quinta-feira, 25 de julho de 2013

História do Jongo

A força dos Orixás

História do Jongo

O jongo, ou caxambu, é um ritmo que teve suas origens na região africana do Congo-Angola. Chegou ao Brasil-Colônia com os negros de origem bantu trazidos como escravos para o trabalho forçado nas fazendas de café do Vale do Rio Paraíba, no interior dos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo.
A demanda por mão-de-obra para o trabalho na mineração e nas fazendas de café intensificou o tráfico negreiro. Com a decadência econômica de outras regiões do país, uma massa imensa de escravos imigrou para o Sudeste, onde, em alguns momentos, mais da metade da população era formada por africanos, a maioria de ascendência bantu. A influência da nação bantu foi fundamental na formação da cultura brasileira. Para acalmar a revolta e o sofrimento dos negros e distrair o tédio dos brancos, os donos das isoladas fazendas de café permitiam que seus escravos dançassem o jongo nos dias dos santos católicos.
Para esses negros africanos e seus filhos, o jongo era um dos raros momentos permitidos de trocas e confraternização. O jongo é uma dança profana para o divertimento, mas uma atitude religiosa permeia a festa. Antigamente, só os mais velhos podiam entrar na roda. Os jovens ficavam de fora, observando. Os antigos eram muito rígidos com os mais novos e exigiam muita dedicação e respeito para ensinar os segredos ou "mirongas" do jongo e os fundamentos dos seus pontos.
Os pontos do jongo têm uma linguagem metafórica cifrada que exige muita experiência para desvendar seus significados. Os jongueiros eram verdadeiros poetas-feiticeiros, xamãs, que se desafiavam nas rodas de jongo para disputar sabedoria. Com o poder das palavras e uma forte concentração, buscavam encantar o outro por meio da poesia do ponto de jongo. Quem recebesse um ponto enigmático tinha que o decifrar na hora e respondê-lo ("desatar o ponto"). Caso contrário, ficava enfeitiçado, “amarrado”, chegando a desmaiar, perder a voz, se perder na mata, ou até morrer instantaneamente. Atualmente esses fatos não acontecem mais.
O jongo é uma dança dos ancestrais, dos pretos-velhos escravos, do povo do cativeiro e, por isso, pertence à "linha das almas". Contam que aquele que tem a "vista forte" é capaz de enxergar um antigo jongueiro falecido se aproximar da roda para relembrar o tempo em que dançava o caxambu. Contam também que alguns jongueiros, à meia-noite, plantavam no terreiro uma muda de bananeira que, durante a madrugada, crescia e dava frutos distribuídos para os presentes.
Até hoje, alguns núcleos familiares de afro-descendentes persistem em manter viva a bela e misteriosa tradição do jongo. O jongo influenciou decisivamente o nascimento do samba no Rio de Janeiro. No início do século 20 o jongo era o ritmo mais tocado no alto das primeiras favelas pelos fundadores das escolas de samba, antes mesmo de o samba nascer e se popularizar. Os antigos sambistas da velha guarda das escolas de samba realizavam rodas de jongo em suas casas. Nessas festas visitavam-se uns aos outros, recebendo também jongueiros do interior.
Os versos do partido-alto e do samba de terreiro são inventados na hora pelo improvisador. Esse canto de improviso nasceu das rodas de jongo. A umbigada, que na língua quimbundo se chama "semba", originou o termo samba e também faz parte do samba primitivo. A "mpwita", instrumento congo-angolano presente no jongo, é a avó africana das cuícas das baterias das escolas de samba.
O jongo, por ser uma festa de divertimento, mas com aspectos místicos, fez com que a dança se restringisse aos ambientes familiares. Por isso, ao contrário do samba, que logo conseguiu hegemonia nacional, acabou sendo pouco divulgado, até surgir o movimento de resgate da sua memória, em redutos como o morro da Serrinha.
 
O Grupo

O grupo Jongo da Serrinha é um fenômeno de força e de trabalho em torno da preservação do jongo, ritmo tido como um dos pais do samba, sendo responsável pela continuidade da existência dessa tradição, que saiu dos quintais do Morro da Serrinha para os palcos. Também atua – de maneira indissociável do trabalho de preservação - pela promoção social da comunidade, empreendida através de iniciativas educacionais da ONG Grupo Cultural Jongo da Serrinha.
Criado por Mestre Darcy Monteiro e Vovó Maria Joana Rezadeira, O JONGO DA SERRINHA se orgulha pelo registro do jongo junto ao IPHAN como o primeiro Bem Imaterial do Estado do Rio de Janeiro. O JONGO DA SERRINHA é, sem sombra de dúvida, uma das mais importantes manifestações culturais do país, perfeitamente preservada pela dedicação do grupo de artistas e pesquisadores.
 
 
 
O Jongo: dança, festa e música
 

A estrutura da festa do jongo segue os ritos tradicionais consagrados. Os negros montam uma fogueira e iluminam o terreiro com tochas. Do outro lado, armam uma barraca de bambu para os pagodes, um arrasta-pé onde os casais dançam o calango ao som da sanfona de oito baixos e do pandeiro.
À meia-noite, a negra mais idosa e responsável pelo jongo interrompe o baile, sai da barraca e caminha para o terreiro de “terra batida”. É hora de acender a fogueira e formar a roda. As fagulhas da fogueira sobem para o céu e misturam-se com as estrelas. Ela se benze nos tambores sagrados, pedindo licença aos pretos-velhos — antigos jongueiros que já morreram — para iniciar o jongo.
Improvisa um verso e canta o primeiro ponto de abertura. Todos respondem cantando alto e batendo palmas com grande animação. O baticum dos tambores é violento. O primeiro casal se dirige para o centro da roda. Começa a dança. Durante a madrugada, os participantes assam na fogueira batata-doce, milho e amendoim. Alguns fumam cachimbo, tomam cachaça, café ou caldo de cana quente para se esquentar. O jongo é muito animado e vai até o sol raiar, quando todos cantam para saudar o amanhecer ou "saravá a barra do dia".
Dança-se o jongo no dia 13 de maio, consagrado aos pretos-velhos, nos dias de santos católicos de devoção da comunidade, nas festas juninas, nos casamentos e, mais recentemente, em apresentações públicas. Os jongueiros dançam muitas vezes descalços, vestindo as roupas comuns do dia-a-dia. O jongo é uma dança de roda e de umbigada. Um casal de cada vez dirige-se para o centro da roda girando em sentido contrário ao dos ponteiros do relógio. De vez em quando, aproximam-se e fazem a menção de uma umbigada. A umbigada no jongo é de longe.
Logo um outro entra roda, pedindo licença: "Dá uma beirada cumpadre!" ou "Bota fora ioiô!" Os casais, um de cada vez, vão se revezando até de manhã numa disputa de força, ginga e agilidade. Durante a dança, o casal trava uma comunicação pelo olhar, que vai determinando o deslocamento pela roda e o momento da umbigada. No jongo da Serrinha, existe um passo que se chama "tabiá", uma pisada forte com o pé direito.
O jongo é dançado ao som de dois tambores, um grave (caxambu ou tambu) e um agudo (candongueiro). O repicar do candongueiro atravessa os vales, avisando aos jongueiros das fazendas distantes que é noite de jongo. Os tambores são feitos de tronco de árvore escavado com um pedaço de couro fixado com pregos nas extremidades. São de origem bantu e conhecidos em Angola e no Brasil como "ngoma". Antes do jongo começar, eles são aquecidos no calor da fogueira, que estica o couro e afina o som.
Em alguns locais, os tambores são acompanhados por uma cuíca de som grave, a angoma-puíta ou onça (na África chamada de "mpwita"), e por um chocalho de palha trançada do sereno, perdendo o som. Por isso são levados várias vezes até perto do fogo para serem afinados. Enquanto esperam, os jongueiros vão para a barraca dançar o calango.
Os tambores são sagrados, pois têm o poder de fazer a comunicação com o outro mundo, com os antepassados, indo "buscar quem mora longe". No início da festa, os jongueiros vão se benzer, tocando levemente no seu couro em sinal de respeito. Mestre Darcy inventou um terceiro tambor solista reproduzindo as células rítmicas emitidas pelos sons guturais que saíam da garganta da jongueira centenária Vovó Tereza quando essa dançava o jongo.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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