IYAWO
Li este texto e resolvi posta-lo. Não estou de forma alguma contestando a autora, só estou aproveitando as colocações dela, para tecer posicionamentos, MEUS.
Uma
observação: A forma como a autora descreve os tópicos pode parecer em
algum momento, deboche ou falta de educação, mas é exatamente desta
forma que muitos falam dentro de suas casas. Acredito que ela tentou
retratar esta realidade.
Lógico
que em todos os lugares temos que seguir regras e critérios mas.....,
em algumas casas estas regras só pertencem aos noviços. O
que diferencia os mais velhos do noviço, é o tempo de iniciação,
responsabilidades de mais velhos, responsabilidades de quem exerce
cargos. Noviço é noviço, não inferior. A postura de submissão, só devemos aos deuses.
Obs.: Meus comentários em azul
Manual do Bom Iyawo
autora: Nêga Ju
1- Não retrucar o pai/mãe-de-santo. Você por acaso retruca seus avós? Não, com certeza. Não retrucar faz parte da educação e respeito que temos que ter por qualquer pessoa, principalmente neste caso.
2- Não retrucar seus irmãos mais velhos e egbomis; Você por acaso retruca alguma tia ou tio mais velho? Se
me tratar respeitosamente e educadamente não. Se a motivação do "sabão"
for pessoal e desrespeitosa, responda sim, mantendo o posicionamento de
mais novo, seguindo as normas de respeito e educação. Se for uma
questão religiosa, tem que se respeitar a experiência e não retrucar,
desde que a colocação seja com humildade e com o objetivo de orientar.
Só porque somos mais velhos, não nos dá o direto de falar mal com
ninguém.
3-
Caso tenha algo para falar que não esteja concordando, discretamente
peça um minuto da atenção do pai/mãe de santo e exponha a situação
civilizadamente, sem precisar que a torcida do Flamengo esteja
assistindo. Dar um escândalo no meio do barracão não é postura de um
filho de santo, e você ainda corre o risco de tomar um fora na frente de
todo mundo. ESTA É A REGRA, e assim deve ser em qualquer seguimento de nossa vida.
4-
Quando tiver visita no barracão (egbomis, ekedes, ogãs, zeladores),
seja em dia de festa ou em dia corriqueiro, é de bom-tom que os filhos
se abaixem para dirigir a palavra ao pai de santo. Detalhe: Só
atrapalhar a conversa caso seja EXTREMAMENTE necessário. Deve-se chegar
junto à ele, mas não muito, e ficar abaixado esperando que ele pergunte o
que deseja. Quando ele perguntar, comece sempre sua frase com “AGÔ”.
“Agô, mas blá blá blá…”. Esses são
critérios de educação da religião, pois ninguém se abaixa para falar com
avô, avó, pai, mãe, chefe, etc. Se alguém estiver conversando, e
precisarmos, naquele momento, falar com a pessoa, se aproximar e
aguardar a pessoa nos dar atenção, faz parte da educação, mais umas vez,
em qualquer segmento de nossa vida.
5-
Nunca, jamais, em tempo ou hipótese alguma, seja no seu barracão ou no
barracão do alheio, deve-se sentar na mesma altura que o seu pai de
santo. Ele já passou por vários sacrifícios para estar sentado
confortavelmente ali. Você ainda está no meio do caminho. Portanto, pra
que querer sentar aonde você não alcança? Por tradição, respeito e educação. Não concordo com a motivação explicada neste procedimento, pois estamos mostrando com ele que os noviços são inferiores, e não são,
são pessoas adultas, que estão começando a trilhar um caminho de
aprendizado dentro da religião. Sistema de reinado não faz mais parte da
história. O caminho trilhado por um lider, não faz dele melhor
que ninguém, o faz mais sábio, com mais experiência, com mais
conhecimento, e é isso que lhe da destaque. Sacrifícios todos fazemos.
Temos que respeitar nosso líder, por todos esse motivos, da mesma forma
que respeitamos os nossos pais.
6-
Yawo e abian não bebe nenhum líquido em copo de vidro dentro de seu
barracão ou no barracão do alheio. Deve-se esperar o bom e velho copinho
de plástico ou então a conhecida DILONGA, BAN ou CANEQUINHA DE ÁGHATA,
como você preferir chamar. Copo de vidro só quem tem direito é egbomi,
ekede, ogan e zelador.
7-
Yawo e abian não come em prato de vidro ou louça. Apenas em pratinho de
plástico ou ághata. Aliás, devemos lembrar que é de boa educação cada
filho trazer seu devido pratinho de ághata e sua devida canequinha para
seu uso pessoal no barracão. Ah! Garfo? Nem pensar! Colher. Somente ela.
Garfo, só com 7 anos de santo feito, ou então sendo ekede, ogã,
zelador…...Isso é pra mostrar que eles são
inferiores? No tempo da escravidão era o que disponibilizavam para os
escravos, pois eram tratados como seres inferiores. Dentro do quarto
sagrado, se me disser que é o simbolismo da primitividade da religião
que escolhemos, tudo bem, do lado de fora, somos seres dignos de
qualquer privilégio que o progresso nos brindou. As crianças bebem em
recipientes de plástico, para não correrem riscos, e não porque são
inferiores. Massssss... são regras
8- Terminou seu ajeum? Pegue seu pratinho e sua canequinha, vá para
cozinha e lave. Não cai a mão e nem coça, sabia? Infelizmente ainda não
possuímos uma empregada que possa cuidar da limpeza geral enquanto nós
descansamos. Essa é perfeita para todos, não só para os noviços.
9- Como dissemos no ítem anterior, não temos uma empregada para limpar
tudo. Portanto, cada um deve se conscientizar e fazer a sua parte. Ficar
protelando, esperando que algum irmão de santo se encha da bagunça e vá
arrumar por você não tem cabimento. Cada um fazendo um pouco fica mais
fácil e rápido. Perfeito.
10- Resolveu visitar o pai de santo? Que maravilha! Ele adorará sua
visita, ainda mais se você vier com uma modesta colaboração para o
ajeum, pois como é do conhecimento de todos, o pai de santo não é rico e
nem tem obrigação de alimentar todo mundo. Madre Teresa de Calcutá já
morreu, e definitivamente, ela não vira na cabeça do pai de santo. Colaborar,
com certeza, não por este enfoque, e sim por vivermos em uma comunidade
onde o zelador de santo não é um mantenedor de pessoas, a função dele é
orientar, resguardar, conduzir, etc., e não sustentar.
11- Ao chegar ao barracão, o procedimento correto é: a) Amarrar um pano no peito (mulheres) ou na cintura (homens); b)
Ir direto para a cozinha beber um copo d’água para esfriar o corpo da
rua, sem fazer paradas para bater-papo e colocar a fofoca em dia; c) Tomar seu banho e ir trocar de roupa; d) Bater cabeça no axé, na porta do quarto de santo e pro pai de santo; e)
Tomar a bença à TODOS os seus irmãos, sendo mais velhos e mais novos,
de acordo com a ordem iniciática. Agora sim, caso não haja nada em que
se possa ajudar (muito embora seja impossível, pois em uma casa de santo
sempre tem algo a ser feito), você pode ir colocar seu tricô em dia. Perfeito, são regras para serem cumpridas.
12- Você trabalhou feito a escrava Isaura e se cansou? Acabou de fazer
todo o serviço? Bem, agora você pode pegar o seu maravilhoso APOTÍ e
confortavelmente sentar-se nele. Como dissemos no item 5, cadeiras,
sendo com ou sem braço, só ebomis, ekedes, ogãs ou zeladores que podem
sentar. Existe uma variável do APOTI¹, que é a famosa ESTEIRA. Nela você
pode se sentar, se espichar e até relaxar seus ossos. Ela é sua!
Aproveite! Critérios
13- Em sua casa, quando você faz uma comemoração qualquer e é servida
uma refeição, você sai atacando o ajeum na frente de seus convidados?
Acreditamos que não, né? Portanto, na casa de santo é igual. Antes os
mais velhos devem se servir, pra só depois os abians e yawos se
servirem. Isso é mais que uma regra, é etiqueta. E você não vai querer
ser um deselegante, não é? Lembre-se: Estão sempre observando você…Regras de educação
14- Você gosta que fiquem pegando suas roupas emprestadas? Pois é, o pai
de santo também não gosta. Portanto, que tal ir no Varejão das Fábricas
e comprar um belíssimo tecido de lençol a R$ 4,50 e fazer uma baiana de
ração básica pro dia-a-dia? Não sai caro e fica uma gracinha. E você
finalmente pára de pegar a roupa do alheio emprestada. Não é
maravilhoso? Todos na casa contentes e felizes com suas devidas roupas. Essa é ótima. Regras de simancol.
15- Quem traz dinheiro para o sustento da casa? Você é que não é.
Portanto, trate muito bem os clientes que vão para jogar ou se
consultar, pois é deles que vem boa parte do dinheiro dali. Sorrir
sempre e servir um copinho de café ou de água gelada não mata ninguém.
Que tal tentar? Temos que tratar a todos com gentileza e educação, não por este motivo.
16- E vai rolar a festa! O povo do keto, do jeje, da angola e até da
umbanda já mandou convidar. Mas, e o dinheiro para comprar o ajeum e o
otí do povo? Com certeza o Carrefour não irá mandar as coisas de graça
para o barracão, nem o Mercadão de Madureira tão pouco irá dar os bichos
e todo o material restante. Portanto, que tal se todos coçassem o bolso
um pouco e ajudassem? Se a festa for do
vodun/orixá/nkise da casa, todos temos que colaborar, dentro dos limites
de cada um, afinal de contas ele é o responsável por todo o clã de
deuses, ali participantes. Se for de um irmão que não tem condições de
arcar com as despesas de sua obrigação, e essa se faz necessária, é
obrigação ajudar, somos uma família.
17- Você acha que só por este local ser uma casa de santo, a Light, a
CEG e a CEDAE irão fornecer água, luz e gás de graça? É claro que não.
Portanto, contribua sempre com a sua módica mensalidade. Economizar um
pouco na Skol e no cigarro no final de semana já irá ajudar muito no
barracão. Valido
18- O mundo está em guerra, existe muita gente por aí passando fome.
Portanto, por que desperdiçar comida? Fazer a quantidade exata só para
quem trabalhou dignamente e contribuiu com este maravilhoso ajeum é o
coerente, pois você não está no programa da Ana Maria Braga para comer
de graça. Por falar em Ana Maria Braga, lembre-se que você não é o Louro
José para dar palpites no barracão. Se você tem alguma sugestão, leve-a
antes ao pai de santo. Espalhar a corrupção sobre a Terra era coisa da
novela passada. Regra dos bons costumes
19- Ficou cansado depois da festa? Nada de ir pegando sua bolsa e ir saindo de fininho. Lembre-se da limpeza do barracão. Perfeito e para todos
20- Roda de candomblé, seja em sua casa ou na casa do alheio, não é
lugar de ficar de cochicho e risinhos irônicos. Se você quer fuxicar, vá
para um botequim. Perfeitooooooooo, para todos.
21- Anágoas encardidas, só se for depois da festa do candomblé. Antes,
NUNCA, JAMAIS, NEM PENSAR! Devem ser brancas como a neve, salve anágoas
de ráfia ou entre-tela.
Regras de cuidados pessoas em qualquer lugar.
22- Você, irmãozinho, que vê o mundo cor de rosa-choque com bolinhas
amarelas, deve deixar esta sua visão progressiva e moderna do lado de
fora do barracão. Ali dentro você tem que ver tudo branco. O mesmo vale
para as coleguinhas que vêem tudo azulzinho. Casa de orixá é para louvar
e cuidar do Orixá, e não para arrumar casório. Até pode acontecer, mas não deve ser a intenção
23- Vai rolar um churrasquinho de gato na casa do seu coleguinha no meio
da semana, no mesmo dia de função do barracão? Então, peça para ele
guardar uma garrinha de carne para você e venha cumprir suas obrigações
junto a seus irmãos. Não com esta
motivação. No meu ponto de vista, estar presente nas funções, é uma
questão de prioridade e religiosidade. Mas há que se entender que em
determinados momentos familiares ou se for uma ocasião daquelas que vc
não pode deixar de estar presente pois, acarretaria uma enorme
desconsideração por alguém de grande significância em sua vida, a sua
religião poderá não ser a prioridade. Religiosidade é a pratica da
religião e não uma opção de vida, e se assim for é escolha de cada um,
não tem que ser de todos. A ausência em um oro não desqualifica a
religiosidade de ninguém, afinal de contas todos temos vida social,
afetiva, familiar e religiosa. Esta compreensão tem que fazer parte dos
critérios de um líder. Por questões de respeito e responsabilidade, o
Zelador/a deverá ser avisado de sua ausência, SEMPRE. Esta postura de
ausência em um oro não pode ser uma praxe, afinal de contas temos
deveres e direitos, mas tem que ser considerada e compreendida.
24- Se sua irmã de santo tem uma baiana mais humilde do que a sua, nada
de ficar xoxando. Lembre-se, o mundo dá voltas e o feitiço pode virar
contra o feiticeiro.
Amanhã pode ser você com uma baiana de chita e ela com uma belíssima saia de rechilieu. Isso seria um desvio de caráter e não uma regra ou critério descumprido.
25- Caso assista fora do seu barracão a
algo diferente do que ocorre em sua casa, nada de ficar xoxando e
chamando de marmoteiro. Você não é o dono da verdade e nem ninguém o é. O
que pode parecer maluquice pra você, pode não ser para próximo. Além do mais, comentários sempre são feitos depois. Vai que tem alguém conhecido escutando? Perfeito.
26- Ninguém tem mais ou menos santo que ninguém. Isso é regra. Sempre. Perfeito
27- Respeito é bom e conserva os dentes. Portanto, deve-se pensar duas
vezes antes de envolver o pai de santo e irmãos mais velhos em
determinadas brincadeiras de mau-gosto. Apelidos e avacalhações são da
porta do barracão pra fora. Além do mais, a próxima vítima pode ser
você. Essa também é para todos, não só com zeladores e mais velhos
28- Roupa de barracão é saia comprida, camisú e pano da costa. Shortinhos e top’s devem ser usados somente pra ir ao baile funk. Perfeito
29- Sempre que for servir algum mais velho de santo, deve-se levar o
pedido numa bandeja ou prato e abaixar-se para servir. Nunca olhar no
rosto da pessoa. Responder somente “sim” ou “não”. Regras da religião, você pode fazer isso tudo sem tanta subserviência.
30- Bença foi feita para ser trocada. Sempre que você pede a bença, você
está na realidade pedindo a bênção ao Orixá da pessoa, e não à ela
própria. Portanto, todos devem trocar a bença, mais velhos com mais
novos e vice-versa. Com certeza. Só um
adendo, nunca mas nunca, na troca de benção estique sua mão para que lhe
peçam a benção, isso é de uma prepotência e falta de educação,
incomensurável.
APOT͹: A casa constantemente precisa de apotís. Nos grandes
supermercados vendem higiênicos banquinhos de plástico a R$ 6,50.
Coopere com a casa e leve o seu.
* faltou lembrar das velas Santo (Orixá) precisa de luz uma velinha de 7 dias não custa tão caro,
* quando chega visita de outra casa.Recebe-los como irmãos, guardando a
hierarquia, mesmo qdo tem um abian tirando onda de mocotona(antiga). Isso é regra de educação.
Outra coisa, nao antecipar-se aos mais velhos ao acolhimento das visitas qdo não se está designado p/isto. Perfeito
Oração de uma Iyawó
"Que a energia que habita em mim
permita que eu mantenha sempre a cabeça baixa e os pés no chão, afim de
manter a humildade. Que eu tenha sempre bons ouvidos, atentos para os
ensinamentos daqueles que vieram antes de mim, meus orixás, meus
ancestrais, meus mais velhos e fechados para o que não convém. Que eu
possa ter o coração aberto para a experiência de ser omo orixá, mas
principalmente a boca fechada, pra não levantar falso, não cometer
injúria e não deixar que o sopro que sai de minha boca se contamine com
palavras vãs.
Que meu ori mantenha esse compromisso
todos os dias. Assim meu comportamento será digno de minha divindade e
minhas ações respeitarão o deus vivo que há em mim."
RELIGIÃO E RELIGIOSIDADE
Religião
.A
Religião é um processo relacional desenvolvido entre o Homem e os
poderes por ele considerados sobre humanos, no qual se estabelece uma
dependência ou uma relação de dependência. Essa relação se expressa
através de emoções como confiança e medo, através de conceitos como
moral e ética, e finalmente através de ações (cultos ou atividades pré
estabelecidas, ritos ou reuniões solenes e festividades). A Religião é a
expressão de que a consciência humana registra a sua relação com o
inefável, demonstrando a sua convicção nos poderes que lhes são
transcendentes. Esta transcendência é tão forte, que povoa a cultura
humana.
(2)Religião
é uma palavra tão associada a uma série de paixões, movimentos e
ideologias que defini-la é um desafio, e chegar a uma definição de
consenso parece impossível. Talvez em última análise todas as definições
possíveis sirvam a algum tipo de agenda, e uma definição objetiva seja
no fim das contas impossível de se obter.
Podemos definir como sendo religião:
a
qualquer doutrina ou tradição que tenha um registro cultural,
transmitido de um adepto para outro por meios orais e/ou escritos. Essa
transmissão é necessária para a perpetuação da doutrina, para a formação
de linguagem e conceitos próprios que permitam a comunicação entre os
adeptos, e para distinguir essa doutrina de outras.
é
necessário também que essas doutrinas se preocupem de alguma forma em
definir o que é desejável ou não dentro das atitudes, ações e escolhas
de seus adeptos. Ou seja, é preciso que exista uma preocupação enfática
em definir uma ÉTICA.
além
disso, uma religião tem necessariamente de se propor a fazer a ligação
entre as circunstâncias específicas das vidas de seus adeptos e algum
conjunto de valores absolutos e eternos. Como a compreensão humana do
absoluto é inevitavelmente especulativa, surge em decorrência a
necessidade de FÉ na prática religiosa.
do
conflito dinâmico e essencialmente insolúvel entre os ideais do
absoluto e as escolhas imperfeitas da vida diária, surge outra
necessidade religiosa, a de INTERPRETAÇÃO, que pode ser exposta por
algum tipo de autoridade religiosa formal ou informal, ou deixada a
cargo de cada adepto individual.
existe
também uma PRÁTICA religiosa, algum tipo de escolhas, atitudes ou ações
que são executadas pelos adeptos da religião para caracterizar um
compromisso. A essa prática estão ligadas necessidades sociais,
emocionais e principalmente estéticas dos adeptos. Há um estreito laço
entre as funções ética e estética da religiosidade, pois qualquer pessoa
deseja acreditar que ao se buscar o desejável também se está buscando o
que é lícito e válido. Dessa interação entre o que se quer e o que que
considera correto querer surge um terceiro papel fundamental da vida
religiosa - o AMPARO EMOCIONAL.
outra
característica necessária de uma religião é um conflito virtualmente
sem solução entre os objetivos de preservar sua própria identidade
enquanto doutrina (por meio da tradição e transmissão) e de exercer um
efeito concreto nas vidas de seus adeptos (através da interpretação e
prática). Essas duas metas tendem a limitar-se reciprocamente, mas é
exatamente esse conflito que torna necessária a existência da religião.
Quando acontece de se supervalorizar a preservação da doutrina, ela tende a perder o atrativo e ser esquecida ou mesmo se extinguir.
Quando, pelo contrário, se dá importância excessiva às mudanças
concretas nas vidas dos adeptos, o interesse em manter a religião viva
diminui, pois vem a sensação de que ela já cumpriu seu papel. Uma
religião excessivamente bem-sucedida põe em risco sua própria existência
continuada.
Religiosidade
..A religiosidade é uma qualidade do indivíduo que é caracterizada pela disposição ou tendência do mesmo, para perseguir a sua própria Religião ou a integrar-se às coisas sagradas. Precisamos diferir o ser possuidor de religiosidade, do religioso, que é fruto do sistema religioso.
..A religiosidade é uma qualidade do indivíduo que é caracterizada pela disposição ou tendência do mesmo, para perseguir a sua própria Religião ou a integrar-se às coisas sagradas. Precisamos diferir o ser possuidor de religiosidade, do religioso, que é fruto do sistema religioso.
O
religioso é um fanático, que não compreende e não respeita o Processo
Religare do próximo. Ele se torna intolerante e não aceita as práticas
religiosas de outros indivíduos, considerando o seu caminho único e
inquestionável. Acontece, com isto, que alguns sistemas religiosos podem
gerar indivíduos de religiosidade, mas como os religiosos se apegam ao
poder e as fórmulas, tendem a manipular as mentes atormentadas e
sofredoras, obrigando a todo aquele que não esteja em sintonia com seus
ideais a se tornarem submissos. Daí as crises e a intolerância
religiosa. Os religiosos são de fato os grandes causadores de problema,
aliados aos seus sistemas religiosos.
...Tentando
resumir em uma frase, eu diria portanto que religião é uma doutrina que
demanda interpretação, compromisso e fé, que permite uma prática e que
tem objetivos éticos, estéticos e emocionais. E religiosidade é uma
qualidade do indivíduo de integrar-se às coisas sagradas.
CONHECIMENTO E FUNDAMENTO
O
conhecimento é necessário em toda e qualquer atividade humana. Não
seria diferente na religião e sobretudo na nossa religião. É necessário e
faz bem conhecermos nossa história, nossos ancestrais, as línguas que
utilizamos em nossos rituais e tudo aquilo que estiver relacionado a
nossa prática religiosa. Em todas as religiões as pessoas lêem e estudam
muito. Há inclusive centros de estudos para formar sacerdotes. Caso do
budismo, islamismo, cristianismo, judaísmo e assim por diante.No
entanto, muitos confundem conhecimento cultural com os fundamentos do
culto.Fundamento, a meu ver, são os atos executados no interior do
hundeme,roncó ou baquissi, é o momento do sagrado, quando nossas
divindades se fazem presente e guiam a mão do sacerdote para a execução
correta do ato fundamental, por isso chamado de fundamento. Por outro
lado, possa saber tudo o que se passa lá, posso conhecer as rezas e
cantigas, posso saber matar o bicho e as comidas votivas, mas se não
tenho axé(sabedoria e principios) recebidos de nada vai me adiantar.
Saber, no candombé não é poder fazer. Para poder fazer é necessário ter
"mão" ou seja ter sido destinado pra aquilo, ter axé pra distribuir. Só o
conhecimento não torna alguém um sacerdote. É preciso mais, muito mais.
Esses
novos tempos tem confundido algumas pessoas em relação ao segredo do
culto.Os segredos para serem mantidos não precisam ser camuflados. Os
segredos existem e sempre existirão. Talvez não com mesma intensidade e
necessidade que eles já existiram, mas eles continuarão existindo,
porque o Candomblé é uma religião iniciática e dependendo do grau de
iniciação do indivíduo ele pode participar de certos atos ou não. Para
um não iniciado tudo é segredo, mas para um iniciado nem tudo é mais
segredo, como o número de segredos de um ogã/ekedi é menor que o de
um iyawo e assim por diante. Quanto mais avançamos em nossa iniciação
mais os segredos nos serão desvendados. No entanto, o teor de cantigas, o
uso de determinados modos da língua, a história dos povos africanos, a
história da fundação das casas matrizes, nada disso é segredo porque
nada disso constitue-se em fundamentos. Isso faz parte do conhecimento
cultural e, na minha opinião, pode e deve vir a público.
"O saber desprovido de sabedoria é uma arma que se volta contra quem o possui."