terça-feira, 26 de agosto de 2014

IYAWO


Li este texto e resolvi posta-lo. Não estou de forma alguma contestando a autora, só estou aproveitando as colocações dela, para tecer  posicionamentos, MEUS. 

Uma observação: A forma como a autora descreve os tópicos pode parecer em algum momento, deboche ou falta de educação, mas é exatamente desta forma que muitos falam dentro de suas casas. Acredito que ela tentou retratar esta realidade.
Lógico que em todos os lugares temos que seguir regras e critérios mas....., em algumas casas estas regras só pertencem aos noviços.  O que diferencia os mais velhos do noviço, é o tempo de iniciação, responsabilidades de mais velhos, responsabilidades de quem exerce cargos. Noviço é noviço, não inferior. A postura de submissão, só devemos aos deuses.

Obs.: Meus comentários em azul

Manual do Bom Iyawo 

autora: Nêga Ju


1- Não retrucar o pai/mãe-de-santo. Você por acaso retruca seus avós? Não, com certeza. Não retrucar faz parte da educação e respeito que temos que ter por qualquer pessoa, principalmente neste caso.
2- Não retrucar seus irmãos mais velhos e egbomis; Você por acaso retruca alguma tia ou tio mais velho? Se me tratar respeitosamente e educadamente não. Se a motivação do "sabão" for pessoal e desrespeitosa, responda sim, mantendo o posicionamento de mais novo, seguindo as normas de respeito e educação. Se for uma questão religiosa, tem que  se respeitar a experiência e não retrucar, desde que a colocação seja com humildade e com o objetivo de orientar. Só porque somos mais velhos, não nos dá o direto de falar mal com ninguém.



3- Caso tenha algo para falar que não esteja concordando, discretamente peça um minuto da atenção do pai/mãe de santo e exponha a situação civilizadamente, sem precisar que a torcida do Flamengo esteja assistindo. Dar um escândalo no meio do barracão não é postura de um filho de santo, e você ainda corre o risco de tomar um fora na frente de todo mundo. ESTA É A REGRA, e assim deve ser em qualquer seguimento de nossa vida. 



4- Quando tiver visita no barracão (egbomis, ekedes, ogãs, zeladores), seja em dia de festa ou em dia corriqueiro, é de bom-tom que os filhos se abaixem para dirigir a palavra ao pai de santo. Detalhe: Só atrapalhar a conversa caso seja EXTREMAMENTE necessário. Deve-se chegar junto à ele, mas não muito, e ficar abaixado esperando que ele pergunte o que deseja. Quando ele perguntar, comece sempre sua frase com “AGÔ”. “Agô, mas blá blá blá…”. Esses são critérios de educação da religião, pois ninguém se abaixa para falar com avô, avó, pai, mãe, chefe, etc. Se alguém estiver conversando, e precisarmos, naquele momento, falar com a pessoa, se aproximar e aguardar a pessoa nos dar atenção, faz parte da educação, mais umas vez, em qualquer segmento de nossa vida.



5- Nunca, jamais, em tempo ou hipótese alguma, seja no seu barracão ou no barracão do alheio, deve-se sentar na mesma altura que o seu pai de santo. Ele já passou por vários sacrifícios para estar sentado confortavelmente ali. Você ainda está no meio do caminho. Portanto, pra que querer sentar aonde você não alcança? Por tradição, respeito e educação. Não concordo com a motivação explicada neste procedimento, pois estamos mostrando com ele que os noviços são inferiores, e não são, são pessoas adultas, que estão começando a trilhar um caminho de aprendizado dentro da religião. Sistema de reinado não faz mais parte da história. O caminho trilhado por um lider, não faz dele melhor que ninguém, o faz mais sábio, com mais experiência, com mais conhecimento, e é isso que lhe da destaque. Sacrifícios todos fazemos. Temos que respeitar nosso líder, por todos esse motivos, da mesma forma que respeitamos os nossos pais.



6- Yawo e abian não bebe nenhum líquido em copo de vidro dentro de seu barracão ou no barracão do alheio. Deve-se esperar o bom e velho copinho de plástico ou então a conhecida DILONGA, BAN ou CANEQUINHA DE ÁGHATA, como você preferir chamar. Copo de vidro só quem tem direito é egbomi, ekede, ogan e zelador. 
7- Yawo e abian não come em prato de vidro ou louça. Apenas em pratinho de plástico ou ághata. Aliás, devemos lembrar que é de boa educação cada filho trazer seu devido pratinho de ághata e sua devida canequinha para seu uso pessoal no barracão. Ah! Garfo? Nem pensar! Colher. Somente ela. Garfo, só com 7 anos de santo feito, ou então sendo ekede, ogã, zelador…...Isso é pra mostrar que eles são inferiores? No tempo da escravidão era o que disponibilizavam para os escravos, pois eram tratados como seres inferiores. Dentro do quarto sagrado, se me disser que é o simbolismo da primitividade da religião que escolhemos, tudo bem, do lado de fora, somos seres dignos de qualquer privilégio que o progresso nos brindou.  As crianças bebem em recipientes de plástico, para não correrem riscos, e não porque são inferiores. Massssss... são regras
8- Terminou seu ajeum? Pegue seu pratinho e sua canequinha, vá para cozinha e lave. Não cai a mão e nem coça, sabia? Infelizmente ainda não possuímos uma empregada que possa cuidar da limpeza geral enquanto nós descansamos. Essa é perfeita para todos, não só para os noviços.
9- Como dissemos no ítem anterior, não temos uma empregada para limpar tudo. Portanto, cada um deve se conscientizar e fazer a sua parte. Ficar protelando, esperando que algum irmão de santo se encha da bagunça e vá arrumar por você não tem cabimento. Cada um fazendo um pouco fica mais fácil e rápido. Perfeito.
10- Resolveu visitar o pai de santo? Que maravilha! Ele adorará sua visita, ainda mais se você vier com uma modesta colaboração para o ajeum, pois como é do conhecimento de todos, o pai de santo não é rico e nem tem obrigação de alimentar todo mundo. Madre Teresa de Calcutá já morreu, e definitivamente, ela não vira na cabeça do pai de santo. Colaborar, com certeza, não por este enfoque, e sim por vivermos em uma comunidade onde o zelador de santo não é um mantenedor de pessoas, a função dele é orientar, resguardar, conduzir, etc., e não sustentar. 
11- Ao chegar ao barracão, o procedimento correto é: a) Amarrar um pano no peito (mulheres) ou na cintura (homens); b) Ir direto para a cozinha beber um copo d’água para esfriar o corpo da rua, sem fazer paradas para bater-papo e colocar a fofoca em dia; c) Tomar seu banho e ir trocar de roupa; d) Bater cabeça no axé, na porta do quarto de santo e pro pai de santo; e) Tomar a bença à TODOS os seus irmãos, sendo mais velhos e mais novos, de acordo com a ordem iniciática. Agora sim, caso não haja nada em que se possa ajudar (muito embora seja impossível, pois em uma casa de santo sempre tem algo a ser feito), você pode ir colocar seu tricô em dia. Perfeito, são regras para serem cumpridas.
12- Você trabalhou feito a escrava Isaura e se cansou? Acabou de fazer todo o serviço? Bem, agora você pode pegar o seu maravilhoso APOTÍ e confortavelmente sentar-se nele. Como dissemos no item 5, cadeiras, sendo com ou sem braço, só ebomis, ekedes, ogãs ou zeladores que podem sentar. Existe uma variável do APOTI¹, que é a famosa ESTEIRA. Nela você pode se sentar, se espichar e até relaxar seus ossos. Ela é sua! Aproveite! Critérios
13- Em sua casa, quando você faz uma comemoração qualquer e é servida uma refeição, você sai atacando o ajeum na frente de seus convidados? Acreditamos que não, né? Portanto, na casa de santo é igual. Antes os mais velhos devem se servir, pra só depois os abians e yawos se servirem. Isso é mais que uma regra, é etiqueta. E você não vai querer ser um deselegante, não é? Lembre-se: Estão sempre observando você…Regras de educação
14- Você gosta que fiquem pegando suas roupas emprestadas? Pois é, o pai de santo também não gosta. Portanto, que tal ir no Varejão das Fábricas e comprar um belíssimo tecido de lençol a R$ 4,50 e fazer uma baiana de ração básica pro dia-a-dia? Não sai caro e fica uma gracinha. E você finalmente pára de pegar a roupa do alheio emprestada. Não é maravilhoso? Todos na casa contentes e felizes com suas devidas roupas. Essa é ótima. Regras de simancol. 
15- Quem traz dinheiro para o sustento da casa? Você é que não é. Portanto, trate muito bem os clientes que vão para jogar ou se consultar, pois é deles que vem boa parte do dinheiro dali. Sorrir sempre e servir um copinho de café ou de água gelada não mata ninguém. Que tal tentar? Temos que tratar a todos com gentileza e educação, não por este motivo.
16- E vai rolar a festa! O povo do keto, do jeje, da angola e até da umbanda já mandou convidar. Mas, e o dinheiro para comprar o ajeum e o otí do povo? Com certeza o Carrefour não irá mandar as coisas de graça para o barracão, nem o Mercadão de Madureira tão pouco irá dar os bichos e todo o material restante. Portanto, que tal se todos coçassem o bolso um pouco e ajudassem? Se a festa for do vodun/orixá/nkise da casa, todos temos que colaborar, dentro dos limites de cada um, afinal de contas ele é o responsável por todo o clã de deuses, ali participantes. Se for de um irmão que não tem condições de arcar com as despesas de sua obrigação, e essa se faz necessária, é obrigação ajudar, somos uma família. 
17- Você acha que só por este local ser uma casa de santo, a Light, a CEG e a CEDAE irão fornecer água, luz e gás de graça? É claro que não. Portanto, contribua sempre com a sua módica mensalidade. Economizar um pouco na Skol e no cigarro no final de semana já irá ajudar muito no barracão. Valido
18- O mundo está em guerra, existe muita gente por aí passando fome. Portanto, por que desperdiçar comida? Fazer a quantidade exata só para quem trabalhou dignamente e contribuiu com este maravilhoso ajeum é o coerente, pois você não está no programa da Ana Maria Braga para comer de graça. Por falar em Ana Maria Braga, lembre-se que você não é o Louro José para dar palpites no barracão. Se você tem alguma sugestão, leve-a antes ao pai de santo. Espalhar a corrupção sobre a Terra era coisa da novela passada. Regra dos bons costumes 
19- Ficou cansado depois da festa? Nada de ir pegando sua bolsa e ir saindo de fininho. Lembre-se da limpeza do barracão. Perfeito e para todos
20- Roda de candomblé, seja em sua casa ou na casa do alheio, não é lugar de ficar de cochicho e risinhos irônicos. Se você quer fuxicar, vá para um botequim. Perfeitooooooooo, para todos. 
21- Anágoas encardidas, só se for depois da festa do candomblé. Antes, NUNCA, JAMAIS, NEM PENSAR! Devem ser brancas como a neve, salve anágoas de ráfia ou entre-tela.
Regras de cuidados pessoas em qualquer lugar.
22- Você, irmãozinho, que vê o mundo cor de rosa-choque com bolinhas amarelas, deve deixar esta sua visão progressiva e moderna do lado de fora do barracão. Ali dentro você tem que ver tudo branco. O mesmo vale para as coleguinhas que vêem tudo azulzinho. Casa de orixá é para louvar e cuidar do Orixá, e não para arrumar casório. Até pode acontecer, mas não deve ser a intenção 
23- Vai rolar um churrasquinho de gato na casa do seu coleguinha no meio da semana, no mesmo dia de função do barracão? Então, peça para ele guardar uma garrinha de carne para você e venha cumprir suas obrigações junto a seus irmãos.  Não com esta motivação. No meu ponto de vista, estar presente nas funções, é uma questão de prioridade e religiosidade. Mas há que se entender que em determinados momentos familiares ou se for uma ocasião daquelas que vc não pode deixar de estar presente pois, acarretaria uma enorme desconsideração por alguém de grande significância em sua vida, a sua religião poderá não ser a prioridade. Religiosidade é a pratica da religião e não uma opção de vida, e se assim for é escolha de cada um, não tem que ser de todos. A ausência em um oro não desqualifica a religiosidade de ninguém, afinal de contas todos temos vida social, afetiva, familiar e religiosa. Esta compreensão tem que fazer parte dos critérios de um líder. Por questões de respeito e responsabilidade, o Zelador/a deverá ser avisado de sua ausência, SEMPRE. Esta postura de ausência em um oro não pode ser uma praxe, afinal de contas temos deveres e direitos, mas tem que ser considerada e compreendida.
24- Se sua irmã de santo tem uma baiana mais humilde do que a sua, nada de ficar xoxando. Lembre-se, o mundo dá voltas e o feitiço pode virar contra o feiticeiro.
Amanhã pode ser você com uma baiana de chita e ela com uma belíssima saia de rechilieu. Isso seria um desvio de caráter e não uma regra ou critério descumprido
25- Caso assista fora do seu barracão a algo diferente do que ocorre em sua casa, nada de ficar xoxando e chamando de marmoteiro. Você não é o dono da verdade e nem ninguém o é. O que pode parecer maluquice pra você, pode não ser para próximo. Além do mais, comentários sempre são feitos depois. Vai que tem alguém conhecido escutando? Perfeito. 
26- Ninguém tem mais ou menos santo que ninguém. Isso é regra. Sempre. Perfeito 
27- Respeito é bom e conserva os dentes. Portanto, deve-se pensar duas vezes antes de envolver o pai de santo e irmãos mais velhos em determinadas brincadeiras de mau-gosto. Apelidos e avacalhações são da porta do barracão pra fora. Além do mais, a próxima vítima pode ser você. Essa também é para todos, não  só com zeladores e mais velhos
28- Roupa de barracão é saia comprida, camisú e pano da costa. Shortinhos e top’s devem ser usados somente pra ir ao baile funk. Perfeito 
29- Sempre que for servir algum mais velho de santo, deve-se levar o pedido numa bandeja ou prato e abaixar-se para servir. Nunca olhar no rosto da pessoa. Responder somente “sim” ou “não”. Regras da religião, você pode fazer isso tudo sem tanta subserviência.
30- Bença foi feita para ser trocada. Sempre que você pede a bença, você está na realidade pedindo a bênção ao Orixá da pessoa, e não à ela própria. Portanto, todos devem trocar a bença, mais velhos com mais novos e vice-versa. Com certeza. Só um adendo, nunca mas nunca, na troca de benção estique sua mão para que lhe peçam a benção, isso é de uma prepotência e falta de educação, incomensurável.
APOT͹: A casa constantemente precisa de apotís. Nos grandes supermercados vendem higiênicos banquinhos de plástico a R$ 6,50. Coopere com a casa e leve o seu. 
* faltou lembrar das velas Santo (Orixá) precisa de luz uma velinha de 7 dias não custa tão caro,
* quando chega visita de outra casa.Recebe-los como irmãos, guardando a hierarquia, mesmo qdo tem um abian tirando onda de mocotona(antiga). Isso é regra de educação.
Outra coisa, nao antecipar-se aos mais velhos ao acolhimento das visitas qdo não se está designado p/isto. Perfeito
Oração de uma Iyawó

"Que a energia que habita em mim permita que eu mantenha sempre a cabeça baixa e os pés no chão, afim de manter a humildade. Que eu tenha sempre bons ouvidos, atentos para os ensinamentos daqueles que vieram antes de mim, meus orixás, meus ancestrais, meus mais velhos e fechados para o que não convém. Que eu possa ter o coração aberto para a experiência de ser omo orixá, mas principalmente a boca fechada, pra não levantar falso, não cometer injúria e não deixar que o sopro que sai de minha boca se contamine com palavras vãs.
Que meu ori mantenha esse compromisso todos os dias. Assim meu comportamento será digno de minha divindade e minhas ações respeitarão o deus vivo que há em mim."

RELIGIÃO E RELIGIOSIDADE

Religião
.A Religião é um processo relacional desenvolvido entre o Homem e os poderes por ele considerados sobre humanos, no qual se estabelece uma dependência ou uma relação de dependência. Essa relação se expressa através de emoções como confiança e medo, através de conceitos como moral e ética, e finalmente através de ações (cultos ou atividades pré estabelecidas, ritos ou reuniões solenes e festividades). A Religião é a expressão de que a consciência humana registra a sua relação com o inefável, demonstrando a sua convicção nos poderes que lhes são transcendentes. Esta transcendência é tão forte, que povoa a cultura humana.
(2)Religião é uma palavra tão associada a uma série de paixões, movimentos e ideologias que defini-la é um desafio, e chegar a uma definição de consenso parece impossível. Talvez em última análise todas as definições possíveis sirvam a algum tipo de agenda, e uma definição objetiva seja no fim das contas impossível de se obter.
Podemos definir como sendo religião:
a qualquer doutrina ou tradição que tenha um registro cultural, transmitido de um adepto para outro por meios orais e/ou escritos. Essa transmissão é necessária para a perpetuação da doutrina, para a formação de linguagem e conceitos próprios que permitam a comunicação entre os adeptos, e para distinguir essa doutrina de outras.
é necessário também que essas doutrinas se preocupem de alguma forma em definir o que é desejável ou não dentro das atitudes, ações e escolhas de seus adeptos. Ou seja, é preciso que exista uma preocupação enfática em definir uma ÉTICA.
além disso, uma religião tem necessariamente de se propor a fazer a ligação entre as circunstâncias específicas das vidas de seus adeptos e algum conjunto de valores absolutos e eternos. Como a compreensão humana do absoluto é inevitavelmente especulativa, surge em decorrência a necessidade de FÉ na prática religiosa.
do conflito dinâmico e essencialmente insolúvel entre os ideais do absoluto e as escolhas imperfeitas da vida diária, surge outra necessidade religiosa, a de INTERPRETAÇÃO, que pode ser exposta por algum tipo de autoridade religiosa formal ou informal, ou deixada a cargo de cada adepto individual.
existe também uma PRÁTICA religiosa, algum tipo de escolhas, atitudes ou ações que são executadas pelos adeptos da religião para caracterizar um compromisso. A essa prática estão ligadas necessidades sociais, emocionais e principalmente estéticas dos adeptos. Há um estreito laço entre as funções ética e estética da religiosidade, pois qualquer pessoa deseja acreditar que ao se buscar o desejável também se está buscando o que é lícito e válido. Dessa interação entre o que se quer e o que que considera correto querer surge um terceiro papel fundamental da vida religiosa - o AMPARO EMOCIONAL.
outra característica necessária de uma religião é um conflito virtualmente sem solução entre os objetivos de preservar sua própria identidade enquanto doutrina (por meio da tradição e transmissão) e de exercer um efeito concreto nas vidas de seus adeptos (através da interpretação e prática). Essas duas metas tendem a limitar-se reciprocamente, mas é exatamente esse conflito que torna necessária a existência da religião. Quando acontece de se supervalorizar a preservação da doutrina, ela tende a perder o atrativo e ser esquecida ou mesmo se extinguir. Quando, pelo contrário, se dá importância excessiva às mudanças concretas nas vidas dos adeptos, o interesse em manter a religião viva diminui, pois vem a sensação de que ela já cumpriu seu papel. Uma religião excessivamente bem-sucedida põe em risco sua própria existência continuada.



Religiosidade
..A religiosidade é uma qualidade do indivíduo que é caracterizada pela disposição ou tendência do mesmo, para perseguir a sua própria Religião ou a integrar-se às coisas sagradas. Precisamos diferir o ser possuidor de religiosidade, do religioso, que é fruto do sistema religioso.
O religioso é um fanático, que não compreende e não respeita o Processo Religare do próximo. Ele se torna intolerante e não aceita as práticas religiosas de outros indivíduos, considerando o seu caminho único e inquestionável. Acontece, com isto, que alguns sistemas religiosos podem gerar indivíduos de religiosidade, mas como os religiosos se apegam ao poder e as fórmulas, tendem a manipular as mentes atormentadas e sofredoras, obrigando a todo aquele que não esteja em sintonia com seus ideais a se tornarem submissos. Daí as crises e a intolerância religiosa. Os religiosos são de fato os grandes causadores de problema, aliados aos seus sistemas religiosos.



...Tentando resumir em uma frase, eu diria portanto que religião é uma doutrina que demanda interpretação, compromisso e fé, que permite uma prática e que tem objetivos éticos, estéticos e emocionais. E religiosidade é uma qualidade do indivíduo de integrar-se às coisas sagradas.

CONHECIMENTO E FUNDAMENTO



Conhecimento e Fundamento


O conhecimento é necessário em toda e qualquer atividade humana. Não seria diferente na religião e sobretudo na nossa religião. É necessário e faz bem conhecermos nossa história, nossos ancestrais, as línguas que utilizamos em nossos rituais e tudo aquilo que estiver relacionado a nossa prática religiosa. Em todas as religiões as pessoas lêem e estudam muito. Há inclusive centros de estudos para formar sacerdotes. Caso do budismo, islamismo, cristianismo, judaísmo e assim por diante.No entanto, muitos confundem conhecimento cultural com os fundamentos do culto.Fundamento, a meu ver, são os atos executados no interior do hundeme,roncó ou baquissi, é o momento do sagrado, quando nossas divindades se fazem presente e guiam a mão do sacerdote para a execução correta do ato fundamental, por isso chamado de fundamento. Por outro lado, possa saber tudo o que se passa lá, posso conhecer as rezas e cantigas, posso saber matar o bicho e as comidas votivas, mas se não tenho axé(sabedoria e principios) recebidos de nada vai me adiantar. Saber, no candombé não é poder fazer. Para poder fazer é necessário ter "mão" ou seja ter sido destinado pra aquilo, ter axé pra distribuir. Só o conhecimento não torna alguém um sacerdote. É preciso mais, muito mais.
Esses novos tempos tem confundido algumas pessoas em relação ao segredo do culto.Os segredos para serem mantidos não precisam ser camuflados. Os segredos existem e sempre existirão. Talvez não com mesma intensidade e necessidade que eles já existiram, mas eles continuarão existindo, porque o Candomblé é uma religião iniciática e dependendo do grau de iniciação do indivíduo ele pode participar de certos atos ou não. Para um não iniciado tudo é segredo, mas para um iniciado nem tudo é mais segredo, como o número de segredos de um ogã/ekedi é menor que o de um iyawo e assim por diante. Quanto mais avançamos em nossa iniciação mais os segredos nos serão desvendados. No entanto, o teor de cantigas, o uso de determinados modos da língua, a história dos povos africanos, a história da fundação das casas matrizes, nada disso é segredo porque nada disso constitue-se em fundamentos. Isso faz parte do conhecimento cultural e, na minha opinião, pode e deve vir a público.

Texto: Benin

"O saber desprovido de sabedoria é uma arma que se volta contra quem o possui."

RELIGIAO

PARA REFLEXÃO

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nois
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus...

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que aceitar a dor
Tenho que comer o pão
Que o diabo amassou
Tenho que virar um cão
Tenho que lamber o chão
Dos palácios, dos castelos
Suntuosos do meu sonho
Tenho que me ver tristonho
Tenho que me achar medonho
E apesar de um mal tamanho
Alegrar meu coração...

E se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Eu tenho que subir aos céus
Sem cordas prá segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao findar vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar!


Se eu quiser falar com Deus!



SACRIFICIO - A UTILIZAÇÃO DOS ANIMAIS NO CANDOMBLÉ - PARTE II


Simbologia da utilização dos animais nos ebós 
Em Ose meji, Iyami fez um acordo com o Ifa de entregar seus filhos e os pássaros, para salvação da humanidade, em Owonrin, os quadrupdes tornaram-se objetos      de    sacrifícios e em irete meji substituíram aos seres humanos pelos animais para serem   sacrificados as divindades.
Os animais de maneira geral substituem vida à humana, (uma vida por outra), independentemente da virtude que possuem cada um: os mais habituais    para ebó são:


Os galos: para vencer situações, para a mulher contrair matrimônio, porque o galo representa o macho, é uma ave de batalha persistente.











A galinha : para o mesmo caso precedente mas para os homens, a galinha representa a femea.









As pombas; para ter filhos, casa, dinheiro e casamento, tendo em conta a capacidade que estas tem de reproduzir-se e fazer os seus ninhos. Proteção, dado que a pomba voa acima de muitos perigos.








O coelho; para ter filhos tendo em conta a sua capacidade reprodutora e escapar do falecimento ou a justiça pela faculdade de fugir e dissimulação deste animal.




O cabrito a cabra, o carneiro ou carneira; para saúde, dado que substituem o ser humano.











A galinha d’angola e a codorna:
Para problemas judiciais dado a facilidade que ambas
 tem de escapar de seus perseguidores











O porco: Reprodução,finanças, desenvolvimento, prosperidade geral, saúde..








O pintinho; para a abertura de orun, durante o nascimento, as iniciações e os itutu.







O pato: neutralizar o inimigo, provocar a falta de memória e manter-se alerta









O igbin: para pacificar, é o único   animal      que  não  é hostil com nenhum outro, o seu movimento  lento dá    uma sensação de regulamento, conforto e tranquilidade.









O ajapa: longa vida, casa, filhos, segurança, potência viril, proteção..







O peixe:para nutrir o ori, atrair  egum. Existem certos tipos de peixes, como por exemplo os peixes de lama e as sardinhas que têm uma grande vitalidade e uma capacidade de sobrevivência, mesmo sem água e do pargo que é o animal que faz a comunicação de ori com Olodumare.





O cão: sacrifícios diretos para fins saúde vitórias obtendo o favor do orisha ogun. Regulamento deste orisha.








O rato. Casamento, casa, dinheiro, gestação










Os lagartos; proteçao, das bruxarias malas.etc










O crocodilo: proteção geral, saúde, foi o único animal que Saponã, o Deus da varíola não pôde matar, etc...


 

SACRIFICIO - A UTILIZAÇÃO DOS ANIMAIS NO CANDOMBLÉ - PARTE I

Sacrificio


Há que se esclarecer de uma forma definitiva, verdadeira e sem hipocrisia, a utilização dos animais pelo Candomblé.
    Os animais comumente utilizados são, em via de regra: galos, cabritos, carneiros, pombos e galinhas da angola; machos e fêmeas. Sua forma de abate, é cortado o pescoço com faca bem afiada, o qual não sofre mais, nem menos, que os que são abatidos, aos milhares, diariamente, pelos grandes abatedouros, ou ainda, os tão procurados "caipiras", pelo seu melhor sabor e consistência, também o são abatidos, das formas mais variadas, sendo que a palavra sacrifício, é apenas um termo, uma forma de expressão, mas que, poderia perfeitamente, ser dito, abate. É feito algum tipo de comentário, por quem quer que seja sobre o abate industrial ou caseiro? Absolutamente não; porque? No fundo, no fundo, ninguém saberia dizer; Mas, intrinsecamente, já está embutido na cabeça das pessoas, pelas mesmas razões, já comentadas, de ordem religiosa, moral, conservadora... ou "pseudos" religiosos, moralistas...através de argumentos, os mais variados e convenientes, ao longo dos anos. Porém, quando essas pessoas, lêem na Bíblia Sagrada, em várias passagens, vou citar uma apenas, a mais marcante, em que Abel, "imolou" (sacrificou) um carneiro, para Deus, e o mesmo foi aceito, tão somente estava repetindo um ato já praticado, provavelmente advindo dos africanos, mas, que pela palavra usada - imolou - fica bonitinho e aceitável, mas sacrifício, não, este é um termo diabólico; que dizem dessas passagens bíblicas, nossos algozes?
    Continuando, após "imolar" o animal, cujo sangue é derramado, em local determinado, são retirados os "axés", que são as vísceras principais (moela, rim, pulmão, coração...) que serão cozidas ou fritas, colocados num oberó (prato de barro) e oferecidas como complemento. A carne, será consumida normalmente pelas pessoas, como se estivesse sido comprada em um supermercado.
    Esta forma como que é utilizado, o sangue e demais vísceras dos animais, tem uma causa e objetivo nobre, o de produzir uma energia, o axé, já tantas vezes mencionado, que ao menos, irá cumprir uma função, de maior ou menor importância, beneficiando o alvo de qualquer religião: o ser humano.
    Onde está a maldade, o diabólico, se ajudar alguém? O abate é o mesmo, só porque é um ato religioso? De um povo já tão, atacado, sofrido e discriminado pela humanidade, ou ao menos parte dela, tudo isto por interesse e influência de alguns? A barata, o pernilongo, a formiguinha, Ah! A formiguinha, animal de folclore, história e lendas, tão bonitinha, mas que, todos foram criados por Deus, com alguma função, que não me cabe analisar, mas criaturas divinas, claro que são insetos, vermes, nojentos, nocivos, e, devem se exterminados, esmagados, pisoteados, e muitas vezes, com ímpetos e rituais de sadismo e com plena satisfação, quer seja com o sapato, chinelo, vassoura, ou mesmo de forma maciça, com o advento do inseticida, mas que se processa de forma algoz, por envenenamento, a morte vem lenta e dolorosa... não importa a forma, desde que seja morto, esmagado de forma definitiva, e ainda olhamos o resultado, sem se importar se sofreram ou não, se ainda estão agonizando ou não, e ainda dizemos, que nojo! Matei mais um, se pudesse matava todos que existem no mundo.
Do ponto de vista, de que são igualmente, criaturas criadas por Deus (por outro não seria), que diferença tem dos animais imolados no Candomblé? O mundo sacrifica animais diariamente.
Com a palavra nossos algozes.

O PODER E A HIERARQUIA


 O Poder e a Hierarquia por Nelson Souza - Tomege de Ogum


Ter poder, e ser de fato detentor de algum poder, são situações distintas em uma comunidade religiosa de Candomblé, isso no meu entendimento. Veja que sempre me refiro ao meu entendimento pessoal, porque o que escrevo é fruto da minha vivência religiosa. Caberia melhor dizer que é fruto da observação dos fatos e situações ao longo dos anos, com pessoas que possuem os mais variados desejos de poder, desde aqueles que rejeitam o poder que lhe é concedido, até aqueles que o desejam muito e intensamente e não medem esforços para conseguir o objetivo.

A utilização do poder e da hierarquia numa Casa de Santo não está escrita em nenhum código explícito de conduta, nem mesmo está escrito de fato; a hierarquia e o poder existem pelo simples fato de ser assim e ponto final.

Porém, são a hierarquia e o poder bem aplicados que mantém o grupo unido em torno de um objetivo ou de alguém, um líder. Mesmo se pensarmos em um trabalho filantrópico, sem fins lucrativos, perceberemos a hierarquia por trás do projeto; há sempre um líder, um catalisador, alguém a quem se prestam contas; e numa Casa de Santo não seria diferente.

O que vejo de problemático neste modelo de hierarquia e poder concentrados em mãos pouco habilidosas para o trato com as pessoas, é o fato dessa hierarquia sacerdotal estar diretamente ligada ao status que os postos de zelador, ogan, ekedi ou outro oiê dão a alguns dignatários sem preparo e sem cultura suficientes para exercer estas funções; que lidam direta e diariamente com pessoas, com emoções e sentimentos, com vidas. E, desta forma, o poder se torna um comércio e uma forma de se impor pelo medo.

Para exercer corretamente o poder é necessário, além do “direito conquistado”, ter o reconhecimento e o respeito da comunidade. É necessário ser um líder nato, e não um mero ditador de normas.

Os grandes nomes de nossa religião nem sempre tiveram educação formal completa, mas tinham carisma e sensibilidade. Portanto, a educação a que me refiro nem sempre é a formal, pois educação vem de família e, como somos uma família pergunto:

- Como estamos então educando nossos filhos?

Deve-se ter bem claro em uma comunidade quem é o líder e quem são os liderados. Falo em líder e liderados, não senhores e escravos. Frequentemente se confunde hierarquia com satisfação dos desejos do elemento mais graduado, confundindo liderança com imposição do medo. O bom líder orienta, o mau líder se aproveita da fraqueza do outro para diversos fins.

Como disse antes, em nossa religião não há um código de conduta escrito e formal; cada zelador é livre para fazer ou desfazer o que bem entender da forma como bem entender em sua Casa. Logo, isso leva à formação de entendimentos particulares das noções de respeito à pessoa, e a hierarquia passa a só ter valor quando imposta de cima para baixo e de dentro para fora do grupo detentor do poder, sendo o restante do grupo relegado à condição de mantenedores do “status Real”.

Casos típicos de confusão e de má conduta ética são os zeladores que, não tendo cultura ou educação (inclusive formal), quando empossados no comando de uma Casa não hesitam em tratar as pessoas com total desprezo, principalmente os membros da sociedade civil de maior prestígio que lhes frequentam as Casas.

A mim parece um tanto de preconceito ou revanchismo. São pensamentos retrógrados e arraigados de que, fora da Casa, o filho de santo é um médico ou um doutor, mas uma vez dentro da Casa ele fará o que for ordenado, se humilhará e será humilhado. Esse comportamento, associado à falta de ascensão social e reconhecimento profissional do zelador fora do seu próprio meio social/religioso, cria situações de constrangimento e desagrado, e acabam por excluir muitas pessoas que não compactuam com esse modelo.

Educação talvez seja um bom começo.

Não é porque não há um código de conduta que direcione o comportamento dos graduados que estes podem dispor das vidas, desejos, anseios e liberdades alheios da forma como melhor lhes convier. Somos, no mínimo, pensantes e temos sim direito ao bom e respeitoso tratamento, pois hierarquia e poder não pressupõe opressão.

Pelos motivos acima, creio que o que constantemente leva uma Casa a perder seus filhos e ser reconhecida como um local não muito confiável é a falta de capacidade do seu quadro, do seu staff, que geralmente está mais envolvido em disputas internas e silenciosas pelo poder do que centrado no que realmente importa, que é a educação e crescimento dos membros da comunidade. E, nestas disputas, não se leva em conta a sobrevivência da própria Casa como instituição de amparo aos filhos; não se leva em conta nada, somente a obtenção do poder a qualquer custo ou a manutenção dele.

Como disse anteriormente, há também os que rejeitam o poder. Estes não contribuem em nada e se colocam à margem das disputas, mas também não se posicionam contrários a estas. São como já li em um grande livro “Ogãns de bênção”, referindo-se às pessoas sem compromisso com a Casa. Não fala especificamente sobre os Ogãns, não há nenhum preconceito, refere-se à generalidade dos cargos e do status que eles proporcionam na comunidade, sem no entanto se envolverem profundamente com seus assuntos.

Claro exemplo de dominação pelo medo se dá em uma consulta de búzios ou a uma Entidade, onde o objetivo principal é a busca de soluções e respostas para um determinado assunto, e essa consulta acaba por impor ao consulente uma série de outros assuntos que não são pertinentes, mas que dão status de grande adivinho ao zelador. Refiro-me aos casos como os declarados no próprio blog sobre informações desencontradas dadas por diferentes zeladores a respeito de um mesmo assunto.

Sei que o jogo não é um tomógrafo de última geração, uma máquina programada para dar sempre os mesmos resultados com margens mínimas de erros, mas falo de percepções e de técnicas diferentes em que até o dia em que se consulta o jogo pode ter influência sobre a leitura. Uma coisa não muda em tudo isso, o interesse em ajudar ou ser ajudado do adivinho. Esse é somente um item de um grande arsenal de formas usadas para impor o medo. No jogo/consulta se “vê” que o consulente “precisa urgentemente” fazer ou deixar de fazer, ter ou deixar de ter diversas coisas e é nesse ponto que começamos a diferir o poder de fato do poder imposto. Afinal, amedrontar uma pessoa se utilizando de um jogo ou de uma Entidade para obter vantagens é coisa fácil, o difícil é encontrar pessoas que queiram orientar e cuidar, dar carinho e uma palavra de conforto. Como disse, é difícil encontrá-los, mas graças aos Orixás pessoas sérias também ocorrem em grande número, pois afinal é para isso que são graduados e ocupam seus cargos.

O objetivo deste texto é dizer que o poder deve ser utilizado para colaborar, para influenciar positivamente, para fazer crescer a comunidade e os filhos, portanto devemos, antes de nos entregar de corpo e alma, avaliar cuidadosamente que tipo de poder queremos exercer e a que tipo de poder estaremos sujeitos.

A ÁGUA NA MITOLOGIA GREGA



Água na Mitologia Grega

A água é um elemento fundamental na cosmogonia, a origem do mundo para a mitologia grega. A água, hídros, aparece para salvar a Terra, Gaia, que estava sendo queimada por Piros, o fogo.
Essa entidade, Hídros/água, passa a fazer parte do mundo olímpico de Zeus e dos deuses do Olimpo. O senhor das águas era o deus Poseidon, o senhor dos mares e também dos rios.
Embora Poseidon fosse o senhor das águas, ele não exercita sobre ela plenos poderes, porque a água é um elemento primordial, que veio antes mesmo de o deus existir.
A água é muito presente na mitologia grega, representando a continuidade, a fertilidadee a proteção materna.
Ela sempre é habitada ou transformada. O rio Serifo, por exemplo, personaliza-se, ele toma forma de homem e deita-se com as ninfas. Mito muito semelhante a lenda do boto cor-de-rosa na mitologia amazônica, só que aqui no Brasil fala-se do boto como um peixe das águas que vira homem e deita-se com as mulheres à noite.
Na mitologia grega, os rios são seres masculinos e cada rio é um homem.
A parte feminina, por exemplo, as ninfas, podiam ficar grávidas e ter muitos filhos ao banhar-se no rio. Os filhos da água na mitologia são incontáveis, são cinqüenta, cem filhos num único parto! Esse exagero é exatamente para mostrar a fertilidade da água e sua importância no mundo antigo.
No entanto, os gregos davam aos rios uma importância menor que os egípcios, pois os rios da Grécia são pequenos. Já para os egípcios o magnífico rio Nilo é o deus pai dos rios, pois era de seus recursos que a população subsistia.
Na mitologia grega, o mar era muito importante e vários personagens habitavam-no como a deusa Tétis, as sereias as pléiades, que eram filhas de Poseidon, as nereides, que são outras divindades aquáticas, todas mulheres.
A água servia para a purificação, depois de guerras, lutas e mortes injustas. Os gregos se banhavam num rio para se purificar de algum ato vil que cometessem. Eles desenhavam o mar em forma de serpente que, muitas vezes, representa a mutação das águas. Para a cultura grega, a água sempre foi muito importante, um elemento fortíssimo, venerado e respeitado.

O ELEMENTO SAGRADO


Quando os olhos se perdem na imensidão do mar, é possível ter uma idéia do volume de água que nos cerca. Dois terços do planeta são cobertos por esse fluido do qual depende a evolução de todos os organismos vivos. Nos oceanos, rios, pólos ou no interior das rochas, são 264 milhões de km3 desse líquido essencial, perpetuado pela humanidade como símbolo sagrado de pureza e prosperidade.

No batismo da Igreja Católica, na sabedoria popular das benzedeiras, nas fontes sagradas da cultura islâmica ou na astrologia, a água é fundamental para a purificação e o conforto do corpo, da alma e dos ambientes.

Rebeldia em movimento
Rio, cachoeira, mar, chuva, neblina, vapor, granizo, neve, gelo. Essas são manifestações da água, e uma, em especial, nos saúda com sete cores: quando os raios do Sol atravessam as nuvens carregadas, surge o arco-íris. Diz-se que quem tem a sorte de vê-lo pode fazer um pedido, que será atendido pelos céus.
Dinâmica por natureza, está em constante movimento e guarda em si poderes fundamentais. O primeiro deles: é capaz de se autopurificar: "A água circula continuamente no planeta. Oceanos, rios e até lagos plácidos recebem calor e não escapam do processo de evaporação. A água, condensada, vira nuvem e precipita-se de volta a terra em forma de chuva. Nesse ciclo de destilação natural, todas as impurezas são liberadas. A chuva purifica o ar e fertiliza a terra
Poderosa e rebelde por excelência, escapa das nossas mãos e pode mostrar sua fúria em dilúvios, enchentes e maremotos. Ainda, ela não se submete aos outros elementos naturais: Além de apagar o fogo, na presença de calor transforma-se em vapor e a baixas temperaturas vira gelo. O próprio fato de ser líquida e manter sua constituição molecular contraria as leis da física e da química, mas essa rebeldia teve resultado feliz: "A água permitiu o desenvolvimento da única forma de vida compatível com as características do planeta Terra. Foi no meio aquático, formando imensas superfícies líquidas (...), que surgiram as primeiras formas vivas".

Ventre materno e paraíso
Toda a vida na Terra nasceu do mar, que é o ventre fecundo da Grande Deusa. Todos nós viemos das entranhas das águas. Essa linda imagem pertence a um dos mitos de criação da era pré-cristã, e na verdade, antes de pisarmos na terra passamos nove deliciosos meses em meio líquido, protegidos no ventre materno.
Nem mesmo nascendo e vivendo fora dessa primeira casa aquática deixamos de ser água: 77% de um bebê é pura água. E dois terços do corpo adulto são compostos de líquidos: lágrima, sangue, suor, urina e outros fluidos, responsáveis pela purificação das toxinas e absorção de nutrientes dos alimentos pelo organismo.
Essa origem líquida ancestral tem a ver com a sensação de relaxamento e conforto que a água provoca nos humanos. E também explica por que tanta gente sente atração por fontes e prefere descansar numa praia, perto de rios, lagos ou cachoeiras: "O som das ondas batendo na areia ou de uma queda d’água é sempre repousante e pacificador. Sem contar que o contato com a água – meio em que o corpo não briga com a lei da gravidade, flutua, sem peso – remete à sensação protetora de estar de novo no útero materno, em perfeita harmonia".

Universo de emoções
Desde tempos remotos, a água é associada às emoções, ao mundo inconsciente, a tudo que acontece nas profundezas da alma. À astrologia coube tecer as relações entre os elementos da natureza e a personalidade: "São três os signos de água: Câncer, regido pela Lua, representa a água do lago, calma, plácida, acolhedora; Escorpião, dominado pelo planeta Plutão, diz das águas dos rios com correnteza subterrânea; e Peixes, sob os domínios do planeta Netuno (deus das profundezas dos mares, na mitologia grega), abrange as grandes águas, as emoções coletivas".
Especialmente, os nativos de Câncer são ligados a casa e às forças lunares: "Apesar de a Lua não ser aquática, tem o poder de mexer com o fluxo das marés, com a cheia ou a vazante dos rios. Os pescadores prestam muita atenção nas fases lunares, pois delas depende a sua sobrevivência. Além disso, mexe com os ciclos de menstruação e gestação. Todos fenômenos femininos e líquidos".

A Água na alma da casa
A habitação é um ser vivo, capaz de refletir as emoções de seus moradores, principalmente se neles predominar o elemento água: "Essas pessoas gostam de cuidar das pequenas coisas do cotidiano, e seus lares sempre inspiram afeto. Têm prazer em cozinhar, lavar, limpar, tomar banho, regar plantas, alimentar animais e pássaros. Mas nem por isso deixam tudo superarrumado. Com predomínio da água no temperamento dos habitantes, o caos e a desorganização imperam".
A água que habita a alma da moradia se expressa também na composição dos ambientes. Móveis arredondados e tons pastel, banheiros espaçosos e bem cuidados, sauna, piscina são índices de que se trata de uma "casa aguada". Quadros impressionistas com formas pouco definidas, música suave, vasos com flores, conchas, aquários, motivos marinhos, fontes, fotos de família, objetos de valor afetivo nos remetem à simbologia da água, provocando sensações de tranqüilidade, limpeza, frescor e aconchego.

Elemento sagrado
A água tem o poder de purificar o espírito e conduzir à graça. Da antiga religião hindu até a simplicidade das boas benzedeiras da cultura popular brasileira, ela merece reverência: afasta o mau-olhado, protege do pecado, traz alívio para o que aflige a alma.
Assim como Jesus Cristo foi batizado por são João Batista, mergulhando a cabeça nas águas do Rio Jordão, milhares de igrejas no mundo repetem esse ritual: "No cristianismo, a água tem dupla função. No ritual de batismo ela livra o fiel do pecado original, devolve a pureza e concede vida nova, para que se possa seguir no caminho do bem". Já a água benta, misturada com um pouco de sal e rezada pelo padre, é usada para benzer casas e carros e, além de purificar, tem outras duas funções importantes: "Faz com que a pessoa tome gosto pela vida e protege o local contra todo o mal".

Reverência molhada
No Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos seguidores do profeta Maomé, a água tem destaque em rituais e na arquitetura: "Na entrada das mesquitas há sempre um tanque de água, pois todo muçulmano praticante faz cinco orações diárias e, antes de cada uma delas, realiza a ablução, uma purificação prática e simbólica. Lavam-se mãos, braços, rosto, cabelos, nuca, orelhas e, no final, pés. O gesto é repetido três vezes".
Na arquitetura árabe, seja em pequenas ou seja em grandes construções, no centro do pátio interno existe sempre uma fonte, simbolizando a origem e o centro da vida: "A cuba costuma ter forma circular e fica apoiada sobre uma base de oito lados. Na geometria sagrada, essa sobreposição representa a união do céu com a terra"

Rio da graça
O mais sagrado dos rios é o Ganges, que corta o nordeste da Índia. Suas águas matam a sede e banham a população ribeirinha, lavam as roupas, dissipam as cinzas dos mortos cremados, perpetuando a tradição hindu e, sobretudo, servem para redimir os pecados. Na edição inglesa do livro Mirror of Intellect – Essays on Traditional Science and Sacred Art, o filósofo suiço-alemão Titus Burckhardt (1908-1984) desvenda poeticamente o que acontece nesse rio: "Aquele que, contrito, banha-se nas águas do Ganges é liberto de todos os seus pecados: a purificação interna encontra aqui seu porte simbólico na purificação externa que vem da água do rio sagrado. (...) Aqui, como ritos similares em outros povos e religiões, a correspondência entre a água e a alma ajuda a última a se purificar ou, mais exatamente, a reencontrar sua – originalmente pura – essência. Nesse processo, o símbolo prepara o caminho para a graça..."


Texto: Yatemi Jurema de Yansã

ÁGUA CARACTERISTICAS



A água é um elemento de limpeza, cura, subconsciente, amor, sensibilidade e, particularmente, de todas as emoções, pois assim como a água é fluida, constantemente mudando, fluindo de um nível para o outro, também nossas emoções, constantemente em movimento.

Ela lava, reidrata, sustenta a vida. Sua energia é vital para o bem-estar, pois é ligada ao amor e ao coração, sede onde brota a magia verdadeira. Num ritual, a água é um elemento feminino, podendo ser usada para completar uma energia masculina, como a do fogo.
Sua "feminilidade" deve-se ao fato de ser o elemento da absorção e da germinação. Dai, também ser símbolo do subconsciente, que, como o mar, está em constante movimento; nunca descansa, seja de dia ou de noite.
A magia da água envolve o prazer, amizade, casamento, fertilidade, felicidade, cura, sono, sonhos, atos psíquicos, purificação e assim por diante.
Sua cor é o azul das águas profundas e rege o oeste e os meses outonais do ano.
Sempre precisamos da água nos momentos em que está mais fraco ou desorientado. Deste elemento pode-se extrair facilidades maiores para entender seus sentimentos presentes, avaliar o passado e estabelecer a vontade de seguir para o futuro. Num ritual, a água sempre está presente.
CARACTERÍSTICAS BÁSICAS: purificação, cura, amor, fluidez, suavidade.
ASSOCIAÇÃO: sensatez, sobriedade, fervorosidade, compaixão, serenidade, perdão, ternura, intuição, habilidades psíquicas, cura, fertilidade, coragem de encarar nossos sentimentos mais profundos, o poder de ousar.
ENERGIA: feminina - sensitiva e receptiva.
COR ASSOCIADA: azul (das águas límpidas), cinza, roxo profundo, índigo, verde ou azul esverdeado e, às vezes, o preto (das águas profundas)
LUGARES QUE ENERGIZAM: lagos, fontes, rios, poços, praias, oceanos, piscinas, banheiras, chuveiros e a cama (para dormir).
RITUAIS: Emoções, sentimentos, amor, coragem, ternura, tristeza, intuição, a mente inconsciente, o ventre, geração, fertilidade, plantas, cura, comunicação com o mundo espiritual, purificação, prazer, amizade, casamento, felicidade, sono, sonhos, o psíquico, o eu interior, simpatia, amor, reflexão, marés e correntes da vida, o poder de ousar e purificar as coisas, sabedoria interior, busca da visão, curar a si mesmo, visão interior, segurança, jornadas. Na vida prática, pode ser invocada nos momentos de necessidade de intuição e de energia curativa.
FORMAS DE RITUAIS: banhos, diluição, ficar próximo à água, deixar que as águas lavem, misturar águas.
DESEQUILÍBRIO: Em excesso: variação emocional desequilibrada – vai de um extremo ao outro ao menor estímulo -, sentimentos em doses exageradas, melancolia, timidez, inconstância. Em escassez: indiferença, frieza de sentimentos
ELEMENTAIS: Sereias e Nereidas para águas salgadas e Ondinas, Ninfas e Fadas dos Lagos para as águas doces.
PLANTAS: vegetais com muita água, como o alface e o melão, rosas, lótus, samambaia, musgo, arbustos, alga, couve-flor, gardênia e salgueiro.
ANIMAIS: Logicamente todos os peixes, além de dragões, serpentes, mamíferos marinhos (foca, golfinho, etc), sapo, tartaruga, lontra, ostra, cisne, carangueijo, urso e gato.
METAIS: mercúrio (metal líquido) e prata.
INSTRUMENTO: sinos, teclados
ESTAÇÃO: Outono (tempo de colheita, quando a chuva lava a terra).
DIREÇÃO: Oeste
HORA DO DIA: anoitecer
ÉPOCA DA VIDA: maturidade
SENTIDO: paladar
OBJETO DE PODER: Cálice, caldeirão, espelho, o mar.
SÍMBOLO: conchas, taça com água
TIPO DE MAGIA: no mar, no gelo, na neblina, com espelhos, com ímãs, chuvas e, obviamente, água.
ATIVIDADE: molhar
COMO SENTIR A LIGAÇÃO: prove água pura de uma fonte; coloque a mão na água corrente; ouça a água correr; veja as ondas do mar...
PEDRAS E JÓIAS: agua-marinha, ametista, turmalina azul, pérola, coral, topázio azul, fluorita azul, lápis-lazuli e sodalita.
INCENSOS: mirra, camomila e sândalo.
DEUSAS: Afrotide, Ísis, Tiamat, Yemanjá.
DEUSES: Dylan, Osíris, Netuno e Poseidon.

O ELEMENTO ÁGUA

 
O elemento água traz a sensibilidade, a emotividade e a empatia. Elemento da natureza apontado como o princípio de todas as coisas. Representa a purificação, a regeneração, a profundeza e o infinito. Em quase todas as culturas, a água aparece como símbolo da força feminina e da emoção, associada à fertilidade e à vida. No aspecto negativo, a água simboliza a destruição.
Direção, cor e nota musical correspondentes ao elemento água: Norte, preto e lá
A água representa o sentimento e o mundo das emoções, é fluente e tem temperamento linfático, e é do tipo frio e úmido. Num plano positivo a água confere intuição, profundidade, simpatia, adaptação, emotividade, sociabilidade, romantismo e num plano negativo timidez, introspecção e um exagero emocional.
No conhecimento astrológico a água representa também a vida instintiva, íntima e subjetiva. Pessoas cujos mapas tem ênfase nesse elemento falam a língua do coração e por isso são muitas vezes irracionais, permeáveis e mesmo imprevisíveis. Suas atitudes frequentemente infantis, são como crianças que esperam do mundo respostas sentimentais de aprovação e afeto.
Os signos de água são os mais enigmáticos do zodíaco. Receptivos, envolvem-se profundamente nos relacionamentos pessoais, pois sabem “mergulhar” na intimidade do outro. Sua noção da realidade dependem daquilo que podem sentir, o que os tornam aptos a grandes decepções amorosas.
Em nome da paixão e da entrega, os tipos de água absorvem tanto o parceiro que terminam por paralizá-lo, sendo notadamente o elemento que desconhece os limites na relação amorosa. De temperamento sensível e intuitivo, possuem uma imaginação criativa e deliciam-se com suas próprias fantasias.
Na vida social são afáveis e cordiais e não tem receio de expor suas fraquezas. Tornam-se cativantes porque, mais que ninguém, os signos de água captam as necessidades dos outros, sem fazer julgamentos ou discriminações.
Este elemento confere aos signos de Câncer, Escorpião e Peixes: intuição, sentimentos, sensibilidade, emoção, mediunidade. Todos os sinos de água são signos cármicos.
O excesso de água provoca sentimentos que fluem desordenadamente, a pessoa é muito emotiva, tem muita sensibilidade e sensações; tente equilibrar-se em suas energias interiores e em seus conflitos emocionais.
A ausência de água carece da capacidade de sentir profunda e intuitivamente, carece de sensibilidade, as emoções são controladas, não demonstram seu estado de espírito.
Na magia, quando se quer encontrar novos rumos para o amor ou atingir equilíbrio emocional, costuma-se oferecer uma vasilha com água para as ondinas, senhoras da água; as sereias e mantras também fazem parte deste elemento, elas ajudam no amor e na intuição.
Representação: A água, o outono, a cor azul.
Casas zodiacais: IV, VIII e XII. É o triângulo do Destino.
Plano de Vida: Desejo, psique, emoção, sentimento.

A ÁGUA






ÁGUA – FONTE DE TANTOS BENS



Água que brota da terra e jorra das fontes e vai
Corre em filete, engrossa a corrente, em rios se faz,
Água de lagos, ribeirões, mananciais,
Água que cai como chuva, que desce pra terra, que volta pro mar.
Água, sinal de vida, de purificação
No Ganges, no Himalaia e no rio Jordão,
Água benta, água orada,
Ou fluidificada...
Importante em casa, no templo, no terreiro sim,
São nomes, são gestos, são crenças enfim.