História
pré-cabralina do Brasil
Pintura rupestre dos indígenas pré-cabralinos em
Cachoeira Resplendor, Pará.A pré-história ou história pré-cabralina do Brasil
se refere a uma etapa da História do Brasil que se inicia com o primeiro
povoamento do território atualmente compreendido pelas fronteiras do Estado Nacional
brasileiro (iniciado, acredita - se hoje, há 60 000 anos)e termina no ano de 1500,
canonicamente estabelecido como o “descobrimento
do Brasil”.
Existem diversos problemas relativos a essa periodização convencional e aos
nomes com os quais ela opera. Em primeiro lugar, Pré-História
é um termo combatido hoje em dia pelos acadêmicos, pois parte de uma noção eurocêntrica
de mundo, na qual os povos sem escrita seriam povos sem história (o prefixo
“pré” traduz a ideia de anterioridade, ou seja, a Pré-História seria o período
“Anterior à História”). No Brasil, essa situação é ainda mais grave, uma
vez que a História é normalmente vinculada à chegada do colonizador europeu,
desta forma ignorando que os indígenas tivessem uma história própria.
Por essa razão, costuma-se hoje denominar esse período da história brasileira
como Pré-Cabralino. A ideia de descobrimento parte igualmente de resultado de
perspectivas etnocêntricas, pois ignora que o território onde se instalaram os
portugueses a partir do século XVI já havia sido descoberto e colonizado por
numerosas e diversas etnias. Além disso, nem os americanos
nem os portugueses
de 1500 concebiam o “Brasil” da forma como o concebemos hoje, razão pela qual a
nomenclatura antiga deveria ser evitada.
A Pré-história tradicional geralmente se divide em: Paleolítico,
Mesolítico
e Neolítico
Mas, atualmente, a empregabilidade dessa periodização tem sido revista no mundo
todo. No Brasil, alguns autores preferem trabalhar com as categorias geológicas
de Pleistoceno
e Holoceno.Nesse
sentido, a periodização mais aceita se divide em: Pleistoceno(Caçadores e
Coletores com pelo menos 12 mil anos) e Holoceno, sendo que este último pode
ser denominado por Arcaico Antigo (12 mil a 9 mil anos atrás), Arcaico Médio (9
mil a 4500 anos atrás) e Arcaico Recente (a partir de 4 mil anos
O Estudo da Era Pré-Cabralina
Serra da Boa Vista, onde recentemente foram encontrados vestígios
arqueológicos.
O Estudo da história Brasileira antes de 1500 é feito,
sobretudo, por meio da arqueologia, uma vez que os povos que ocuparam o
território onde hoje se encontra o Brasil não possuíam, até onde sabemos, escrita. Estudos
lingüísticos, etnológicos e históricos têm auxiliado as pesquisas arqueológicas
na medida do possível. No entanto, poucos foram os autores que tentaram
reconstruir essa história de forma panorâmica (e as tentativas dos arqueólogos
de estabelecer uma visão geral da história Pré-Cabralina não se provaram
satisfatórios).Para complicar mais a situação, ainda falta muito a ser feito em
vários níveis de pesquisa – registros de línguas e comparações, análise de
materiais escavados, relações entre sítios diversos da antiguidade e outros do
período colonial, etc.
O primeiro estudioso a se indagar sobre o passado brasileiro foi o
dinamarquês Peter Wilhelm Lund. Este naturalista foi
responsável pelo estudo de várias reminiscências de plantas antigas nas grutas
da região de Lagoa Santa (Minas
Gerais), onde se fixou, entre 1834 e 1880. Em suas buscas, chegou a
encontrar ossos humanos misturados a esses vestígios pré-históricos, um dos
primeiros achados que contradizia a teoria da criação
bíblica. Foi o primeiro a defender a antiguidade do homem americano,
baseado em achados arqueológicos, mas não conseguiu convencer a comunidade
científica de sua época.
Os sambaquis,
montes de conchas e outros resíduos acumulados por ação humana, foram vestígios
arqueológicos responsáveis por suscitar considerável debate científico no
século XIX. O diretor do Museu Nacional – que junto do Museu
Paulista representava o interesse oficial acerca dos fatos
histórico-arqueológicos no Brasil –, Landislau Neto, enviou as primeiras
expedições científicas para estas regiões. Após anos de pesquisas, essas
missões alegaram que "montes de conchas" teriam formação
antropogênica, isto é, origem humana. Hermann Von Ihering, contudo – o diretor
do Museu Paulista – primeiramente se opôs a essa visão, dizendo que os restos
de conchas teriam sido formados por fenômenos naturais e intertropicais.
Entre 1880 e 1900 ocorreram as primeiras escavações na Amazônia.
Descobertas extasiantes de cerâmicas marajoaras foram realizadas nesse período, e foram analisadas em 1882 pelo egiptólogo Paul l´Epine, que acreditava
identificar na cerâmica indígena grafias egípcias e asiáticas. Emílio
Goeldi também realizou, nesta época, pesquisas importantes no norte.
O austríaco J.A. Padberg-Drenkpohl, contratado após a Primeira Guerra Mundial
pelo Museu Nacional, foi outra figura importante da
história da arqueologia brasileira, que escavou, entre 1926 e 1929, em Lagoa Santa.
Seu objetivo era encontrar vestígios em Lagoa Santa que comprovassem os achados
clássicos de Lund. Drenpohl, contudo, não foi bem sucedido em
sua empresa, tendo passado a criticar os defensores da antiguidade do homem de
Lagoa Santa. Em 1934, pouco depois da última expedição de Drenkpohl, Angione
Costa publicou o primeiro manual de arqueologia brasileira.
Depois de 1950 a arqueologia oficial se contraiu, enquanto aumentou o
número de amadores que passaram a realizar pesquisas no país. Um desses foi
Guilherme Tiburtius, imigrante alemão em Curitiba, que
teria realizado uma das buscas mais importantes de antiguidades indígenas pelo
Brasil, coletando artefatos para sua coleção (recebida pelo Museu do Sambaqui
de Joinville).
Estudou o litoral catarinense e o planalto paranaense, tendo sido auxiliado
pela Universidade Federal do Paraná em
suas pesquisas. Harold V. Walter, cônsul inglês em Belo
Horizonte, foi responsável por buscas no Estado de Minas
Gerais, na região de Lagoa Santa. A despeito de ter empregado uma
metodologia pouco válida para os dias atuais, contribuiu muito para a coleta de
informações sobre a era pleistocênica. Ainda nessa época, foram realizados
esforços substanciais no sentido de se preservar o patrimônio histórico
brasileiro. Graças ao esforço de diversos intelectuais, o Instituto de Pré-História
da USP (atualmente
integrado ao MAE) foi criado, enquanto, alguns
anos mais tarde(1961), uma nova legislação sobre o patrimônio era promulgada.
Acompanhando esse avanço na questão de preservação da memória brasileira,
haviam sido realizadas escavações na foz do amazonas,
por Clifford Evans e Betty J. Meggers entre 1949 e 1950, descobrindo
importantes artefatos cerâmicos, e em São Paulo
e no Paraná
entre 1954 e 1956 por Joseph Emperaire e Annette Laming – onde foram feitas as
primeiras datações carbono catorze.
A história recente da arqueologia no Brasil inclui a
criação da PRONAPA (Projeto Nacional de Pesquisas Arqueológicas) com o auxílio
do IPHAN
(Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) , que teria como
objetivo realizar buscas para fornecer uma panorama mais completo do passado
histórico-cultural brasileiro. Enquanto isso, instituições como o Museu
Nacional, o Museu Paulista e o instituto de Pré-História
realizaram pesquisas isoladas, enquanto o Museu Emílio Goeldi se lançou num
projeto chamado PRONAPABA (Projeto Nacional de Pesquisas Arqueológicas na Bacia
Amazônica). Vários estudos foram realizados desde então sobre os sambaquis, a
pintura rupestre brasileira e a indústria lítica antiga. Em 1980 foi criada a
primeira Sociedade de Arqueologia Brasileira. O ensino de arqueologia
é hoje ministrado no Brasil, embora de forma limitada.
Pleistoceno: 60 mil anos – 12
mil anos A.P
Ocupação do território
A ocupação do território americano é um tema que tem gerado
controvérsias substanciais, sobretudo porque muitos arqueólogos ainda são
reticentes em aceitar que o homem possa ter chegado à América por outras vias
que não o estreito de Bering.Segundo a teoria tradicional, também conhecido como Teoria de Clóvis, o homem “pré-histórico” teria
migrado da região atual da Mongólia para o Alasca atravessando a Ponte Terrestre de Bering. Não obstante,
descobertas efetuadas em sítios arqueológicos brasileiros têm colocado em questão
a validade desta teoria. No Piauí, por exemplo, foi encontrado um fóssil de Ancylostoma duodenale com a data de 7750
anos A.P. De acordo com alguns arqueólogos, essa espécie não poderia ter
sobrevivido à travessia na Beríngia, pois teria morrido com o frio. Assim,
acreditam que a existência do fóssil indica a migração de povos oriundos de
regiões quentes do globo. Achados em Minas
Gerais e na Bahia
foram datados entre 25000 a 12000 anos A.P. No sítio arqueológico Alice Boer, em São Paulo,
foram encontradas peças com idade de 14200 A.P.16
Em São Raimundo Nonato, no Piauí, os arqueólogos
defendem a idade de 50 000 anos para um abrigo ocupado pelo homem
“pré-histórico”. Ainda neste mesmo sítio, os arqueólogos conseguiram encontrar
artefatos humanos que remontassem a mais de 48 mil anos A.P.
As descobertas no Brasil polemizaram a visão tradicional da ocupação da América.
Os arqueólogos passaram a defender outras teorias sobre as grandes migrações,
entre elas, a de que o homem teria chegado à América
entre cerca de 150 mil e 100 mil anos atrás, vindo por correntes
Malásio-Polinésias (oriundas do sudeste asiático) ou australianas (oriundas do
pacífico sul), enquanto outros autores ainda pensam numa corrente migratória
originada na África.
Contribuem para a definição dessas teorias as similaridades entre os vestígios
materiais encontrados na América com aqueles encontrados na Oceania. De
qualquer forma, pode-se admitir hoje de forma geral que o Brasil foi ocupado há
60 mil anos atrás, no que diz respeito ao Piauí. As correntes migratórias
teriam atingido Minas Gerais há 30 mil anos e o Rio
Grande do Sul, há 15 mil anos. Todo o país estava ocupado há 12 mil anos.
Luzia
Luzia, fóssil mais antigo das Américas
Luzia é o
nome do fóssil humano mais antigo encontrado nas Américas. Encontrado pela
arqueóloga francesa Annette Laming-Emperaire na década
de 1970, em Lapa Vermelha, no sítio arqueológico de Lagoa Santa (Minas Gerais), o fóssil
dessa mulher pré-histórica contribui para reacender um antigo debate em torno
das origens do homem americano. De acordo com o paleoantropólogo Walter Neves,
responsável por batizar o fóssil, a morfologia do crânio de Luzia a aproximaria
dos atuais aborígenes da Austrália e nativos da África. Neves
aventou a hipótese de que, portanto, a ocupação da América foi mais antiga do
que até então se imaginava, embora não recuando muito no tempo (cerca de 14 mil
anos antes do presente), e que foi realizada por povos de regiões distintas,
como a Oceania e a África. Essa tese não foi muito bem recebida por alguns
cientistas. De acordo com a National Geographic, além das raças não serem
uma maneira científica de classificar seres humanos, as diferenciações entre os
grupos humanos só surgiram após 9,5 mil anos.
O povo de Luzia
Os estudos realizados na região habitada por Luzia
e outros paleoíndios demonstram que eles desconheciam a cerâmica e que sua
indústria lítica era relativamente simples. Pesquisas recentes, contudo,
afirmam que esses homens eram sedentários.
Achados como enterros numerosos e uso de matérias-primas existentes apenas
neste local reforçaram estas ideias. Uma análise das cáries nos dentes destes
americanos demonstra que eles, embora não tivessem agricultura,
se aproveitavam intensamente de recursos vegetais.
Holoceno no centro, sul e
nordeste do Brasil: 12 – 4 mil A.P.
Fases e Tradições
Os arqueólogos denominam por fase um complexo cultural onde os
elementos são intimamente associados. Por tradição, os arqueólogos
entendem as práticas e técnicas padrão dos antigos para a confecção, por
exemplo, da indústria lítica e da pintura
rupestre. Uma subtradição é uma divisão dentro da tradição, normalmente
porque houve uma diferenciação do padrão original em dois ou mais padrões
novos.
Condições Ambientais do
Holoceno
No final do período pleistocênico a temperatura variou amplamente em
fases de expansão e contração das geleiras. Acredita-se que as temperaturas
eram mais frias no pleistoceno do que no holoceno, quando sofreram um aumento
considerável. No começo do período arcaico médio, o nível do mar se encontrava
10 metros abaixo do atual. Muitas regiões do país, como o Piauí, por
exemplo, eram muito mais úmidas do que o são hoje.
Holoceno no Nordeste e Centro
do Brasil
A Pedra
do Ingá, no Estado da Paraíba, é hoje um dos mais conhecidos monumentos
arqueológicos doBrasil.
Suas grafias têm fascinado estudiosos do mundo todo
A idade paleolítica brasileira é normalmente situada entre 12 mil
e 4-2 mil anos antes do presente, quando do surgimento e difusão da prática
agricultora na região. Antes disso, os homens viviam de caça, pesca e coleta,
fato comprovado por achados arqueológicos e representações em pinturas
pré-cabralinas. Nesta época, os arqueólogos constataram a existência de diferentes
tipos de indústria lítica em diversas regiões do Brasil. No nordeste,
vários sítios arqueológicos indicam o desenvolvimento
da pedra
lascada, contendo lesmas (artefato lítico em forma de lesma utilizado para
raspar suportes de madeira), lascas, furadores e fogões para assar caça. A
pintura rupestre era realizada nesses primeiros sítios.
Na região nordeste, as técnicas de trabalho com o material lítico se
tornam cada vez mais diversificadas e complexas com o passar do tempo. O número
de fogões, por exemplo, aumenta conforme as datações se aproximam do ano 8 mil
antes do presente. Fogueiras também são encontradas.
As pinturas rupestres dessa região têm se revelado
profundamente instigantes. Na Toca do baixão da Perna 1, por exemplo, (na área
arqueológica de São Raimundo Nonato) foram encontradas pinturas
rupestres que datam de 10500 anos atrás. No sítio do boqueirão da Pedra Furada,
inúmeras pinturas rupestres em pigmento vermelho foram encontradas. Os autores
identificam a tradição de pintura desta área como tradição nordeste.
Além da tradição nordeste, foram identificadas subtradições como a Várzea
Grande (sudeste do Piauí) e a Seridó (Rio Grande do Norte). As figuras mais
abundantes representam seres humanos, plantas e animais, mas também são
encontrados grafismos puramente abstratos. Algumas paredes de caverna
representam cenas de caça e celebrações rituais. De acordo com alguns
arqueólogos, os temas de violência na pintura rupestre antiga estariam vinculados ao
desenvolvimento técnico obtido nos anos subsequentes, responsável por promover
estratégias de caça mais eficientes. A tradição nordeste se encerra há cerca de
5 mil.
Na região central e nordeste, uma importante tradição cultural foi
identificada pelos estudiosos: a tradição Itaparica (Goiás, Minas
Gerais, Pernambuco,
Piauí). Essa tradição teria desenvolvido ferramentas
líticas lascadas como lesmas, furadores e facas, mas poucas pontas
de projéteis. Os povos dessas regiões teriam mudado sua forma de vida cerca
de 6500 anos atrás, quando teriam passado a se alimentar de moluscos e
frutos. No centro do país, uma tradição de pintura rupestre denominada Planalto
teria se desenvolvido.
Holoceno no Sul do Brasil
As datas mais antigas no Sul são atribuídas à tradição Ibicuí
(entre 13 000 e 8500 anos), composta de artefatos simples, encontrados na Bacia
do Uruguai. A fase Uruguai, que sucede a primeira cronologicamente, data de
11 555 a 8640 anos A.P. e é composta por raspadores, facas bifaciais e pontas
de projéteis. Em Santa Catarina e no Rio
Grande do Sul foram localizados artefatos (facas, raspadores, pontas de flecha
foliáceas) de 8500 a 6500 anos atrás, estabelecidos como tradição Vinitu.
A tradição Humaitá, mais recente (entre 6500 e 2000 anos atrás) se
estende de São Paulo ao Rio Grande do Sul. Os homens dessa tradição
produziram raspadores, furadores e, inclusive, zoólitos (estátuas de pedra
assumindo formas animais). Outra tradição identificada no sul foi chamada de Umbu; esta teria sido responsável pela confeccção
de fogões e pontas de projéteis.2
21
31
Holoceno no Litoral
Modelo de sambaqui do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade
de São Paulo
Os principais sítios arqueológicos do litoral são os sambaquis,
montes de conchas de moluscos (com os quais se alimentavam as populações
antigas) formados por ação humana. Normalmente são encontrados junto dos
sambaquis esqueletos dos antigos americanos, peças líticas, restos de
alimentos, etc. Grande parte dos sambaquis brasileiros se encontram cobertos
pelo mar, devido às mudanças climáticas ocorridas durante o pleistoceno tardio
e o holoceno. Os sambaquis existem em quase todo o litoral brasileiro. Na época
de sua descoberta, no século XIX, foram comparados com estruturas semelhantes
existentes na Escandinávia. Os sambaquis são associados à tradição
Itaipu. Os povos que habitavam o litoral são
normalmente definidos como pescadores semi-nômades.
Arcaico Recente do Sul à
região Nordeste (4 mil anos A.P. até 1500 d.C.
O aparecimento de plantas cultivadas em Minas
Gerais data de 4 mil anos atrás. Em São Raimundo Nonato, a agricultura parece ter
sido praticada desde a pelo menos 2090 anos. Embora a cerâmica
amazônica seja mais antiga que a agricultura, o mesmo fenômeno não ocorre no
resto do país, onde a cerâmica mais antiga data de 3 mil anos atrás (na área de
São Raimundo Nonato). Arqueólogos brasileiros consideram que o surgimento da
cerâmica nas regiões em questão está ligado ao sedentarismo e à agricultura,
uma vez que a cerâmica é de difícil transporte e, normalmente, teve a função de
armazenar víveres. A tradição Taquara-Itaré é talvez a mais estudada
tradição de cerâmica do país.
Período Pré-Cerâmico
(Amazônia): 12000 - 3000 a.C.
Alguns especialistas, como Eduardo Goes Neves, argumentam que paisagens
da Floresta Amazônica (acima) teriam sido moldadas pela ação dos povos
pré-cabralinos.. Na imagem, geoglifos em terras desmatadas na floresta amazônica do Acre.
As datações mais antigas da região amazônica atribuem aos primeiros
habitantes da região datas como 12500 a.C. É provável que o território já
houvesse sido colonizado anteriormente, mas apenas o avanço da pesquisa na Amazônia
poderá confirmar essa hipótese. Os arqueólogos identificam um desenvolvimento
da técnica de lascar pedras, começando pelo lascamento por percussão e seguindo
para o lascamento por pressão. As mudanças nas técnicas de lascamento são
associadas a diferentes modalidades de caça, uma voltada para os animais de
grande porte, e outra para os animais de pequeno porte. Nada, contudo, é certo
sobre o estilo de caça dos antigos povos amazônicos. Os estudiosos acreditam
que esses povos se alimentavam de moluscos
(observação baseada na descoberta de sítios como os sambaquis), pequenos
animais e frutos. Os sambaquis continuam sendo os principais sítios
arqueológicos desse período na Amazônia.
Agricultura Amazônica
Novas pesquisas em Rondônia atribuem uma antiguidade muito maior à prática da
agricultura na Amazônia. De acordo com o arqueólogo Eduardo Bespalez, a
agricultura amazônica pode chegar a 8000 anos, uma data próxima dos primeiros
registros de agricultura no mundo. Além disso, o sítio arqueológico de Garbin
reforça a tese de Ana Roosevelt de que a cerâmica não esteve associada, nas
suas origens, à agricultura. Os arqueólogos brasileiros encontraram apenas
indústria lítica associada à terra preta (principal indício da prática de
agricultura na região). As novas descobertas podem jogar luz sobre os mistérios
que envolvem desde o significado de sociedades complexas na Amazônia até as
origens da Floresta Amazônica, possivelmente antropogênica.
De acordo com o arqueólogo Marcos Pereira Magalhães, "A Cultura
Neotropical Amazônica é o resultado de um acontecimento histórico regional de
longa duração, derivada da Cultura Tropical desenvolvida por sociedades de
caçadores-coletores integradas social, cultural e economicamente aos recursos
da floresta tropical neotropical, com a qual interagiam objetiva e
subjetivamente."
Período Cerâmico Incipiente:
3000 - 1000 a.C.
Durante essa época os povos amazônicos adotaram um estilo de vida
similar ao estilo de vida adotado por muitas tribos do território atualmente.
Assim, os indígenas teriam vivido em estado de relativa fixação,
realizando a horticultura de raízes. Esses grupos desenvolveram a
primeira cerâmica
elaborada da América, com temas geométricos e zoomórficos, pinturas em tinta
branca e vermelha. Os vasos assumiram formatos ovais e circulares. Os grupos de
estilos cerâmicos mais conhecidos são chamados de Hachurado Zonado e Saldóide
Barrancóide. O último é relacionado a incisões e pinturas em vermelho e
branco, enquanto o primeiro à preferência pelo hachurado zonado. Cerâmicas do
estilo Saldóide, encontradas no baixo e médio Orenoco, parecem terem sido
criadas entre 2800 a 800 a.C. Os estilos Hachurados Zonados de Tutoshcainyo e
Ananatuba datam, respectivamente, de cerca de 2000-800 a.C. e 1500-500 a.C.
Muitos estudiosos admitiram que essa cerâmica tenha sido influenciado pelos
complexos culturais andinos, embora hoje já se admita que os indígenas da Amazônia
tenham desenvolvido essa cerâmica elaborada na própria região baixa, tendo
provavelmente influenciado os Andes posteriormente.
Essas sociedades praticavam, além da horticultura, caça e pesca. O
consumo de mariscos
foi reduzido, e esses povos passaram a se instalar nas várzeas e margens dos
rios. Assadeiras de cerâmica grossa foram identificadas nesses territórios, de
forma que alguns arqueólogos aventam a hipótese da presença da mandioca.
Sítios desses complexos culturais foram encontrados na bacia do Ucayali, na ilha
de Marajó, no Orenoco
e no Amazonas.
Cacicados Complexos da
Amazônia: 1000 a.C. – 1500 d.C.
exemplar de cerâmica produzida pelas sociedades complexas do Pará em Santarém.
Este vaso Tapajó é denominado “Vaso de Cariátides”.
O aumento demográfico das populações amazônicas na época da Pré-História
tardia, combinado a outros fatores, suscitou grandes transformações entre as
sociedades indígenas da Amazônia. Segundo arqueólogos, as sociedades que habitavam
regiões da bacia amazônica passaram a se organizar de forma
cada vez mais elaborada entre o ano 1000 a.C. e o ano 1000 d.C. Os arqueólogos definem estas sociedades como
“cacicados complexos” Essas sociedades tornaram-se cada vez mais hierarquizadas
(provavelmente contendo nobres, "plebeus" e servos cativos),
constituíram chefias centralizadas na figura do cacique, e
adotaram posturas belicosas e expansionistas. O cacique, além de dominar amplos
territórios, organizava continuamente seus guerreiros visando conquistar novos
territórios. A cerâmica dessas sociedades era altamente elaborada,
demonstrando um domínio de técnicas complexas de produção. Havia urnas
funerárias elaboradas (associadas ao culto dos chefes mortos), comércio e
os indícios arqueológicos apontam uma densidade demográfica de escala urbana
nessas civilizações. Acredita-se que a monocultura
era praticada, além da caça e da pesca intensivas, a produção intensiva de
raízes e o armazenamento de alimentos. Segundo a pesquisadora Anna Roosevelt,
"O desenvolvimento da agricultura intensiva nos tempos pré-históricos
parece ter estado correlacionado à rápida expansão das populações das
sociedades complexas. Sugestivamente, os deslocamentos e o despovoamento do
período histórico aparentemente fizeram com que estas economias retornassem aos
padrões de cultivo menos intensivo de raízes e à captura de animais (...)
Crônicas do início do período
colonial são hoje empregadas na reconstrução das antigas civilizações
brasileiras. Muitos cronistas estrangeiros descreveram elementos indígenas do
período dos cacicados complexos. A dissolução dessas organizações sociais
normalmente é relacionada à conquista, que teria abalado sua estrutura
demográfica.
Cerâmica complexa da fase marajoara, na Ilha
de Marajó. No caso, uma urna funerária.
A cerâmica produzida por estas civilizações é classificada em dois
grupos principais: o Horizonte Policrômico e o Horizonte Inciso
Ponteado. Entre os sítios arqueológicos que apresentaram vestígios
agrupados sob o Horizonte Policrômico estão: os Marajoaras (foz do Amazonas) e
o Guarita (Médio Amazonas), entre outros localizados fora da Amazônia
brasileira. Entre os sítios arqueológicos associados ao Horizonte Inciso
Ponteado encontram-se: Santarém (Baixo Amazonas) e Itacoatiara
(Médio Amazonas). O primeiro horizonte é caracterizado pelas pinturas brancas,
pretas e vermelhas, pelos temas geométricos e pelas incisões. O segundo
horizonte é caracterizado pelas incisões profundas e pela técnica de ponteação.
Acredita-se que o Horizonte Inciso Ponteado estivesse associado aos
antepassados dos povos de língua Karib, enquanto o Horizonte Policrômico
teria sido produzido pelos antepassados dos povos de língua Tupi.
Os grandes sítios amazônicos da época dos cacicados complexos parecem
ter tido regiões especializadas para o enterro, o culto, o trabalho e a guerra.
A ocupação pré-histórica tardia do território era sedentarizada.
A entrada do milho
e de outras sementes na região, assim como sua popularização entre os
americanos, data do primeiro milênio antes de Cristo.48
Kuhikugu (1500 A.P. - 400
A.P.)
Uma das civilizações amazônicas conhecidas por ter desenvolvido grandes cidades e vilas
durante o período Pré-Colombiano foi a de Kuhikugu. O sítio arqueológico de
Kuhikugu, descoberto pelo arqueólogo Michael Heckenberger, se localiza dentro
do Parque Nacional do Xingu (região do alto Xingu), e provou ter
sido um grande complexo urbano que pode ter abrigado até 50 000 habitantes.
Construído provavelmente pelos antepassados dos atuais povos Kuikuro, o sítio
abriga construções complexas como estradas, fortificações e trincheiras
para proteção. Como a descoberta é recente, estudos sobre as formas de vida dessas
populações ainda são necessários, embora os estudiosos acreditem que esse povo
cultivava a mandioca.
O desaparecimento dessa civilização, assim como de outras grandes civilizações
amazônicas, é relacionado à entrada de doenças europeias no continente,
responsáveis por dizimar as populações locais, por volta do ano 1500 de nossa era.
As características naturais da Floresta Amazônica (mata densa etc.) explicariam
porque os antigos europeus não travaram conhecimento com esta civilização
brasileira.
Monte de Teso dos Bichos (400
a.C. - 1300 d.C.)
O Monte de Teso dos Bichos, localizado na Ilha
de Marajó, é o local onde floresceu uma das mais elaboradas civilizações da
Amazônia pré-cabralina, ocupando 2,5 hectares. Com uma população estimada em
500 mil pessoas, os habitantes dessa civilização pertenciam a uma sociedade de
tuxauas, senhores da foz do Amazonas. Havia divisão do trabalho entre homens e
mulheres, uma dieta rica em proteína animal e vegetal e refrescos fermentados
(como o aluá) Uma das características marcantes das sociedades complexas da Ilha
de Marajó são os "tesos", aterros artificias de grande porte
construídos para a colocação de habitações, provavelmente visando evitar
inundações. Os tesos marajoaras são considerados estruturas monumentais e, por
esse motivo, são essenciais para a interpretação do passado marajoara. Em
outubro de 2009, um grupo de geólogos alegou que os "tesos" poderiam
ser construções naturais, hipótese que invalidaria parcialmente as
interpretações acerca da existência de sociedades complexas na Amazônia. No
entanto, arqueólogos de renome como André Prouss e Anna Curtenius Roosevelt,
questionaram a competência da equipe de geológos e afirmaram que apenas
arqueólogos possuem os instrumentos técnicos para verificar indícios de
atividade humana.
Principais Sítios
arqueológicos do Brasil
Alice Boer
O sítio Alice Boer se localiza em Ipeúna, município próximo a Rio Claro,
no Estado de São Paulo. Foi escavado por iniciativa da arqueólogos Maria
Beltrão a serviço do Museu Nacional a partir de 1964. Os primeiros brasileiros
da região parecem ser muito antigos e produziram artefatos como pontas de
projéteis, raspadores e lesmas. Uma amostra de carvão deste sítio forneceu a
data de 14200 anos.
Abismo Ponta de Flecha (SP)
O sítio Ponta de Flecha foi escavado entre 1981 e 1982 por C. Barreto e
E. Robrahn. Os achados do sítio – entre eles pontas de flecha e ossos – datam
tanto da época pleistocênica quanto holocênica. Os ossos de animais encontrados
foram marcados por instrumentos líticos humanos.
Pedra Pintada
A professora de antropologia da Universidade de Illinois, nos Estados
Unidos, Anna Roosevelt (bisneta do presidente norte-americano Theodore Roosevelt) coordenou, em 1996, uma
equipe que pesquisou a Caverna da Pedra Pintada, em Monte
Alegre, Pará,
na margem esquerda do Rio Amazonas, a poucos quilômetros do que é hoje Santarém.
Os brasileiros pré-históricos daquela região sustentaram-se com uma
economia estável e produziram uma cultura e tecnologias bastante superiores às
de seus primos da América do Norte. Os paleoíndios moraram em
cavernas confortáveis e protegidas, tinham uma dieta mais saudável e produziram
cerâmicas, pinturas rupestres e pontas de flechas. Eles eram caçadores de
pequenos animais e coletores de frutas. No auge de sua civilização, chegaram a
abrigar cerca de 300 000 indivíduos.
Foram encontradas pontas de lança e cacos de cerâmica datados de 6.000 a
10.000 anos. Os resultados concluíram que os paleoíndios (os primeiros
habitantes das Américas) viveram na região amazônica de 11,2 a 10.000 anos atrás. São
provas convincentes de que a ocupação humana na América se
deu há mais de 20.000 anos.
Ainda assim, as descobertas de Roosevelt ainda não refutaram totalmente
a hipótese da chegada dos primeiros habitantes da América pelo Estreito de Bering. O movimento migratório teria
ocorrido em levas sucessivas. As populações amazônicas, cujos sinais encontrou
na caverna da Pedra Pintada, provavelmente migraram para o sul sem ter tido
contato com os caçadores de mamutes americanos.
Pedra Furada
Pinturas do sítio de Pedra Furada.
O sítio arqueológico de Pedra Furada, localizado em São Raimundo Nonato, no Parque Nacional da Serra da
Capivara, Piauí,
foi encontrado na década de 60. Ele vem sendo estudado, desde os anos 70, por Niède
Guidon, uma arqueóloga franco-brasileira. Os achados (pedras lascadas e vestígios
de fogueiras) datam de aproximadamente 11.000 anos. Segundo a equipe, não é
impossível que os achados possam ter até 48.000 anos. A tese de Guidon vai bem
mais longe - cerca de 100 mil anos - e pressupõe que o homem não teria chegado
à América vindo da Ásia por terra (via estreito de Bering como se acredita até
hoje) e sim, pelo mar, já se utilizando de embarcações. Contudo, as descobertas
de São Raimundo Nonato permanecem controversas e ainda não refutam totalmente a
Teoria
Clóvis.
O sítio também abriga o Museu do Homem Americano. Painéis
iluminados e auto explicativos contam a história da presença do homem na
América com desenhos, mapas e textos. O espaço também guarda urnas funerárias
em argila e réplicas de dois esqueletos humanos encontrados em cavernas da
região. Um deles, uma índia de cerca de 30 anos de idade foi encontrado
praticamente completo e data de 9,7 mil anos.
Também na região foram encontrados desenhos na Toca do Boqueirão,
também em Pedra Furada, que parecem representar uma cena de ataque dos
terríveis felinos
que já habitaram o continente. As concepções dos atuais índios que habitam a região nordeste do país, a
exemplo dos cariris,
apesar de bastante modificadas, ainda podem se constituir num elemento útil
para decifrar tais representações com uma estratégia conjetural. Uma
interpretação sobre os desenhos da figura humana desses povos revela uma
surpreendente complexidade que pode muito bem corresponder a um mapa das
sensações corporais e/ou uma concepção de corpo e espírito. Os encantados
são descritos pelos cariris, em geral, como homens descomunais, ferozes e
implacáveis, de feição rude e olhos esbugalhados, verdadeiramente assustadores,
segundo o antropólogo Nascimento, que estudou em sua tese para
Mestrado na Universidade Federal da Bahia os
rituais e identificação étnica dos índios do nordeste a partir das concepções
de um grupo remanescente - os cariris de Mirandela, (Bahia) em 1994.ela foi fundida em
raimundo nonato.
Serra da Capivara, importante centro
arqueológico brasileiro.
Lagoa Santa
No Brasil, além dos restos do Piauí, existe
também um antiguíssimo conjunto achado na região de Lagoa Santa
(Minas
Gerais), possivelmente os representantes do antigo grupo lingüístico
do país - Macro Jê -, cujos descendentes mais próximos hoje seriam os índios cariris e botocudos.
A descoberta, em 1975, no mesmo local, de um fóssil humano
de 11,5 mil anos, o mais antigo da América,
apelidado de Luzia, colocou ainda mais dúvidas sobre a Teoria
Clóvis, já que a pertence a uma mulher com nítidas características polinésias
e negróides, indicando que deve ter havido alguma forma de povoamento vindo do Pacífico
Sul ou da África.
Luzia foi investigada pelo arqueólogo brasileiro Walter Alves Nevesno entorno do distrito
federal em planaltina de goiás
Período Pré-Cabralino Recente
Enquanto a maior parte da pesquisa sobre o Brasil mais antigo
analisava principalmente os vestígios materiais deixados por esses povos, o Brasil
pré-cabralino recente costuma ser estudado através das línguas nativas. Com efeito, o estudo
sobre as línguas
nativas permite compreender inúmeros aspectos das culturas pré-cabralinas, além
de seus parentescos históricos e de suas migrações.
Quando os cronistas europeus descreveram os antigos povos brasileiros,
utilizaram sobretudo denominações linguísticas e, graças ao trabalho
missionário de alguns jesuítas, temos hoje conhecimento das antigas línguas
brasilicas (que deram origem às línguas indígenas modernas).
Gravura de Jean-Baptiste Debret retratando uma família camacã no
início do período colonial.
Resta-nos, contudo, a tarefa de associar os achados antigos aos povos
recentes, que conhecemos principalmente a partir de grupos linguísticos.
Um estudo desse tipo não foi realizado no Brasil ainda. Apenas um grupo
pré-cabralino recente foi associado suficientemente aos achados antigos: os
grupos da família linguística Tupi-Guarani.
Estes, na época da chegada dos europeus, dominavam o atual litoral
brasileiro, conhecido por "Pindorama". Outra fonte importante para a reconstrução
da história recente dos povos pré-cabralinos é a mitologia
indígena. Sabe-se hoje ser possível estabelecer relações entre os elementos dos
mitos e
acontecimentos que consideramos "históricos". As fontes mitológicas
tem sido empregadas para estudar movimentos migratórios,as relações
estabelecidas entre os povos brasileiros e, por exemplo, o Império Inca, etc.
Quando os europeus passaram a ocupar a costa oriental da América
do Sul, encontraram etnias vinculadas a quatro principais grupos
linguísticos: os arauaque, os tupi-guaranis,os jê e os karib.Devemos tomar cuidado para não confundir grupo
linguístico com grupos étnicos. Dentro de um mesmo grupo linguístico havia
numerosas e diferentes unidades identitárias possuindo dialetos, práticas
culturais e filosofias próprias. Nosso conhecimento dos povos indígenas por
meio das crônicas europeias é limitado por diversas razões. A primeira delas, é
que a imagem europeia sobre os povos pré-cabralinos foi marcada por um processo
de enquadramento da América em categorias europeias, de forma que as crônicas nos
fornecem informações mais valiosas para o estudo dos próprios europeus modernos
do que para o estudo dos nativos. A segunda delas, é que as crônicas foram
escritas numa época de transformação, uma vez que a entrada dos europeus trouxe
doenças e influências novas para o mundo indígena, modificando
consideravelmente a antiga realidade em que viviam. Por fim, as crônicas
acompanham o avanço da "fronteira" europeia na América, de forma que grande
parte dos povos indígenas só chegaram a ser conhecidos pelos ocidentais no
século XIX, após terem modificado muitos de seus costumes; é interessante notar
que muitas tribos indígenas no Brasil continuam isoladas do mundo ocidental até
hoje.
Macro-Tupi
Ídolo antropomorfo
de Iguape
encontrado pelo pesquisador Ricardo Krone em 1906. A descoberta ocorreu durante
uma de suas pesquisas no sambaqui do Morro Grande, na Estação Ecológica da
Juréia-Itatins. Sua idade,
calculada pelo Carbono 14, revelou que possuia mais de 2500 anos.
Um dos grandes grupos linguísticos do Brasil, e que
parece ter se expandido imensamente sobre o território brasileiro antes de 1500
é o grupo Macro-Tupi.
A principal família linguística dentro desse grupo maior é a Tupi-Guarani.
Esses povos devem ter primeiramente habitado a região das cabeceiras dos rios Madeira,Tapajós
e Xingu. A expansão
Tupi-Guarani aconteceu há 3 mil e 2 mil anos, pouco depois desse grupo ter se
diferenciado de outros na região entre o Xingu e o Madeira, formando novos
subgrupos linguísticos, como os Kokama, Omágua, Guaiaki e Xirinó. Os povos de língua Kokama e
Omágua dirigiram-se ao rio amazonas, enquanto os Guaiaki chegaram ao Paraguai e os
Xirinó à Bolívia.
Tapirapés e Teneteharas se deslocaram em diração ao nordeste. Os povos de
língua Pauserna, Kajabi e Kamayurá se deslocaram até a região extremo sul do
Brasil. Os povos de língua Oyampi chegaram até a região das Guianas. A última
fase de dispersão dos povos Tupi-Guarani ocorreu por volta do ano 1000. Os
falantes de línguas associadas ao "Tupi-Guarani" estariam já
instalados no sul do Brasil (Guaranis,etc.), na bacia amazônica e também no
litoral do pais (potiguaras, tupinambás,
tupiniquins).
Os dados linguísticos nos permitem avaliar essas sociedades como expansivas e
em constante movimento. Graças a uma impressionante rede de caminhos fluviais,
os povos desse grupo linguístico puderam se difundir e, ao mesmo tempo, manter
contato uns com os outros. O uso de canoas (ygara em tupi antigo) para navegar
rios permitia o enviamento de missões militares e diplomáticas de uma região
para outra.
Muitos artefatos arqueológicos do período cerâmico são filiados a esses
antigos povos de matriz linguística Tupi-Guarani. Os sítios arqueológicos
associados a essas populações constituíam-se em aldeias extensas, normalmente
localizadas em regiões de planalto ou em terraços. Nesses sítios arqueológicos, de largura média entre
2000 e 10000 m², a cerâmica antiga é abundante. As unidades habitacionais são
cabanas, que podiam alcançar até 60 m² de diâmetro. Dentro dessas cabanas foram
localizadas fogueiras
e fornos para
cozimento. As áreas dos sítios são definidas em espaço cerimonial, público e
residencial. O espaço dos vivos é separado daquele dos mortos (muitos cemitérios
antigos foram localizados). A arqueologia identificou sepultamentos em urnas e
outros em terra. Artefatos líticos são encontrados junto dos sepultamentos,
provavelmente objetos de uso pessoal. A cerâmica Tupi-Guarani (particularmente
abundante no Paraná) é caracterizada pelos desenhos policrômicos de traços
lineares.
A cronologia para a História dos povos Tupi-Guarani se baseia em teorias
arqueológicas, na glotocronologia e na datação de cerâmicas
identificadas aos tupi-guaranis. Como vimos pela história dos Tupi-Guarani a
partir de suas línguas, o movimento de expansão ocorreu entre 3 mil 2 mil anos
atrás a partir da região amazônica; a maior parte dos artefatos arqueológicos
desses povos são datados entre o ano 500 e o ano 1500. A extensão para o litoral é
constatada pela maior concentração de artefatos nessa região entre os séculos
XI e XIII.
Macro-Jê
As línguas associadas à matriz linguística Macro-Jê devem ter sofrido
diferenciação por volta de 6 mil anos atrás. Sua expansão inicia-se há 3 mil
anos, pela Região Centro-Oeste do Brasil. O
grupo Jê propriamente dito é possivelmente originário das regiões das nascentes
dos rios São Francisco e Araguaia.
Grande parte dos povos de língua Jê se afastaram dos Kaingang e Xokleng, seguindo
para o sul da região central brasileira. Alguns grupos devem ter se separado
destes últimos e seguido até a região amazônica há pelo menos mil anos. Os
povos Jês preferiam se instalar em regiões de Planalto (como a original região
do Planalto brasileiro), como nos permite constatar o estudo de suas línguas
Entre as línguas do tronco Macro-Jê encontram-se: Kayapós, Xerentes, Timbiras, etc.
Karib
Os povos de língua Karib também passaram por um processo de expansão há 3 mil
anos, aproximadamente. Essa família linguística é talvez originária da atual
região das guianas
e do extremo norte do Brasil. Os Yukpa e os Karijona, remificações dessa família
linguística, teriam se diferenciado e migrado para a Colômbia,
enquanto os Bakairi teriam seguido para o centro do Brasil. O empréstimo de
termos Tupi nas línguas Karib (e vice-versa) aponta para a existência de redes
complexas de comércio e tráfico de pessoas entre tais povos.
Arawak e outros
As línguas de matriz Arawak concentram-se hoje na região sudoeste da Bacia
amazônica. A principal família linguística associada a esse grupo é a Maipure, dividida em quatro subgrupos
regionais. Existe grande polêmica em relação às origens, às migrações e aos
descendentes desses povos, além de suas relações com outros grupos linguísticos
do Brasil Antigo. Outros grupos linguísticos menores, sem parentescos com os
outros maiores, existem no Brasil: Mura, Chapkura, Pano, Yanomani, etc.
Distribuição dos grupos de língua tupi e não tupi (tapuia) na costa de Pindorama, no
século XVI.
Na véspera da chegada dos europeus à América em 1500, calcula-se que o
atual território do Brasil
(a costa oriental da América do Sul) fosse habitado por dois milhões de
indígenas, do norte ao sul.
Segundo Luís da Câmara Cascudo, os tupis foram o
primeiro agrupamento "indígena que teve contacto com o colonizador".A
influência tupi se deu na alimentação, no idioma, nos processos agrícolas, de
caça e pesca, nas superstições, costumes, folclore, etc. Os povos do grupo
Tupi-Guarani habitavam a região chamada por eles de "Pindorama"
(terra das palmeiras), atual região oriental da América
do Sul, que habitava o imaginário Tupi-Guarani
como terra mítica, uma terra livre dos males. Os arqueólogos acreditam que o
mito acerca de "Pindorama" tenha se formado na época das antigas
migrações, quando os Tupi-Guaranis se dirigiram para o
litoral brasileiro. Sabemos os nomes de alguns dos principais grupos que
habitavam Pindorama na véspera da chegada europeia (entre eles alguns de
origens não-tupi): os potiguaras, os tremembés,
os tabajaras,
os caetés, os tupiniquins,
os tupinambás,
os aimorés,
os goitacás,
os tamoios, os
carijós e
os temiminós.
Os potiguaras habitavam a região entre o Rio
Acaraú e o Rio Paraíba e controlavam a navegação fluvial. Durante
a conquista, aliaram-se aos franceses, sendo que alguns relatos falam de
casamentos entre potiguaras e franceses, envolvendo acordos bélicos anti-portugueses.
Os Tabajaras habitavam a margem meridional do rio Paraíba, na região atual do
litoral pernambucano. Foram importantes aliados dos portugueses durante a
conquista. Os Caetés habitavam a região de Pernambuco
desde Olinda,
"a Marim dos Caetés", até onde encontra-se hoje o estado de Alagoas,
desmembrado de Pernambuco. Tornaram-se célebres na História do Brasil por terem devorado o Bispo
Sardinha. Os Tremembés habitavam a margem ocidental do rio Acaraú. Os tamoios
habitavam a Baía da Guanabara; seus líderes, Cunhambebe
e Aimberê, aliaram-se com os franceses no combate aos portugueses. Os carijós
habitavam o litoral sul do país. Os tupiniquins habitavam a atual região do
Estado de São Paulo, e os Tupinambá a região sudeste do Brasil. Nosso
conhecimento do tupi antigo é principalmente baseado na língua dos
Tupinambás (embora esses não constituíssem os "principais tupis",
como alguns autores apontam).
Os povos tupis viviam em aldeias que reuniam de 600 a 700 habitantes.
Algumas aldeias eram fortificadas em razão das guerras inter-tribais. Nenhuma
autoridade aparecia com força absoluta ou consideravelmente forte sobre os
outros integrantes da sociedade, embora houvesse "hierarquias" em
função do gênero, do mérito guerreiro e dos poderes xamânicos. Os Pajés (Payes
em tupi antigo, intermediários entre o mundo religioso e o mundo dos homens) e
os Caciques (morubixaba em tupi antigo, chefes guerreiros) ocupavam, em geral,
o papel de autoridades das tribos. A subsistência baseava-se na caça e na
horticultura. Os homens acreditavam nos bons e nos maus espíritos (tupã,
anhang, etc.), que influenciavam os acontecimentos no cosmos. Cada homem trazia
um maracá, no qual acreditavam habitar um espírito protetor de cada indivíduo.
Acredita-se que apenas os filhos dos homens mais importantes da tribo fossem
enterrados nas urnas funerárias. Os acontecimentos religiosos tinham alcance
amplo, e reuniam diferentes etnias. Os antigos indígenas foram responsáveis por
inúmeras manifestações artísticas, como peças de cerâmica,
danças, canções/poesia (registradas por Léry) e, a que
mais impressionou os ocidentais, a plumária extremamente sofisticada e rica. A Literatura
Tupi aparece com a chegada da escrita europeia, quando missionários passam
a escrever em tupi para converter os nativos, e as crônicas transcrevem canções
indígenas.
Toponímias
A permanência de nomes tupis (tupi antigo,
nhe'enga tupi ou língua geral) para nomear diversas regiões do Brasil atual é um
indicador da influência da língua indígena na cultura brasileira. Os historiadores de Brasil
Colonial concordam que até o século XVIII o tupi era provavelmente
a língua mais falada em algumas regiões da América Portuguesa. Nomes de regiões, rios e
cidades brasileiras tem suas raízes no período de Pindorama, e
no período colonial. Alguns exemplos:
- Guaratinquetá = gûyrá-tinga-etá = Muitas Garças
- Jacareí = îakaré 'y = Rio dos Jacarés
- Piraguá = Pira Kûá = Baía dos Peixes
- Araraquara = Arara Kûara = Toca das Araras
O Brasil Pré-Cabralino e a
Europa
Do lado europeu, a descoberta do Brasil foi precedida por vários
tratados entre Portugal
e Espanha,
estabelecendo limites e dividindo o mundo já descoberto do mundo ainda por
descobrir. Destes acordos assinados à distância da terra atribuída, o Tratado de Tordesilhas (1494) é o mais
importante, por definir as porções do globo que caberiam a Portugal no período
em que o Brasil foi colônia portuguesa. Estabeleciam suas cláusulas que as
terras a leste de um meridiano imaginário que passaria a 370 léguas marítimas
a oeste das ilhas de Cabo Verde pertenceriam ao rei de Portugal, enquanto as
terras a oeste seriam posse dos reis de Castela
(atualmente Espanha). No atual território do Brasil, a linha atravessava de
norte a sul, da atual cidade de Belém do Pará à atual Laguna, em Santa
Catarina. Quando soube do tratado, o rei de França Francisco I
teria indagado qual era "a cláusula do testamento de Eva" que dividia o
planeta entre os reis de Portugal e Espanha e o excluía da partilhA
Serra da Capivara, Piauí
Serra da Capivara, Piauí
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