CITAÇÕES IRRELEVANTES SOBRE O NEGRO AFRICANO
“ Comparar gregos e africanos é, decerto, uma heresia acadêmica ?“.
Afinal, de um lado temos aqueles que são vistos como os verdadeiros criadores da civilização ocidental, os inventores da filosofia, do teatro, da democracia.
"Os africanos, ao contrário, tradicionalmente são vistos como selvagens e irracionais, particularmente no Brasil, país de vasta trajetória escravista e que durante muito tempo rejeitou o legado das diversas culturas negras que por aqui aportaram. O ideal do embranquecimento progressivo da população brasileira foi visto como a solução para o nosso “problema racial” até a década de 1930".
Até este momento inúmero intelectuais repetiram a acusação de que os negros jamais haviam sido capazes de criar uma civilização (SKIDMORE,1989). Em seu O espetáculo das raças, Lilia Schwarcz (1995) demonstra que, no Brasil, tanto as Escolas de Direito quanto as Academias de Medicina nasceram tendo na questão racial uma preocupação fundamental. Em 1895, na Faculdade de Direito de Recife,Silvio Romero (SCHWARCZ,1995:155) falava na
“ desigualdade original, brotada do laboratório da natureza, aonde a distinção e a diferença entre as raças aparecem como fatos primordiais frente ao apelo da avançada etnografia”.
Enquanto isso, o Brazil Médico, publicação da Academia de Medicina do Rio de Janeiro, publicava em um artigo datado de 1904 (SCHWARCZ,1995:223):
“Claro está que um branco imbecil será inferior a um preto inteligente. Não é porém, com exceções que se argumenta. Quando nos referimos a uma raça, não individualizamos tipos dela. E assim procedendo vemos que a casta negra é o atraso; a branca o progresso, a evolução... A demência, é a forma que mais avulta os negros. pode dizer que tornam-se eles dementes com muito mais freqüência, por sua constituição, que os brancos...”
“Ainda em 1921, o dr. Renato Kehl escrevia no Brazil Médico um artigo apoiando a esterelização eugênica tal como fora aplicada em Nova Jersey (SCHWARCZ,1995:233-4), pois “a esterilização fará desaparecer os elementos cacoplatos da espécie humana”.
Hoje em dia, aparentemente, teríamos superado esta etapa em que o pensamento científico brasileiro estava marcado pelo determinismo e pelo racismo. As mentalidades, entretanto, são fenômenos de longa duração, como nos alerta o historiador francês Jacques Le Goff.
“ E Ainda hoje, o campo científico brasileiro ainda não fez jus à importância do legado Africano” .
Tomemos um exemplo óbvio: há mais especialistas tupiniquins na História da Grécia Antiga do que na História da África. A História da África, está praticamente ausente dos cursos de graduação em História e simplesmente não existe a nível de primeiro e segundo graus. É revelador que o primeiro historiador a fazer um apanhado da questão racial no
Brasil tenha sido um brazilianista, Thomas Skidmore. No fim década de 1960, quando a historiadora americana Mary Karasch começou a estudar a vida dos escravos no Rio de Janeiro do século XIX, ouviu de inúmeros brasileiros que tal pesquisa era impossível de ser realizada, pois simplesmente não havia documentos (KARASCH,2000:22-23). Da mesma forma, as favelas cariocas só mereceram seu primeiro estudo acadêmico na década de 1960, obra de um casal de antropólogos norte-americanos, Anthony e Elisabeth Leeds (LEEDS & LEEDS,1978).
Talvez este atraso da academia brasileira em dedicar-se a este temas esteja aparentado com anossa modalidade de racismo envergonhado, que prefere, antes de tudo,
“ O silêncio “.
“ O silêncio “.
Estas citações representam, portanto, apenas um breve e superficial ensaio comparativo que serve de resposta àqueles que, conscientemente ou não, acreditam absurdamente existir um abismo entre a Grécia e a África ou entre a filosofia “grega e o samba”...
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