DANÇA NO CANDOMBLÉ IV
Os desenhos das danças
As
danças são estruturadas em coreografias executadas no xirê, ou durante a
incorporação. São muitas e diferentes e só uma longa convivência
permite conhece-las e descreve-las. Como pude observar, os movimentos
contam e mostram as palavras das cantigas e as características da
personalidade dos orixás. A troca da coreografia acontece quando tira-se
uma outra cantiga. A forma coreográfica de algumas danças repetem-se,
por isso tentarei encontrar o sentido simbólico delas.
Primeira
entre todas é a forma do círculo, a antiga roda sagrada, que pode ser
encontrada em várias culturas; de fato, em todas as danças extáticas, os
dançarinos rodam em torno de um centro, ao tempo em que rodam também
sobre si mesmos num duplo movimento de rotação e translação.
A
forma do círculo tem uma grande importância na África, Neumann
(1981:214), simbolizando a Grande Mãe, que em si contém os elementos
masculinos e femininos. Por isso as coreografias referentes as
divindades da Água: Oxum e Iemanjá possuem um movimento circular.
É
interessante observar que as danças extáticas rodam em sentido
anti-horário, esta direção é tomada em quase todas as danças sagradas do
mundo, talvez porque abre a brecha entre sagrado e profano,
simbolizando a volta à origem.
As
danças começam em um grande e lento círculo que vai diminuindo ao longo
do ritual com voltas sobre si, durante as incorporações, a simbolizar
uma direção para o interno. Como o círculo, a espiral é um símbolo
antiquíssimo. A espiral aparece nas rotações que as filhas-de-santo
fazem sobre si mesmas, quando incorporam ao longo do ritual e nas danças
de Exu.
A
espiral é o símbolo da comunicação (Santos:1977; Pelosini:1994). Assim,
quando o orixá possui o corpo da filha-de-santo, realiza-se uma
comunicação entre o homem e a divindade. Enquanto o corpo vira sobre si
mesmo, a energia do orixá penetra no corpo. Não é por acaso que Exu, a
divindade da comunicação [8], roda sobre si mesmo desse modo. A espiral
expressa a evolução a partir de um centro; simboliza a vida, porque
indica o movimento numa unidade de ordem ou, ao inverso, a permanência
do ser na mobilidade. Durand (1972) sugere que, a espiral, simboliza a
permanência do ser, através das flutuações da mudança da vida”.
A
espiral poderia simbolizar a procura do próprio espírito ao longo do
difícil caminho místico. Partindo de um ponto firme, alcança, com voltas
o mundo do sagrado. Não é por acaso que, no candomblé, a espiral
encontra-se no okoto, associado a Exu, orixá que expressa a dinâmica da
vida, o movimento interno na criação e na expansão do mundo. Exu é o
princípio dinâmico da evolução e o mensageiro entre o homem e a
divindade, sem ele nada pode ser cumprido.
Conclusões
Os
versos de Senghor esclarecem a importância da dança, a dança é a
possibilidade de conhecer o outro, dançando exprimem-se o lado mais
profundo e misterioso do ser e também liga-se na essência do outro. Um
outro que pode ser encontrado dentro de nós dançando-o e pode ser olhado
como um espelho. Eis o conceito do "duplo", a sacerdotisa-dançarina
está criando o outro e também neste processo de criação-incorporação o
vivência intensamente em si mesma e adquire a sua pulsação-ritmo
interna.
A
dança tem um sentido particular porque é a expressão da divindade e da
identidade mais verdadeira da filha ou do filho-de-santo. Cada um possui
a própria "identidade-sonora", o próprio duplo no orum, que o fiel
encontra no momento da possessão e que aprende a reconhecer e a conhecer
através da dança e da música. E pelo corpo que o ser humano começa o
caminho do conhecimento e o papel por ele desempenhado no cosmo e na
sociedade. Sendo no corpo que o ser humano vivência a própria
experiência da vida e junta as várias informações simbólicas sobre o
mundo, é no corpo divino, que vivenciando as energias sagradas, ele pode
se comunicar com o sagrado, pode juntar o lado sensível com aquele
material, porque não dados cognitivos, mas as cores, as formas, os
sentimentos internos dão forma á matéria.
Os
ritmos dos atabaques levam o fiel numa viagem que o transforma, porque
toma posse do tempo que flui e do espaço que não tem mais lugar
definido, o fiel volta ao tempo da origem. A percussão dos atabaques,
como sustenta Duplan, é a materialização do tempo e tomar consciência do
tempo é conhecer a nossa linhagem, a nossa historia. Cada ser humano é
um anel de uma corrente infinita que originou-se com o nosso
ancestral-mítico. O corpo age no mundo sagrado através dos movimentos da
dança e interage com o espaço e com o tempo. Espaço que refere-se a uma
tipografia sagrada onde cada objeto, cada planta remetem a outros
planos da existência.
DANÇA NO CANDOMBLÉ III
A dança do vento
As
danças dos orixás são diferentes entre elas. O sentido profundo das
danças, como do ritual em geral não pode ser completamente descoberto,
porque existem vários significados estratificados e alguns são
perceptíveis apenas pelos iniciados.
Nas
coreografias de Oiá , os passos são pequenos e rápidos, ela è o
elemento ar em movimento, enquanto os braços movimenta-se com força
afastando qualquer um da sua frente. O corpo pode ser dobrado para o
chão, com uma carga muito ameaçadora, mais freqüentemente é direcionado
para o alto. Como diz Augras (1983:153):
“pode-se
observar muitos detalhes que sugerem a fusão, na figura de Oiá-Iansã,
de várias divindades, de origens diversas”.... A Oiá relacionada com
Oxossi, “... foi provavelmente uma deusa agrária, ligada aos cultos da
fecundidade e do boi”.
Oiá
viveu em várias épocas, por isso possui ligações com vários orixás
masculinos. O fato de ser uma mulher-búfalo deixa bem claro a sua
ligação com uma era pré-histórica antiga e a sua relação com Oxossi, rei
do mato e com Ogum da mesma estirpe de Odê, o caçador. A sua ligação
com Xangô originam-se dá descoberta do fogo que ela doa aos homens. A
ligação com Ogum é esclarecida também pelo seu trabalho junto com ele na
forja, para manipular o ferro. Enfim, sabe-se que de Omolu, a livre
deusa recebe o poder sobre os Eguns, que, em algumas lendas, seriam os
próprios filhos de Oiá-Iansã. Todos esses aspectos e outros mais são
expressados nas suas danças nas quais existem os seguintes aspectos
gerais:
1)
- um movimento circular no começo para delimitar o espaço sagrado, no
qual ela concentra as energias da natureza: o ar, a água e o fogo. Essa
rotação é feita também com movimentos dos braços que viram com o corpo
todo, e simbolizam o ar que, em movimento, torna-se vento e, sempre mais
rapidamente, furacão e tempestade (água);
2)
- um movimento com linhas quebradas e continuamente mutante de direção.
Como me explicou uma filha de santo, “o ar está em todo lugar, em cima,
embaixo, de lado, em qualquer lugar”. Por seguir o movimento do ar,
Oiá-Iansã encontra sempre novas direções, possui o espaço sagrado e
ocupa-o agressivamente;
3) - um movimento nervoso, com impulsos súbitos e rápidos, que descreve a eletricidade e a impaciência dessa energia;
4) - um movimento fluido e leve, que expressa o ar leve e a doçura do orixá, levando os espíritos dos mortos ao orum.
O
primeiro movimento pode ser entendido a partir da discussão anterior
sobre a roda sagrada. Aponta a construção de um espaço mágico, onde se
concentra e onde se fazem concentrar as forças da natureza. Também o
redemoinho que Oiá-Iansã faz sobre si mesma è o movimento do elemento
ar. Ela ocupa muito espaço, sobretudo ao nível horizontal. Às vezes,
abre os braços, puxa a cabeça para trás e roda sobre si mesma,
desenhando uma espiral com o próprio corpo. Deixa claro, através da sua
postura firme, que precisa de muito espaço e que é dona deste. A
utilização do espaço é diferente da observada nos outros orixás
femininos, Iemanjá e Oxum, que dançam com movimentos de menor dimensão
horizontal. Quando Iemanjá locomove-se como onda, por exemplo, ela ocupa
um espaço mais em vertical e também seu movimento é um andar e um vir
para si mesma, é um movimento mais introspectivo, mais ligado à
interioridade, enquanto Oiá-Iansã movimenta-se para o exterior, ela é
mais ligada à ação.
Quanto
ao terceiro aspecto, Oiá-Iansã movimenta-se em diagonal. Anda pelo
barracão, sem uma meta precisa, qualquer coisa nova a seduz e provoca um
repentino câmbio de direção. Esse movimento transmite o frêmito e a
curiosidade de Oiá, que está sempre a procura de algo ou de alguém. Pode
parecer quase desesperada, nesse seu andar sem meta e com tanta
energia. Oiá é um orixá jovem e guerreiro, que abre os caminhos, lutando
e limpando as marcas dos Eguns em qualquer lugar.
O
último aspecto é a leveza que ela expressa quando afasta os mortos,
transporta algo, ou abre o caminho para os seus devotos. Nessa sua
qualidade, ela parece mais flexível. Aqui demonstra a sua generosidade,
transportando as almas ao orum, para uma nova vida.
Os
níveis do seu corpo no espaço, níveis que, do baixo passam para o alto,
expressam sensualmente o elemento ar. Nem os pés estão postos no chão. É
muito diferente, por exemplo, o nível da dança de Iemanjá, que utiliza
mais o nível médio e baixo. Para fazer um exemplo, quando Iemanjá dança
representando a onda do mar, o corpo permanece mais nesses dois níveis.
Ela expressa o lado feminino da fecundidade, da reprodução, do interno
e, por isso, é mais chegada ao nível baixo, aos órgãos sexuais e da
reprodução, ao útero, enquanto Oiá é mais ligada ao nível médio e alto
por que ela não tem relação com os órgãos internos, mas com a aventura,
com a ação livre, com o externo.
Analisando os níveis espaciais, pode-se reconstruir toda a história mitológica de Oiá.
-
Quando ela dobra-se para o chão, é a guerreira, que se prepara a lutar
ou a mulher-bufalo. Nessa fase, as lendas contam a sua vida afetiva com
Ogum e Oxossi, orixás do mato;
- Quando ela levanta-se de nível, representa a sua ligação com Xangô, a magia do fogo;
-
Quando o nível é alto, representa o ar, e as lendas contam a sua
ligação com os espíritos dos mortos, que ela transporta no orum.
Ela
toma consciência do espaço dinamicamente, andando, explorando,
procurando. Enquanto Iemanjá é mais estática, para, tem o andamento
devagar de uma grande rainha, constrói ao seu redor círculos
concêntricos que vão sumindo aos seus limites. Este uso diferente do uso
do espaço, provavelmente, origina-se dos diferentes povos que cultuavam
as duas divindades. Segundo Leroi-Gourhan (1977: 130):
“A
mitologia dos caçadores organiza-se ao redor de um espaço itinerante,
como o caminho dos astros ou dos heróis, enquanto a mitologia dos
agricultores-sedentários organiza-se ao redor de um espaço radiante,
como o paraíso sobre uma montanha com a árvore da sabedoria ao centro e
quatro rios que vão aos limites do mundo”.
As
danças de Iemanjá são muito diferentes, são constituídas por movimentos
amplos, os pés posam mais no chão, a demostrar o equilíbrio, enquanto
os braços movimenta-se com grande fluidez. O corpo está levemente
dobrado para o chão em uma forma redonda a lembrar a forma materna da
deusa e a sua disponibilidade em acolher e em conduzir, o corpo todo
expressa o movimento rítmico das ondas, mas também o mistério da água
que traz do fundo do mar para as superfícies as riquezas e o encanto do
mar.
DANÇA NO CANDOMBLÉ II
continuação......
O corpo sagrado
O
homem está em contato contínuo e harmônico com a natureza, que fala com
os mortais através das suas vibrações, captadas pelo corpo, por isso
ele não é negado, mas vive o seu compromisso com o mundo. Os seus ritmos
são acompanhados de uma experiência sensual contínua. Eis por que o
corpo é decorado para mostrar a sua importância e resguardá-lo dos
ataques mágicos externos, protegendo as aberturas com decorações ou
jóias, como os brincos cheios de ‘pendentes’.
O
corpo sagrado é o templo por excelência, é simbolicamente o "trono" e,
por isso, o das divindades (típica é a representação de Hísis sentada) é
sempre representado (Neumann, 1981:101) como: “um trono em si”.
Portanto as cadeiras são uma área sagrada do corpo humano, onde a bacia e
as nádegas representam a fertilidade.
Centro
da irradiação simbólica portanto é o corpo, expressão das energias da
natureza e em unidade com o mundo natural que o abrange. Daí a sua
função de busca das energias cósmica e da expressão delas,
vivenciando-as.
Sendo
o corpo humano uma cópia das formas e das energias do cosmo, os
próprios elementos ( fogo, ar, água, terra e mato) juntam-se segundo
arquétipos diferentes. As palavras do biólogo Pelosini (1994:94)
aplicam-se bem à concepção africana do corpo humano :
“...o
universo (macrocosmos) e o homem (microcosmos) são criaturas similares,
que obedecem às mesmas leis como um tipo de fantástico e perfeito
relógio cósmico que marca harmoniosamente os ritmos”.
O
corpo é então um centro de forças opostas que devem estar em equilíbrio
e em relação complementar. Na mesma maneira a pessoa pode ser percebida
como o resultado do equilíbrio das diversas partes do corpo, símbolo da
comunicação entre o mundo natural e aquilo sobrenatural.
Mas
o corpo adquire um sentido também na interação com o espaço e com o
tempo. Espaço atravessado pelas energias da natureza que criam campos
energéticos que colocam cada elemento em relação com o outro, segundo o
principio fundamental da existência africana que propõe uma visão de
mundo ligada a comunicação entre todos os seres humanos e não humanos.
A dança cosmica
Shiva
criou o universo dançando, assim como nos mitos gregos Eurinone, Deusa
de Todas as Coisas, emergiu nua do Caos, mas não vendo substância em
redor onde firmar os pés, apartou do céu o mar, dançando solitária por
sobre as suas ondas. (Graves, 1990:31). Nas lendas dos Iorubás, os
orixás também gostavam muito de dançar durante as festas ou para atrair
alguém.
Entendem-se
assim que não só no pensamento africano, mas também no oriental e grego
o universo é percebido em contínuo movimento, formado por ondas
vibratórias organizadas no "verbo" da Divindade Suprema que expressa-se
na respiração com os dois movimentos básicos da natureza viva: expansão e
contração. Movimentos fundamentais da vida do cosmo, das plantas, dos
animais e do homem. Belinga diz (1993:11):
"Nas
nossas tradições o ‘verbo’ possui três elementos que o determinam e que
permitem a sua colocação seja entre as formas artísticas, seja na
comunicação interpessoal. Três são as formas nas quais o "verbo"
manifesta-se: a palavra, que caracteriza a expressão interior e exterior
do pensamento; a música que expressa a beleza; e por fim a dança, que é
em função seja dos ritmos dos instrumentos seja do ritmo interior do
‘verbo’ ”.
Sendo
o candomblé de tradição oral, a visão de mundo é passada por meio do
corpo através de um longo percurso de aprendizagem e de incorporação dos
fundamentos religiosos que o propõe como instrumento de memória para a
comunidade e de sabedoria para o fiel. Por isso a dança e a música
associadas ao mito, tem a função de uma literatura nas sociedades de
tradição oral e possuem uma pluralidade de sentidos: a história da
etnia, a visão do mundo, o ethos do grupo, a organização da sociedade e
as crenças religiosas e várias funções como aquela de fortificar o grupo
e o conhecimento da comunidade sobre ela mesmo, além de expressar a
identidade individual e espiritual da dançarina.
Esta
pluralidade de sentidos é expressa por meio do símbolo principal da
dança: o corpo da sacerdotisa-dançarina, um microcosmos, no qual
encontra-se todas as energias da natureza em um equilíbrio único e
específico de cada indivíduo, espelho das energias do macrocosmos. A
dança sagrada contempla dois aspectos: um lado exterior e um lado
interior. O primeiro é transmitido por meio dos movimentos, as roupas
litúrgicas e os objetos sagrados. O segundo é a transformação interna em
algo outro, diferente da identidade cotidiana, é o duplo espiritual que
encontra-se no orum.
O
segundo aspecto exterior são as roupas litúrgicas, os materiais com os
quais são costurados nos contam as fontes de subsistência (por exemplo
uma roupa de conchas mostra que aquela comunidade vive de pesca) e nos
indica qual seja a sua posição na hierarquia social (através da posição
de algumas partes do vestido percebe-se se são mulheres iniciadas ou não
e há quanto tempo; se são filhas de uma divindade feminina ou não,
etc.).
O
terceiro aspecto, aquilo dos objetos sagrados relata: a qualidade do
orixá, a sua ligação mitológica e a sua função cósmica, por exemplo o
abebé, um leque e a espada de Iemanjá relatam seja o lado guerreiro da
deusa seja a sua ligação com o mundo feminino relatado por meio da forma
redonda do abebé e da cor de prata do mesmo que lembra a lua, o
elemento do feminino por excelência.
O
aspecto interior da dança é a metamorfose que acontece dentro da
sacerdotisa ao longo do transe. Este fenômeno, do qual muito se
escreveu, mas sem alcançar uma explicação exaustiva devido ao fato de
ser uma experiência de fé, intima e preciosa e por isso dificilmente
compreendida por aqueles que não a experienciaram.
Tanto
a música, quanto a dança que a acompanha expressam o caráter do orixá e
os acontecimentos da sua vida. As histórias míticas, as qualidades, as
virtudes e as falhas dos orixás são passadas aos fiéis através das
letras das cantigas. A concentração e a busca interior permitem
expressar a própria música e a própria gestualidade, que é única e
pessoal e que corresponde à "qualidade" de cada orixá.
Assim,
por exemplo a música de Oiá é caracterizada por grande rapidez,
agressividade, determinação e grande variabilidade, percebe-se assim a
personalidade da deusa que expressa o elemento ar em movimento. O uso da
polirritmia no toque de Oiá tira a possibilidade de encontrar uma pausa
no ritmo e dá ao toque a sensação da impossibilidade de botar os pés no
chão. Enquanto a musica de Iemanjá é caracterizada por movimentos
lentos e amplos, que expressam o movimento das ondas do mar. Por sendo
em ritmo binário a sensação é aquela de um movimento circular,
expressado também na dança.
Na festa pública do candomblé são reconhecíveis dois tipos de dança:
a)
um primeiro tipo, no começo da festa, o xirê (literalmente “brincar”),
onde se canta para todos os orixás um mínimo de três cantigas,
acompanhadas pelas danças. Cada orixá possui cantigas e gestualidades
particulares, pertencentes só a ele. Essas danças são previsíveis,
porque são executadas ainda em estado consciente e seguem um padrão
fixo, a depender do orixá dono da festa. São danças de invocação e de
preparação, poderia ser equiparada a uma meditação dinâmica. Os
movimentos são de dimensão pequena e chamam-se “dançar pequenino”.
Servem para concentrar as energias, mas também para as pessoas se
centrarem e para prepararem-se a receber o orixá;
b)
um segundo tipo, são danças realizadas durante o transe; é o próprio
orixá que dança nesse momento, seguindo o ritmo sagrado dos tambores.
Nessa segunda parte, o andamento da festa não é fixo porque, apesar de
existir um padrão, não se pode saber exatamente quais serão as
coreografias que os orixás irão dançar, pois o andamento depende de
varias causas visiveis e não.
Cada
orixá possui um toque característico que o identifica mais varias
cantigas com ritmos diferentes que são executados com outras frases
coreuticas. Então cada divindade possui um proprio repertório de danças e
um repertório próprio de cantigas nas quais são relatados os fatos
míticos da sua vida. Assim que cada casa de candomblé possui um mínimo
de 500 cantos liturgicos, por isso è muito difícil ter uma idéia clara
do desenvolvimento do ritual. O orixá mostra ao público a sua história
mitológica, redistribuindo a energia vital, axé e trazendo o mundo
sagrado de volta ao cotidiano.
continua...........
DANÇA NO CANDOMBLÉ I
DANÇA, RESGATE CULTURAL E APRENDIZADO
A dança africana é uma forma de expressão artística muito complexa, inserida num
contexto dentro da sociedade africana e afro-descendente mundial. Sua força, beleza e vigor podem ser sentidos tanto no sapateado Muchongoyo de Zimbabwe, nas danças de máscaras Geledé na Nigéria, no samba e capoeira do Brasil, na rumba Cubana, nas danças dos saltitantes Zulus. A magia que une essas danças de lugares e povos tão diferentes pode ser chamada de um instinto de comunhão que une a raça negra espalhada pelo planeta, através de um vínculo ancestral por memória, epopéia e tradição oral.
No Brasil coube ao Candomblé, preservar a maior parte das danças sagradas africanas. No culto religioso a dança possui um papel fundamental, pois é ela que RELIGA o homem ao SEU LADO DIVINO, é a dança que leva a uma compreensão e comunhão com a Natureza, a Vida.
Existem duas correntes básicas que tentam explicar o aparecimento dos Orixás. Uma delas remonta a criação do Universo, a outra narra que os Orixás foram seres importantes, donos de grande poder em vida, que morreram de maneira incomum, tomando o caráter de um dos elementos da natureza. O Orixá Xangô foi Rei de Oyó, o Orixá Oxóssi, rei de Ketu.
Nas danças os Orixás mostram seu poder e suas estórias através dos movimentos:
• Xangô, deus do fogo e da justiça, pode dançar com seu oxê, um machado de dupla ponta fazendo justiça na terra ou com o fogo que gera a vida;
• Os braços de Oxóssi, deus da caça, assemelham-se a flechas e suas pernas parecem
cavalgar enquanto caça o alimento para a subsistência de seu povo;
• Oya-Iansã, deusa dos ventos e da magia, espalha os ventos com seus braços e saia, numa dança guerreira e sensual;
• Oxum, deusa da beleza do ouro e das águas doces, banha-se nas águas dos rios enquanto penteia-se balançando suas pulseiras e olhando-se no espelho;
• Iemanjá, deusa-mãe dos Orixás, a senhora do mar, segura seus filhos queridos nos braços;
• Nanã dança com o Ibiri carregando-o como se ninasse um bebê;
• Ogum, deus da guerra, da forja, segura suas duas espadas guerreiras em suas mãos: com a primeira mata seus inimigos, com a segunda limpa o sangue da primeira; etc.
A dança negra reverencia as origens através da repetição dos gestos ancestrais que foram passados de pai para filho, mantendo viva a ligação com os antepassados que praticaram os mesmos gestos.
A dança africana possui sete dimensões estéticas que podem ser percebidas inclusive em técnicas modernas que se inspiraram na dança tradicional:
o POLIRRITMIA – mostra que cada parte do corpo movimenta-se com um ritmo e com uma forma diferente, proporcionando o conhecimento do ritmo próprio e variante de cada aspecto da natureza.
o POLICENTRISMO – indica que há vários centros no corpo humano que dão impulso à dança, assim como no Universo existem vários centros energéticos.
o CURVILINEARIDADE – encontrada em várias danças e em vários movimentos, uma vez que ao círculo é conferido o poder sobrenatural, criando a estabilidade fora do tempo.
o DIMENSIONALIDADE – é entendida como a possibilidade de exprimir as várias camadas dos sentidos: olhar, ouvir que seria o lado externo dos movimentos ligados com uma outra dimensão mais interna e espiritual, sintetizada pela parte central do corpo.
o REPETIÇÃO – como forma de intensificar e provocar o caráter de atemporalidade, quando o gesto permanece o mesmo apesar do passar dos anos, e de continuação destes gestos no futuro.
o ASPECTO HOLÍSTICO – na dança os movimentos, as partes do corpo utilizadas, as roupas vestidas, a música, cada elemento têm um sentido próprio, porém juntos simbolizam algo outro. Uma dança realizada para uma simples diversão também pode remeter a outra coisa, numa corrente simbólica infinita.
o MEMÓRIA ÉPICA – é a história da tradição e da antiga harmonia da natureza, da época na qual não existiam diferenças, nem separações. Memória que têm que ser lembrada e fortalecida. (Asante; 1996:71)
A dança tradicional africana gerou técnicas precisas de aprendizado na dança como a
técnica de Katherine Dunham - baseada no folclore haitiano, Mundalai, o Jazz Norte-Americano e o Street Dance.
No Brasil, a dança negra não está mais vinculada apenas ao Candomblé. A capoeira,
samba, axé, os blocos de afoxé e carnavalescos bebem nas águas da dança tradicional e religiosa africana.
A dança no candomblé é um dos caminhos que reintegra a energia cósmica do devoto ao seu Orixá de origem, portanto ao Orum, morada dos deuses que um dia de lá partiram para criar o nosso mundo, o Aiê.
O candomblé è uma das religiões afro-brasileiras que mais manteve as caracteristicas de uma religião africana: a adivinhação, o sacrificio/oferenda, o transe e a dança com a musica. Salvador de Bahia é considerada no Brasil o berço desta religião pela quantidade de população de origine africanas que vive na cidade e no estado, o 80% das pessoas é discendente dos escravos que foram deportados nos seculos passados nesta região. Existem mais de oito mil terreiros, casas, de candomblé só na cidade de Salvador, por isso a cidade foi chamada a Roma negra por uma grande mãe de santo, a finada Mãe Aninha que fundou em 1910 um dos mais tradicionais terreiros da Bahia, o Axé Opó.Afonjá.
A pesar da discussão entre estudiosos sobre a colocação do candomblé nas religiões politeistas, existe um grande debate sobre este assunto, pois muitos antropologos acham ser um tipo de monoteismo (Carneiro, 1947), existe um principio primo, Olorum ou Olodumarê que originou a terra. Os orixás foram enviados por ele para construir a terra, a natureza e os seres humanos. Por causa de uma interdição não respectada os dois mundos o aiyê, a terra, e o orum, o mundo dos espiritos, foram separados, mas por causa da tristeza dos seres humanos e dos deuses que não podiam mais se encontrar, teve origine o candomblé com a finalidade de juntar de novo os dois mundos nas festas que periodicamente são organizadas para os orixás.
As culturas tradicionais não-ocidentais e as culturas minoritárias européias propõem o corpo em um sentido simbólico, não no sentido da psicanálise que fala dos símbolos para sublinhar uma outra separação, aquela entre consciente e inconsciente, mas no sentido de eliminar a fronteira que separou a alma do corpo, colocando-os junto. (Galimberti, 1993:13). A África, o oriente, as culturas indígenas, as culturas mediterrâneas colocaram sempre uma grande atenção e cuidado ao corpo percebendo-o como um todo em relação com o mundo no qual vive. Por isso durante o transe o corpo da filha ou filho-de-santo torna-se o próprio orixá superando a dicotomia cartesiana corpo/espirito, forma/conteúdo. Mas esse corpo além de experiência vivida é também uma superfície de escritura, no qual a sociedade escreve o texto das suas leis. Cada cicatriz, cada enfeite é um traço inapagável, um sinal que faz do corpo uma memória. Por isso as sociedades não-ocidentais iniciavam e iniciam os adolescentes ou os seus membros à vida social da comunidade com vários tipos de rituais, desenhando ou marcando o corpo com pinturas ou incisões, porque o corpo tem que ter o sinal do grupo, o traço da passagem da juventude à maior idade ou da entrada em um grupo esotérico.
Por isso a estética ritual possui uma importância fundamental seja na preparação da festa, seja nos trajes litúrgicos. É uma estética padronizada em modelos fixos e transmitidos no tempo que nos falam da história e da memória do grupo. A arte ritual funciona como representação do invisível, sendo o seu objetivo aquilo de chamar as forças imateriais.
Arte e religião
As civilizações africanas são caracterizadas por uma visão holística e simbólica da vida. Cada ser vivente e não é ligado ao outro numa corrente infinita de sentidos nos quais cada elemento existe em função do outro, participando assim à dinâmica do cosmo, em uma eterna procura e reestabelecimento de harmonia e de equilíbrio.
É só a arte que tem o poder de traduzir com as formas o sagrado. Como sugere Marchiano (1977:217):
“A forma...., é o único meio humano que permite a transcendência) do nível sensível, a não identificação com aquilo que muda, a conversão do estético no teorético”.
Na tradição do candomblé, o conceito do belo ocidental não existe, mas como sublinha Luz (1995), os Nagô definem o belo com a palavra odara, que significa bom, útil e bonito. Esteticamente um ser humano ou um objeto é belo porque traz consigo uma determinada qualidade e quantidade de axé e realiza assim uma comunicação entre ele e a comunidade.
Os estudiosos da arte e das civilizações africanas, como a historiadora Welsh Asante (1985) e Thompson (1974) reconhecem na dinâmica o aspecto mais importante e profundo da estética dessas culturas, seja na dança, seja na arte visível e gráfica. A dinâmica é um dos conceitos fundamentais da ontologia africana para a qual existe a possibilidade da mudança e da transformação na vida por meio da comunicação com o mundo espiritual, aquele dos orixás.
Outro conceito fundamental na filosofia da existência africana é a importância do grupo, para que a comunidade viva cada fiel deve participar seguindo o papel que lhe pertence a nível espiritual e terreno.
A Asante explica os critérios estéticos das artes africanas subjacentes a dança e a música. Primeiro entre todos a polirritmia: cada parte do corpo movimenta-se com um ritmo diferente, os pés seguem a base musical, acompanhados pelos braços que equilibram o balanço dos pés. O corpo pode ser comparado a uma orquestra que, tocando vários instrumentos, harmoniza-os numa única sinfonia. Outra característica fundamental é o policentrismo que indica a existência no corpo e na musica de vários centros energéticos, assim como acontece no cosmo. A dança africana é um texto formado por várias camadas de sentidos. Esta dimensionalidade é entendida como a possibilidade de exprimir através e para todos os sentidos. No momento que a sacerdotisa dança para Oxum, ela está criando a água doce não só através do movimento, mas através de todo o aparelho sensorial. A memória é o aspeto ontológico da estética africana. É a memória da tradição, da ancestralidade e do antigo equilíbrio da natureza, da época na qual não existiam diferenças, nem separação entre o mundo dos seres humanos e os dos deuses. A relevância da obra artística é dada pela transmissão da harmonia, que liga algo dentro e algo fora, o corpo e o espírito, a natureza e o homem. Mas sem a inspiração divina o escultor, o dançarino, o musico não poderiam criar o "momento artístico-religioso".
A repetição do padrão-musical, não é uma simples repetição, mas a criação daquela energia que os fieis estão invocando. A repetição dos movimentos produz o efeito da intensificação que leva ao encontro com a divindade, facilmente observado nos rituais. O mesmo ato ou gesto é praticado num número infinito de vezes, para dar à ação um caráter de atemporalidade, de continuação e de criação continua. Outra característica é a ligação com a terra, vivenciada como elemento materno. Nas danças africanas o contato contínuo dos pés nus com a terra é fundamental para absorver as energias que deste lugar se propagam e para enfatizar a vida que tem que ser vivida agora e neste lugar, ao contrario das danças ocidentais performadas sobre as pontas a testemunhar a vontade de deixar este mundo para alcançar um “outro”.
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contexto dentro da sociedade africana e afro-descendente mundial. Sua força, beleza e vigor podem ser sentidos tanto no sapateado Muchongoyo de Zimbabwe, nas danças de máscaras Geledé na Nigéria, no samba e capoeira do Brasil, na rumba Cubana, nas danças dos saltitantes Zulus. A magia que une essas danças de lugares e povos tão diferentes pode ser chamada de um instinto de comunhão que une a raça negra espalhada pelo planeta, através de um vínculo ancestral por memória, epopéia e tradição oral.
No Brasil coube ao Candomblé, preservar a maior parte das danças sagradas africanas. No culto religioso a dança possui um papel fundamental, pois é ela que RELIGA o homem ao SEU LADO DIVINO, é a dança que leva a uma compreensão e comunhão com a Natureza, a Vida.
Existem duas correntes básicas que tentam explicar o aparecimento dos Orixás. Uma delas remonta a criação do Universo, a outra narra que os Orixás foram seres importantes, donos de grande poder em vida, que morreram de maneira incomum, tomando o caráter de um dos elementos da natureza. O Orixá Xangô foi Rei de Oyó, o Orixá Oxóssi, rei de Ketu.
Nas danças os Orixás mostram seu poder e suas estórias através dos movimentos:
• Xangô, deus do fogo e da justiça, pode dançar com seu oxê, um machado de dupla ponta fazendo justiça na terra ou com o fogo que gera a vida;
• Os braços de Oxóssi, deus da caça, assemelham-se a flechas e suas pernas parecem
cavalgar enquanto caça o alimento para a subsistência de seu povo;
• Oya-Iansã, deusa dos ventos e da magia, espalha os ventos com seus braços e saia, numa dança guerreira e sensual;
• Oxum, deusa da beleza do ouro e das águas doces, banha-se nas águas dos rios enquanto penteia-se balançando suas pulseiras e olhando-se no espelho;
• Iemanjá, deusa-mãe dos Orixás, a senhora do mar, segura seus filhos queridos nos braços;
• Nanã dança com o Ibiri carregando-o como se ninasse um bebê;
• Ogum, deus da guerra, da forja, segura suas duas espadas guerreiras em suas mãos: com a primeira mata seus inimigos, com a segunda limpa o sangue da primeira; etc.
A dança negra reverencia as origens através da repetição dos gestos ancestrais que foram passados de pai para filho, mantendo viva a ligação com os antepassados que praticaram os mesmos gestos.
A dança africana possui sete dimensões estéticas que podem ser percebidas inclusive em técnicas modernas que se inspiraram na dança tradicional:
o POLIRRITMIA – mostra que cada parte do corpo movimenta-se com um ritmo e com uma forma diferente, proporcionando o conhecimento do ritmo próprio e variante de cada aspecto da natureza.
o POLICENTRISMO – indica que há vários centros no corpo humano que dão impulso à dança, assim como no Universo existem vários centros energéticos.
o CURVILINEARIDADE – encontrada em várias danças e em vários movimentos, uma vez que ao círculo é conferido o poder sobrenatural, criando a estabilidade fora do tempo.
o DIMENSIONALIDADE – é entendida como a possibilidade de exprimir as várias camadas dos sentidos: olhar, ouvir que seria o lado externo dos movimentos ligados com uma outra dimensão mais interna e espiritual, sintetizada pela parte central do corpo.
o REPETIÇÃO – como forma de intensificar e provocar o caráter de atemporalidade, quando o gesto permanece o mesmo apesar do passar dos anos, e de continuação destes gestos no futuro.
o ASPECTO HOLÍSTICO – na dança os movimentos, as partes do corpo utilizadas, as roupas vestidas, a música, cada elemento têm um sentido próprio, porém juntos simbolizam algo outro. Uma dança realizada para uma simples diversão também pode remeter a outra coisa, numa corrente simbólica infinita.
o MEMÓRIA ÉPICA – é a história da tradição e da antiga harmonia da natureza, da época na qual não existiam diferenças, nem separações. Memória que têm que ser lembrada e fortalecida. (Asante; 1996:71)
A dança tradicional africana gerou técnicas precisas de aprendizado na dança como a
técnica de Katherine Dunham - baseada no folclore haitiano, Mundalai, o Jazz Norte-Americano e o Street Dance.
No Brasil, a dança negra não está mais vinculada apenas ao Candomblé. A capoeira,
samba, axé, os blocos de afoxé e carnavalescos bebem nas águas da dança tradicional e religiosa africana.
A dança no candomblé é um dos caminhos que reintegra a energia cósmica do devoto ao seu Orixá de origem, portanto ao Orum, morada dos deuses que um dia de lá partiram para criar o nosso mundo, o Aiê.
O candomblé è uma das religiões afro-brasileiras que mais manteve as caracteristicas de uma religião africana: a adivinhação, o sacrificio/oferenda, o transe e a dança com a musica. Salvador de Bahia é considerada no Brasil o berço desta religião pela quantidade de população de origine africanas que vive na cidade e no estado, o 80% das pessoas é discendente dos escravos que foram deportados nos seculos passados nesta região. Existem mais de oito mil terreiros, casas, de candomblé só na cidade de Salvador, por isso a cidade foi chamada a Roma negra por uma grande mãe de santo, a finada Mãe Aninha que fundou em 1910 um dos mais tradicionais terreiros da Bahia, o Axé Opó.Afonjá.
A pesar da discussão entre estudiosos sobre a colocação do candomblé nas religiões politeistas, existe um grande debate sobre este assunto, pois muitos antropologos acham ser um tipo de monoteismo (Carneiro, 1947), existe um principio primo, Olorum ou Olodumarê que originou a terra. Os orixás foram enviados por ele para construir a terra, a natureza e os seres humanos. Por causa de uma interdição não respectada os dois mundos o aiyê, a terra, e o orum, o mundo dos espiritos, foram separados, mas por causa da tristeza dos seres humanos e dos deuses que não podiam mais se encontrar, teve origine o candomblé com a finalidade de juntar de novo os dois mundos nas festas que periodicamente são organizadas para os orixás.
As culturas tradicionais não-ocidentais e as culturas minoritárias européias propõem o corpo em um sentido simbólico, não no sentido da psicanálise que fala dos símbolos para sublinhar uma outra separação, aquela entre consciente e inconsciente, mas no sentido de eliminar a fronteira que separou a alma do corpo, colocando-os junto. (Galimberti, 1993:13). A África, o oriente, as culturas indígenas, as culturas mediterrâneas colocaram sempre uma grande atenção e cuidado ao corpo percebendo-o como um todo em relação com o mundo no qual vive. Por isso durante o transe o corpo da filha ou filho-de-santo torna-se o próprio orixá superando a dicotomia cartesiana corpo/espirito, forma/conteúdo. Mas esse corpo além de experiência vivida é também uma superfície de escritura, no qual a sociedade escreve o texto das suas leis. Cada cicatriz, cada enfeite é um traço inapagável, um sinal que faz do corpo uma memória. Por isso as sociedades não-ocidentais iniciavam e iniciam os adolescentes ou os seus membros à vida social da comunidade com vários tipos de rituais, desenhando ou marcando o corpo com pinturas ou incisões, porque o corpo tem que ter o sinal do grupo, o traço da passagem da juventude à maior idade ou da entrada em um grupo esotérico.
Por isso a estética ritual possui uma importância fundamental seja na preparação da festa, seja nos trajes litúrgicos. É uma estética padronizada em modelos fixos e transmitidos no tempo que nos falam da história e da memória do grupo. A arte ritual funciona como representação do invisível, sendo o seu objetivo aquilo de chamar as forças imateriais.
Arte e religião
As civilizações africanas são caracterizadas por uma visão holística e simbólica da vida. Cada ser vivente e não é ligado ao outro numa corrente infinita de sentidos nos quais cada elemento existe em função do outro, participando assim à dinâmica do cosmo, em uma eterna procura e reestabelecimento de harmonia e de equilíbrio.
É só a arte que tem o poder de traduzir com as formas o sagrado. Como sugere Marchiano (1977:217):
“A forma...., é o único meio humano que permite a transcendência) do nível sensível, a não identificação com aquilo que muda, a conversão do estético no teorético”.
Na tradição do candomblé, o conceito do belo ocidental não existe, mas como sublinha Luz (1995), os Nagô definem o belo com a palavra odara, que significa bom, útil e bonito. Esteticamente um ser humano ou um objeto é belo porque traz consigo uma determinada qualidade e quantidade de axé e realiza assim uma comunicação entre ele e a comunidade.
Os estudiosos da arte e das civilizações africanas, como a historiadora Welsh Asante (1985) e Thompson (1974) reconhecem na dinâmica o aspecto mais importante e profundo da estética dessas culturas, seja na dança, seja na arte visível e gráfica. A dinâmica é um dos conceitos fundamentais da ontologia africana para a qual existe a possibilidade da mudança e da transformação na vida por meio da comunicação com o mundo espiritual, aquele dos orixás.
Outro conceito fundamental na filosofia da existência africana é a importância do grupo, para que a comunidade viva cada fiel deve participar seguindo o papel que lhe pertence a nível espiritual e terreno.
A Asante explica os critérios estéticos das artes africanas subjacentes a dança e a música. Primeiro entre todos a polirritmia: cada parte do corpo movimenta-se com um ritmo diferente, os pés seguem a base musical, acompanhados pelos braços que equilibram o balanço dos pés. O corpo pode ser comparado a uma orquestra que, tocando vários instrumentos, harmoniza-os numa única sinfonia. Outra característica fundamental é o policentrismo que indica a existência no corpo e na musica de vários centros energéticos, assim como acontece no cosmo. A dança africana é um texto formado por várias camadas de sentidos. Esta dimensionalidade é entendida como a possibilidade de exprimir através e para todos os sentidos. No momento que a sacerdotisa dança para Oxum, ela está criando a água doce não só através do movimento, mas através de todo o aparelho sensorial. A memória é o aspeto ontológico da estética africana. É a memória da tradição, da ancestralidade e do antigo equilíbrio da natureza, da época na qual não existiam diferenças, nem separação entre o mundo dos seres humanos e os dos deuses. A relevância da obra artística é dada pela transmissão da harmonia, que liga algo dentro e algo fora, o corpo e o espírito, a natureza e o homem. Mas sem a inspiração divina o escultor, o dançarino, o musico não poderiam criar o "momento artístico-religioso".
A repetição do padrão-musical, não é uma simples repetição, mas a criação daquela energia que os fieis estão invocando. A repetição dos movimentos produz o efeito da intensificação que leva ao encontro com a divindade, facilmente observado nos rituais. O mesmo ato ou gesto é praticado num número infinito de vezes, para dar à ação um caráter de atemporalidade, de continuação e de criação continua. Outra característica é a ligação com a terra, vivenciada como elemento materno. Nas danças africanas o contato contínuo dos pés nus com a terra é fundamental para absorver as energias que deste lugar se propagam e para enfatizar a vida que tem que ser vivida agora e neste lugar, ao contrario das danças ocidentais performadas sobre as pontas a testemunhar a vontade de deixar este mundo para alcançar um “outro”.
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ATABAQUES - PARTE II
Atabaques Bantu
..... as casas de Tradição Bantu chamam seus tambores de Jingomas (plural de Ngoma), os de afinação grave são chamados “Roncador” (embora essa definição provavelmente venha do Iorubá/gege: “Ilu Rum”, que significa “Tambor que ronca”), os de afinação média, “Socador” e os de afinação aguda “crivador”.
O hábito de se usar os tambores Jingoma em trio é proveniente, prinicipalmente, do povo Tchokwe e dos Lunda Kioko (que deu origem, no Brasil, ao culto Omolokô). Outros povos da cultura Bantu como Nkongo, Ngola, Shona, Moçambique (Yangana), Zulu, Bemba (Zâmbia), Ajaua (Zimbábue), Lingala (Zaire) e outros faziam uso de quatro ou cinco Jingomas..
Na antiguidade africana e brasileira encontramos as seguintes denominações para o trio de tambores:
Ngoma Tixina = Grave
Ngoma Mukundu = Médio
Ngoma Kasumbi = Agudo
ou
Ngómba = Grave
Ngónje = Médio
Gongê = Agudo
Na África Bantu, esses tambores possuem o nome genérico de Ngoma, mas há tambores com funções e nomes particulares:
Ngoma Chikulu (Grave), Ngoma Nchinga (Médio) e Ngoma Shingomane (Agudo) – Tambores usados pelos Shangana e pelos Chope em Moçambique;
Há também os tambores Bikula, instrumentos de 80 centímetros a um metro, tocados no alto, de pé, e que só existiam nas casas dos grandes chefes.
Os Zimpungi, chamados de “pontas de elefante”, que também são três (Nuni, Nkazi e Muana - marido, mulher e filho).
Há ainda em algumas regiões de Angola, o grande tambor Ngundu-lilu, de três ou quatro metros de altura e os tambores comuns chamados Zindundungu, tambores menores.
No Brasil encontramos ainda as seguintes denominações (que variam de terreiro a terreiro): Candongueiro, Tantã, Macumba, Caxambu, Tambor-de-crioulo, Carimbó, Tambu, Encomba, Incomba, Ingono, Pai João, Mãe Joana, Sangaviva, Gambá, Zampé, Guzuunga, Chama, Chamador, Cadete, Pai Tôco e Agida. Na América Central são encontrados como Encomo, Makuta, Bencomo, Cosilleremá, Tahona, Tumbadeira, Bongô (tambor de origem egípcia) Quinto, Tumbadora, Tumba e Conga.
Esses últimos termos foram usados comercialmente para definir, genericamente, no Brasil, os tambores de origem Bantu e gradativamente estão substituindo os atabaques nos terreiros Angola/Congo e nas Umbandas, principalmente.
Os Yorubá chamavam seus tambores, genéricamente de Ilus, embora esta denominação seja mais comum nas tradições de origem Nagô/Ijexá, com seus tambores cilíndricos: Yan (tambor grave), Melé (tambor médio), Oncó (tambor agudo). As nações Yorubás na África, possuíam um tambor especial dedicado a cada divindade, ou seja, cada orixá possuía seu tambor. Seri muito extenso colcarmos aqui todos os nomes dos tambores por lá utilizados, já que entre os Yorubás existem cerca de 600 divindades. Lembramos apenas que alguns nomes de ritmos ritualísticos que existem no Brasil, na África são nomes de tambores, tais como o Igbim e o gigantesco tambor Sató.
Os nomes Rum (tambor grave)/Pi (tambor médio)/Lé (tambor agudo) provém, originalmente, dos Fon/Gêge e foram apropriados pela cultura Yorubá e Bantu no Brasil. Os atabaques brasileiros são conhecidos com estes nomes.
ATABAQUES
Atabaques
Atabaque
(ou Tabaque) é um instrumento musical de percussão. O nome é de origem
árabe: at-tabaq (prato). Constitui-se de um tambor cilíndrico ou
ligeiramente cônico, com uma das bocas cobertas de couro de boi, veado
ou bode.
É
tocado com as mãos, com duas baquetas (aquidavi), ou por vezes com uma
mão e uma baqueta, dependendo do ritmo e do tambor que está sendo
tocado. Pode ser usado em kits de percussão em ritmos brasileiros, tais
como o samba e o axé music.
Atabaque
é também um grande instrumento de percussão usado nas rodas de
capoeira. O couro vem da pele da vaca e é esticado por um sistema de
anéis de metais ou aros, cordas e cunhas de madeira. Para afinar o
atabaque, tira-se do pedestal (pé) e bate-se nas cunhas. A força nas
cunhas empurrará o aro de baixo esticando a cordas e consequentemente
afinando o couro. No candomblé é considerado objeto sagrado. Candomblé é
a religião que mais conservou as fontes do panteão africano, servindo
como base para o assentamento das divindades que regeriam os aspectos
religiosos da Umbanda. É conhecido e praticado, não só no Brasil, como
também em outras partes da América Latina onde ocorreu a escravidão
negra - a Santería cubana é famosa. Em seu culto, para cada Orixá há um
toque, um tipo de canto, um ritmo, uma dança, um modo de oferenda, uma
forma de incorporação, um local próprio e uma saudação diferente.
Os
deuses do Candomblé têm origem nos ancestrais africanos divinizados há
mais de 5000 anos. Muitos acreditam que esses deuses eram capazes de
manipular as forças naturais, por isso, cada orixá tem sua personalidade
relacionada a um elemento da natureza.
As
cerimônias são realizadas com cânticos, em geral, em língua nagô ou
yorubá. Os cânticos em português são em menor número e refletem o
linguajar do povo. Há sacrifícios de animais (galo, bode, pomba) ao som
de cânticos e danças. A percussão dos atabaques constitui a base da
música.
Os
tambores começaram a aparecer pelas escavações arqueológicas do período
neolítico. Um tambor encontrado na escavação na Morávia, foi datado de
6.000 anos antes de Cristo. Tambores têm sido encontrados na antiga
Suméria com a idade de 3.000 A . C. Na Mesopotâmia foram encontrados
pequenos tambores datados de 3.000 A . C. Tambores com peles esticadas
foram descobertos dentre os artefatos egípcios, a 4.000 A . C. Os
primeiros tambores provavelmente consistiam em um pedaço de tronco de
árvore oco. Estes troncos eram cobertos nas bordas com peles de alguns
répteis, e eram percutidos com as mãos, começou-se a usar peles mais
resistentes e apareceram as primeiras baquetas. O tambor com duas peles
veio mais tarde, assim como a variedade de tamanho.
A
Umbanda é uma das religiões mais praticadas no Brasil, com maior
propagação na Bahia e no Rio de Janeiro, a Umbanda brasileira começou a
ser formada por volta de 1530, com a mistura de concepções religiosas
trazidas pelos negros da África, na época da escravidão. O primeiro
terreiro foi fundado em 1908 através de Zélio Fernandino de Moraes. Na
época com 17 anos, Zélio, que fazia parte de uma família tradicional de
Niterói, RJ, incorporava o chamado Caboclo das Sete Encruzilhadas e foi o
responsável pela formação de sete tendas que acabaram difundindo a
Umbanda. Todas as tendas funcionavam sob o lema: "manifestação do
espírito para a caridade" e usavam rituais simples com cânticos baixos e
harmoniosos.
A
Umbanda incorpora os adeptos dos deuses africanos como caboclos, pretos
velhos, crianças, boiadeiros, espíritos das águas, eguns, exus, e
outras entidades desencarnadas na Terra, sincretizando geralmente as
religiões: católica e espírita. O chefe da casa é conhecido como Pai de
Santo e seus filiados são os filhos ou filhas de santo. O Pai de Santo
principia a cerimônia com o encruzamento e a defumação dos presentes e
do local. Seguem-se os pontos, cânticos sagrados para formar a corrente e
fazer baixar o santo. Muitos são os Orixás invocados na cerimônia de
Umbanda, entre eles Ogun, Oxóssi, Iemanjá, Exu, entre outros. Também
invocam pretos velhos, índios, caboclos, ciganos.
RITMOS DO CANDOMBLÉ - PARTE I
De
modo geral, pode-se definir candomblé como uma designação dada a várias
formas de expressão religiosa de origem africana que têm como base a
crença em ancestrais divinizados e fazem do estado de transe mítico a
forma, por excelência, de contato entre os deuses e a comunidade
religiosa. Esses deuses são
chamados
de “orixás”, “voduns” ou “inquices”, de acordo com a “nação” à qual a
casa esteja ligada. Candomblé Jeje, Angola, Ketu-Nagô, Macumba, Xangô do
Recife, Batuque e Tambor de Mina são algumas das possíveis modalidades
rituais e litúrgicas encontradas pelo país.
Os
diferentes toques executados pelos atabaques, por si só, podem
configurar e delimitar a “nação” à qual está vinculada uma casa de
santo. Assim, o que se costumou chamar de candomblé Ketu-Nagô pode ser
definido “também” pelos ritmos tocados pelos tambores no contexto
litúrgico-religioso
“O
som é a primeira relação com o mundo, desde o ventre materno. Abre
canais de comunicação que facilitam o tratamento. Além de atingir os
movimentos mais primitivos, a música actua como elemento ordenador, que
organiza a pessoa internamente”
O
som é o condutor do Axé do Orixá, é o som do couro e da madeira
vibrando que trazem os Orixás, são sinfonias africanas sem partitura.
O
ritmo é algo visto como uma expressão de diferentes domínios da vida da
comunidade de santo, assumindo variadas e significativas formas de
realização. Essa visão aproxima-se do modelo conceitual traçado por Kofi
Agawu (African rhythm. Londres: Cambridge University Press,
1995). quando define cinco domínios básicos de “modos rítmicos de
significação”:
- Domínio gestual
- Domínio oral / aural (com atributos tonais e rítmicos
- Domínio da música vocal (com ritmo livre e estrito)
- Domínio da música instrumental (linguagem dos tambores e ritmos de dança)
- Domínio coreográfico
No espaço do terreiro, esses domínios se realizam não só durante os
rituais públicos mas no dia-a-dia da comunidade. A tentativa de fazer
aqui uma tipologia das linhas-guia executadas pelo agogô só fará sentido
se as reconhecermos como uma expressão rítmica particularizada e
circunscrita – particularmente o domínio da música instrumental – que,
no entanto, se inter-relaciona com todas as outras dimensões
rítmico-expressivas.
Observando
esses domínios de expressão rítmica, vemos que a prática instrumental
dos tambores está intimamente ligada a formas específicas de
configurações gestuais e posturais; a rítmica gestual é, assim, a
materialização tridimensional do fenômeno sonoro. Quando um tocador
eleva o braço para executar uma batida, no atabaque ou no agogô, esse
ato configura-se também como um evento rítmico dotado de temporalidade
estrita. Dessa forma, a percepção da articulação instrumental do som
musical passa não só por sua captação sonora, ou seja, como ele é
“ouvido”, mas também pelo entendimento de que sua realização se dá num
tempo e num espaço determinados; em outras palavras, a percepção de
“como” ele é articulado.
Os Atabaques, são os principais instrumentos da música do Candomblé, cuja execução é da responsabilidade dos Ogãs.
São
de origem africana, usados em quase todos rituais, típicos do
Candomblé. De uso tradicional na música ritual e religiosa, são
utilizados para convocar os Orixás.
O
Atabaque maior tem o nome de Rum, o segundo tem o nome de Rumpi e o
menor tem o nome de Le. No Gantois, Mãe menininha denominava os
atabaques como Ilu, Ilu da direita e ilu da esquerda, No batuque h
á três tipos de ilu, de tamanhos diferentes: o maior é o INHÃ,
o
médio, MELÊ ANCÔ e o menor, MELÊ. Para o povo Bantu,o maior NGOMA UA
TXINA, o médio NGOMA UA MUCUNDO e o menor NGOMA UA CASSUMBI.
Os
atabaques no candomblé são objectos sagrados e renovam anualmente esse
Axé. São usados unicamente nas dependências do terreiro, não saem para a
rua como os que são usados nos Afoxés, estes são preparados
exclusivamente para esse fim.
As
membranas dos atabaques são feitas com os couros dos animais que são
oferecidos aos Orixás: independente da cerimónia que é feita para
consagração dos mesmos quando são comprados (o couro que veio da loja
geralmente é descartado), só depois de passar pelos rituais é que
poderão ser usados no terreiro
Os
atabaques do candomblé só podem ser tocados pelo Alagbê (nação Ketu),
Xicarangoma (nações Angola e Congo) e Runtó (nação Jeje) que é o
responsável pelo Rum (o atabaque maior), e pelos Ogãs nos atabaques
menores sob o seu comando
É
o Alagbê que começa o toque, e é através do seu desempenho no Rum que o
Orixá vai executar a sua coreografia de dança, sempre acompanhando o
floreio do Rum.
O Rum é que comanda o Rumpi e o Le.
Fonte: vários sites
Fonte: vários sites
AGOGO/GAN
Do iorubá agogô, que significa 'sino'. Instrumento de percussão introduzido no Brasil por africanos, presente em várias manifestações musicais afro-brasileira, como a capoeira, o maculelê e o candomblé. O instrumento é composto de uma ou mais campânulas, de tamanho e sonoridade diferentes, geralmente de ferro, percutidas por uma vareta, geralmente de metal. Chama-se também gonguê, gan ou gã e xeré.
Texto: http://www.iluobademin.com.br
Do iorubá agogô, que significa 'sino'. Instrumento de percussão introduzido no Brasil por africanos, presente em várias manifestações musicais afro-brasileira, como a capoeira, o maculelê e o candomblé. O instrumento é composto de uma ou mais campânulas, de tamanho e sonoridade diferentes, geralmente de ferro, percutidas por uma vareta, geralmente de metal. Chama-se também gonguê, gan ou gã e xeré.
Texto: http://www.iluobademin.com.br
Aguidavis/
Akidavis/ D’avenin: Aguidavis são varetas feitas de madeira, aqui no
Sul é costume utilizar Cambuim ou na falta a goiabeira como matéria
prima para confecção dos aguidavis, e com essas varetas e com a mão é
que são tocados os tambores. Sendo essas varetas diferentes das
utilizadas no Candomblé de Keto, tanto no tamanho, quanto na espessura e
comprimento, os aguidavis de Jeje são mais curtos de espessura grossa e
não são retos, sendo algumas tortos na ponta que são chamadas de
aguidavis de volta, o que redobra.
No
antigo Daome Existem três tipos de akidavis: o primeiro é D’ele, que é
uma vareta longa cortada angularmente, e que normalmente, é usada com os
tambores menores e posicionados entre as pernas com o couro para frente
e a ressonância para trás; o segundo é o D’humpi que são as varetas
arredondadas, normalmente tiradas de árvores sagradas como a gameleira
branca, baobá ou árvore de cola, que são utilizadas com diversos
diâmetros para os tambores de médio a grande porte; o terceiro, o
D’Avenin, são varetas com a ponta curvada e que são tocadas com os
tambores cujo couros estão em ambos os lados Segundo os velhos bokonos
do Daome, o grande tambor é tocado com par de D’avenin tirado da árvore
sagrada do kwe, especialmente feitos por vodunsis virgens.Também se utiliza ainda o Xequerê.
Texto de Pai Leo de Oxalá- http://leodeoxala.blogspot.com
Texto de Pai Leo de Oxalá- http://leodeoxala.blogspot.com
Xequerê
Instrumento
feito de cabaça, que é um fruto da família do melão e da abóbora,
portanto pode ser encontrado em diferentes formatos e tamanhos, já que
são feitos a partir de um material natural. A cabaça é envolta por
contas que, ao deslizarem, produzem acentos e ritmos. O xequerê é muito
usado em ritmos afro-brasileiros. No Batuque é chamado de AGÊ.
Nomes dos Toques dos Orixás na Nação Ketu/Jeje:
ADABI AGABI ou EGO - Utilizado no Jeje ou Nagô – Bater para nascer é seu significado. Ritmo sincopado dedicado a Exú/Ogum.
ADARRUM – Ritmo evocatório de todos os Orixás. Rápido, forte e contínuo marcado junto com o Agôgô. Pode ser acompanhado de canto especialmente para Ogum. Utilizado no Jeje.
ALUJÁ OU ELUJÁ (divide-se em roli e pani-pani) – Significa orifício ou perfuração. Toque rápido com características guerreiras. É dedicado a Xangô. Utilizado no Ketu.
AGUERE – Em Yorubá significa “lentidão”. Ritmo cadenciado para Oxóssi com andamento mais rápido para Iansã. Quando executado para Iansã é chamado de “quebra-pratos” ou Abata (tipo de Ilu). Utilizado no ketu. Pode ser utilizado para todos os orixás.
AVAMUNHA,AVANINHA, AVANIA, REBATE OU ARREBATE - Utilizado no Jeje para todos.
BATA – Batá significa tambor para culto de Egun e Sangô . Ritmo cadenciado especialmente para Xangô. Pode ser tocado para outros Orixás. Tocado com as mãos.
BRAVUM – Dedicado a Oxumaré,Ogum e Nanã .Ritmo marcado por golpes fortes do Run.Utilizado no Jeje.
CORRIDO, MASSÁ - Nagô - Todos
FORIBALE - “Dobrar o Couro” Nagô - ´Pessoas Notáveis
HUNTÓ ou RUNTÓ – Ritmo de origem Fon executado para Oxumaré. Pode ser executado com cânticos para Obaluaiê e Xangô
IGBIN – Significa Caracol. Execução lenta com batidas fortes. Descreve a viagem de um Ancião. É dedicada a Oxalufã.
IJESA – Ritmo cadenciado tocado só com as mãos. É dedicado a Oxum quando sua execução é só instrumental. Usado também para Ogum, Oxalá e Exu
ILU – Termo da língua Yorubá que também significa atabaque ou tambor. Ritmo dedicado a Oya/Iansã
KAKAKA-Umbó ou Batá-Cotô - Ketu - Xangô, Oxaguiã
KORIN- EWE ou AGUERÉ DE OSSAIN – Originário de Irawo, cidade onde é cultuado Ossain na Nigéria. O seu significado é “Canção das Folhas”.
OGUELE – Ritmo atribuído a Obá. Executado com cânticos para Ewá.
OPANIJE – Dedicado a Obaluaiê, Onile e Xapanã. Andamento lento marcado por batidas fortes do Run. Significa “o que mata e come”
SATÓ – A sua execução lembra o ritmo Bata com um andamento mais rápido e marcado pelas batidas do Run. Dedicado a Yemanja ,Oxumaré ou Nanã. Significa a manifestação de algo sagrado.
TONIBOBÉ – Pedir e adorar com justiça é o seu significado. Tocado para Xangô
Angola/Congo
Arrebate
Congo de Ouro
Cabula
Barra Vento
Alujá
Ijexá
Muzenza
No Batuque é tocado o:
Ogueré” para Odé e sua mulher, Otím;
Biofã”, para Oxalá, Iemanjá, Oxum, Xapanã e Obá.
Alujá”, um ritmo rapidíssimo, para Xangô;
Jêje”, também muito rápido, para todos os orixás em sua forma jovem
Aré”, com andamento similar, para Ogum, Bará, Oiá, Xangô, Ossanha, Xapanã,
Oxum e Oxalá.
Lô-coridí” (para outros “olocorí”) para a Oxum Docô, a velha.
Texto: vários sites
Tambores do Nordeste
Aqui
vemos três Ilus, tembores muito utilizados nos cultos de Tambor de
Mina, no sítio de Pai Adão e na Casa de Xambá. E alguns atabaques, de
uso clássico dos Candomblés da Bahia. Seu uso se expalhou para o resto
do país devido à facilidade de sua confecção e transporte. O tambor
gigante é um tambor jeje de dois metros de altura - as tradições Fon se
utilizam de tambores Rwm gigantescos de até quatro metros da altura,
onde repetem a lenda da serpente Damballawedo, que se enrosca na árvore
para guardar o segredo do mundo. Reparem no desenho da cobra no casco do
tambor. Ao lado, um Lé e um Rumpi especial (apear de estar aqui na foto
como um tambor do nordeste, é um tambor do Rio de Janeiro. Este é um
atabaque consagrado a Exu e é um tambor com quase cem anos de idade,
podendo ser considerado o "primeiro" atabaque da Umbanda.
Foto e texto: http://acervoayom.blogspot.com/2009/12/ayom-sai-pelo-mundo.html
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Tambores da região sudeste
Vemos
aqui duas Ngomas com cravelhas, datadas de quase 50 anos, uma outra
Ngoma com sistema de cordas que pertenceu a um Xicarangome de Joãozinho
da Gomea. É um tambor que tem, no mínimo, 150 anos. Uma outra Ngoma com
sistema de cravelhas em pé, do Paraná; Ao fundo, um tambor de Congada. E
duas congas clássicas, que são o correspondente moderno das antigas
Ngomas, os tambores originais da região sudeste, que mais tarde foram
substituídos pelos atabaques, mais fáceis de fabricar e transportar.
Coisas da indústria.
Foto e texto: http://acervoayom.blogspot.com/2009/12/ayom-sai-pelo-mundo.html
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Tambores do Sul
No
meio, vemos o raríssimo tambor Inhã, tambor dedicado a Xangô. Ao lado
dois tambores de batuque, um bem antigo, feito de latão, dedicado a Oxum
e a Ogum; O outro feito de madeira, dedicado a Exu. Ao lado, o
raríssimo tambor Nanico, usado em pouquíssimos templos nos dias de hoje,
de origem Jeje. E um Abê, conhecido também como Xequerê. Repare que a
Inhã, assim como os batás é um tambor que não pode tocar diretamente o
solo, por isso está sobre um banquinho.
Foto e texto: http://acervoayom.blogspot.com/2009/12/ayom-sai-pelo-mundo.html
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Bata Drums - Nigéria
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