terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

FAZER UM ESTUDO SOBRE OMOLOKÔ

Mário Filho[1]

O Babalorixá Ornato José da Silva afirma, em seu livro, “Culto Omolokô: os filhos do Terreiro”, que a palavra Omolokô é de origem Yorùbá e significa: Ọmọ (filho) e Oko (fazenda). A fazenda, para o autor, seria a zona rural onde esse culto, por causa da repressão policial que havia naquela época (início do século XX), era realizado, ou seja, na mata ou em lugar de difícil acesso no interior das fazendas dos donos de escravizados. Talvez, por causa disso, possamos teorizar que hoje temos as denominações de "Terreiro" e "Roça" para os lugares onde os cultos afro-brasileiros e de matriz africana são realizados.
Podemos relacionar o significado da palavra Omolokô, também, com o Òrìṣà Oko, Orixá da agricultura ou com o Òrìṣà Irókò, Orixá que habita a árvore de mesmo nome.
Algumas fontes dão conta de que a origem do nome Omoloko, também está ligada ao povo Loko. A tribo Loko estava divida em tribos menores ao longo dos Rios Mitombo, Bênue e Níger, e no litoral de Serra Leoa. Sua cidade principal era Lokoja, que ficava muito próximo ao reino Yorùbá. Crê-se que alguns escravizados do povo Loko, no Brasil, vieram a formar o que alguns chamam de Nação Omolokô.
No culto Omolokô as divindades possuem nomes em língua Yorùbá, Fon-Ewe ou Congo-Angola. Na maioria dos Terreiros Omolokô há o culto aos Orixás, em semelhança ao Candomblé Ketu, por isso são utilizados os Oríkì (poemas laudatórios) para homenageá-los e são assentados de forma semelhante. Os Orúkọ(nomes iniciáticos) são dados por meio da consulta ao jogo de búzios.
Podemos afirmar que o nome Omolokô define um culto originário do Rio de Janeiro com práticas rituais e de culto aos Orixás e que aceita cultos aos Caboclos, aos Pretos-velhos e demais Entidades Espirituais da Umbanda. O culto Omolokô é apontado por estudiosos do assunto e praticantes como um dos principais influenciadores da formação da Umbanda africanizada ao lado do Candomblé de Caboclo, da Cabula e do próprio Candomblé.
Para o músico e escritor Nei Lopes o Omolokô seria um “antigo culto banto cuja expansão se verificou principalmente no Rio de Janeiro, na primeira metade do Séc. XX. O nome liga-se provavelmente ao quimbundo muloko, ‘juramento’; ou ao suto, moloko, ‘genealogia’, ‘geração’, ‘tribo’. Na Angola pré-colonial, Ngana-ia-Muloko era o sacerdote encarregado da proteção contra os raios”.
A Umbanda Omolokô foi organizada por Tata Tancredo da Silva Pinto, cujo nome iniciático (Sunna) era Fọ̀lkétu Olóròfẹ̀. Para ele, o culto Omolokô chegou ao Brasil proveniente do sul de Angola, onde era praticado por uma pequena tribo pertencente ao grupo Lunda-Quiôco, que ficava às margens do rio Zambeze, que lhes fornecia alimentação no período das cheias.
Tata Tancredo afirmava que “a Umbanda é(gn) africana, é um patrimônio da raça negra” e que achava graça quando ouvia os “líderes da Umbanda Branca dizendo que a religião [apenas] sofre influência das tradições africanas”. (FREITAS e PINTO, 1957, p. 58). Para ele, a Umbanda é um culto de origem africana e esse viés africanista da Umbanda pode ser visto em uma de suas afirmações: “Terreiro de Umbanda que não usar tambores e outros instrumentos rituais, que não cantar pontos em linguagem africana, que não oferecer sacrifício de preceito e nem preparar comida de santo, pode ser tudo, menos Terreiro de Umbanda.” Para afirmar a característica africana da Umbanda e dar uma formação intelectual aos praticantes do Omolokô, organiza no Rio de Janeiro o primeiro curso de língua e cultura Iorubá.
Na Umbanda Omolokô há o culto aos Orixás (se tiver um viés Ketu), aos Bacuros e Inkices (se tiver um viés Angola-Bantu) ou Voduns (se tiver um viés Fon-Jêje). Há também o culto às entidades encontradas em outras vertentes de Umbanda tais como Pretos Velhos, Boiadeiros, Baianos, Marinheiros, Crianças, Exus, Pomba Gira (Bombogira) e outras entidades encontradas no Catimbó-Jurema, Toré, Babaçuê, Tambor de Mina etc.
Várias casas de Umbanda, cujas formas de culto são consideradas de cunho africanista, originaram-se do culto Omolokô, ou das antigas Casas de Macumba que, mais tarde, foram reconhecidas como praticantes do culto Omolokô, especialmente depois da divulgação de suas práticas nos livros escritos por Tata Tancredo da Silva Pinto. Essas Casas mantiveram uma estrutura de culto aos Orixás, em harmonia com os guias espirituais.
Sobre a Umbanda Omolokô, podemos ver no sítio de Internet da Federação de Umbanda do Brasil (FUB)
 a seguinte afirmação: “Não objetivamos afirmar que a Umbanda Omolokô seja a melhor ou a pior. Em minha concepção a Omolokô é a mais ‘original’, no sentido de manifestações, é a que mais se próxima daquilo que as entidades que povoam os cultos afro-brasileiros ou afro-ameríndios representam. No Omolokô as entidades não precisam se utilizar dos comportamentos ‘doutrinados’, em que tudo é padrão. As entidades podem se manifestar livremente e isso é muito desejável. Os Babalorixás e Yálorixás não determinam como as entidades devem se manifestar, apenas determinam como deve ser o comportamento ético do médium, colaborando com seu crescimento espiritual, atraindo para si entidades de Luz.”

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