O Baobá e o Poeta
Uma árvore que floresce durante o verão do hemisfério sul e as flores
duram breves e leves 24 horas. Breve, aqui, é um tempo relativo como
todos os outros tempos. Comparando-o com a trajetória do poeta, o baobá é
mais que uma espécie rara e carregada de pecularidades. Possui vida
longa, milenar, porém florida com cores em crescente e rápida harmonia:
desabrocha de um botão verde, surgindo branca, depois creme, marrom e,
por fim, violeta aveludado. Assim é a flor do baobá. Assim é feita, em
tons diversos e coerentes, a vida do homem-árvore.
O baobá, de origem africana, não é comum no Brasil. Em Natal, a
imponente e gigantesca árvore está situada num terreno da Rua São José,
no bairro de Lagoa Seca, e encantou o poeta desde quando a viu pela
primeira vez, ainda menino. A árvore tem altura de 18 metros e mede 17
metros e meio de circunferência. Atinge uma longevidade de três a seis
mil anos. Durante trinta anos Diógenes desejou o baobá e, quando o
terreno de 700 metros quadrados foi posto à venda, ele o comprou.
foto: Fred Filho
Árvore considerada sagrada, onde líderes e guerreiros de certas tribos
africanas eram enterrados com seus amuletos para que suas almas se
misturem à alma da árvore, tem o nome científico de Adansônia digitata.
Diz a lenda que os corpos enterrados dentro do baobá se mumificam. São
considerados verdadeiros hotéis da selva, pelo número considerável de
insetos, pássaros e macacos que deles se servem como pouso.
fotos: Fred Filho
No Brasil são conhecidas apenas vinte, sendo três deles no Rio Grande do
Norte: em Natal, Nísia Floresta e Macaíba. Luís da Câmara Cascudo
defendia a tese de que essas árvores vieram da África trazidas pelos
escravos. Outra versão diz que os baobás chegaram ao Nordeste por
iniciativa de Maurício de Nassau, que criou no Recife um jardim botânico
no século XVII. Para Diógenes, não foi à toa que o baobá transformou-se
num dos personagens do livro de Saint-Exupéry, pois o piloto-escritor
conheceu a árvore da Rua São José nos anos 30 do século passado, em
companhia do pioneiro da aviação comercial na travessia do Oceano
Atlântico, Jean Mermoz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário