas com componentes químicos, óleos diversos e toda a sorte de coisa
que servissem para lambuzar o folião. Essa brincadeira foi encerrada em 1979, mas
sobrevive, até os dias de hoje, nos subúrbios e cidades do interior, sem a força da
agressividade, mas com o sabor da brincadeira do mela-mela de água e farinha.
AS BANDAS MARCIAIS E OS CAPOEIRAS
O
Diario de Pernambuco, em sua edição de 5 de maio de 1860, chama atenção da polícia
para os bandos de capoeiras que acompanhavam os desfiles das bandas de músicas. O
mesmo jornal, em 15 de dezembro de 1864, transcreve ofício, enviado pelo coronel
comandante das armas, no qual se lia: “Pelo reprovado costume adotado pelos escravos
nesta cidade, de acompanharem as músicas militares, dando a uma ou a outra vivas e
morras, apareceram desagradáveis conflitos e isto há muito. Ontem, o partidista de uma
dessas músicas, Melquíades, preto, escravo, deu, no meio dos gritos de um e outro lado, uma
facada no pardo, também escravo, Elias, dizendo-se ser o ofensor partidista de uma das
músicas e ofensor de outra”.
Procurando esconder-se das perseguições dos Chefes de Polícia, o capoeira foi
maneirando os seus passos: rabos de arraia, pernadas, cabeçadas, pisões, etc., criando assim
uma coreografia própria de modo a acompanhar a “onda”.
CARNAVAL DE RUA DO RECIFE – SÉCULO XX
Os clubes pedestres, no começo do século XX, depois de seu passeio, como era
denominado o desfile da agremiação carnavalesca, dirigiam-se para as suas sedes, onde a
festa continuava, muitas vezes, até o amanhecer do dia seguinte. Assim, os foliões se
divertiam, dançando ruidosas polcas, marchas,
schotisch e até maxixes, pois o carnaval de
rua terminava muito cedo: dez horas da noite estava tudo encerrado.
Os preparativos para as festas carnavalescas mobilizavam grande parte da população
urbana e punham em funcionamento todo um amplo setor da economia, sobretudo o
comércio e os profissionais prestadores dos mais diversos serviços. Nas casas comerciais
inúmeros artigos e brinquedos eram expostos à venda: máscaras de papelão, de massa, de
veludo e de seda, bigodes, narigões e línguas-de-sogra, cabeleiras, tecidos e fantasias de
todos os tipos e preços, confetes, bisnagas e serpentinas, lança-perfumes e até filhoses e
panquecas.
No começo do século XX, o confete destronava o papel picado e o lança-perfume
patrocinava, aos poucos, a ruína das bisnagas, que se apresentavam em quatro tamanhos nº
6, 8, 10 e 12. As serpentinas, multicoloridas, enroscavam-se em seus trajetos, cortando a
chuva de pós dourados que caíam sobre as borboletas de papel crespo que se prendiam às
blusas e às lapelas.
A partir de 1901, tornaram-se freqüentes os anúncios, nos jornais do Recife, de aluguel
de janelas, varandas, salas ou de todo um andar para os três dias de folia. Os imóveis
situavam-se em locais privilegiados como as ruas Nova e Imperatriz.
Em 1904, surgiram as revistas de moda que traziam modelos de fantasias próprios para
o carnaval. Em 1905, publicava-se a venda de cavalos para o carnaval, anúncios dirigidos às
camadas mais abastadas da cidade que costumavam fazer suas aparições montadas em
cavalos.
No carnaval de 1906, surgiram as setas do amor; em 1908, foi a vez do telégrafo sem
fio. Em 1910, as famílias já podiam alugar automóveis para realizar seus passeios
carnavalescos. A grande sensação da folia carnavalesca, em 1912, no comércio, foram as
novidades elétricas, eram broches, monóculos, narizes, orelhas e dedos movidos a pilhas
secas, de fantástico efeito.
NASCEDOURO DO FREVO
A rivalidade entre os clubes formados pelas corporações profissionais era comum na
época das bandas militares. Levavam à frente dos seus desfiles grupos de capoeiras, que
faziam a guarda do seu pavilhão. Esses clubes passaram a ser denominados Clubes de Frevo,
tempos depois, isto é, quando denominaram os movimentos realizados pelos capoeiras,
quando da confrontação dos clubes rivais. Os movimentos dos capoeiras eram acelerados
quando do enfrentamento; e a música, por sua vez, também acelerada para acompanhar tais
acrobacias, surgindo dessa maneira o frevo e o passo.
Os noticiários dos jornais da época, a visão e o tratamento dispensados pelos membros
das elites e pelas autoridades públicas às manifestações populares de rua, que tinham curso
no Carnaval, começaram claramente a mudar a partir ano de 1904.
Já se notava, em algumas folhas, um tom mais conciliador ao se referir aos dois
Carnavais: o da elite e o popular. O Jornal Pequeno assumiu inovadora postura ao procurar
divulgar e incentivar os folguedos populares na cidade. Mas não sem antes lhes propor
algumas modificações, de modo a melhor ajustá-los ao modelo de civilização que se desejava
para o Recife. A palavra frevo, por exemplo, oriunda do vocabulário popular, foi
primeiramente publicada na coluna diária que o jornal dedicava aos festejos, difundindo-a e
consolidando-a como expressão de forte significado social e cultural.
Em suas páginas também, no ano de 1910, foram retratadas as primeiras figuras
representativas das camadas populares e de cor. Negros e índios passaram a dividir o espaço
destinado ao registro iconográfico da festa carnavalesca com personagens do Carnaval
europeu: pierrôs, arlequins, dominós, pastoras e bobos da corte.
Os indivíduos da elite e da classe média buscaram isolar-se e manter-se afastados
daquela turba de miseráveis carnavalescos, refugiando-se nos bailes ou desfilando em carros
ornamentados, entre familiares e amigos. Por volta de 1909, um grupo ligado aos clubes de
alegoria e crítica tentou, inutilmente, construir um Carnaval de rua só para si, mas numa
outra data, durante a Mi-Carême. Pouco depois, porém, os clubes pedestres passaram a
fazer uso da festa, e com muito mais êxito.
A polícia, instância do poder público mais presente no cotidiano das camadas populares,
adotou uma nova orientação: passou de violenta, arbitrária e repressora à guardiã dos
préstitos das agremiações carnavalescas, ao menos daquelas que se dispunham a colaborar.
Os representantes do poder público tencionavam, assim, aproximar-se do povo, do cidadão
comum, especialmente da classe trabalhadora, e conquistar-lhe a confiança.
As agremiações carnavalescas populares despontaram como um dos canais mais
eficazes para objetivar tal intento. Em parte, por contarem com uma estrutura organizacional
pronta, baseada em princípios hierárquicos e consolidada pela tradição. Foram diferenciados,
também, por estarem culturalmente mais próximos dos referenciais europeus: lembremos os
cortejos processionais, os estandartes, os uniformes dos cordões e das orquestras e a própria
música de influência européia, na qual os instrumentos metálicos prevaleciam e davam o
tom da festa
CLUBES DE FREVO
Decorrentes dos Clubes Pedestres, o Clube de Frevo ou Clube Carnavalesco tem sua
estrutura organizacional assemelhada às Procissões Quaresmais, de Cinzas e Fogaréus,
comuns no Recife do século XVIII, trazendo o estandarte (bandeira) próprio das corporações
medievais, com seus integrantes vestindo seda, calças de flanela e cordões com o distintivo
da profissão. As corporações profissionais deram origem aos Clubes Pedestres Carnavalescos,
que no século XX, transforma-se nos Clubes de Frevo.
Nos primeiros anos do século XX, um detalhe veio preocupar as autoridades policiais e
os responsáveis pelas comissões organizadoras dos carnavais de rua: a rivalidade entre os
Clubes de Frevo se transformara em violência. Por muitas décadas, foi essa a preocupação
dos que tentavam organizar o carnaval do Recife.
Na sua formação, o clube carnavalesco tem o seu cortejo aberto pelos clarins, seguindose
da diretoria, ala dos diabos, ala dos morcegos, os porta-estandartes vestidos à Luiz XV,
que se revezam empunhando o símbolo maior da agremiação, presidente e dama de honra,
damas de frente, fantasias de destaque do enredo, ala de passistas, dois cordões que
evoluem “fazendo passo” em torno do conjunto, diretor de orquestra e orquestra.
O frevo música não existia quando das primeiras formações dos Clubes de Frevo,
denominados de Clubes Pedestres e, dessa forma, a música com a qual desfilavam era a
marcha que tinha em seus primórdios, um andamento mais parecido com o dobrado,
ganhando elementos inovadores da polca e da marcha militar, sendo denominada de marcha
pernambucana e, com o passar dos anos, transformando-se no frevo pernambucano.
Por volta de 1930, o carnaval de rua ainda era livre, sem interferências, sem palanques,
espontâneo, e era o próprio clube que organizava seu percurso, este sempre terminava na
Pracinha do Diario. Havia trechos de ruas em que era literalmente impossível se caminhar,
sendo quase suspenso pelo povo que, alucinado e incansável, fazia o passo ao som do frevo.
FREVO RITMO MUSICAL
FREVO-DE-RUA
É mais comumente identificado como simplesmente frevo, cujas características não se
assemelham com nenhuma outra música brasileira, nem de outro país. O frevo-de-rua se
diferencia dos outros tipos de frevo pela ausência completa de letra, pois é feito unicamente
para ser dançado. Conta a tradição popular que a aceleração do frevo decorreu do
acompanhamento dado aos passos dos capoeiras, quando estavam em luta com agremiações
adversárias e, assim, surgia a confusão, e sendo os passos do frevo atribuídos a esses
mesmos capoeiras, a versão tem fundamento.
Na música é possível distinguir-se três classes: o frevo-abafo ou de encontro, no qual
predominam os instrumentos metálicos, principalmente pistões e trombones; o frevocoqueiro,
com notas agudas distanciando-se no pentagrama e o frevo-ventania, constituído
pela introdução de semicolcheias. O frevo acaba, temporariamente, em um acorde longo e
perfeito. Frevos-de-rua famosos: Vassourinhas, de Matias da Rocha; Último dia, de Levino
Ferreira; Trinca do 21, de Mexicano; Menino Bom, de Eucário Barbosa; Corisco, de Lourival
Oliveira; Porta-bandeira, de Guedes Peixoto, entre outros.
FREVO-CANÇÃO
No final do século XIX, surgiram melodias, tais como A Marcha nº 1 do Vassourinhas,
atualmente convertido no hino do carnaval recifense, presente tanto nos bailes sociais como
nas ruas, capaz de animar qualquer reunião e enlouquecer o passista. O frevo-canção ou
marcha-canção tem vários aspectos semelhantes à marchinha carioca, um deles é que ambas
possuem uma parte introdutória e outra cantada, começando ou acabando com estribilhos.
Frevos-canção famosos: Borboleta não é ave, de Nelson Ferreira; Na mulher não se bate nem
com uma flor, de Capiba; Hino da Pitombeira, de Alex Caldas; Hino do Elefante, de Clídio
Nigro; Vestibular, de Gildo Moreno, entre outros.
FREVO-DE-BLOCO
Origina-se nas serenatas preparadas por agrupamentos de rapazes animados, que
participavam simultaneamente, dos carnavais de rua da época, possivelmente, no início do
século XX. É a manifestação da sonoridade do Bloco Carnavalesco, criado pela classe média
da década de 1930. Sua orquestra é composta de pau e corda: violões, banjos, cavaquinhos,
etc. Nas últimas três décadas do século XX, observou-se a introdução de clarinete, seguida da
parte do coral, integrada por mulheres. Frevos-de-bloco famosos: Valores do Passado, de
Edgar Moraes; Marcha da Folia, de Raul Moraes; Relembrando o Passado, de João Santiago;
Saudade, dos Irmãos Valença; Evocação nº 1, de Nelson Ferreira, entre outros.
FREVO-ELETRIZADO
Já se pode considerar uma quarta variação do frevo: o frevo-eletrizado, que atende ao
apelo da nova geração e das novas tecnologias. Esse formato traz como característica
principal o uso da sonorização elétrica, com grande poder de alcance. Origina-se na Bahia,
tendo como padrinho o frevo pernambucano, pois, de passagem pela cidade de Salvador, no
carnaval de 1950, o Clube de Frevo Vassourinhas apresentou-se pelas ruas do centro e, na
necessidade de sonorização foi improvisada em cima de um carro, chamado ford bigode, de
propriedade do mecânico Dodô e com a parceria de Osmar, que era radiotécnico, ambos
músicos nas horas vagas, que acompanharam o cortejo pernambucano. No carnaval do ano
seguinte, aderiu ao grupo um terceiro elemento, surgindo, assim, o trio elétrico. Qualquer
música pode se tornar eletrizada, desde que seja executada por um trio elétrico, que
mantém a denominação, mas que é constituído, na atualidade, por mais de vinte pessoas
que se distribuem entre a parte técnica e a parte cênica, com cantores, músicos e bailarinos.
O trio elétrico é acompanhado por blocos, constituídos, em sua maioria, por jovens da classe
média, que encontram-se sempre à procura da efervescência na adolescência e na renovação
de hábitos e costumes.
FREVO DANÇA
A origem do passista é o capoeira. Os golpes da luta viraram passos de dança,
embalados inicialmente, pelas marchas e evoluindo, nas últimas duas décadas do século XIX
aos primeiros anos do século XX, junto com a música do frevo. O capoeira, pulando na frente
das bandas de música do velho Recife, virando cacetes e cuspindo palavrão, engatinhava o
“passo”.
No tempo dos vice-reis, no Rio de Janeiro, eram temidos e, depois da Independência do
Brasil, uma portaria mandava aplicar duros castigos no lombo dos capoeiras. Tão valentes
eram que foram recrutados para servir ao Brasil na Guerra do Paraguai.
Vários elementos, complementares e básicos, compõem todo tipo de dança, em especial
no frevo, os instrumentos musicais serviam como armas quando se chocavam as
agremiações rivais.
A sombrinha é outro elemento complementar da dança, o passista a conduz como
símbolo do frevo e como auxílio em suas acrobacias. A sombrinha em sua origem não
passava de um guarda-chuva conduzido pelos capoeiristas pela necessidade de ter na mão
uma arma para ataque e defesa, já que a prática da capoeira estava proibida. Esse
argumento baseia-se no fato de que os primeiros frevistas não conduziam guarda-chuvas em
bom estado, valendo-se apenas da solidez da armação. Com o decorrer do tempo, esses
guarda-chuvas, grandes, negros, velhos e rasgados se vêem transformados, acompanhando a
evolução da dança, para converter-se, atualmente, em uma sombrinha pequena de 50 ou 60
centímetros de diâmetro.
O vestuário também é elemento imprescindível em danças folclóricas, mas o que se
precisa para dançar o frevo não exige roupas muito elaboradas. Geralmente a vestimenta é
de uso cotidiano, sendo a camisa mais curta que o comum e justa ou amarrada à altura da
cintura, a calça também de algodão fino colada ao corpo, variando seu tamanho entre abaixo
do joelho e acima do tornozelo, toda a roupa com predominância de cores fortes e
estampadas.
A vestimenta feminina se diferencia pelo uso de um short sumário, com adornos que
dele pendem ou mini-saias, que dão maior destaque no momento de dançar. A indumentária
do passista tem que ser, principalmente, confortável e arejada, possibilitando os movimentos
dos passos do frevo e suas evoluções.
OS PASSOS DO FREVO
O frevo, como dança, surge das acrobacias e da habilidade dos capoeiristas em camuflar
seus golpes em passos, para intimidar os grupos inimigos, embalados, inicialmente, pelas
marchas e evoluindo junto com o frevo. A dança do frevista é geralmente caracterizada pela
sua individualidade na exibição dos passos. Os passos nasceram da espontaneidade
individual dos dançarinos. Com o correr dos anos dessa improvisação se adotaram certos
tipos de passos. Existe atualmente um número incontável de passos ou evoluções com suas
respectivas variantes. Os passos básicos elementares podem ser considerados os seguintes:
dobradiça, tesoura, locomotiva, ferrolho, parafuso, pontilhado, ponta de pé e calcanhar, sacipererê,
abanando, caindo-nas-molas e pernada, este último claramente identificável na
capoeira. A seguir descrições dos cinco primeiros passos citados:
DOBRADIÇA
Flexionam-se as pernas, com os joelhos para frente e o apoio do corpo nas pontas dos
pés. Corpo curvado para frente realizando as mudanças dos movimentos: o corpo, apoiado
nos calcanhares, que devem estar bem aproximados um do outro, pernas distendidas, o
corpo jogado para frente e para trás, com a sombrinha na mão direita, subindo e descendo
para ajudar no equilíbrio. Não há deslocamentos laterais. Os pés pisam no mesmo local com
os calcanhares e pontas.
TESOURA
A - Passo cruzado com pequenos deslocamentos à direita e à esquerda. Pequeno pulo,
pernas semiflexionadas, sombrinha na mão direita, braços flexionados para os lados.
B - O dançarino cruza a perna direita por trás da esquerda em meia ponta, perna direita
à frente, ambas semiflexionadas. Um pulo desfaz a flexão das pernas e, em seguida, a perna
direita vai apoiada pelo calcanhar, enquanto à esquerda, semiflexionada, tem apoio em meia
ponta do pé, deslocando o corpo para a esquerda. Refaz-se todo o movimento, indo a perna
esquer da por trás da direita para desfazer o cruzamento. Nesse movimento, o deslocamento
para a direita é feito com o corpo um pouco inclinado.
LOCOMOTIVA
Inicia-se com o corpo agachado e os braços abertos para frente, em quase circunferência
e a sombrinha na mão direita. Dão-se pequenos pulos para encolher e estirar cada uma das
pernas, alternadamente.
FERROLHO
Como a sapatear no gelo, as pernas movimentando-se primeiro em diagonal (um passo)
seguido de flexão das duas pernas em meia ponta, com o joelho direito virado para a
esquerda e vice-versa. Repetem-se os movimentos, vira-se o corpo em sentido contrário ao
pé de apoio, acentuando o tempo e a marcha da música. Alternam-se os pés,
movimentando-se para frente e para trás, em meia ponta e calcanhar; o passista descreve
uma circunferência.
PARAFUSO
Total flexão das pernas. O corpo fica, inicialmente, apoiado em um só pé virado, ou seja,
a parte de cima do pé fica no chão, enquanto o outro pé vira-se, permitindo o apoio de lado
(o passista arria o corpo devagar).
CAINDO NAS MOLAS
O passista flexiona as pernas, baixando e erguendo o corpo alternadamente, com apoio
nos calcanhares e nas pontas dos pés.
CARROSSEL
O passista inicia sua dança com o corpo agachado. Em seguida, com os braços abertos e
nas pontas dos pés gira o corpo, dando pequenos pulos.
FORMALIZAÇÃO DO CARNAVAL DE RUA
Na década de 30, os conflitos entre os clubes carnavalescos em seus desfiles tornaramse
uma preocupação não só das autoridades governamentais como de grupos da sociedade.
Para conter os ânimos, foi promovido o I Congresso Carnavalesco Pernambucano. O encontro
reuniu carnavalescos, visando acabar com a violência, dar prêmios às melhores agremiações,
e o presidente pedia aos participantes que levassem apontamentos sobre as agremiações,
como histórico, desenvolvimento e desempenho. Apesar da tentativa de apaziguamento dos
ânimos, o carnaval do Recife continuou a escrever histórias de conflitos e a insegurança era
tanta que havia agremiações que, para sair às ruas, solicitavam, antes, uma escolta da
cavalaria.
Para organizar o carnaval de rua do Recife, inicialmente, foi fundada a Liga Carnavalesca
do Recife, em 1934, onde foram traçadas as bases de criação da Federação Carnavalesca
Pernambucana. Assim, na noite de 03 de janeiro de 1935, era criada a Federação
Carnavalesca Pernambucana, que ficaria regida pelo seguinte estatuto:
I - Procurar a harmonia entre os clubes filiados;
II - Distribuir auxílios eqüitativos, a cada ano, aos clubes que tomarem parte do carnaval;
III - Dar prêmios aos clubes carnavalescos que de modo mais condigno se apresentarem;
IV - Desenvolver o turismo;
V - Moldar o carnaval no sentido do tradicionalismo histórico e educacional, fazendo
reviver costumes nossos, tipos da nossa história, fatos que nos educam;
VI - Colaborar com os poderes públicos para a regulamentação e boa distribuição do
tráfego, a fim de que não haja prejuízos do frevo, que merece apoio, para a sua conservação
típica;
VII - Organizar comissões para propaganda do carnaval de Pernambuco nas cidades do
interior e nos Estados vizinhos, bem como por intermédio do rádio e da cinematografia.
Devidamente aprovado pela Assembléia Legislativa, o Projeto nº 70/1936 foi
transformado na Lei Estadual nº 212, sancionada pelo Governador Carlos de Lima Cavalcanti,
em 03 de dezembro de 1936, que considerou de utilidade pública a Federação Carnavalesca
Pernambucana, concedendo-lhe a subvenção anual de cinqüenta contos de réis para
distribuição entre seus filiados e realização do carnaval. Até 1950, foi a Federação
Carnavalesca Pernambucana responsável pela organização do carnaval do Recife.
Efetivamente, a década de 30, do século XX, marca a tentativa do Estado em penetrar na
estrutura das festas carnavalescas, dando-lhe um caráter nacional. Em 1939, o
Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), órgão oficial que filtrava as manifestações
culturais em todos os níveis, ordenava que a totalidade dos sambas-enredos das escolas de
samba apresentasse temas relativos à História do Brasil. A intenção clara era controlar as
músicas e demais mensagens.
O progresso dos jornais, do rádio, das medidas niveladoras propostas no governo de
Getúlio Vargas, no Estado Novo (1937-1945), deixava indicado para o carnaval o mesmo
andamento da padronização ocorrida no futebol. A História desmentiu o que se pretendia.
Nem o samba, que aliás é um gênero bastante novo na música brasileira, tornou-se sinônimo
de carnaval, nem as escolas de samba representaram a maneira carnavalesca dominante no
País.
BLOCOS CARNAVALESCOS MISTOS
Das manifestações que compõem o grande mosaico folclórico do carnaval do Recife,
nenhum supera o lirismo dos blocos. Ao contrário dos clubes carnavalescos, que tiveram suas
origens nas corporações profissionais, o bloco carnavalesco surgiu das reuniões familiares
dos bairros de São José, Santo Antônio e Boa Vista, entre outros, como uma extensão dos
presépios e ranchos de reis, nos idos da década de 20, na cidade do Recife. O primeiro bloco
fundado foi o Flores Brancas, em 1921, que aos dois anos de vida mudou o nome para Bloco
das Flores, sua sede ficava na Praça Sérgio Loreto, na casa do seu fundador Salgado Filho, e
tinha como diretor de sua orquestra, Raul Moraes.
O bloco veio proporcionar condições ao elemento feminino de participar do carnaval de
rua do Recife, longe de se misturar com a massa acostumada a acompanhar os clubes de
frevo. Era formado, geralmente, por moças e senhoras da chamada classe média, que, não
podendo participar do carnaval de salão do Clube Recreativo Internacional e do Jóquei Clube,
então um privilégio da elite, saíam às ruas protegidas por uma corda, sob severa vigilância de
pais, maridos, filhos, genros, noivos, amigos e familiares.
Já acostumadas às jornadas dos pastoris, dos presépios e das procissões de queima de
lapinhas, a ala feminina formava também o coral do bloco carnavalesco, enquanto os
homens encarregavam-se da orquestra, bem típica dos saraus e serenatas daquela época,
formada por violão, violino, cavaquinho, banjo, bandolim, flauta, clarinete, contrabaixo, gaita
de boca, pandeiro e percussão. Um apito, seguido de um acorde unissonoro de toda a
orquestra, anunciava o início da execução da marcha de bloco, com sua introdução
instrumental, de andamento frevolento, que se seguia da parte cantada pelo coro de vozes,
num andamento bem semelhante ao nosso pastoril. A cantoria e a evolução coreográfica são
responsabilidades da ala das mulheres. Os blocos também apresentam fantasias masculinas,
conforme o enredo a ser desenvolvido a cada ano.
As letras, também, saudosas, são elogios à beleza da cidade, dos carnavais do passado,
de Pierrot e Colombina, de pessoas que fizeram o carnaval, do amor, enfim a evocação do
apaixonado ou do saudosismo. Um dos frevo-de-bloco mais conhecidos é Marcha Regresso,
escrita por Raul Moraes. Como também Valores do Passado, de Edgar Moraes, irmão de Raul
Moraes; Saudade, dos Irmãos Valença, Evocação nº 1, de Nelson Ferreira, entre muitas
outras.
O conjunto é aberto por um cartaz (flabelo), cuja alegoria traz o nome e o símbolo do
bloco, sendo seguido da diretoria, das damas de frente, das fantasias de destaque, do cordão
de homens e mulheres que fazem evolução, procurando abrir a multidão, do coral de vozes e
da orquestra.
B.C.M. significa Bloco Carnavalesco Misto. Os blocos constituem uma das tradições do
carnaval do Recife, mas, para muitos visitantes, principalmente se for carioca, não vai
compreender o significado do bloco, pois para eles, bloco é um conjunto de foliões que sai
com uma batucada. São grupos improvisados, mascarados, sem sede, nem enredo. Na Bahia,
os blocos ligam-se à tradição dos antigos cordões. No Recife, os blocos são mais parecidos
com os ranchos do Rio de Janeiro da atualidade.
Os blocos seguem a mesma programação dos clubes de frevo, saindo à noite. Por causa
da popularidade do frevo-canção ou marcha-de-bloco, no carnaval do Recife, os blocos
freqüentemente vêm cantando um dos grandes sucessos de outros carnavais, para que o
público forme, com eles, um gigantesco coral. Geralmente o bloco traz um enredo no seu
conjunto de fantasias, mas ao contrário das escolas de samba, as composições entoadas pelo
conjunto nada tem haver com a história. No resgate do lirismo dos antigos blocos,
encontram-se os blocos: da Saudade, Pierrot de São José, das Ilusões e Aurora de Amor.
CARNAVAL REGULAMENTADO
Em 1955, é sancionada a Lei nº 3.346, de 07 de junho de 1955, oficializando o carnaval
do Recife, que passou a ser organizado pelo Departamento de Documentação e Cultura. A
nova Lei tinha por objetivo a promoção do carnaval dentro de seus moldes tradicionais,
“preservando sobretudo: os clubes de frevo; os maracatus, em sua forma primitiva, e os
clubes de caboclinhos”.
A Lei Municipal nº 3.346 veio a ser regulamentada pelo Decreto nº 1.332, em 23 de
janeiro de 1956, que, especificamente, cuidou de valorizar o carnaval tradicional do Recife,
sobretudo o frevo como sua expressão máxima. O carnaval do Recife passou a ser organizado
pelo Departamento de Documentação e Cultura, entre 1944 e 1960.
Nos anos 60 as tendências locais transformaram, definitivamente, a ação
uniformizadora. Nem o Estado, nem a indústria cultural conseguiu controle sobre a força das
opções regionais face a essas celebrações.
Os estados brasileiros que têm tradição carnavalesca e que tal manifestação popular faz
parte do calendário estadual como grande festa do povo, sendo, ainda, conhecida
internacionalmente e gera importante resultado na área econômica, principalmente, no que
diz respeito ao turismo das cidades como: Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco.
A legislação que regula a organização do carnaval do Recife sofre outras modificações
pela Lei nº 10.537, de 14 de setembro de 1972, que transfere as atribuições da Comissão
Organizadora do carnaval para outro colegiado, a Comissão Promotora do Carnaval,
vinculada à Empresa Metropolitana de Turismo (Emetur). Caindo nos mesmos erros do
passado, e na sua organização, tentando imitar o carnaval carioca, os planos destinados ao
carnaval desse período não tiveram sucesso.
Com a criação da Fundação de Cultura Cidade do Recife, pela Lei nº 13.535, em 26 de
abril de 1979, foi extinta a Empresa Metropolitana de Turismo, e suas atribuições, inclusive a
organização do carnaval, passaram a ser exercidas pela nova instituição.
Em 1980, a Fundação de Cultura Cidade do Recife tenta restaurar a tradição do
carnaval-participação, eliminando a passarela e espalhando a comissão julgadora das
apresentações das agremiações em cinco diferentes pontos dos bairros da Boa Vista, Santo
Antônio e São José. Dentre as novidades, a nova entidade anunciava desfiles de agremiações
na semana pré-carnavalesca, o Baile Popular do Pátio de São Pedro, o desfile do Clube das
Máscaras Galo da Madrugada. Entre outras coisas, a criação da orquestra volante de ritmos
carnavalescos, a Frevioca, que veio a se tornar o mais importante instrumento de animação
do carnaval do Recife. O Concurso Oficial de Músicas Carnavalescas, previsto nas legislações
anteriores, recebeu a marca “Frevança: Encontro Nacional do Frevo”.
No âmbito do carnaval de rua, o período de 1980 a 1983, predominou o carnavalparticipação.
Em 1984, o desfile das agremiações volta a acontecer na a Avenida Dantas
Barreto.
CARNAVAL DO FINAL DO SÉCULO XX
Em 1986, foi implantado, no carnaval de rua, o bloqueio nas pontes para a realização de
bailes populares, como também pólos carnavalescos nos bairros e ampliação da semana précarnavalesca.
No período de 1993 a 1996, dinamiza-se a cultura popular e seus folguedos,
principalmente o carnaval. Em 1994, a Secretaria de Turismo da Cidade do Recife, amplia o
carnaval de Boa Viagem e cria o carnaval do Bairro do Recife, introduzindo shows e
corredores para desfiles das agremiações carnavalescas no centro da cidade.
Em 03 de março de 1995, é instituído em caráter permanente, através do Decreto nº
16.913/95, a Comissão Central do Carnaval, que passou a organizar o carnaval de rua do
Recife.
A partir de 2001, já no terceiro milênio, a Prefeitura da Cidade do Recife, estende o
carnaval a pólos criados nos bairros de Casa Amarela, Várzea e Ibura. Criando, também, o
30
Pólo Afro, no Pátio do Terço, no Bairro de São José, garantindo, juntamente com os outros
pólos carnavalescos já implantados, o efetivo sucesso do carnaval da Cidade do Recife.
O carnaval mais do que nunca passa a ser um carnaval de participação popular.
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escritora e pesquisadora. Pernambucana, nascida no Recife em 26 de outubro de 1957, tem como hobby a
fotografia e a modelagem em argila. Recebeu em 1997, da Prefeitura da Cidade do Recife, o título de "História
Viva do Recife", pela contribuição literária ao resgatar aspectos do folclore pernambucano. Em 2006, Claudia
Lima completa 10 anos da sua primeira publicação com a revista “História do Carnaval”, e o livro paradidático
“Um sonho de folião”. As revistas do carnaval se seguiram até o ano de 2001. Em 1997, publicou também as
revistas “História Junina” e “História do Folclore”. Em 1999, lançou o livro “Tachos e Panelas: historiografia da
alimentação brasileira”, comparado as grandes obras de estudos alimentares e da comensalidade de Gilberto
Freyre e Luís da Câmara Cascudo. No ano de 2001, congregou as pesquisas sobre o carnaval no livro “Evoé:
história do carnaval - da mitologia ao trio elétrico”. No ano do décimo aniversário de sua primeira publicação,
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