AO NORTE DA ÁFRICA O EGITO
O Egito localiza-se no nordeste da África, entre o deserto da Líbia e o Mar Vermelho, é uma das
mais antigas civilizações da humanidade. As inundações anuais do Nilo tornaram a região fértil.
Politicamente unificada cerca de três milênios a.C. Foi governado por trinta e uma dinastias de Faraós. Suas
capitais foram: Tebas, Mênfis e Saís. De lá saíram entre 1300 e 1250 a.C. os hebreus, que passaram pela
península do Sinai, e foram estabelecer as suas tribos na “Terra Prometida” ou Palestina, no Oriente Médio,
margeando o Mar Mediterrâneo, onde conquistaram Jericó.
A Europa colonialista, que fundamentava a justificativa a ética da escravidão na inferioridade
congênita dos africanos, não poderia deixar transparecer essas verdades. Criou-se então, toda uma
disciplina científica, a egiptologia, voltada à tarefa de destituir o Egito do crédito pelas suas realizações.
Lançou-se mão de vários recursos para faze-lo, inclusive o de simplesmente retratar o Egito como um país
“branco”. Na idéia popular, até hoje prevalece essa imagem, vivida por Claudette Colbert e Elizabeth Taylor,
no cinema americano. Lançou-se também a teoria de que as populações negras do Egito eram conquistadas
e até escravizadas por povos arianos, semitas ou asiáticos, que lhes teriam ensinado a civilização. Chegou-se
a inventar uma suposta “raça vermelha escura”, um gênero humano diferente que teria surgido no Egito,
para não admitir que lá viviam negros africanos.
Na Bíblia, o Egito aparece como o povo de Ham, negro e irmão de Cush, o etíope. Talvez mais
importante seja a própria autodefinição dos egípcios que na sua língua se denominavam Kmt ou Kemet, o
que quer dizer “cidade negra” ou “comunidade negra”.
Em 1977, surgiu a evidência arqueológica que confirmou de uma vez por todas a falsidade das
teorias européias negadoras da origem africana da civilização egípcia. Nas escavações que se realizaram em
1962, para preservar os dados arqueológicos do local em que se construiria a represa Aswan, o Dr. Keith
Seele, resolveu levar à frente o levantamento de um sítio arqueológico chamado Qustul, na antiga Núbia, ao
sul do Egito.
O material ali colhido só foi organizado e analisado quinze anos depois, revelando na Núbia a
existência de um reino chamado Ta-Seti. Antecedendo por treze gerações a unificação do Egito, em 3200
a.C., essa cultura já trazia em sua cerâmica as imagens de Osíris, Ísis e Horus. O povo desse reino chamavase
Anu-Seti, o que significa “povo negro do reino Seti.” O vocábulo
anu adquire uma importância central no
processo das civilizações africanas no mundo antigo. Com efeito, não é coincidência o
anu ser um pássaro
preto.
É importante assinalar que a anterioridade da civilização africana não era ignorada pelos povos
africanos e nem pelos ocidentais antes, do pesquisador Cheik Anta Diop
Estudiosos europeus a
Cheik Anta DIOP cientista senegalês, químico, físico, antropólogo, arqueólogo e historiador, fundador e
primeiro diretor do Laboratório de Radiocarbono do Instituto Fundamental da África Negra, da
Universidade de Dakar, Senegal.
assinalavam desde os séculos XVIII e XIX, como também, estudiosos afro-americanos, nos Estados Unidos
desenvolviam desde o século XVIII, estudos sobre o tema.
Citando Heródotos e outros escritores gregos, e ainda o historiador Basil Davidson, que figura entre
as mais respeitadas autoridades sobre a África no mundo, relata que os gregos antigos davam precedência
de dignidade e valor não aos egípcios, apesar da manifesta superioridade da civilização egípcia, mas a todos
aqueles povos que viviam, perdidos no mistério, na “África além do Egito”. Esses africanos eram chamados
de etíopes e o Egito era referido como à terra dos “irrepreensíveis etíopes” que os deuses de Homero se
retiravam anualmente para a festa dos doze dias.
Ki-Zerbo
personalidade africana com enorme prestígio nos meios intelectuais internacionais,
desenvolve em seu trabalho o maior desmentido à lenda da África sendo um continente sem história.
Cheik Anta Diop, abalou seriamente os círculos científicos europeus quando publicou suas teses em
1955, 1959, 1967. Desafiando os preconceitos e interpretações básicas do academicismo europeu. Ele relata
que é exato que se possa “limpar” a pele das múmias, mesmo as mais antigas e encontrar a pigmentação da
pele, se esta existe realmente. Foi o que ele fez, na verdade, com todas as amostras de que pode dispor. E,
todas revelaram, sem exceção, uma pele negra da espécie de todos os negros que nós conhecemos
atualmente. Mas, observou alguns pesquisadores, que esta cor negra das múmias, provém da “matéria
preciosa divina”, espécie de betume que se utilizava para embalsamar os mortos. Cheik Anta Diop, responde
que a utilização dos raios ultravioletas, permite determinar o teor da melanina de uma pigmentação. Lembra
também que o modelo de Lepsius, dá as proporções do corpo do egípcio perfeito, como negros.
Vários autores vêm comprovando e ampliando as teses que Diop desenvolveu, e pesquisas mais
recentes vêm reforçando-as com novos dados novos.
Ki-Zerbo, apresenta ainda que os egípcios chamavam-se a si próprios khems (negros) e
denominavam os Núbios nehésis (os do sul). Alguns faraós não eram negros e manifestavam desprezo, seja
porque, fossem mais poderosos do que esses povos núbios ou se os consideravam selvagens. Eram
numerosos os mercenários núbios no exército e na polícia egípcia. Os núbios foram, em determinado tempo,
senhores do vale, desde os grandes lagos africanos até o mar.
No século XVIII, decifrada a famosa pedra “Rosetta”, com inscrições com hieróglifos egípcios e
outras línguas antigas conhecidas, foi à chave do conhecimento dos antigos textos egípcios, que comprovou
praticamente todo o conhecimento científico, religioso e filosófico da Grécia Antiga tendo sua origem no
Egito, ou seja, na própria África. De fato, a cultura e a ciência egípcias foram as primeiras pedras
fundamentais de toda a civilização ocidental. A astronomia egípcia era tão avançada que desde 4.240 anos
a.C. foi responsável pelo desenvolvimento de um calendário mais exato que o nosso. Na arquitetura,
engenharia e matemática, as pirâmides comprovam a alta tecnologia africana de 3000 anos atrás. Os
papiros de Ahmes e de Moscou mostram o desenvolvimento da matemática abstrata, desde treze séculos
antes de Euclides.
Joseph KI-ZERBO: historiador e pesquisador africano, natural do Alto Volta, diplomado em Paris pelo
Institut d’Études Politiques em 1954 e na Sorbone adquiriu o grau de
agrégé em História. Membro do
conselho de administração do UNTAR (Instituto das Nações Unidas para a Investigação e a Formação da
ONU) e Membro do conselho de administração do Instituto Internacional para a Planificação da Educação
da UNESCO.
O verdadeiro fundador da medicina foi Atótis, filho de Menes, primeiro faraó do Egito unificado, que
a praticava por volta de 3200 a.C., ou então o sábio Imhotep que, por volta de 2980 a.C., realizava famosas
pesquisas médicas. Os sistemas teológicos e filosóficos gregos também se originaram no Egito, onde vários
escritores gregos como Sócrates, Platão, Tales, Anaxágoras e Aristóteles, estudaram com sábios africanos.
O saque da biblioteca de Alexandria foi um episódio central no processo de mascarar a origem das
ciências egípcias, pois a destruição ou, provavelmente o deslocamento dos textos antigos, destituiu o Egito
de suas fontes primárias.
Depois de 332 a. C. os gregos Pitolomeus reinaram como a última dinastia dos faraós, adotando a
religião egípcia e construindo um templo de adoração a deusa Isis, símbolo divino da maternidade, a seu
marido Osíris e seu filho Horus. Suas histórias são contadas e recontadas nos muros deste templo.
No entanto, a história de uma outra família sagrada iria varer o Egito. Os relevos dos templos agora
considerados pagãos foram raspados e o cristianismo tornou-se a religião do Estado e no sexto século, o
templo da deusa Isis tornou-se uma igreja cristã.
Os significados egípcios foram esquecidos e seus ritos antigos proibidos. Durante doze séculos a
História do Antigo Egito ficou perdida. Em 640 d.C. o islamismo e os ensinamentos do profeta Maomé,
subjuga o cristianismo e o Egito passa a ser governado por uma sucessão de estrangeiros até 1952, quando
uma revolução restaura depois de dois mil anos a completa independência.
Assim, os egípcios voltaram a ser governados por egípcios, como nos tempos dos faraós. A
Antigüidade egípcia é, para a cultura africana, o que é a Antigüidade greco-romana é para a cultura
ocidental.
The National Geographic
Society.
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