domingo, 9 de março de 2014

OS JARAWA – UM POVO PRETO EM EXTINÇÃO – SAFARI E ZOO HUMANO

Habitantes das Ilhas Andamam estão localizados em arquipélagos no Oceano Índico na Baía de Bengala, entre a península indiana ao oeste e a Birmânia no norte e leste. A maioria das ilhas é parte do Andaman e Nicobar na Índia, enquanto um pequeno número ao norte do arquipélago pertence à Birmânia.



Nestes arquipélagos habitam remanescentes dos primeiros grupos humanos que migraram do continente africano há aproximadamente 60.000 mil anos. Alguns destes grupos foram extintos após o contato com invasores ingleses que propiciaram um verdadeiro etnocídio através de assassinatos, doenças infectocontagiosas, mudanças dos hábitos alimentares, introdução dos vícios do tabaco e do alcoolismo e a exploração sexual.

Os primeiros invasores britânicos criaram um assentamento em 1789 e iniciaram o processo destrutivo, como se pode ler no diário do governador britânico à época, onde menciona que recebeu instruções para destruir os nativos por intermédio do álcool e do ópio.

Assim, como muitos outros grupos originais, a maioria dos membros da tribo Bo - grupo étnico primevo - sucumbiu às doenças introduzidas pelos britânicos no século XIX. O desaparecimento de Sr Boa em janeiro de 2010, último remanescente da população, também significa o desaparecimento de uma das línguas mais antigas do mundo. O desejo demoníaco dos antigos britânicos, infelizmente cumpriu-se:


Entre os grupos remanescentes, iremos nos ater a explanação sobre os Jarawa, a principio porque seu estudo é de suma importância do pan-africanismo os estudos dos povos pretos em África, das migrações voluntárias e dos prisioneiros das guerras árabes e cristãs que espalharam os africanos em diversas regiões do planeta, e não podemos esquecer-nos dos judeus e os seus lucros com o tráfico. Sendo fundamental para nós o entendimento da história da humanidade e da compreensão do ódio e propagação da supremacia branca contra os povos originais.




Os Jarawa vivem nas ilhas ocidentais do Grande e Médio Andaman no Oceano Índico, onde são caçador-coletores, caçam porcos selvagens e lagartos, pescam com arcos e flechas e coletam sementes, frutos e mel. Eles são nômades e vivem em grupos de 40 a 50 pessoas, cujo total da população não ultrapassa o total de 300 pessoas, todos sob tutela do governo indiano, com situação de sobrevivência crítica. Desde os primeiros contatos em 1998 a ameaça da extinção é quase inevitável.


Diversas empresas de turismo organizam safáris humanos (excursões para fotografarem e verem o “exótico”), prática de civilizações brancas com os povos pretos o chamado zoo humano. Inclusive foi criado um resort turístico perto da comunidade expondo a população a pessoas estranhas a sua cultura que trazem influências nefastas, há casos de abusos de jogarem comida e pagarem a policiais para as mulheres jarawas dançarem para eles:

INDIGENOUS PEOPLE ON DISPLAY IN "HUMAN ZOO" IN INDIA


Na década de 70 do século passado foi construída uma estrada no território Jarawa que trouxe colonos, madeireiros e caçadores. Afetando o ecossistema da floresta e os caçadores ilegais matando os animais usados na alimentação da população.

 

As doenças também estão ameaçando a existência dos Jarawa, foi detectado um surto de sarampo e outras epidemias trazidas por pessoas estranhas ao habitat. O governo da Índia também objetiva levar as poucas crianças para o aprendizado da língua e dos costumes da civilização, que porá fim a milenar cultura e todo o conhecimento adquirido dos ancestrais em milhares de anos.

Outro perigo que ronda a população dos Jarawa são as campanhas de evangelização dos cristãos que como raposas astutas tentam entrar na comunidade Jarawa para disseminar ensinamentos comprovadamente perigosos com palavras de salvação e no fundo contribuirão para mais um etnocídio de um povo original. Não podemos ficar omissos.

As visitações das “pessoas de boas intenções” apesar das “proibições” do governo indiano tem demonstrado um perigo constante à preservação do povo jarawa, sendo crianças os alvos prediletos.


A diminuta população dos Jarawa necessita do apoio internacional para ter uma chance da não findar. A historiografia relata diversas civilizações pretas que desapareceram após contatos com o mundo “civilizado branco".


Os métodos de extermínio físico e cultural são vários, desde o morticínio violento praticado por grupos economicamente interessados nas terras habitadas por estes povos (genocídio freqüentemente brindado com a impunidade ou mesmo o patrocínio de governos racistas, autoritários e/ou corruptos) e destruição de seus ecossistemas, até pressões psicológicas coletivas insuportáveis: através da discriminação pública, da imposição de programas “educativos” que anulem os valores próprios destas culturas, da “evangelização” de missões confessionais que impõe modelos religiosos frontalmente opostos à cosmologia e culturas tradicionais destes povos, entre outros.

A imposição de um mundo globalizado para as civilizações nativas esconde interesses econômicos, culturais, religiosos e racistas que devem ser combatidos por todas e todos que respeitam a diversidade humana e o direito a terra e a vida.

Shalom!


Portanto, o que pretendo abordar é fruto de uma ansiedade e necessidade por novos olhares enquanto militante que não ver uma solução que de fato conforte os corações dilacerados pelo racismo.
James Aggrey, educador africano, criou esta bela história sobre “A águia e a galinha”.
“Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo cativo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse o rei/rainha de todos os pássaros. Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista: - Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia de fato – disse o camponês. É águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão. Não! – retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar às alturas.– Não, não – insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia. Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:- Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe! A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas. O camponês comentou: - Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha! Não! – tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã. No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurrou-lhe: Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe! Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas ciscando o chão, pulou e foi para junto delas. O camponês sorriu e voltou à carga: - Eu lhe havia dito, ela virou galinha! Não – respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar. No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram-na para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas. O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe: - Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe! A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte. Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias e ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez para mais alto. Voou... voou até confundir-se com o azul do firmamento...”
A história narrada acima elucida a necessidade que nós pret@s no Brasil temos hoje de ser motivados para voos cada vez mais altos. Digamos que ainda hoje somos uma águia criada como se fosse galinha e que algum naturalista venha mergulhar em nossa realidade e nos fazer descobrir quem nós somos realmente e o que podemos fazer de tão grande por nós mesmos.
Assim, falar do nacionalismo preto neste momento atual em que vive o movimento negro no Brasil é desvendar a possibilidade do surgimento de uma nova geração e caminhos de militância e ativismos pretos focados num projeto de libertação negra real.
Este é o compromisso da mensagem a ser transmitida esta tarde.
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Antes de fazer uma retrospectiva da origem e formas deste movimento revolucionário que representou uma quebra de paradigma na história de levante anti racista do povo preto na américa do norte, necessário dizer que o nacionalismo preto nada tem haver com as formas de nacionalismo de estado que concebemos hoje.
Enquanto o nacionalismo de estado envolve elementos primários e secundários, quais sejam, a existência de um único grupo ético, um único idioma, mesmos costumes, unidos pelos hábitos, tradições, religião, língua e consciência nacional, o nacionalismo preto é um movimento fincado na noção de raça e origem ancestral, em muitos dos casos, focado na exclusividade da relação entre a raça negra e o movimento messiânico de um povo que fora escolhido por Deus para dominar toda a terra, para promover a justiça, igualdade e o amor.
O nacionalismo preto é um movimento pela libertação territorial do povo preto das amarras da dominação e opressão dos brancos, remontando-se a sua origem ao século XIX, quando líderes pretos, como o pastor Robert Finley, Paull Cuffe e Martin Delaney, convencidos de que os pretos nunca encontrariam a verdadeira igualdade nos estados Unidos, advogaram a migração através do oceano, ou seja, o retorno dos pretos para a África.
No limiar do século XX, Booker T. Washington e seus seguidores, pregaram uma solidariedade racial, uma auto suficiência econômica e auto ajuda negra. Logo após a primeira guerra, milhões de americanos pretos foram atraídos pelo chamado de Marcus Garvey, criador da UNIA (Associação Universal Para o Progresso das Pessoas de Cor), para engrossar uma luta por igualdade e também plantar uma bandeira de liberdade no continente africano.
Concomitantemente ao Garveymo, foram os movimentos separatistas dos mulçumanos pretos e dos hebreus pretos quem ditaram a tônica do nacionalismo preto. Nobre Drew Alí, da Carolina do Norte, fundou o Templo de Ciência Mourisco Norte Americana em 1913. O movimento dos Hebreus Pretos se instalou no Harlem e foi, de certa forma, uma das influência para o surgimento do movimento Harlem Renaissance na década de 30 neste mesmo bairro.
Destaque merecido para o Harlem Renaissance - O Renascimento do Harlem, ou Novo Movimento Negro, como foi originalmente batizado, fruto do nacionalismo pret, foi o florescimento da literatura e da arte afro-americanas nas vizinhanças do Harlem, em Nova York, nos anos 20 e começo dos 30. O palco desse renascimento foi montado quando milhões de negros sulistas recém-libertados, depois de suportar os sofrimentos da escravidão e da Reconstrução no século XIX, se mudaram para Nova York e outras cidades do norte, num êxodo conhecido como Grande Migração. N o final da Primeira Guerra Mundial, uma comunidade negra pobre, mas culturalmente vibrante, havia criado raízes no Harlem.

O pensamento de Nobre Drew Alí expõe a necessidade de libertação territorial / física dos pretos nos Estados Unidos. E dizia: “Para um povo chegar a valer alguma coisa deve ter um nome (nação) e território”.
No entanto, foi com a criação da Nação do Islã, surgida em Detroit em 1930, durante a crise econômica americana, que o nacionalismo preto atingiu seu auge, quando centenas de jovens começam a ser iluminados pela palavra de desbloqueio e libertação do islã separatista.
Os aspectos extrínsecos ao movimento foram dois. Primeiro foi um movimento baseado no emigracionismo racial, ou seja, na idéia da volta, do regresso, dos negros para a África. Depois, em virtude da inviabilidade da política do regresso ao continente mãe, tornou-se um movimento pela criação de um Estado Independente, ou seja, focado na criação de um território autônomo para os pretos viverem no Ocidente.
Duas frases de dois dos grandes líderes das duas vertentes do movimento, transcrita abaixo, merecem ser lidas:
Pensamento de Marcus Garvey sobre o emigracionismo para África: "Onde está o governo do homem preto? Onde se situa seu Rei e seu Reino? Onde está seu Presidente, seu país, e seu embaixador, seu exército, sua marinha de guerra, seus grandes homens de negócios?" Não os pude encontrar e então declarei: "Eu ajudarei a fazê-los"
Pensamento de Elijah Muhammad da Nação do Islã sobre a necessidade de um Estado Independente: “A não ser que a raça branca aceite a demanda mulçumana pela separação de território para os pretos, sua raça inteira será destruída e removida da face da terra. E aqueles pretos que estão tentando integrar-se ao mundo dos brancos, serão inevitavelmente destruídos juntos com os brancos”.
Não podemos deixar de destacar a importância de Malcolm X, do Black Panthers (Panteras Negras) e do movimento do Poder Negro, que teve como maior expoente Stokely Carmichael, para movimento do nacionalismo preto. Malcolm X, adverso das estratégias de Martin Luther King, advogada a autodefesa contra a violência dos brancos e enfatizava o poder politico negro. Os Panteras Negras, criado por jovens ativista negros, surgiram sobre a influência dos ensinamentos de X, com o lema “Black Is Beautiful” (Preto é Lindo) e Power The People (Poder Para o Povo), onde conclamavam a comunidade a se vestir com roupas africanas, usar o cabelo “crespo” e usar nome africanos ou islâmicos.
O movimento de Stokely Carmichael foi mais proeminente no final dos anos 1960 e início dos anos 1970. O movimento enfatizou o orgulho racial e da criação de instituições culturais e políticos negros para cultivar e promover interesses coletivos, valores próprios e segura autonomia para os negros.
Importante frisar que o movimento nacionalista pensado por Malcolm X as vésperas da sua morte, representou a tentativa de se protagonizar uma nova luta anti racista nos EUA, onde buscava-se englobar todas as pessoas pretas independente de religião, partido politico, opção ideológica, etc, trazendo uma noção de emigracionismo mental e uma autodeterminação racial através da disputa e participação plena na vida social, política e econômica da sociedade norte-americana.
“Fisicamente os afro descendentes podem permanecer no Ocidente, lutando por seus direitos constitucionais, mas filosófica e culturalmente precisam desesperadamente votar para África e desenvolver uma unidade ativa na estrutura do pan-africanismo.”
Feita essa abordagem histórica do movimento dos nacionalistas pretos, adentro agora na essência de outra faceta, que está relacionada aos aspectos que influenciaram a subjetividade das pessoas pretas e como a compreensão dessa perspectiva pode nos encorajar para um novo tipo de militância / ativismo negro aqui no Brasil.
Na história da águia e da galinha citada anteriormente, pudemos perceber que foi o despertar interior que possibilitou com que a águia recupera-se a memoria de quem era e das funções naturais que foi criada para desempenhar.
O ilustre pensador e militante antilhano Franz Fanon dizia: “O colonialismo não se satisfaz apenas em manter um povo em suas garras e esvaziar a mente do nativo de toda forma e conteúdo; por uma espécie de lógica pervertida, concentra-se no passado do povo oprimido e o distorce, desfigura e destrói”
Portanto, é engano achar que os pretos são oprimidos somente por mecanismos institucionalizados de um mundo exterior, por meios dos sistemas de justiça, pelas condições de trabalhos e salários baixos, educação inferior, etc, mas, sobretudo, pelo estado de alienação, que faz com que o preto rejeite a si mesmo e relacione o seu opressor branco como tudo que há de positivo na sociedade e na história da humanidade.
As organizações e militantes do nacionalismo preto representaram o papel desempenhado pelo naturalista na história de Agrgrey, qual seja, o papel de perceber a existência da anormalidade / anomalia na realidade de vida da raça preta e buscou introjetar dentro do psicológico da mesma uma visão do que realmente ela é e do que podia fazer de grandioso na face da terra.
 
O nacionalismo preto, em todas suas formas e aspectos organizacionais, representou uma busca pela reconstrução da dignidade e orgulho perdidos através do processo de escravização. A escravização causou um processo de esvaziamento mental, espiritual e cultural nas pessoas pretas, retirando-lhe a noção de humanidade.
Portanto, objetivando dar uma resposta a essa degradação mental do nosso povo, que não tinham onde se apoiar, sem ânimo para vivenciar o presente e temendo o futuro, é que o nacionalismo preto inova nos mecanismos de luta.
Assim, não foi somente em virtude da necessidade de dar uma resposta a escravização física e da pobreza material dos africanos que o movimento nacionalista surgiu. Compreendendo que a escravização e racismo fizeram surgir uma raça composta por pessoas dominadas, sobretudo psicologicamente, é que o movimento do nacionalismo preto foca no resgate da verdadeira história de supremacia dos povos pretos ao longo da história, para a partir daí conclamar a nossa comunidade a auto aceitação, a auto valorização, a auto suficiência e organização, ao auto amor e a solidariedade.
O nacionalismo preto fez surgir então o movimento pelo renascimento racial, onde o conceito de revolução não estaria ligado somente a mudança das questões sociais, políticas e econômicas da nossa raça, mas sobretudo por um processo revolucionário que se origina de uma mudança interior, através de uma nova postura e do resgate da história, cultura e ancestralidade.
Nesse sentido, a partir da compreensão de que o homem preto deve ressurgir do lugar mais profundo da opressão espiritual e psicológica, o nacionalismo preto faz surgir então um novo homem preto, uma nova mulher preta, enfim, uma nova família preta, introjetando valores e princípios coesos para unificação, libertação e auto realização racial.
O nacionalismo preto, ao expandir pelo mundo, foi importantíssimo na radicalização da luta dos pretos na África do Sul. Os pensamentos a seguir de Steve Biko, no chamado da Consciência Preta, representam elementarmente o que significa esse renascimento preto / essa revolução preta:
 
“A Consciência Preta é uma atitude da mente e um modo de vida, o chamado mais positivo que num longo espaço de tempo vimos brotar do mundo negro. Sua essência é a conscientização por parte dos pretos da necessidade de unir a seus irmãos em torno da causa de sua opressão – a negritude de sua pele –e de trabalharem como um grupo para se libertarem dos grilhões que os prendem a uma servidão perpétua. Baseia-se num auto exame que os levou finalmente a acreditar que, ao tentarem fugir de si mesmos e imitar o branco, estão insultando a inteligência de quem os criou como pretos.”
“Precisamos eliminar de imediato a ideia de que a Consciência Negra é apenas uma metodologia ou um meio para se conseguir um fim. O que a consciência Negra procura fazer é produzir, como resultado final do processo, pessoas negras de verdade que não se considerem meros apêndices da sociedade branca. Essa verdade não pode ser revogada. Não precisamos pedir desculpas por isso, porque é verdade que os sistemas brancos vêm produzindo em todo mundo grande número de indivíduos sem consciência de que também são gente. Nossa fidelidade aos valores que estabelecemos para nós mesmo também não pode ser revogada, pois sempre será mentira aceitar que os valores brancos são necessariamente os melhores. Chegar a uma síntese só é possível com a participação na política de poder. Num dado momento, alguém terá que aceitar a verdade, e aqui acreditamos que nós é que temos a verdade."
 
Importante frisar, que os movimentos nacionalistas no geral possuem um fundamento religioso forte, com base na religião cristã, ou islâmica, ou hebraica. Por ser um movimento de forte influência messiânica, uma das formas de tentar elevar a mente do povo preto foi através do processo de demonização da raça branca.
Através do processo de demonização dos brancos, o que se buscava era o desencantamento racial, aquela ideia de que os brancos são superiores e que os pretos são uma aberração da humanidade.
O nacionalismo preto, através dos ensinamentos religiosos, eleva a condição dos negros para o status de seres angelicais, dotados de uma inteligência e beleza superior que não são perceptíveis em virtude da destruição cultural a qual foram submetidos pela opressão branca.
Ser filhos de Deus e os seres originais significa que foram criados a imagem e semelhança espiritual, física e mental Daquele, para protagonizar a história e conduzir toda a humanidade ao desenvolvimento e a felicidade plena.
A partir então dessa necessidade da reconstrução histórica e cultural é que iniciativas nas áreas das ciências humanas e exatas começam a ser desenvolvidos na linha da afrocentricidade ou afrocentrismo, desvendando a verdadeira história de grandiosidade e domínio dos pretos desde a criação e desenvolvimento da humanidade.
Ainda, a partir do levante psicológico, o nacionalismo preto propõe uma forma de atuação na vida social bem peculiar, conclamando o nosso povo para organizar instituições fortes, que influenciem e protejam os interesses da nossa própria raça.
O nacionalismo preto constitui-se numa base ideológica para o soerguimento da comunidade preta através do estabelecimento de um processo de autonomia institucional, ou seja, fazer com os pretos passassem a fazer sua melhoria na sociedade sem depender dos instrumentos e forma de sobrevivências ofertadas pelo homem branco.
Daí buscou-se um planejamento interno próprio da comunidade negra, contrapondo-se a política de integração racial, a readequação de formas de atuação políticas através de uma política assistencial material e de uma economia coletiva forte.
Por exemplo, no Brasil, o movimento negro e as pessoas negras no geral, tem uma perspectiva de militância que passa necessariamente, devido a influência das teorias ditas de “esquerda”, por acreditar na intervenção do estado na melhoria de condições de vida do nosso povo. Daí, passamos décadas acreditando que uma participação efetiva nas esferas de poder do país, traria muitas melhorias e respostas positivas para as condições de subalternidade do nosso povo.
Enquanto o movimento negro no Brasil tomou para si essa única perspectiva de luta, objetivando angariar o apoio do estado para a concretização das várias reinvindicações necessária para melhoria das pessoas pretas, muitas coisas foram deixadas de lado, como por exemplo, a questão da autonomia da nossa comunidade e do renascimento interior das pessoas pretas a partir delas mesmas.
Para elucidar melhor o que está sendo dito, pensemos sobre a luta do movimento negro para implementar a Lei 10.639. Enquanto reivindicamos para um estado branco genocida, manipulador e corrupto que ações políticas na área educacional sejam implantadas ou implementadas, deixamos de lado a possibilidade de obtermos êxitos maiores para nossas pautas se nos organizássemos e tentássemos construir escolas pretas em nossa comunidade, onde poderíamos gestar um projeto pedagógico próprio.
Enquanto reivindicamos participações de pessoas negras nos postos de trabalhos nas lojas privadas, enquanto trabalhadores / empregados, esquecemos que poderíamos construir empreendimentos pretos que pudessem absolver uma mão de obra de trabalho, empregando nossa gente e implementando e fortalecendo um projeto econômico para nosso povo.
Outro ponto importante é sobre a questão da violência racial que se abate sobre nossa gente aqui no Brasil. Enquanto lamentamos as mortes de pessoas pretas em nossas comunidades e exigimos que o Estado pare a matança da nossa gente, esquecemos que a política do genocídio também existe em virtude do ódio assimilado pelo racismo em nós contra nós mesmos.
É fato que assim como nos Estados Unidos, desde 1976, os pretos são responsáveis por ¼ das mortes de um milhão de pessoas do nosso próprio povo, no Brasil esses dados estáticos não são diferentes, quem sabe, até mais elevado.
Assim, os movimentos nacionalistas pretos procuram introjetar em nossas comunidades uma valorização da sua história, um amor próprio, autoestima e uma elevação da visão diante da vida e de seus problemas.
A Nação do Islã, maior organização do nacionalismo preto da atualidade com cerca de 2 milhões de seguidores ou simpatizantes, faz um trabalho de enviar seus militantes para as comunidades negras onde a violência impera para reeducar jovens envolvidos com o crime, drogas e toda a espécie de autodestruição.
Então, ao invés de suplicar somente para que a matança causada por um estado branco genocida pare e que toda espécie de ação humanitária seja feita, o nacionalismo preto propõe a restituição do espelho quebrado pelo racismo, objetivando frear essa política genocida que impera em nossas comunidades.
As iniciativas que o movimento do nacionalismo preto propõe, vem justamente nos livrar da dependência do nosso opressor para resolução dos nossos problemas, nos devolvendo a capacidade de nos articularmos e fazermos algo por nós mesmos.
Vale a pena então citar os seguintes pensamentos de Marcus Garvey:
 
"A confiança de nossa raça no progresso e realizações dos outros na expectativa de obter simpatia, justiça e direitos é como depender de uma bengala quebrada, onde o apoiar-se nela significará uma eventual queda no chão.”
“A maior arma usada contra o negro é a desorganização”.
“Se você não confia em você mesmo, você é duas vezes um derrotado. Com confiança, você já ganhou antes mesmo de ter começado”
Se 400 milhões de negros pudessem somente conhecer a si mesmos, saber que neles há uma força soberana, uma autoridade absoluta, então nas próximas vinte e quatro horas nós teríamos uma nova raça, nós teríamos uma nação, um império - ressurgido não pela vontade dos outros de nos ver crescer, mas por nossa própria determinação para crescer, independente do que o mundo pensa."
Portanto, entender o nacionalismo preto é importante para que nós possamos enxergar outras formas de vivenciar novas formas de vida em sociedade e de luta. Como assinalou Marcus Garvey:
 
“O negro que vive de patronagem e filantropias é o mais perigoso membro da sociedade, porque ele esta disposto a voltar o relógio do progresso quando seus benfeitores lhe pedir para fazer”.
E segue em seus ensinamentos:
“Se o negro não for cuidadoso, ele beberá todo o veneno desta civilização moderna desta civilização moderna e morrerá do efeito disso”
Nessa busca pelo resgate do nosso orgulho, valor, estima e amor próprio, é importante trazer à baila a importância dos valores e princípios do movimento nacionalista pensado por Maulana Ron Karenga, mentor da celebração afrocêntrica da Kwanzaa.
Assimilação desses ideais podem ajudar a nós afros diaspóricos no Brasil a começar a trilhar o caminho das mudanças necessárias para fazer alvorecer um novo tempo de luta e de vida para nossa gente. Enquanto ainda não somos capazes de dar uma resposta institucional ao racismo, precisamos entender que o papel de cada indivíduo preto, o professor, o médico, o advogado, o comerciante, o estudante, os artistas, etc, tem um lugar importante nessa revolução, qual seja, de sermos as bases de sustentação para a formação de uma nação negra forte e unificada.
Abaixo, o significado dos setes valores fundamentais da Kwanzaa:

a)Umoja = unidade;
b)kujichagulia = auto-determinação;
c)Ujima = trabalho coletivo e responsabilidade;
d)Ujamaa = cooperativismo econômico;
e)Nia = objetivo;
f)Kuumba = criatividade;
g)Imani = fé.

Estes princípios estão relacionados com os fundamentos comunitários africanos da: a) recolha das colheitas; b) reverência; c) comemoração; d) reconhecimento; e) festa.

a) um tempo de recolha das colheitas e de reafirmação dos laços entre os membros da comunidade.

b) um tempo de reverenciar ao Criador em agradecimento e respeito pelas bênçãos, benignidades e beleza da criação.

c) um tempo para comemoração do passado em busca de suas lições e em honra de seus modelos de excelência humana, os nossos antepassados

d) um tempo do reconhecimento dos mais altos ideais da comunidade para formar um melhor pensamento africano e uma mais perfeita prática cultural.

e) um tempo para festejar o bom, o bom da vida e da existência em si, o bom da família, da comunidade e cultura, o bom fabuloso e ordinário, em outras palavras, o bom divino, natural e social.
Então, os sete elementos intrisicamente ligado ao nacionalismo preto que devemos começar a lutar para estabelecer são, portanto: Redenção, Educação, auto-realização, própositos, economia, comunidade e traição, elementos esses já vivenciados ao longo dos séculos pelos antepassados da nossa gente aqui no Brasil, seja pela formação das comunidades quilombolas, seja pelas inúmeras revoltas e rebeliões, seja pela criação das organizações religiosas e secretas, seja, em tempos recentes, por iniciativas oriundas da Frente Negra Brasileira
 
A FAMÍLIA PRETA
 
Não há como se falar num novo amanhecer para o povo preto no Brasil se não enfrentarmos de fato essa política de miscigenação racial ou de embranquecimento. O movimento nacionalista faz ressurgir uma valorização da chamada instituição família preta (homem, mulher e filhos), conclamando ao nosso povo para não mantermos relações mistas objetivando a auto preservação do nosso povo.
Essa ideia realmente deve ser levada a sério por nós pretos aqui no Brasil, tendo em vista que o processo de diluição da pigmentação preta está bastante elevada pelas relações raciais compulsórias. Assim, o renascimento preto neste país deve passar pela compreensão de que devemos nos manter coesos e buscarmos a realização sentimental e matrimonial entre nós.
A família preta, portanto, é a organização essencial e fundamental da comunidade africana. É através do seio familiar que nós preservamos a herança, a cultura, a história e a integridade do nosso povo. A reconstrução da família preta é sinônimo de reconstrução da comunidade preta dilacerada pelo racismo e pelo supremacismo branco. O núcleo familiar é cerne da revolução preta.
“Sim, nós estimamos as dores do passado, e nós vamos trabalhar no presente para que as dores de nossa geração não sejam perpetuadas no futuro pelas gerações vindouras. Ao contrário, nós vamos nos empenhar para que as gerações futuras nos chamem de abençoados, assim como nós chamamos as nossas gerações passadas. Elas foram abençoadas com uma paciência jamais conhecida pelo homem. Uma paciência que permitiu que eles suportassem as torturas e sofrimentos da escravidão por anos. Porque? Será que foi porque eles gostaram da escravidão? Não! Foi porque eles amavam esta geração- isto não é maravilhoso.Transcedental!”.

“O que vamos fazer para mostrar nosso apreço por tal amor, que gratidão vamos manifestar em resposta ao que eles nos tem feito? De minha parte, sabedor do sofrimento de meus antepassados, eu procurarei dar a África, aquela liberdade que ela conheceu centenas de anos atrás, antes de seus filhos e filhas terem sidos arrancados de suas costas e trazidos à correntes para o ocidente. Nenhuma dádiva melhor posso eu dar em honra a memória e ao amor que meus antepassados me dedicaram. Em gratidão ao sofrimento que eles surportaram e de que hoje sou livre, nenhuma dádiva maior posso eu oferecer a sagrada memória de nossa geração passada do que uma África liberta e redimida - um monumento para a eternidade - para todos os tempos..."

MAYA ANGELOU - AINDA ASSIM, EU ME LEVANTO

VOCÊ PODE ME RISCAR DA HISTÓRIA
COM MENTIRAS LANÇADAS AO AR.
PODE ME JOGAR CONTRA O CHÃO DE TERRA,
MAS AINDA ASSIM, COMO A POEIRA, EU VOU ME LEVANTAR.

MINHA PRESENÇA O INCOMODA?
POR QUE MEU BRILHO O INTIMIDA?
PORQUE EU CAMINHO COMO QUEM POSSUI
RIQUEZAS DIGNAS DO GREGO MIDAS.

COMO A LUA E COMO O SOL NO CÉU,
COM A CERTEZA DA ONDA NO MAR,
COMO A ESPERANÇA EMERGINDO NA DESGRAÇA,
ASSIM EU VOU ME LEVANTAR.

VOCÊ NÃO QUERIA ME VER QUEBRADA?
CABEÇA CURVADA E OLHOS PARA O CHÃO?
OMBROS CAÍDOS COMO AS LÁGRIMAS,
MINHA ALMA ENFRAQUECIDA PELA SOLIDÃO?

MEU ORGULHO O OFENDE?
TENHO CERTEZA QUE SIM
PORQUE EU RIO COMO QUEM POSSUI
OUROS ESCONDIDOS EM MIM.

PODE ME ATIRAR PALAVRAS AFIADAS,
DILACERAR-ME COM SEU OLHAR,
VOCÊ PODE ME MATAR EM NOME DO ÓDIO,
MAS AINDA ASSIM, COMO O AR, EU VOU ME LEVANTAR.

MINHA SENSUALIDADE INCOMODA?
SERÁ QUE VOCÊ SE PERGUNTA
PORQUÊ EU DANÇO COMO SE TIVESSE
UM DIAMANTE ONDE AS COXAS SE JUNTAM?

DA FAVELA, DA HUMILHAÇÃO IMPOSTA PELA COR
EU ME LEVANTO
DE UM PASSADO ENRAIZADO NA DOR
EU ME LEVANTO
SOU UM OCEANO NEGRO, PROFUNDO NA FÉ,
CRESCENDO E EXPANDINDO-SE COMO A MARÉ.

DEIXANDO PARA TRÁS NOITES DE TERROR E ATROCIDADE
EU ME LEVANTO
EM DIRECÇÃO A UM NOVO DIA DE INTENSA CLARIDADE
EU ME LEVANTO
TRAZENDO COMIGO O DOM DE MEUS ANTEPASSADOS,
EU CARREGO O SONHO E A ESPERANÇA DO HOMEM ESCRAVIZADO.
E ASSIM, EU ME LEVANTO
EU ME LEVANTO
EU ME LEVANTO.