Significado e Efeitos da Publicação do Mapa Etno-histórico de Curt Nimuendajù Para a Antropologia BrasileirA
Uma grande perda que sofre a antropologia de hoje é a da visão de conjunto.
O conhecimento intensivo de uma realidade particular, um grupo indígena, uma favela carioca ou uma pequena comunidade nordestina, acoplado a preocupações teóricas preencha a maior parte da experiência do antropólogo de hoje. Embora com anos de pesquisa de campo em grupos indígenas específicos, Curt Nimuendaju soube situar seu interesse e sua vivência de certas tribos em um contexto muito amplo. A primeira dimensão do tamanho desse contexto é fornecida pela visão histórica de seu mapa. Os grupos indígenas já referenciados pela bibliografia, desde a mais antiga, estão representados no mapa. O índice bibliográfico que a acompanha exprime um intenso trabalho de seleção das fontes mais seguras sobre as diversas tribos. Do prisma do espaço, as localizações conhecidas de grupos indígenas abarcam o universo geográfico do território brasileiro e algumas áreas limítrofes da América do Sul. Este incrível esforço em sintetizar todas as informações existentes sobre a localização de tribos indígenas em diferentes tempos será uma referência obrigatória em todos os futuros estudos sobre índios realizados no Brasil.
O mapa resume a bibliografia publicada até 1944, cobrindo os grupos indígenas conhecidos até este ano. Depois de 1944, outras tribos foram encontradas na Amazônia, não estando, portanto, nele representadas. Alguns pouco grupos, por outro lado, mudaram de localização. Tais aspectos, porém, têm um efeito mínimo no julgamento do enorme valor do trabalho. A discussão destes aspectos significará a abertura de uma interessante área de debate como um dos efeitos previstos da sua divulgação.
A. publicação deste instrumento básico de pesquisa vem responder também à necessidadede situar histórica e geograficamente os estudos antropológicos. De fato, a perspectiva durkheiniana de "se explicar o social pelo social" é levada, por vezes, demasiadamente longe. Aspectos históricos e geográficos aparecem como "pano de fundo" em diversos estudos e não como o primeiro momento lógico do processo explanatório. Para que se reafirme a relevância da em geral reconhecida e, em geral, pouco seguida, relevância dos fatores históricos e geográficos no processo explanatório, é fundamental que informações de base sobre tais aspectos sejam divulgadas. Creio que tal subênfase geográfica e histórica resulta, não somente, de decisões intelectuais, mas também, em grande parte, da falta de informações disponíveis sobre esses campos, de um prisma instrumental para o trabalho do antropólogo. A massa de material histórico-geográfico que o mapa de Nimuendaju resume será um passo fundamental no sentido de tomar tais materiais históricos e geográficos accessíveis a antropólogos. A grande concentração de informações contidas nas páginas deste volume certamente implica a difusão das centenas de fontes bibliográficas citadas. Este mapa, portanto, é um trabalho que funciona como aglutinador de todo um conhecimento antes fragmentário e disperso.
Uma boa ilustração da segurança que a inclusão, ao nível do modelo explanatório, de fatores geográficos oferece, surge, por exemplo, de uma velha discussão atualmente reacesa. Já há muito que a antropologia reconhece diferentes tipos de grupos indígenas nas "terras baixas da América do Sul" (leia-se América do Sul, menos os Andes). Uma das principais distinções é a que separa o que Steward (1950) chamou de "grupos de floresta tropical" e o que ele chamou de "grupos marginais". Embora esta tipologia esteja superada por novas informações empíricas, não há dúvida que existe um contraste marcante entre os grupos indígenas do tronco lingüístico Jê, em sua maioria habitando a região do Brasil Central, e os habitantes da floresta amazônica. Enquanto os Jê possuem complicados sistemas de metades, classes de idade e, em alguns casos, grupos de descendência, os grupos conhecidos como de "floresta tropical" possuem uma estrutura de maior simplicidade, com as diferenças entre os sexos como o principal critério de organização social. Enquanto os Jê têm uma economia baseada na agricultura, caça e na coleta, índios como os do Xingu, da floresta tropical, têm uma economia baseada na agricultura e na pesca.
Bramberger (1971), em um interessante artigo, compara os Kayapó, um grupo Jê, com os índios do Xingu. Os Kayapó não habitam uma área claramente definida de campos cerrados como os outros Jê. Pelo contrário, parte dos grupos Kayapó vive em um ambiente caracterizado como de floresta tropical. Dada a semelhança de habitat entre os Kayapó e os Xinguanos e dada a semelhança do aspecto tecnológico e de estrutura social entre os Kayapó e os demais Jê, Bramberger conclui que o meio-ambiente não tem nada a ver com os diferentes tipos de economia. A explicação das diferenças econômicas estaria na "visão de mundo" que os dois tipos de estrutura social apresentam.
A conseqüênqia de tal postulado, estranho para os historiadores e talvez incrível para os geógrafos, mas comum entre antropólogos, é o reforço do velho ponto de vista durkheimiano ("o social pelo social") - "a cultura se explica por si mesma".
A resposta a Bramberger pode ser encontrada em um recente texto de Ross (1978), que tenta, com dados insuficientes, mostrar que as regiões habitadas pelos índios Kayapó e os Xinguanos são diferentes, razão pela qual tais grupos teriam culturas também diferentes. Assim como a posição de Bramberger radicaliza uma conspícua perspectiva teórica estruturalista, a de Ross repete em Ecologia cultural um determinismo do meio, igualmente corriqueiro na comunidade antropológica internacional.
Bramberger acerta na constatação de que os meio-ambientes habitados pelos Kayapó e Xinguanos sejam semelhantes. Mas sua explicação falha por não considerar uma geografia mais ampla que os restritos ambientes em que habitam estas populações. Fatores como, por exemplo, as migrações históricas que sofreram estes grupos indígenas há mais de cem anos.
De fato, os índios Kayapó vieram de um meio tipicamente de cerrado sendo que sua cultura atual pode ser vista como um momento de um processo de mudança, adaptando-se a um meio diverso. Comparando os Kayapó com os demais Jê do Brasil Central, torna-se aparente que os recursos dos rios e das matas têm para eles a maior importância, efeito do processo adaptativo ao novo habitat. Tal bom senso na explicação, sem tentar entender cultura e sociedade apenas por elas mesmas ou lançando mão de um meio ambiente natural, limitado e estático, encontrará uma segura base empírica no mapa etno-histórico de Curt Nimuendaju.
Esta visão mais ampla poderá gerar modelos mais eficientes que os atuais para estudos de carrying capacity realízados tanto por geógrafos como por antropólogos. De fato, tais pesquisas, estratégicas para uma política de ocupação racional da Amazônia, apresentam alguns sérios problemas. De longe, o mais grave é exatamente o apontado acima, o da limitação do espaço habitado por uma população em um único tempo. Os deslocamentos históricos e a carga de tradições culturais oriundas de adaptações a outros meio-ambientes são simplesmente ignorados. O resultado são modelos que podem chegar a diferentes índices demográficos para diferentes formas de tecnologia, dado um determinado meio-ambiente. Mas os modelos não explicam as diferentes capacidades adaptativas de populações diversas neste mesmo ambiente.
Outro ponto que cabe ressaltar é o da relevância das informações histórico-geográficas sintetizadas no mapa para a teoria do contato interétnico. Para nós, antropólogos brasileiros, tal aspecto é de especial relevância, dado o peso da teoria do contato na nossa Antropologia.
Aspectos históricos e geográficos nela assumem ênfase explícita pela consideração dos tipos de atividade econômica desenvolvidos pelas diferentes frentes pioneiras ( Roberto Cardoso de Olíveira , 1972). Os tipos de frentes extrativas, por exemplo, remetem diretamente ao aspecto histórico e geográfico. Por ser uma abordagem que parte da concretude das relações econômicas e sociais, automaticamente considera tais elementos eom a devida força na explicação.
Embora tenha a visão do todo como premissa, a teoria do contato interétnico, ao situar-se como instrumento para o estudo de situações particulares, pode perder algo de seu alcance. A publicação do mapa contribuirá para os estudos de contato, não só com informações em pesquisas específicas, como também com uma visão histórica do que ocorre com diversos grupos indígenas nas diferentes áreas geográficas dotadas de tipos particulares de atividade econômica. O lado generalizante da teoria do contato, dispondo do mapa de Nimuendaju, contará com uma amarra essencial. Será possível, a partir dela, um avanço da compreensão globalizante do contato interétnico por estudos comparativos da relação tipo de frente pioneira - efeitos sobre grupos indígenas (Roberto Cardoso de Oliveira - Op. cit.). Ao mesmo tempo, questões relevantes serão obtidas sobre os diversos graus de resistência ao contato dos diferentes tipos de estruturas sociais.
Por exemplo, se numa área geográfica X, em um mesmo tempo, o grupo A desapareceu, o B continuou no mesmo local, e o C migrou, a busca da explicação para tais conseqüências diferenciais do contato será mais uma pergunta entre as muitas que o mapa oferece (Laraia e Matta, 19ó7).
Do prisma do contato interétnico, as principais variáveis a serem trabalhadas a partir do mapa, são os tipos e subtipos de frentes pioneiras segundo o período histórico e as estruturas sócioculturais dos grupos indígenas segundo a área e o período histórico. Os efeitos possíveis da combinação destas variáveis seriam a extinção total ou parcial dos grupos indígenas, migrações em busca de regiões de refúgio ou alguma forma de acomodação. Outra possível conseqüência é simplesmente o bloqueio do avanço da frente pioneira em uma região por um dado período de tempo - É possível que os grupos caçadores tenham maior capacidade de resistência cultural, baseada em uma mais eficiente estrutura militar.
A divulgação do mapa de Nimuendaju não só trará uma base firme para estudos de impacto sócio-cultural e ecológico sobre as populações e áreas indígenas, como também, fornecerá subsídios para se inferir o comportamento das frentes pioneiras nacionais. Os historiadores ou os sociólogos, interessados em encontrar momentos de atividade econômica e migrações mais intensas de frentes de expansão nacional terão um instrumento essencial no mapa - a pressão histórica das frentes nacionais poderá ser indiretamente medida pela movimentação no espaço dos grupos indígenas.
Outros usos e perguntas a partir do mapa serão levantadas. Sua publicação vem tornar accessível ao pesquisador uma obra clássica da Antropologia brasileira.
O conhecimento intensivo de uma realidade particular, um grupo indígena, uma favela carioca ou uma pequena comunidade nordestina, acoplado a preocupações teóricas preencha a maior parte da experiência do antropólogo de hoje. Embora com anos de pesquisa de campo em grupos indígenas específicos, Curt Nimuendaju soube situar seu interesse e sua vivência de certas tribos em um contexto muito amplo. A primeira dimensão do tamanho desse contexto é fornecida pela visão histórica de seu mapa. Os grupos indígenas já referenciados pela bibliografia, desde a mais antiga, estão representados no mapa. O índice bibliográfico que a acompanha exprime um intenso trabalho de seleção das fontes mais seguras sobre as diversas tribos. Do prisma do espaço, as localizações conhecidas de grupos indígenas abarcam o universo geográfico do território brasileiro e algumas áreas limítrofes da América do Sul. Este incrível esforço em sintetizar todas as informações existentes sobre a localização de tribos indígenas em diferentes tempos será uma referência obrigatória em todos os futuros estudos sobre índios realizados no Brasil.
O mapa resume a bibliografia publicada até 1944, cobrindo os grupos indígenas conhecidos até este ano. Depois de 1944, outras tribos foram encontradas na Amazônia, não estando, portanto, nele representadas. Alguns pouco grupos, por outro lado, mudaram de localização. Tais aspectos, porém, têm um efeito mínimo no julgamento do enorme valor do trabalho. A discussão destes aspectos significará a abertura de uma interessante área de debate como um dos efeitos previstos da sua divulgação.
A. publicação deste instrumento básico de pesquisa vem responder também à necessidadede situar histórica e geograficamente os estudos antropológicos. De fato, a perspectiva durkheiniana de "se explicar o social pelo social" é levada, por vezes, demasiadamente longe. Aspectos históricos e geográficos aparecem como "pano de fundo" em diversos estudos e não como o primeiro momento lógico do processo explanatório. Para que se reafirme a relevância da em geral reconhecida e, em geral, pouco seguida, relevância dos fatores históricos e geográficos no processo explanatório, é fundamental que informações de base sobre tais aspectos sejam divulgadas. Creio que tal subênfase geográfica e histórica resulta, não somente, de decisões intelectuais, mas também, em grande parte, da falta de informações disponíveis sobre esses campos, de um prisma instrumental para o trabalho do antropólogo. A massa de material histórico-geográfico que o mapa de Nimuendaju resume será um passo fundamental no sentido de tomar tais materiais históricos e geográficos accessíveis a antropólogos. A grande concentração de informações contidas nas páginas deste volume certamente implica a difusão das centenas de fontes bibliográficas citadas. Este mapa, portanto, é um trabalho que funciona como aglutinador de todo um conhecimento antes fragmentário e disperso.
Uma boa ilustração da segurança que a inclusão, ao nível do modelo explanatório, de fatores geográficos oferece, surge, por exemplo, de uma velha discussão atualmente reacesa. Já há muito que a antropologia reconhece diferentes tipos de grupos indígenas nas "terras baixas da América do Sul" (leia-se América do Sul, menos os Andes). Uma das principais distinções é a que separa o que Steward (1950) chamou de "grupos de floresta tropical" e o que ele chamou de "grupos marginais". Embora esta tipologia esteja superada por novas informações empíricas, não há dúvida que existe um contraste marcante entre os grupos indígenas do tronco lingüístico Jê, em sua maioria habitando a região do Brasil Central, e os habitantes da floresta amazônica. Enquanto os Jê possuem complicados sistemas de metades, classes de idade e, em alguns casos, grupos de descendência, os grupos conhecidos como de "floresta tropical" possuem uma estrutura de maior simplicidade, com as diferenças entre os sexos como o principal critério de organização social. Enquanto os Jê têm uma economia baseada na agricultura, caça e na coleta, índios como os do Xingu, da floresta tropical, têm uma economia baseada na agricultura e na pesca.
Bramberger (1971), em um interessante artigo, compara os Kayapó, um grupo Jê, com os índios do Xingu. Os Kayapó não habitam uma área claramente definida de campos cerrados como os outros Jê. Pelo contrário, parte dos grupos Kayapó vive em um ambiente caracterizado como de floresta tropical. Dada a semelhança de habitat entre os Kayapó e os Xinguanos e dada a semelhança do aspecto tecnológico e de estrutura social entre os Kayapó e os demais Jê, Bramberger conclui que o meio-ambiente não tem nada a ver com os diferentes tipos de economia. A explicação das diferenças econômicas estaria na "visão de mundo" que os dois tipos de estrutura social apresentam.
A conseqüênqia de tal postulado, estranho para os historiadores e talvez incrível para os geógrafos, mas comum entre antropólogos, é o reforço do velho ponto de vista durkheimiano ("o social pelo social") - "a cultura se explica por si mesma".
A resposta a Bramberger pode ser encontrada em um recente texto de Ross (1978), que tenta, com dados insuficientes, mostrar que as regiões habitadas pelos índios Kayapó e os Xinguanos são diferentes, razão pela qual tais grupos teriam culturas também diferentes. Assim como a posição de Bramberger radicaliza uma conspícua perspectiva teórica estruturalista, a de Ross repete em Ecologia cultural um determinismo do meio, igualmente corriqueiro na comunidade antropológica internacional.
Bramberger acerta na constatação de que os meio-ambientes habitados pelos Kayapó e Xinguanos sejam semelhantes. Mas sua explicação falha por não considerar uma geografia mais ampla que os restritos ambientes em que habitam estas populações. Fatores como, por exemplo, as migrações históricas que sofreram estes grupos indígenas há mais de cem anos.
De fato, os índios Kayapó vieram de um meio tipicamente de cerrado sendo que sua cultura atual pode ser vista como um momento de um processo de mudança, adaptando-se a um meio diverso. Comparando os Kayapó com os demais Jê do Brasil Central, torna-se aparente que os recursos dos rios e das matas têm para eles a maior importância, efeito do processo adaptativo ao novo habitat. Tal bom senso na explicação, sem tentar entender cultura e sociedade apenas por elas mesmas ou lançando mão de um meio ambiente natural, limitado e estático, encontrará uma segura base empírica no mapa etno-histórico de Curt Nimuendaju.
Esta visão mais ampla poderá gerar modelos mais eficientes que os atuais para estudos de carrying capacity realízados tanto por geógrafos como por antropólogos. De fato, tais pesquisas, estratégicas para uma política de ocupação racional da Amazônia, apresentam alguns sérios problemas. De longe, o mais grave é exatamente o apontado acima, o da limitação do espaço habitado por uma população em um único tempo. Os deslocamentos históricos e a carga de tradições culturais oriundas de adaptações a outros meio-ambientes são simplesmente ignorados. O resultado são modelos que podem chegar a diferentes índices demográficos para diferentes formas de tecnologia, dado um determinado meio-ambiente. Mas os modelos não explicam as diferentes capacidades adaptativas de populações diversas neste mesmo ambiente.
Outro ponto que cabe ressaltar é o da relevância das informações histórico-geográficas sintetizadas no mapa para a teoria do contato interétnico. Para nós, antropólogos brasileiros, tal aspecto é de especial relevância, dado o peso da teoria do contato na nossa Antropologia.
Aspectos históricos e geográficos nela assumem ênfase explícita pela consideração dos tipos de atividade econômica desenvolvidos pelas diferentes frentes pioneiras ( Roberto Cardoso de Olíveira , 1972). Os tipos de frentes extrativas, por exemplo, remetem diretamente ao aspecto histórico e geográfico. Por ser uma abordagem que parte da concretude das relações econômicas e sociais, automaticamente considera tais elementos eom a devida força na explicação.
Embora tenha a visão do todo como premissa, a teoria do contato interétnico, ao situar-se como instrumento para o estudo de situações particulares, pode perder algo de seu alcance. A publicação do mapa contribuirá para os estudos de contato, não só com informações em pesquisas específicas, como também com uma visão histórica do que ocorre com diversos grupos indígenas nas diferentes áreas geográficas dotadas de tipos particulares de atividade econômica. O lado generalizante da teoria do contato, dispondo do mapa de Nimuendaju, contará com uma amarra essencial. Será possível, a partir dela, um avanço da compreensão globalizante do contato interétnico por estudos comparativos da relação tipo de frente pioneira - efeitos sobre grupos indígenas (Roberto Cardoso de Oliveira - Op. cit.). Ao mesmo tempo, questões relevantes serão obtidas sobre os diversos graus de resistência ao contato dos diferentes tipos de estruturas sociais.
Por exemplo, se numa área geográfica X, em um mesmo tempo, o grupo A desapareceu, o B continuou no mesmo local, e o C migrou, a busca da explicação para tais conseqüências diferenciais do contato será mais uma pergunta entre as muitas que o mapa oferece (Laraia e Matta, 19ó7).
Do prisma do contato interétnico, as principais variáveis a serem trabalhadas a partir do mapa, são os tipos e subtipos de frentes pioneiras segundo o período histórico e as estruturas sócioculturais dos grupos indígenas segundo a área e o período histórico. Os efeitos possíveis da combinação destas variáveis seriam a extinção total ou parcial dos grupos indígenas, migrações em busca de regiões de refúgio ou alguma forma de acomodação. Outra possível conseqüência é simplesmente o bloqueio do avanço da frente pioneira em uma região por um dado período de tempo - É possível que os grupos caçadores tenham maior capacidade de resistência cultural, baseada em uma mais eficiente estrutura militar.
A divulgação do mapa de Nimuendaju não só trará uma base firme para estudos de impacto sócio-cultural e ecológico sobre as populações e áreas indígenas, como também, fornecerá subsídios para se inferir o comportamento das frentes pioneiras nacionais. Os historiadores ou os sociólogos, interessados em encontrar momentos de atividade econômica e migrações mais intensas de frentes de expansão nacional terão um instrumento essencial no mapa - a pressão histórica das frentes nacionais poderá ser indiretamente medida pela movimentação no espaço dos grupos indígenas.
Outros usos e perguntas a partir do mapa serão levantadas. Sua publicação vem tornar accessível ao pesquisador uma obra clássica da Antropologia brasileira.
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